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PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO

6. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

6.1. Caraterização da Amostra

6.1.2. Caraterísticas Clínicas

No que concerne ao serviço de internamento, quase metade das pessoas internadas entrevistadas (47%) encontravam-se no serviço de Medicina Interna. Importa ainda referir o número reduzido de pessoas entrevistadas do serviço de Psiquiatria (6% do total da amostra), e o número insignificante de pessoas entrevistadas na UCI (1% da amostra) (Tabela 9).

É ainda importante ressalvar que, inicialmente, esperava-se realizar entrevistas em número significativo nos diversos serviços de internamento pré- definidos. Porém, pelo facto de o serviço de Psiquiatria em estudo se tratar de um local para internamento de doentes agudos, a média de idades é bastante inferior àquela que foi definida como critério de inclusão para o presente estudo (!65 anos). Quanto à UCI, o reduzido número de entrevistas realizadas deveu-se ao facto de ser muito reduzido o número de doentes que cumprissem o critério “score > 8 na Escala de Coma de Glasgow – ECG”; ainda que alguns doentes cumprissem este critério, também se verificou que uma pessoa com níveis próximos de 8 na ECG se apresenta, manifestamente, incapaz de responder aos itens constituintes da entrevista (incluindo para avaliação através do preenchimento dos instrumentos psicométricos).

Tabela 9 - Distribuição da Amostra por Serviço de Internamento

N %

Medicina Interna 47 47,0

Cirurgia 18 18,0

Ortopedia 28 28,0

Unidade de Cuidados Intensivos 1 1,0

Psiquiatria 6 6,0

Total 100 100,0

Quanto à variável “patologia principal” importa, desde logo, referir que a sua aferição foi realizada utilizando, como fonte, o quadro presente na sala de Enfermagem dos diversos serviços de internamento, onde estavam especificadas as patologias pelas quais os participantes se encontravam internados. Ressalva-se ainda que, em alguns casos, o internamento era resultado de mais do que uma única patologia pelo que, por vezes, as pessoas internadas apresentavam duas ou mais patologias principais (em alguns casos, até de tipologias bastante distintas). Desde logo, e analisando esta variável, é possível perceber que a grande maioria das pessoas internadas apresenta, somente, uma patologia principal (ou

pelo menos, patologias da mesma tipologia), sendo algo reduzidos os casos em que se verifica a acumulação de patologias de tipologias distintas. Na amostra, destacam-se as patologias do aparelho circulatório (19%) e do aparelho

respiratório (18%), sendo estas seguidas de perto pelas “lesões, envenenamentos

e algumas outras consequências de causas externas” (15%), doenças do aparelho genitorourinário (14%) e doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (14%) (Tabela 10). Relativamente às “lesões, envenenamentos e algumas outras consequências de causas externas”, importa referir que grande parte destes casos se verificam em serviços de Ortopedia, relacionados com quedas ou complicações com próteses que levam à necessidade de internamento ou reinternamento.

Tabela 10 - Patologias Principais Frequentes dos Participantes no Estudo

N %

Neoplasias (Tumores) 100 6,0

Doenças Ap. Circulatório 100 19,0

Doenças Ap. Respiratório 100 18,0

Doenças Ap. Digestivo 100 6,0

Doenças Sist. Osteomuscular 100 14,0

Doenças Ap. Genitorurinário 100 14,0

Sintomas, Sinais e Achados Anormais 100 6,0

Lesões, Envenenamentos e Consequências

de Causas Externas 100 15,0

Já outros tipos de patologia são bastante escassos na amostra, com destaque para os casos de doenças da pele e do tecido subcutâneo (1%), doenças infeciosas e parasitárias (4%) e doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (4%).

A variável “outras patologias” refere-se, sobretudo, aos antecedentes pessoais das pessoas idosas internadas, no sentido de tentar perceber se estão presentes, nas mesmas, condições patológicas que possam enviesar os resultados obtidos aquando da avaliação do delirium e/ou confusão aguda através dos instrumentos psicométricos utilizados no presente estudo (sobretudo o CAM). Assim, esta assumiu apenas o papel de variável string, não tendo sido alvo de qualquer análise estatística, descritiva ou inferencial. Ainda assim, esta variável apresentou grande utilidade para a análise e interpretação dos resultados falsos positivos e falsos negativos obtidos. Apesar de não ter sido realizada análise estatística dos dados referentes à variável “outras patologias”, foi realizada

análise de conteúdo, tendo-se verificado elevados índices de prevalência de Hipertensão Arterial (66 casos), dislipidemia (31 casos), Diabetes Mellitus (27

casos, sobretudo do tipo 2), Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (16 casos), Insuficiência Cardíaca Congestiva (12 casos), AVC (11 casos), hábitos etílicos

(10 casos), e Insuficiência Renal (10 casos). Ao nível da patologia mental, foram ainda detetados sete casos de Depressão ou Síndrome Depressiva, e seis casos de patologia demencial. Nesta análise, não foi dado particular relevo a patologias mais comuns, como os hábitos tabágicos ou a obesidade, ainda que a sua prevalência seja, igualmente, muito significativa.

