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CAPÍTULO 3 – PERFIL DOS ESTUDANTES PARTICIPANTES DO PROGRAMA

3.1 CARACTERIZAÇÃO SOCIODEMOGRÁFICA

Demografia é uma área da ciência geográfica voltada para o estudo da população. Um perfil sociodemográfico pretende obter e analisar as características de determinado grupo social a partir de variáveis, como: gênero, idade, escolaridade, renda, raça, tipo de ocupação, dentre outras. Para este trabalho, foram eleitas algumas daquelas variáveis utilizadas pelas pesquisas de perfis educacionais de Ramos (2009) e Ristoff (2013) e pelo Fonaprace (2011): sexo, idade, raça, número de irmãos, nível de escolaridade dos pais e a renda declarada.

Dentre os 575 questionários enviados aos participantes do PAMA nas instituições signatárias, entre os anos de 2011 a 2013, 207 (36%) foram respondidos. A Tabela 1 apresenta o período (ano e semestre) no qual os sujeitos desta pesquisa – aqueles para quem o questionário foi enviado pela Andifes – receberam as bolsas do convênio Andifes/Santander.

Tabela 1 – Ano e semestre de obtenção das bolsas pelos sujeitos da pesquisa

Ano Primeiro semestre Segundo semestre Total

2011 112 104 216

2012 127 50 177

2013 66 116 182

Total 305 270 575

Fonte: Respostas ao instrumento de pesquisa. Elaboração da autora (2014).

A distribuição espacial dos respondentes foi bastante significativa. Foram obtidas respostas de participantes localizados em 24 das 27 unidades federativas do Brasil, sendo: 12% da Região Nordeste, 9% da Região Norte, 18% da Região Sul, 14% da Região Centro-Oeste e 46% da Região Sudeste. Minas Gerais foi o Estado que teve maior número de respondentes (51), o que se explica, em parte, por ser o Estado com maior número de IFES signatárias. Apenas Sergipe, Piauí e Acre não estão representados entre as respostas obtidas.

No que diz respeito à idade, segundo os dados aglutinados na Tabela 2, o mais velho, dentre os participantes respondentes, nasceu em 1968, e o mais novo, em 1995, sendo que a maioria está situada na faixa etária de 22 a 26 anos. Ressalta-se que a idade considerada ideal para cursar o ensino superior é de 18 a 24 anos.

Tabela 2 – Número de respondentes por ano de nascimento

Ano de nascimento Número de respostas

1968 1 1981 1 1982 1 1983 3 1984 7 1985 10 1986 7 1987 13 1988 19 1989 25 1990 24 1991 36 1992 26 1993 18 1994 9 1995 1 Não responderam 6 Total 207

Fonte: Respostas ao instrumento de pesquisa. Elaboração da autora (2014).

Conforme mostra a Tabela 3, a qual se refere ao sexo dos participantes do PAMA respondentes do questionário, as estudantes do sexo feminino tiveram maior participação no Programa, no período deste estudo.

Tabela 3 – Número de respondentes por sexo

Sexo Número de respostas %

Feminino 120 58

Masculino 87 42

Total 207 100

Nos últimos anos, a predominância de estudantes do sexo feminino nas escolas vem ocorrendo em todos os níveis de ensino, no Brasil. Um estudo do Inep, realizado por Ristoff et al. (2007), aponta que, naquele ano, as mulheres eram maioria nas escolas brasileiras, a partir da 5ª série do ensino fundamental, mesmo os homens sendo maioria na sociedade, até os 20 anos de idade. O Censo da Educação Superior de 2010 mostra, igualmente, que as mulheres têm maior taxa de ingresso e representatividade no ensino superior, além de teremas maiores taxas de conclusão dos cursos universitários.

Segundo Rosemberg (2001), as mulheres têm uma progressão escolar um pouco mais regular que a dos homens. Em geral, os homens possuem um número maior de interrupções em suas trajetórias escolares, como, por exemplo, as causadas pelas reprovações. E, talvez, esse seja um dos fatores que explicam a permanência das mulheres na escola, durante um período maior do que o dos homens, servindo ainda como causa para que elas sejam maioria no ensino superior.

Para apreender os aspectos relativos à composição étnico-racial dos estudantes do PAMA, utilizou-se da seguinte pergunta: “Como você se considera?”23. As respostas estão agrupadas na Tabela 4, demonstrando que a

maioria (63%) se considera branco.

Tabela 4 – Número de respondentes por cor

Cor Número de respostas %

Amarelo 2 1 Branco 130 63 Indígena 5 2 Negro 14 7 Pardo 56 27 Total 207 100

Fonte: Respostas ao instrumento de pesquisa. Elaboração da autora (2014).

23 A definição de raça é bastante discutida e, para um estudo mais aprofundado sobre a temática,

O estudo de Ristoff (2013) mostra que o perfil dos estudantes de graduação brasileiros é composto majoritariamente por brancos. Os cursos de alta demanda no processo seletivo das universidades, a Medicina, por exemplo, possuem o maior percentual de brancos, e os cursos de licenciatura predominam entre os cursos com o menor percentual de brancos.

Conforme Munanga (2003), antes das políticas de inclusão e das diferentes modalidades de ações afirmativas hoje existentes, o número de estudantes negros no nível de ensino superior era menor que 2%.

