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Caracterização química dos ácidos graxos do OEO por Cromatografia Gasosa Acoplada ao Detector de Ionização por Chama (CG-FID)

APENDICE IV – CAPÍTULO DE LIVRO PUBLICADO Intitulado: Avaliação da atividade antimicrobiana e modulatória de complexos de inclusão de óleo de Euterpe

4 MATERIAL E MÉTODOS

5.1 Caracterização química dos ácidos graxos do OEO por Cromatografia Gasosa Acoplada ao Detector de Ionização por Chama (CG-FID)

O perfil de ácidos graxos determinado por cromatografia gasosa (Tabela 4, Figura 3) mostra que os principais constituintes da OEO são ácidos oleico (47,58%), palmítico (24,06%) e linoleico (13,58%), confirmando os resultados relatados por Do Nascimento et al. (2008) enquanto os ácidos palmitoléico (6,94%), mirístico 14: 0 (1,75%) e láurico (4,77%) foram detectados em concentrações mais baixas.

Tabela 4. Composição de ácidos graxos do OEO por cromatografia gasosa acoplada ao detector de ionização por chama (CG-FID)

Ácidos graxos do OEO Concentração (%)

Ácido oleico 18:1 47,58 Ácido linoleico 18:2 13,58 Ácido palmítico 16:0 24,06 Ácido palmitoleico 16:1 6,94 Ácido mirístico14:0 1,75 Ácido láurico 12:0 4,77 Traços -

Figura 3. Cromatograma do OEO obtido por cromatografia gasosa acoplada ao detector de ionização por chama.

Isso significa que aproximadamente 70% dos ácidos graxos são insaturados, ou seja, ácido oleico (18:1), ainda classificado como ômega-9, ácido linoléico (18:2), caracterizado como um ácido graxo essencial capaz de ser metabolizado em ômega-6 e ácido palmitoléico (16:1). Ambos podem ser identificados pelo Cromatograma na Figura 3.

Óleo de OEO tem sido avaliado pelas suas propriedades biológicas. Souza et al. (2017) afirmam que esses compostos presentes no óleo desempenham importante atividade antiaterogênica. Estes autores observaram uma redução nos níveis de triglicerídeos, colesterol total e colesterol de lipoproteína direta de baixa densidade (LDL), simultaneamente é demonstrado um aumento de lipoproteína de alta densidade (HDL).

Favacho et al. (2011) relataram inibições na formação de tecido granulomatoso subcutâneo em edema de orelha, diminuição da resposta da permeabilidade vascular e síntese de prostaglandinas e redução de até 80,14% dos neutrófilos migrantes na inflamação do peritônio, quando comparados ao grupo controle. Neste mesmo estudo ainda é exibido redução de contorções abdominais em ratos de até 55,58%, na dose de 1500 mg/kg de animal. Um ensaio de atividade antibacteriana foi desenvolvido por Melhorança Filho e Pereira (2012), em teste de difusão em disco e relatam que discos impregnados de OEO exibiu halo de inibição frente a S. aureus. Recentemente, Monge-Fuentes et al. (2017), demonstraram uma atividade anticâncer eficaz de uma nanoemulsão formulada com óleo de OE contra linhas celulares de melanoma, levando à morte por apoptose/necrose de 85% das células da linha B16F10 in vitro e uma redução de 82% do volume do tumor em 6 ratos portadores de melanoma C57BL.

Além destas atividades analisadas, um estudo de genotoxicidade realizado por Marque et al. (2016) testou o OEO em ensaio cometa, nas doses de 30, 100 e 300 mg/kg de animal, e células leucocitárias obtidas de sangue periférico, fígado, medula óssea e células testiculares não demonstraram nenhum efeito genotóxico significativo. Contudo, Marque et al. (2018), em teste de toxidade oral em ratos utilizando essas mesmas doses, relatou um efeito citotóxico em células de tireoide por alteração na sua morfologia folicular e crescimento desordenado e vacuolização em hepatócitos.

