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A implementação de uma estratégia de gestão da água está fortemente dependente do conhecimento de todos os seus fluxos, a um nível de detalhe tanto maior quanto o for a sua representatividade em termos de quantidade e qualidade. Não seria possível, no âmbito deste trabalho, identificar detalhadamente todos os fluxos de água. Tanto pela dimensão como pela

complexidade do universo de estudo. Tendo em conta esta realidade, e assumindo que uma estratégia de gestão implica um conjunto de acções continuadas ao longo do tempo, a Estratégia de Gestão da Água que se propõe aqui, está dividida em três planos temporais de implementação: curto, médio e longo prazo.

Assim, a curto prazo, sugere-se a implementação de duas principais medidas: instalação de mais contadores, que permitam quantificar os fluxos identificados sem esse tipo informação e instalação de um sistema de leitura e registo dos dados, em tempo real e simultaneamente, dos contadores associados aos principais fluxos. Mais concretamente, sugere-se a instalação de contadores nos seguintes locais:

 Fluxo que serve as linhas 1 e 4 do subsistema “Enchimento de Garrafas e Latas” (o contador existe e está instalado mas está completamente inacessível);

 Fluxo de água Descalcificada, que serve o subsistema “Enchimento de Garrafas e Latas”, num local já depois da mistura com água “EPAL+Furos”;

 Fluxo não contabilizado que serve o “Laboratório”;

 Fluxo não contabilizado que serve outros pequenos consumidores;

 Circuitos alternativos, desprezados como forma de simplificação do circuito geral de distribuição de água (como por exemplo o de alimentação dos permutadores de calor na “Brassagem” com água “EPAL+Furos”), que podem introduzir erros no balanço se forem utilizados, permitindo também um melhor controlo de possíveis falhas e más práticas de operação;

 Fluxo de alimentação dos permutadores de calor para o arrefecimento do mosto (“Brassagem”) com água de Fabrico (já estão instalados mas não foi possível recolher registos dos mesmos);

 Fluxos de água associados ao circuito de distribuição de água quente: devido á complexidade do circuito não é possível a instalação de um contador totalizador para as entradas e para as saídas, pelo que seria adequado neste caso a instalação de contadores para os fluxos específicos dos consumidores finais (CIP’s, “Incorporação no Produto”);

 Medidor da variação de armazenamento de todas as cisternas de água, permitindo assim aplicar um balanço de volume com apenas uma incógnita, que seria relativa às perdas;

 Fluxos de água osmotizada para os seus consumidores finais específicos (Torres Novas de Refrigeração, Torres Velhas de Refrigeração e “Produção de Vapor”).

A instalação de um sistema automático de registo dos dados dos contadores acrescentaria, à luz da análise de resultados apresentada, as seguintes mais-valias:

 Controlo mais eficaz da calibração dos contadores através de comparações de registos de volumes, num mesmo espaço de tempo, de contadores totais com a soma dos respectivos contadores parciais (como no caso dos contadores CT45 e CT47 comparados com o CT66, associados ao subsistema “Produção de Vapor”);

 Eliminação dos erros humanos no registo das leituras dos contadores (como os verificados no contador SI4 em Maio de 2008 e no contador CT46, associado ao subsistema “Enchimento de Barris”, nos meses de Outubro e Novembro de 2008 e Maio de 2009;

 Eliminação de erros nos balanços de fecho do ciclo da água (como os identificados na Figura 7.13 e Figura 7.15), possibilitando maior certeza na aferição da existência de perdas ou “picagens” aos circuitos de distribuição não contabilizadas.

O conjunto destas medidas iria possibilitar uma identificação de eventuais perdas mais eficaz. Tendo em consideração a análise ao gráfico da Figura 7.26, a identificação concreta das perdas verificadas poderá significar uma redução significativa do consumo de água, representando assim um primeiro passo (simples e com baixo nível de complexidade e custos), na melhoria da eficiência do uso da água pela redução das perdas associadas. Também ao nível do custeamento da água por cada subsistema se poderão verificar benefícios. Na Figura 7.37 é ilustrada a amplitude máxima económica equivalente entre o consumo de água contabilizado com base nos contadores na origem do sistema de distribuição de água, com base nos contadores finais do sistema de distribuição de água e o consumo contabilizado na base de dados “Utilidades”. Estes resultados foram obtidos considerando um custo da água ponderado de 2,4 €/m3

tendo em conta os volumes utilizados e os diferentes custos da água fornecida pela EPAL e da água captada dos furos.

