• Nenhum resultado encontrado

5. METODOLOGIA

5.1 Caracterização dos sujeitos

Os nomes dos participantes foram trocados, para preservar suas identidades.

CLARA

Clara tem onze anos, nasceu no Piauí e veio para São Paulo com dois anos de idade. Mora com sua família: mãe, pai e um irmão de quinze anos. O pai é segurança e estudou até o Ensino Médio, a mãe trabalha em uma creche, tomando conta de crianças, porém tem formação em enfermagem. Sua casa fica na região central da cidade e é composta por quatro cômodos: cozinha, sala, quarto dos pais e banheiro. Ela dorme com o irmão na sala, local onde também faz suas tarefas escolares.

A aluna está matriculada no 5º ano do Ensino Fundamental em uma escola pública estadual, que terá para este trabalho o codinome de Escola Maria Augusta, no centro da cidade de São Paulo. Segundo seu relato, a escola não tem quadra de esportes, biblioteca ou laboratórios, só possui um pátio para brincar na hora do recreio, além de uma cantina. Sempre estudou nessa escola e nunca repetiu o ano. No período da tarde, fica no centro educacional e, depois, participa de um projeto chamado Abrace seu Bairro, do Hospital Sírio Libanês. Já logo nos primeiros encontros, disse gostar de estudar e de ir para a escola.

Ela faz diversas atividades extracurriculares, como: sapateado, capoeira, karatê, natação, balé, estuda violino, faz a catequese e ainda é brinquedista mirim, além de participar de um clube de leitura próximo ao centro educacional.

Segundo a entrevistada, sua rotina é bem intensa: faz aula particular de sapateado antes de ir para escola em alguns dias da semana (Ela conta que sua avó era professora de sapateado e, então, estuda para um dia apresentar um número para ela, que mora no Piauí). Depois, vai para escola das 7h às 11h30min. Às 13h, chega ao centro educacional, onde fica até às 17h e lá faz diversas atividades, dentre as quais, a lição de casa e aulas de violino. Quando sai do local, vai para o projeto social do Hospital Sírio Libanês, Abrace seu Bairro, onde pratica natação, balé, karatê e capoeira em diferentes dias da semana, inclusive aos sábados. Durante a semana, permanece nesse local até às 18h30min. Aos sábados, frequenta, de vez em quando, o clube de leitura e, aos domingos, é brinquedista mirim na Pastoral da Criança.

Clara é uma criança alegre, carinhosa, simpática e gosta muito de falar. Foi descrita como boa aluna e, de fato, foi essa a impressão que deixou na pesquisadora. Ela participou de forma intensa e desinibida durante todo o processo e, em algumas situações, pareceu utilizar um discurso que não lhe pertencia, e sim, aos adultos, pois empregou palavras incomuns para sua faixa etária, chamando a atenção da pesquisadora. Não faz nenhum tipo de terapia e nunca fez.

ANA

Ana tem onze anos, é a filha caçula de uma família composta por mãe, pai e duas irmãs, porém a mais velha é filha do primeiro casamento do pai e mora com a mãe. O pai estudou até o 7º ano do Ensino Fundamental e, atualmente, está desempregado e doente, com câncer. Antes, trabalhava como manobrista em um estacionamento e a mãe é diarista, estudou até o 9º ano do Ensino Fundamental. Sua casa fica na região central da cidade e, segundo Ana, ela e a irmã têm um quarto só para elas, que é o local onde estuda.

A menina está matriculada no 5º ano do Ensino Fundamental em uma escola pública estadual no centro da cidade de São Paulo (estuda na mesma escola e turma de Clara). Segundo seu relato, a escola não tem quadra de esportes, biblioteca ou laboratórios, só possui um pátio para brincar na hora do recreio, além de uma cantina. Antes, estudava em outra escola da região, porém seus pais a achavam “bagunçada”, segundo relato de Ana, e local onde aprendeu muitos “palavrões”.

Ana nunca repetiu o ano, porém logo declarou que não gosta da escola nem de estudar, porque na escola só tem gente “burra”, de acordo com suas palavras.

Na parte da tarde, fica no centro educacional e, além das tarefas habituais, estuda violoncelo.

Ana é uma criança aborrecida e irritada, porém carinhosa, tem dificuldade para se expressar, não utiliza corretamente a Língua Portuguesa, cometendo muitos erros ao falar. Quando isso acontece, é repreendida e debochada pelos colegas, situação que a deixa muito impaciente.

No primeiro encontro, quando estávamos nos conhecendo, ela disse que sofria

bullying dos colegas, mas que não ligava para a situação. Por diversas vezes, durante os

encontros, pareceu que tinha mais para falar do que conseguia e dava a impressão de que lhe faltavam palavras enquanto dialogava. A menina participou de forma inibida, com receio do que a investigadora e seus amigos pudessem pensar a seu respeito. Foi descrita com baixo desempenho escolar e não faz nenhum tipo de terapia nem nunca fez.

JOÃO

João tem onze anos, é o filho caçula de uma família composta pela mãe e um irmão. Sua mãe trabalha como auxiliar de cozinha em um restaurante em alguns dias da semana e, em outros, é diarista. Ela estudou até o 2º ano do Ensino Médio. Sua casa fica na região central da cidade e tem dois cômodos: um banheiro e outro, que serve de cozinha, quarto e sala. Ele e o irmão estudam na mesa da cozinha ou no colchão onde dormem (como acabaram de mudar para essa casa que a mãe comprou, não tem camas, ainda dormem no chão, em colchões).

