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O paradigma na ciência social refere-se a pressupostos meta-teóricos que fundamentam o campo de referência, a forma de teorizar o desenvolvimento das respectivas teorias. Com o objetivo de destacar o que existe de comum nas diferentes perspectivas, ou seja, o que pertence ao trabalho de determinado grupo de teóricos e o que o grupo aborda na teoria social a partir dos limites definidos por uma problemática comum (BURREL e MORGAN, 1979). Sendo assim, cada paradigma é caracterizado por um conjunto de escolas com abordagens e perspectivas diferentes, mas que tem em comum pressupostos fundamentais sobre a natureza da realidade (MORGAN, 1980).

Segundo Burrell e Morgan (1979), a ciência social pode ser compreendida em paradigmas, cada um composto por: ontologia, epistemologia, natureza humana e metodologia. A ontologia refere-se à própria essência do fenômeno em investigação. Associada ao pressuposto ontológico, tem-se a epistemologia, que trata das bases de conhecimento, ou seja, as formas possíveis de conhecimento. Relacionando-se os pressupostos ontológico e epistemológico, surge o conjunto de pressupostos referentes à natureza humana, que se preocupam com a relação homem e ambiente. Os três pressupostos têm implicações de natureza metodológica, ou seja, sua influência na forma de investigação e aquisição de conhecimento do mundo social.

Burrell e Morgan (1979) evidenciaram que a teoria social poderia ser compreendida em quatro paradigmas: o funcionalista, o interpretativo, o humanista radical e o estruturalista radical, ancorados em diferentes pressupostos ontológicos, teóricos, de natureza humana e de método. Os quatro paradigmas em conjunto oferecem uma orientação para que a área temática identifique as semelhanças e as diferenças entre as suas teorias, ou seja, uma forma de mapear as referências por elas adotadas.

O paradigma interpretativo tem como objetivo compreender o mundo social ao nível da experiência subjetiva. A visão de realidade do interpretativismo tem sua sociologia da regulação implícita e não explícita. São orientados para a compreensão do mundo social, ou seja, a essência da vida cotidiana (BURREL e MORGAN, 1979).

Portanto, o pesquisador social interpretativo tenta entender o processo social por meio do qual múltiplas realidades surgem, sustentam-se e são alteradas. Assim, a realidade social não é algo estabelecido, mas negociado (MORGAN e SMIRCICH, 1980). A preocupação está em compreender em profundidade os padrões cruciais de comportamento (ABBOTT, 1997).

Segundo Morgan (1980), o interacionismo simbólico pertence ao paradigma interpretativista, que busca compreender a realidade social das experiências subjetivas e intersubjetivas dos indivíduos. Para Mendonça (2002), o interacionismo simbólico é uma escola macrossociológica que tem seus pressupostos na Sociologia e na Antropologia e trata-se de uma perspectiva teórica e uma orientação metodológica. Os interacionistas estudam o conjunto das relações sociais que tratam do desvio, considerando dois sistemas de ação que se defrontam nas representações sociais. O olhar da sociedade que define o desvio e o olhar do rotulado que integra a sociedade e desenvolve sua própria percepção de mundo (XIBERRAS, 1993).

Xiberras (1993), Mendonça (2002), Carvalho, Borges e Rêgo (2010) e Haguette (2010) evidenciaram que os precursores do interacionismo simbólico foram George Mead e Hebert Blumer e as contribuições da escola de Chicago. Conforme Herpin (1982), na Sociologia da escola de Chicago, o interacionismo é utilizado para o estudo sobre carreira e desvio. Dessa forma, pretendeu-se compreender o desvio pelas situações em que possa ocorrer a designação de desviante e não a partir dos indivíduos, dos seus comportamentos e nem das regras que foram transgredidas. Logo, o problema é saber “o que caracteriza as interações nas quais se verifica a designação de desviantes”. Para o interacionismo, o foco da análise é o processo em que surge o outsider (HERPIN, 1982, p. 89). Becker (1977, p. 34) esclarece que “o ponto central da abordagem interacionista do desvio é tornar claro que alguém teve de fazer a rotulação”.

Segundo Blumer (1986, p 2), a natureza do interacionismo simbólico possui três premissas básicas:

A primeira é que os seres humanos agem em relação às coisas com base nos significados que as coisas têm para eles. Tais coisas incluem tudo que o ser humano possa notar em seu mundo de objetos físicos, tais como árvores ou cadeiras; outros seres humanos, tais como uma mãe ou uma balconista de loja; categorias de seres humanos, tais como amigos ou inimigos; instituições, como uma escola ou um governo; ideais guias, tais como independência individual ou honestidade; atividades de outros, tais como seus comandos ou pedidos; e tais situações como um encontro individual em sua vida diária. A

segunda premissa é que o significado de tais coisas é derivado de, ou origina- se da interação social que alguém tem com um companheiro. A terceira premissa é que esses significados são manejados, e modificados através de um processo interpretativo usado pelas pessoas ao lidar com as coisas que elas encontram.

Ancorados nessas premissas, Carvalho, Borges e Rêgo (2010) destacam que a interação simbólica envolve um esquema da sociedade humana que se relaciona com a natureza dos grupos humanos ou sociedade, interação social, ação humana e as interconexões entre as linhas de ação. O indivíduo e a sociedade preservam uma interação social e dimensão subjetiva do comportamento humano é relevante na formação e manutenção da dinâmica social do self social e do grupo social (GODOY, 1995).

Segundo Haguette (2010, p. 54), o interacionismo simbólico compreende “a sociedade como uma entidade composta de indivíduos e grupos em interação (consigo mesmo e com os outros), tendo como base o compartilhamento de sentidos sob a forma de compreensões e expectativas comuns”. Portanto, o processo de interação social é ancorado na ação social dinâmica, mudando conforme os diferentes contextos vivenciados pelos indivíduos e grupos. Dessa forma, no processo interativo da vida social, as regras são criadas, mantidas e modificadas (HAGUETTE, 2010).

O interacionismo propõe uma perspectiva teórica que possibilita aos indivíduos a interpretação dos objetos e dos outros indivíduos no processo de interação social, de modo que indivíduo e mundo não devem ser compreendidos de forma isolada. Por isso, é uma abordagem apropriada para estudo sobre as relações sociais (CARVALHO, BORGES e RÊGO, 2010). O interacionismo na abordagem sociológica compreende que toda organização societal está amparada nos sentidos, nas diferenças e nas ações dos indivíduos e dos grupos que desenvolvem ao longo do processo de interação social (HAGUETTE, 2010).