O universo de estudo deste trabalho é a unidade industrial de Vialonga da SCC, sendo os seus limites definidos pelos limites físicos da unidade (“universo de estudo”), conforme identificado na Figura 7.1 (contorno vermelho). Deste, dois grandes sistemas foram identificados: “Produção” e ”Complementar”. O primeiro corresponde ao conjunto de todas as estruturas, processos e operações intrínsecas ao processo fabril de produção de cerveja, tal como representado no Capítulo 2 (Figura 2.1). O segundo corresponde ao conjunto de todas as outras estruturas, processos e operações complementares ao processo produtivo. Esta divisão meramente conceptual, não tendo sido alvo de nenhuma abordagem concreta, é útil na compreensão da inter-relação entre os subsistemas identificados, sobre os quais incidiu a nossa análise.
Figura 7.1 – Delimitação física do objecto de estudo (fonte: Google Earth)
No Quadro 7.1 é apresentada a referida divisão em sistemas e subsistemas. A coluna “Sub- processos” pretende descrever a função/objectivo do subsistema, os principais processos e, quando o subsistema corresponde a um processo, os respectivos os sub-processos associados (por exemplo, a Malteria tem como objectivo produzir Malte que por sua vez é um processo com três sub- processos).
Quadro 7.1 – Identificação dos sistemas, subsistemas, sub-processos e operações associadas
Sistema Subsistema Sub-Processos Operações com Uso de Água
Produção
Malteria Produção de Malte: Molha, Germinação e
Secagem
Lavagens de equipamentos e instalações, Maltagem, WC's
Brassagem Produção de Mosto: Empastagem, Calda,
Ebulição; Arrefecimento do Mosto
CIP’s, lavagens de equipamentos e instalações, Fabrico, Arrefecimento do mosto, WC's e balneários, Trasfegas de Mosto, arrefecimento de
bombas Fermentação e
Guarda
Fermentação e armazenamento da cerveja fermentada antes do envio para Filtração;
Propagação de Leveduras
Trasfegas de cerveja, lavagens de equipamentos e instalações, CIP’s, WC’s e balneários, recuperação
de leveduras
Filtração Filtração, diluição e armazenamento da cerveja
filtrada
Trasfegas de cerveja, centrifuga, diluição de cerveja filtrada, lavagens de equipamentos e instalações, CIP’s, WC’s, Outras (diluição de Kieselghur, de aditivos e aromas p cerveja,…)
Enchimento de Garrafas e
Latas
Enchimento de garrafas e latas e respectivo empacotamento (grades ou "pack's");
Pasteurizadores (de Túnel e Flash), bombas de vácuo, Lavadoras de Grades, Lavadoras de garrafas retornáveis, Enchedoras de garrafas e
latas, rinsers, Lavagens de equipamentos e instalações, lubrificação de tapetes transportadores, CIP’s, WC’s, balneários e
similares (lavatórios, lava-olhos, etc) Enchimento de
Barris
Enchimento de Barris de cerveja e seu acondicionamento
Pasteurizador Flash, Lavadora/Enchedora de Barris, Lavadora Exterior de Barris, Lavadora Interior de Barris, Lavagens de equipamentos e
instalações, CIP, WC’s, balneários e similares, Lubrificação de tapetes transportadores
Refrigerantes Fabrico de refrigerantes e enchimento em barris; Enchimento de garrafas de Cerveja;
Fabrico de Refrigerantes, Rinsers, bomba de vácuo, Lavadora de Grades, Pasteurizador de Túnel, Enchedora/Lavadora Interior de Barris, Enchedora de Garrafas, Lavadora de Garrafas Retornáveis, Lavagens de equipamentos e
instalações, CIP, Lubrificação de tapetes transportadores
Complementar
ETAR
Gradagem/tamizagem; Remoção de óleos e gorduras; Equalização e neutralização; Decantações; Digestão Anaeróbia; Arejamento;
Clarificador/floculador; Osmose Inversa
Lavagens de equipamentos e instalações, WC’s
ETA Arrefecimento de água, desferrização e filtração Retrolavagens dos Filtros
Rede Incêndios Combate a incêndios, Rega, outras
Corpo AB
(administrativo) Usos semelhantes aos domésticos
Laboratório Usos laboratoriais, usos semelhantes aos
domésticos Produção de
Vapor
Produção de
Frio
Reposição do nível da água nas torres de arrefecimento, outras
CO2 Armazenamento de CO2 proveniente da
fermentação; Carbonatação de água e Cerveja
Separação entre o CO2 armazenado e a atmosfera, lavagens de equipamentos e
instalações, WC e balneário Movimento
Área destinada ao transporte de paletas de produto para carregamento de transporte
rodoviário
Lavagens de instalações, WC's e Balneários
Oficinas Lavagens de instalações, WC's e Balneários
Armazéns
Gerais Lavagens de instalações, WC's
Secagem de Leveduras
Recuperação de leveduras em excesso da
Nesta fase concluímos, devido à dimensão do processo e á sua complexidade, a impossibilidade de, face aos recursos disponíveis, abordar em pormenor neste trabalho a totalidade do universo de estudo.