Figura 7.37 – Amplitude máxima económica equivalente de diferença entre balanços

A médio prazo, sugere-se a revisão da qualidade dos fluxos de água utilizados para determinados consumidores finais e da eficiência e adequação das tecnologias de tratamento de água para afinação da sua qualidade. Um exemplo de uma possível utilização inadequada verifica-se

0,0 € 10.000,0 € 20.000,0 € 30.000,0 € 40.000,0 € 50.000,0 € 60.000,0 €

ao nível dos fluxos de água descalcificada e água recuperada, utilizados para a mesma operação no subsistema “Enchimento de Garrafas e Latas”. Outra medida a médio prazo, também relacionada com os níveis de qualidade da água necessários para determinados processos, é a segregação de fluxos entre mangueiras utilizadas na lavagem de instalações e mangueiras utilizadas na lavagem de equipamentos com contacto com produto, com níveis de exigência de qualidade da água diferentes. Na sequência destas medidas, poderão surgir novas oportunidades de melhoria do uso eficiente da água, através da substituição (parcial ou, em último caso, total) das fontes de água actuais por fontes alternativas, como por exemplo captação de água da chuva, utilização da água osmotizada para outros processos por substituição do seu fluxo de alimentação actual por outro mais adequado ao tratamento por O.I. (por exemplo água das purgas das torres de refrigeração ou água do circuito de água recuperada). Estas três medidas apresentadas poderão, tendo em consideração a prévia implementação das medidas indicadas a curto prazo que permitam uma quantificação mais precisa dos fluxos de água, ser auxiliadas de outras ferramentas de gestão da como a “water pinch analisis”.

A longo prazo poderão ser então analisadas e implementadas novas tecnologias de tratamento de água que permitam a reutilização de outros fluxos de água ainda não utilizados ou que permitam níveis de qualidade superiores a partir dos fluxos já em uso, possibilitando a sua utilização em mais operações.

A gestão do uso da água deverá ser sempre auxiliada por indicadores quantitativos adequados (KPI) que permitam avaliar os impactos das medidas adoptadas no consumo de água. Igualmente imprescindível será a realização de avaliações técnico-económicas das medidas de potencial implementação a médio e longo prazo.

8 Conclusões

Partindo dos resultados da caracterização da SCC, parece-nos clara a existência, actualmente, de um conjunto de medidas implementadas respeitantes à eficiência do uso da água, como é o caso da utilização de água recuperada e da água osmotizada. Sem estas medidas certamente o consumo de água seria bastante superior ao actual. Não obstante estas medidas já aplicadas, muitas outras poderão ser implementadas, com claros benefícios ambientais e económicos, e algumas delas melhorando as boas práticas já utilizadas. A estratégia de gestão apresentada deverá ser vista como uma mera linha orientadora e não como uma verdade absoluta, que a ser implementada e seguida deverá ser alvo de uma melhoria contínua, principalmente no que diz respeito à integração de outras variáveis condicionantes dos perfis de consumo que não foram aqui abordadas.

Comparando os resultados de consumo de água obtidos com os de referência apresentados no Quadro 3.3 - Consumo de água para diferentes processos de produção de cerveja (fonte: ), confirmamos o seu enquadramento dentro dos limites apresentados. Apesar de alguns indicadores medidos nesta unidade industrial estarem abaixo do valor medido referenciado na literatura (como é o caso do consumo global de 0,43 m3/hl face aos 0,47 m3/hl indicados no Quadro 3.3, ou do consumo da “Brassagem” de 0,11 m3

/hl face aos 0,13 m3/hl), alguns outros encontram-se mais próximos do valor máximo como é o caso da “Filtração” e do “Enchimento de Garrafas e Latas”. Esta situação aliada ao facto dos dados de referência mencionados na literatura poderem estar algo desactualizados devido aos progressos verificados na eficiência do uso da água neste sector desde 1992, realçam as potencialidades de melhoria de uso da água nesta unidade industrial e os seus consequentes benefícios económicos.

De toda a experiência prática e de acompanhamento no campo (que muitas vezes não é possível de transpor para o papel) dos processos e das pessoas neles envolvidas, destaca-se a importância do envolvimento e sensibilização de todos os seus intervenientes para o sucesso de implementação e manutenção de uma qualquer estratégia de gestão da água. Esta só é possível com pessoas, com o seu envolvimento e o seu compromisso no sentido de uma melhoria continua.

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