O tempo médio de internamento das pessoas entrevistadas é de 11,49 dias, sendo o tempo mínimo de internamento de um dia, e o tempo máximo 88 dias (sendo este um valor que pode ser considerado um outlier). Registou-se uma

dispersão significativa do tempo de internamento dos participantes que, em

média, se afastou 12,83 dias em torno da média. A este nível, importa ainda ter em atenção (devido à presença de outliers), sobretudo, os valores referentes à

moda, que indicam que o número de dias de internamento mais repetido na

amostra é de três dias, e à mediana, indicando que 50% das pessoas entrevistadas apresentavam um período de permanência no internamento até sete dias.

Em relação aos antecedentes de confusão aguda importa referir, desde logo, a pouca fiabilidade dos dados obtidos, pelas seguintes razões: da análise do processo clínico, apenas havia acesso aos internamentos anteriores no Hospital em que foi realizada a colheita de dados (perdendo-se, assim, dados relativos a internamentos noutros contextos); os médicos assistentes não identificaram, em qualquer caso, a presença de diagnóstico de delirium; alguns registos de Enfermagem faziam referência a “confusão”, “desorientação” e “alteração da consciência”, sendo difícil clarificar se, efetivamente, se tratavam de casos de confusão aguda e/ou delirium; as equipas de Enfermagem não tinham, em qualquer dos casos analisados, conhecimento acerca de estados confusionais agudos prévios dos doentes; os dados obtidos a partir dos familiares eram, por vezes, inconsistentes, sendo que uns faziam referência a antecedentes de confusão aguda, enquanto outros apresentavam uma “opinião” diferente. Importa ainda referir que, como antecedentes de estado confusional agudo, foram apenas considerados os casos anteriores à admissão no internamento em que foi realizada a entrevista.

Após ressalvar aspetos tidos como importantes na análise desta variável, verifica-se que apenas 8,1% das pessoas entrevistadas apresentavam

antecedentes de estados confusionais agudos (Tabela 11). Houve ainda um caso

em que não foi possível ter acesso a esse dado (por impossibilidade de consulta do processo clínico, visto que o doente teve alta clínica pouco tempo após a realização da entrevista de colheita de dados).

Tabela 11 - Estatística Descritiva: Tempo de Internamento e

Antecedentes de Confusão Aguda

% Média Moda Mediana Mínimo Máximo Desvio-

Padrão Tempo Internamento ____ 11,49 3 7,00 1 88 12,83 Antec. Confusão Aguda Sim 8,1 ____ ____ ____ ____ ____ ____ Não 91,9 ____ ____ ____ ____ ____ ____

Quanto à medicação prescrita, desde logo importa perceber o número de medicamentos prescritos por doente. Assim, em média, a cada pessoa internada (participante no presente trabalho) eram administrados um total de 10,76 medicamentos, com um desvio-padrão de 3,50 medicamentos. O número mínimo de medicamentos administrados foi quatro, enquanto o máximo foi 19.

Tabela 12 - Estatística Descritiva: Medicação Prescrita

N % Média Mínimo Máximo Desvio-

Padrão Nº Medicamentos Prescritos 100 ___ 10,76 4 19 3,50 Med. Prescrita Med. Anti- Infeciosos 100 53 ____ ____ ____ ____ Med. SNC 100 97 ____ ____ ____ ____ Med. Ap. Cardiovascular 100 81 ____ ____ ____ ____ Med. Sangue 100 78 ____ ____ ____ ____ Med. Ap. Respiratório 100 37 ____ ____ ____ ____ Med. Ap. Digestivo 100 88 ____ ____ ____ ____ Hormonas e Med. Doenças Endócrinas 100 46 ____ ____ ____ ____ Corretivos Volemia e Alt. Eletrolíticas 100 47 ____ ____ ____ ____

Para além disso, é igualmente importante perceber qual é o tipo de

integrantes da amostra. Assim destaca-se a prescrição dos medicamentos para o

Sistema Nervoso Central (onde se inclui o Paracetamol) (97% da amostra), medicamentos para o aparelho digestivo (onde se inclui o Esomeprazol e a

Metoclopramida) (88% da amostra) e os medicamentos para o aparelho

cardiovascular (onde se inclui a Furosemida) (81% da amostra) (Tabela 12).

Destaca-se ainda a reduzida prescrição dos medicamentos usados em afeções cutâneas (2% da amostra), dos medicamentos usados em afeções oculares (7% da amostra), dos medicamentos utilizados com fins de nutrição (8% da amostra) e dos medicamentos para o aparelho genitourinário (9% da amostra).

Acerca desta variável, importa referir que foi considerada toda a medicação constante na folha de prescrição farmacológica de cada participante, incluindo os medicamentos que se encontravam prescritos para administração apenas em SOS (que é frequente, por exemplo, no caso do Paracetamol).