No Censo de 2010, do IBGE, os indivíduos pretos e pardos constituíam o grupo majoritário da população brasileira, contrastando-se com o perfil dos participantes do PAMA, que são majoritariamente brancos, conforme apontado por esta pesquisa.

A faixa de renda mensal familiar declarada pelos respondentes participantes do Programa pode ser verificada na Tabela 5.

Tabela 5 – Renda mensal familiar dos respondentes

Faixa de renda Número de respostas %

Até 3 salários mínimos 62 30

De 3 a 10 salários mínimos 100 48

De 10 a 30 salários mínimos 44 21

Acima de 30 salários 1 1

Total 207 100

Fonte: Respostas ao instrumento de pesquisa. Elaboração da autora (2014).

Ressalta-se que a variável renda sempre pode apresentar fragilidades, pois a resposta pode não refletir a realidade, uma vez que é declarada pelos estudantes. O estudo de Alves e Soares (2009) relatou que, quando a pergunta sobre a renda familiar não é respondida pelos pais, a frequência de respostas inválidas costuma ser elevada. De todo modo, foi possível verificar a presença de uma diversidade na condição econômica dos participantes, estando 78% deles na faixa de até 10 salários mínimos. Como todos os respondentes fizeram uso da bolsa Andifes/Santander, mesmo não tendo sido esse um parâmetro utilizado pelas IFES

para selecionar os discentes para o Programa, a grande maioria desse grupo situa- se nas faixas de renda baixa e média.

A renda familiar da maioria dos participantes do PAMA está compreendida na faixa de 3 a 10 salários mínimos. De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada pelo IBGE, em 2011, o grupo de famílias na faixa de renda de até 3 salários mínimos corresponde a 52% das famílias brasileiras. Por volta de 34% dos estudantes de graduação brasileiros estão na faixa de renda mensal familiar de até três salários mínimos, e, especificamente no PAMA, eles são 30%, conforme exemplificado na Figura 5.

Figura 4 – Percentual de pessoas com renda familiar de até três salários mínimos na sociedade brasileira, na graduação do ensino superior e no PAMA

Fonte: IBGE, PNAD e respostas ao instrumento de pesquisa. Elaboração da autora (2014).

A predominância de estudantes pertencentes à classe média no Programa demonstra que essa camada social tende a investir mais nas oportunidades educacionais, para uma formação acadêmica diferenciada. A participação de estudantes de alta renda (acima de 30 salários mínimos) no PAMA é pequena, como mostra a Figura 6.

Figura 5 – Percentual de pessoas com renda familiar de mais de 10 salários mínimos na sociedade brasileira, na graduação do ensino superior e no PAMA

Fonte: IBGE, PNAD e Respostas ao instrumento de pesquisa. Elaboração da autora (2014).

Isso pode ser atribuído a dois fatores: provavelmente, os discentes com maior renda participam mais ativamente de intercâmbios e de mobilidades internacionais; ou, conforme Nogueira (2002), a elite nem sempre está preocupada com o valor do seu diploma no mercado acadêmico, ou com uma escolarização com diferentes capitais simbólicos agregados, por vezes, apenas a obtenção do diploma já atende seu interesse com a escola. A autora ainda demonstrou que as elites econômicas, no que diz respeito às mobilidades estudantis internacionais, costumam preferir estadias de curta duração no exterior, em especial em cursos de idiomas, evitando, assim, processos de seleção e as restrições dos editais dos programas de mobilidade.

Portanto, cabe notar que pode haver uma correlação entre os níveis de renda dos estudantes e a mobilidade acadêmica que procuram. Mesmo porque os capitais envolvidos na mobilidade, tanto os econômicos (custo de vida em outro local, ou em outro país) quanto os culturais (domínio de outra língua, por exemplo), são diferentes. Tais diferenças acabam delimitando as oportunidades de escolha dos estudantes interessados em participar de um programa de mobilidade acadêmica. Porém, este estudo não consegue precisar quantos estudantes não se candidatam ao PAMA por restrições econômicas, por não ser esse seu objetivo.

O número de irmãos é importante para uma análise conjunta com a renda mensal familiar. Dados do IBGE demonstram que o número de filhos por mulher vem sendo reduzido no Brasil, desde a década de 1960, e, segundo o Censo de 2010, as mulheres têm, em média, 1,9 filhos. Os dados sobre os participantes do PAMA estão de acordo com esse resultado, uma vez que a maior parte deles possui apenas um irmão, ou seja, provém de famílias pouco numerosas, conforme dados da Tabela 6.

Tabela 6 – Número de respondentes por quantidade de irmãos

Quantidade de irmãos Número de respostas %

Nenhum 20 10

Um 81 39

Dois 68 33

Três ou mais 38 18

Total 207 100

Fonte: Respostas ao instrumento de pesquisa. Elaboração da autora (2014).

Dentre os que possuem três ou mais irmãos, metade tem renda de até três salários mínimos, e, dentre os que possuem um irmão, 64% possuem renda entre 3 e 10 salários mínimos. A redução no número de filhos nas camadas médias da sociedade também pode ser considerada uma estratégia educativa, pois impede a diluição de recursos e permite investir mais na educação deles.