Apesar dessa descoberta relatada por Marque et al. (2018), complexos de inclusão são evidenciados por uma ampla aplicação, além de melhorar a solubilidade de compostos apolares e a sua atividade farmacológica (FERREIRA et al., 2018), também veicular fármacos que demonstram algum efeito colateral ou tóxico ao organismo, afim de minimizar o seu impacto ao organismo vivo (LYRA et al., 2012; GONTIJO et al., 2015). Em determinados casos faz-se necessário uma menor dose do fármaco para o preparo do complexo de inclusão,

sendo o suficiente para manter ou até melhorar a atividade farmacológica do fármaco, como pôde ser visualizado no desempenho da atividade antimicrobiana do OEO em testes realizados por Magalhães et al. (2020).

5.2 Determinação da energia de interação entre o ácido oleico e β-CD ou HP-β-CD

Em casos de dimensões apropriadas, ligantes apolares tendem a substituir as moléculas de água ligadas aos grupamentos hidroxil das ciclodextrinas, em solução, formando sistemas mais estáveis e menos tensionados, denominados de complexos de inclusão (KATRITZKY et al., 2004; XIAO; CEZAR, 2005; PERIASAMY et al., 2014; JAMBHEKAR; BREEN, 2016).

A fim de avaliar a susceptibilidade da formação dos complexos entre o composto majoritário do OEO e β- ou HP-β-CD, foi realizado um estudo de dinâmica molecular pela metodologia de LIE. A Figura 4 demonstra a ligação entre ácido oleico, por constituir-se como composto majoritário do OEO, posicionado em ambas ciclodextrinas e suas energias de interação. A simulação demonstrou que a inserção do ácido graxo às ciclodextrinas, quer seja pela cavidade mais larga ou mais estreita, pouco interferiu nos scores obtidos, exibindo o sistema β-CD:ácido oleico ΔG = -41.28 ± 0.57 kJ/mol e HP-β-CD:ácido oleico com ΔG= 25.15 ± 0.044 kJ/mol.

Figura 4. Representação esquemática dos complexos de inclusão obtidos. (A) β-CD:ácido oleico e (B) HP-β-CD:ácido oleico de energias de interação ΔG = -41.28 ± 0.57 kJ/mol e ΔG = 25.15 ± 0.044 kJ/mol, respectivamente. As imagens foram obtidas com o software UCSF- Chimera (PETTERSEN et al., 2004).

A formação de complexos de inclusão é diretamente influenciada pelas forças de Van der Waals devido à natureza lipofílica da cavidade da ciclodextrina (ESTRADA; PERDOMO- LÓPEZ; TORRES-LABANDEIRA, 2001). Tabushi et al. (1978), afirmam que a estabilidade entre CD e substrato é dada pelo caráter lipofílico daquele e pela remoção da água de

solvatação no substrato apolar, ambos responsáveis pela entalpia de inclusão. De modo que, quanto maior quebra de estruturas de agregado de água no processo de inclusão, maior entropia e maior estabilidade do complexo de inclusão.

Portanto, como a afinidade química da β-CD pelo ácido oleico é maior, se comparada à HP-β-CD, espera-se que complexos de inclusão entre β-CD:ácido oleico se formem mais facilmente e sejam mais estáveis que os complexos entre HP-β-CD:ácido oleico.

Apesar de nem todas as moléculas de um composto formarem complexos de inclusão, Leclercq (2016) afirma que β-CD são excelentes para solubilizar fosfolipídios e os inclui facilmente em sua cavidade, pois também são compostos de ácidos graxos. Essa complexação, característica das ciclodextrinas, tornam os compostos encapsulados estáveis e melhora as propriedades físico-químicas da substância.

A formação de complexos de inclusão é influenciada por substituintes ligados às CD, o que justifica a maior energia de interação produzida entre HP-β-CD:ácido oleico. O resultado entre esta interação é de acordo com Arima, Motoyama e Irie (2011), no qual substituintes hidrofílicos, como 2-hidroxipropil, 3-hidroxipropil e maltosil, por exemplo, reduziram a atividade hemolítica em comparação com CDs originais, enquanto substituintes lipofílicos (por exemplo, CDs metilados) demonstram atividades hemolíticas mais fortes. Essa hemólise é atribuída à capacidade de complexação da CD aos ácidos graxos e sua remoção de membrana plasmática eritrocitária.

5.3 Caracterização Físico-química dos Complexos de Inclusão OEO-β-CD e OEO-HP-β-