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PARTE II PRÁTICAS DE LEITURA NAS SALAS DE

3.1. O LIVRO DIDÁTICO

3.1.2. Caracterização e uso

Livro didático de Português

O livro De olho no futuro, de Cássia Leslie Garcia, Maria Paganini Cavequia e Maria Aparecida Almeida, Vol.4, adotado nas escolas, foi publicado em 1996 e classificado pelo PNLD 2000/2001 como “recomendado com ressalvas” (ver parecer, Anexo 3), sendo excluído do PNLD 2004. O livro está estruturado em unidades subdivididas nas seguintes seções: “Interpretação”, “Vocabulário”, “Gramática”, “Ortografia”, “Composição” (proposta de redação) e, eventualmente, “Outras palavras”, “Outras imagens” ou “Extra, extra”. Constam desta última exercícios lúdicos para o desenvolvimento da percepção visual,

memória, etc. Este volume apresenta 22 unidades, estruturadas em torno de textos básicos, cujos temas são explorados nas seções.

As autoras, na apresentação do volume, enfatizam a função “comunicativa” da língua, concebendo-a como código: Chegou a hora de conhecer melhor as riquezas do idioma que você usa todos os dias - a língua portuguesa (p.3). Essa concepção, de acordo com o Guia de Livros Didáticos 2000, “está subjacente aos diferentes níveis que configuram a obra, prejudicando, muitas vezes, as propostas de atividades, marcadas por artificialismo e mecanicismo” (p.255).

O conjunto de textos que compõem a seleção assegura razoável diversidade de gêneros. São eles: dois poemas, doze narrativas de ficção, uma fábula, uma narrativa da mitologia grega, duas narrativas-documentários, três verbetes e um cartaz publicitário. Porém, “a diversidade de variedades e registros lingüísticos é restrita” e “no que diz respeito à seleção autoral, ficam excluídos autores de diferentes épocas, regiões e nacionalidades” (Guia 2000, p.255).

Há diversidade em relação aos temas abordados pelos textos e variedade de “pontos de vista e de tratamento dos temas, voltados para a realidade social e que contribuem mais significativamente para a discussão e a construção da cidadania” (Guia 2000, p.255).

Há predominância de textos autênticos e “o equilíbrio entre o número de textos integrais e fragmentos” (Guia 2000, p.255). Os textos apresentados nas unidades não são longos, considerando-se que não existem muitos textos complementares e suplementares com a finalidade de estabelecer relações significativas, no sentido de enriquecer a compreensão do texto principal.

As atividades de compreensão de textos concebe a leitura como decodificação, pois, no geral, estão restritas à localização e à recuperação de informações nos textos, levando o aluno a coletar dados, informações e fragmentos do texto principal, para recopiá-los nos campos referentes às respostas das questões de “Interpretação”. As atividades são formadas por perguntas/respostas padronizadas e repetitivas, não levando “o aluno à compreensão e à reflexão crítica” (Guia 2000, p.255).

Entretanto, há, também, exposições e debates, que valorizam, ainda que minimamente, o papel do leitor na construção do sentido, e questões inferenciais, “a partir das quais o aluno é levado a pensar, refletir, raciocinar e até articular sentidos possíveis para o texto” (Guia 2000, p.256). Destacam-se, ainda, questões subjetivas,

em que se mobilizam conhecimentos prévios do aluno para a leitura, assim como sua história pessoal e afetiva; e as questõesglobais, em que se solicita a visão do texto como um todo, articulando níveis de sentido cada vez mais complexos (Guia

2000, p.256).

[...] pelo fato de serem privilegiadas determinadas atividades, em detrimento de outras, pode-se dizer que o livro tem como objeto de ensino as estruturas da Língua Portuguesa. Seu traço mais evidente está no esforço em fixar regras e repetir conceitos, a fim de facilitar a memorização de conteúdos (Guia 98, p.164).

Livro didático de Ciências

O livro De olho no futuro, de Marinez Meneghello, Vol. 4, adotado nas escolas, foi avaliado pelo PNLD 2000/2001 como “recomendado com ressalvas” (ver parecer, Anexo 4), assim como o de Português. O livro tem 174 páginas e seu conteúdo está dividido em quatro unidades: “Natureza em ação”, com cinco capítulos, nos quais aborda temas ligados à eletricidade, magnetismo, combustão, calor e luz; “Nosso corpo”, com nove capítulos, que discorrem sobre o sistema fisiológico humano; “Vida na Terra”, que contém dois capítulos relativos a seres vivos e cadeia alimentar; e “Questão ambiental”, que possui como temas o ambiente e o ser humano. Acompanham a obra um caderno de experiências e sugestões de leitura.