Ele está matriculado no 5º ano do Ensino Fundamental em uma escola pública estadual no centro da cidade de São Paulo (estuda na mesma escola de Clara e Ana, porém em turma diferente). Segundo seu relato, a escola não tem quadra de esportes, biblioteca ou laboratórios, só possui um pátio para brincar na hora do recreio, além de uma cantina. Nunca repetiu o ano e adora estudar.

Na parte da tarde, o menino fica no centro educacional onde faz aulas de violão e canto, além da catequese. Aos domingos, é coroinha na Igreja.

João é esperto, carinhoso, simpático e gosta muito de falar. Foi descrito pelo professor do centro educacional como bom aluno. Participou de forma desinibida durante o processo, integrando-se em todas as situações. Não faz nenhum tipo de terapia e nunca fez.

NICO

Nico tem onze anos, é filho único e mora com a mãe e o pai. O pai é zelador e estudou até o 9ª ano do Ensino Fundamental, a mãe trabalha como garçonete em um restaurante e estudou até o 3º ano do Ensino Médio.

Ele está matriculado no 5º ano do Ensino Fundamental em uma escola pública estadual no centro da cidade de São Paulo que terá o codinome de Escola Alves. Segundo seu relato, a escola possui quadra de esportes, biblioteca, laboratórios, porém estão desativados, e um pátio para brincar na hora do recreio, além de uma cantina. O local onde estuda foi definido por Nico em duas partes, o prédio histórico bonito e o prédio novo, que está todo quebrado e é muito feio. Por enquanto, estuda no prédio feio, mas não vê a hora de mudar para o outro, o que acontecerá em breve. Sempre estudou nessa escola e nunca repetiu o ano. Já logo nos primeiros encontros, disse gostar de estudar e de ir para a escola. Na parte da tarde, fica no centro educacional e, além das atividades habituais, estuda violão.

Nico é um menino bem educado e interessado, que procurou cooperar durante todo o processo. É carinhoso, simpático e deu a impressão de ser maduro para a idade, veste um semblante de gentleman. Foi descrito como bom aluno e foi essa também a impressão que deixou na pesquisadora. Ele disse que estuda porque quer ser jogador de futebol ou advogado e é por isso que é importante se dedicar aos estudos. Não faz terapia e nem nunca fez.

JÚNIOR

Júnior tem onze anos e mora com o avô e a avó. Sua mãe mora com o marido que não é o pai de Júnior. Sua avó é auxiliar de enfermagem e diarista; e seu avô é taxista. Não descreveu sua casa, só disse que, quando precisa estudar, utiliza a mesa da cozinha e que quase nunca tem a ajuda dos avós.

Ele está matriculado no 5º ano do Ensino Fundamental em uma escola pública estadual no centro da cidade de São Paulo que receberá o codinome de Escola Carvalho nesse trabalho. Segundo seu relato, a escola não possui quadra de esportes, a biblioteca é improvisada, não tem laboratórios e somente há um pátio e uma cantina. Nunca trocou de escola e nunca repetiu o ano.

Na parte da tarde, fica no centro educacional e, além das atividades habituais, estuda violão.

Júnior é um menino educado e reservado. Procurou cooperar durante todo o processo. Ele tem o hábito de refletir antes de dar sua opinião sobre alguma coisa e, se é interrompido por uma criança, não solicita sua vez, deixa que outros falem. Foi descrito pelo centro educacional com baixo rendimento escolar.

O entrevistado, atualmente, não faz terapia, mas já fez. Consta em sua ficha no centro educacional que, por causa da dificuldade de aprendizagem, foi encaminhado a uma psicopedagoga que relatou que Júnior era bastante inseguro, tinha um forte desejo de proteção e dependência materna, além de falta de confiança nos contatos sociais e imaturidade.

CARLOS

Carlos tem onze anos, mora com a mãe, o pai e a irmã de seis anos. Ele tem mais dois irmãos adotados, que já são adultos e moram sozinhos, porém fica confuso em precisar o número de irmãos, assim como sua data de nascimento. Sua casa, segundo seu relato, é grande, ele tem um quarto só dele, onde costuma estudar, porém às vezes usa a mesa da cozinha ou o sofá. Mora afastado do centro, em um bairro no extremo da região Sul. Ele vem toda manhã com a tia para a escola e, depois, vai para o centro educacional. Sua mãe é diarista e seu pai, cabeleireiro (tem salão próprio). Seus pais estudaram até cerca do 5º ano do Ensino Fundamental.

Ele está matriculado no 5º ano do Ensino Fundamental em uma escola pública estadual no centro da cidade de São Paulo (estuda na mesma escola de Nico, porém em outra turma). Segundo seu relato, a escola possui quadra de esportes, biblioteca, laboratórios e um pátio para brincar na hora do recreio, além de uma cantina.

Na parte da tarde, ele fica no centro educacional e, além das atividades habituais, estuda violão e faz reforço escolar.

Carlos é um menino que adora fazer graça e, em todos os encontros, mudava o rumo do assunto discutido e era repreendido pelo grupo. Não mostrou interesse em participar, porém não queria desistir. Estava sempre impaciente, ficava se movimentando sem parar, a ponto de incomodar as outras crianças. Deu a impressão de sempre querer estar no próximo compromisso. Ele foi descrito pelo centro educacional com baixo rendimento escolar. Não faz terapia, mas já fez.