7.2 Identificação dos fluxos de água
A entrada de água no universo de estudo tem duas origens: EPAL e Furos. A água da EPAL é fornecida essencialmente pela estação de captação do rio Tejo, sendo alternativamente fornecida pela captação do rio Alviela. Ao nível dos furos, existem actualmente quatro em funcionamento, cada um com contador totalizador do fluxo captado (Furo 8, Furo 9, Furo 10 e Furo 11). Toda a água captada é armazenada em dois tipos de cisternas: uma onde é misturada a água fornecida pela EPAL com a água captada dos furos, e outra apenas com água da EPAL. A água é distribuída por toda a unidade industrial a partir destas duas cisternas. Enquanto a água da EPAL é armazenada directamente nas cisternas, a água proveniente dos furos passa ainda por uma estação de tratamento onde é desferrizada antes do seu armazenamento para posterior distribuição. Existem associados a este fluxo três contadores: o CTA (totalizador do fluxo à entrada da ETA) e os contadores CT51 e CT48 (à saída da ETA, totalizam o fluxo de água desferrizada dos furos para a cisterna de armazenamento).
As saídas de água do universo de estudo para a sua vizinhança dão-se sob a forma de: produto (cerveja e refrigerantes), águas residuais tratadas e não tratadas para o meio receptor natural, vapor para a atmosfera, “dreches” (subprodutos da produção do malte e do mosto para fermentação) e de perdas não identificadas.
Entre as origens e os destinos da água temos todo o sistema de distribuição até aos consumidores finais. Na Figura 7.2 encontra-se representado esquematicamente, em forma de diagrama em árvore, os contadores identificados no circuito de distribuição de água. Na Figura 7.3 apresenta-se a interligação entre os contadores (e os seus fluxos de água) e os subsistemas identificados.
Na elaboração do esquema de distribuição de água representado na Figura 7.2, houve necessidade de proceder a algumas simplificações. Foram ignorados circuitos alternativos, controlados por meio de válvulas, utilizados apenas em caso de emergência. Alguns deles (tanto os circuitos como as posições relativas das válvulas) foram validados no terreno, outros através de plantas ou confirmados pelos funcionários da SCC, utilizadores e conhecedores dos mesmos, devido à sua inacessibilidade. Algumas estruturas físicas, como por exemplo barriletes de redistribuição de água, foram também ignoradas, tendo sido consideradas no diagrama apenas as suas entradas e respectivas saídas. Um exemplo destas simplificações verifica-se ao nível dos contadores CT31 e CT32. Estes estão à saída das duas cisternas de água “EPAL+Furos” (a qualidade da água é idêntica nas duas cisternas), e as respectivas tubagens a jusante do local onde contabilizam o volume de água encontram-se interligadas por meio de uma válvula que se encontra normalmente aberta. Para além disto, os dois circuitos terminam num barrilete, onde estes dois fluxos se misturam e são distribuídos para alguns dos subsistemas identificados. Assim, consideraram-se estes dois contadores e fluxos como um só.
Ao nível da atribuição de fluxos a determinados subsistemas, foram também assumidas algumas simplificações. No subsistema “Oficinas” foi considerada a atribuição da totalidade fluxo do contador CT65, no entanto este alimenta também alguns sanitários do subsistema “Malteria”. No subsistema “Produção de Frio”, foi igualmente considerada a atribuição da totalidade do fluxo do contador CT67, no entanto uma parte deste fluxo é utilizado na “Malteria” para baixar a temperatura da água de molha em situações pontuais quando esta atinge temperaturas elevadas nos dias mais quentes do ano. No subsistema “Movimento” foi igualmente considerada a atribuição da totalidade do fluxo do contador CT2, no entanto em termos espaciais uma parte do seu fluxo é dirigida para áreas desactivadas como a “Oficina de Viaturas” e “Estação de Serviço” onde a sua utilização será pontual e pouco representativa.
Malteria CT36 Fermentação e Guarda CT58 + CT19 + CT18 + CT1 + CT41 + CT59 + CT62 + CT70 + (CT15 – CT26) Brassagem CT23 + (CT11 - CT59 - CT62) + CT12 + CT25 + S/CT – CT38 Filtração CT3 + CT17 + (CT54 - CT56) Enchimento (CT24 – D6) + CT27 + S/ CT Barris (CT4 – CT10) + CT46 + D6 Rede Incêndios SI1 + SI2 + SI3 + SI4 Refrigerantes CT55 + (CT57 – CT65) + CT56 Produção de Vapor CT45 + CT47 Produção de Frio CT26 + CT50 + CT52 + CT53 + CT67 + CT16 ETAR CT64 Laboratório CT13 + S/CT ETA CT39 + CT49 Secagem Leveduras CT44 Armazéns Gerais CT10 Movimento CT20 + CT2 Oficinas CT65 CO2 CT40 Corpo AB CT69 SCC Entradas Saídas EPAL: - Tejo - Alviela Furos (4) Produto: - Cerveja - Refrig. Atmosfera Subprod.: - Dreches M.R.N. Outras Perdas Verdelha
Figura 7.3 – Diagrama representativo das entradas e saídas de água do universo de estudo e os contadores associados aos respectivos subsistemas (S/CT = sem contador)
Analisando as Figura 7.2 e Figura 7.3, verifica-se a existência de vários fluxos não contabilizados, nomeadamente para a “Brassagem” (circuito desactivado, segundo indicação dos funcionários), para o “Enchimento de Garrafas e Latas”, para o “Laboratório” e ainda para outros Pequenos Consumidores não identificados. Esta situação, aliada ao facto de um só contador servir mais do que um subsistema, vem introduzir limitações no balanço e fecho do ciclo da água. Sempre que possível, no subcapítulo 7.4, serão utilizados dados auxiliares e estimativas de forma a contornar estas limitações.