De acordo com o Guia (2000, p.613)

a seleção de conteúdos desta obra contempla grande quantidade de conhecimentos, ampliando os já desenvolvidos nos volumes de séries anteriores. Apesar de conter abordagens bastante interessantes do ponto de vista da formação do espírito crítico e da cidadania, algumas delas são próprias de séries mais avançadas e, normalmente, não se fazem acompanhar do correspondente rigor conceitual, o que demanda complementações e revisões, de forma a reparar alguns trechos para garantir o adequado aprendizado dos alunos.

A maioria dos textos contidos no livro são expositivos e em cada capítulo há atividades que exploram questões que se limitam a exercitar a memorização de definições e de nomes. As competências em leitura exigidas pelas atividades do livro didático foram, basicamente, localizar informação explícita no texto e inferir uma informação explícita. As perguntas, além de objetivas, são do tipo cópia. Alguns exercícios serão exemplificados no item referente às atividades de leitura.

Livro didático de Alfabetização

O livro adotado na Turma B da Escola 2, que estava sendo alfabetizada, Eu chego lá - No mundo da leitura e da escrita - Alfabetização, de Maria da Conceição Stehling Melo e Cora Maria Toccheton Barauskas, também foi avaliado pelo PNLD 2000/2001 como “recomendado com ressalvas” (ver parecer, Anexo 5), sendo excluído do PNLD 2004.

O livro é dividido em duas partes: letras e palavras-chave e palavras-chave e sílabas. A primeira delas contém 26 unidades voltadas para a construção de conceitos a respeito dos usos e das funções da escrita, entendida como sistema de representação, apresentando atividades que visam à comparação entre diferentes sistemas de representação, como desenho, ideogramas, pictogramas e números. A segunda contém 49 unidades e está voltada, predominantemente, para a abordagem do sistema de escrita como código de transcrição da fala, apresentando atividades de análise de palavras-chave em famílias silábicas, partindo do aprendizado das letras em direção à sistematização das chamadas “sílabas simples” (bo, fa, li, me, etc.) e, posteriormente, às sílabas consideradas “complexas” (ch, x, pr, pl, etc.). “Privilegiam-se atividades de análise, identificação, fixação e síntese, explorando-se as chamadas ‘dificuldades ortográficas’, organizadas com base em famílias silábicas abordadas por meio de palavras-chave” (Guia 2000, p.89).

A seleção textual representa, em linhas gerais, diferentes tipos de textos que circulam em sociedades letradas, como o anúncio, convite, receitas, quadrinhos, dicionário, poemas, cantigas e textos de tradição oral e informativos. Esses textos são retirados de diferentes suportes de circulação, como livros, jornais, revistas, rótulos e enciclopédias. Dentre os textos apresentados no corpo da cartilha, 17 foram retirados de livros infantis, alguns de modo integral, outros por meio de fragmentos e adaptações que, em geral, não comprometem a sua textualidade; 11 provêm do folclore e da tradição oral, como parlendas, canções, quadrinhas, adivinhas e trava-línguas, nem sempre apresentados com a referência da fonte. Há, também, um número significativo de textos sem autoria ou indicação de fonte. Alguns textos serão exemplificados na parte referente às atividades de leitura.

De acordo com o Guia (2000, p.89), “neste livro, adota-se uma abordagem de natureza diversificada, que focaliza a escrita ora como sistema de representação, ora como código de transcrição da fala”.

Quanto às atividades de compreensão de textos, existem poucas questões apresentadas e boa parte delas está voltada apenas para a identificação de fatos e informações do texto. Por exemplo: Quem pia é: o passarinho, o sapo, a letra P, o sapé; Quem tem papo?; O que a cigarra fez durante todo o verão?; O que a formiga fez durante todo o verão? De acordo com o Guia 2000, “devem ser feitas ressalvas ao reduzido universo e ao foco das questões, insuficiente para a exploração macroestrutural dos textos, especialmente dos processos coesivos” (p.90).

Buscando compreender como se constituem as interações e práticas de letramento mediadas pelo material textual, analisa-se, a seguir, como esse recurso material foi utilizado na sala de aula, contrastando as ações propostas por esses materiais com as ações desenvolvidas pelos participantes.