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Comparação entre os Critérios do DSM-IV-TR ® e da NANDA

PARTE I – ENQUADRAMENTO CONCETUAL E TEÓRICO

3. INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO DA CONFUSÃO AGUDA E DO DELIRIUM

3.6. Comparação entre os Critérios do DSM-IV-TR ® e da NANDA

(2002), no DSM-IV-TR®, para o diagnóstico de delirium, e os critérios apresentados pela NANDA International (2010), no livro de diagnósticos da NANDA®, para o diagnóstico de confusão aguda, tem como principal função ajudar a compreender, um pouco melhor, o que medem, efetivamente, o CAM e a Escala de Confusão NeeCham sabendo, previamente, que o CAM é um instrumento desenhado para realizar o diagnóstico de delirium, enquanto a Escala de Confusão NeeCham é uma escala desenhada para fazer um rastreio relativamente à identificação de um estado confusional agudo (geral, não especificamente o delirium). Para além disso, esta análise oferece ainda um ponto de comparação, emparelhado, entre o CAM e os critérios da APA (2002) para o diagnóstico de delirium, e entre a Escala de Confusão NeeCham e os critérios da NANDA International (2010) para o diagnóstico de confusão aguda (já que esta comparação permite apreciar os critérios apresentados por “instrumentos” diferentes, mas que avaliam as mesmas entidades nosológicas).

Assim, e partindo para a comparação entre os critérios de diagnóstico da APA (2002) para o delirium e da NANDA International (2010) para a confusão aguda (Tabela 4) verifica-se, desde logo, que existem algumas semelhanças entre ambas as condições. Desde logo, em ambos os casos se verifica que o desenvolvimento da condição é abrupta (ocorre num curto período de tempo) e que existe um curso flutuante da mesma (com flutuações ao nível cognitivo, da consciência e, no caso da confusão aguda, da atividade psicomotora). Para além destas, verificam-se ainda semelhanças ao nível das consequências cognitivas (cognição alterada, e com flutuações, sobretudo ao nível da atenção, orientação, linguagem e memória), da consciência (com perturbações ao nível da consciência que vão apresentando um curso flutuante), e da perceção (verificando-se uma perturbação

da perceção, que se pode refletir sobre a forma de perceções erróneas e/ou de alucinações).

Tabela 4 - Comparação entre os Critérios do DMS-IV-TR® (Delirium) e dos Diagnósticos NANDA® (Confusão Aguda)

Fonte: Elaborado a partir dos dados de APA (2002) e NANDA International (2010)

No entanto, e tal como seria expectável, considerando que delirium e confusão aguda não se tratam de condições iguais, verificam-se diferenças entre cada uma destas entidades, sobretudo porque a confusão aguda, por se tratar de uma condição mais ampla, apresenta um leque mais alargado de caraterísticas definidoras. Assim, no caso da confusão aguda, a NANDA International (2010) apresenta caraterísticas relacionadas com o comportamento físico (aumento da agitação e inquietação, havendo, contudo, uma flutuação nessas caraterísticas) e

Critérios de

Diagnóstico DSM-IV-TR

®

(Delirium) Diagnósticos NANDA

® (Confusão Aguda)

Consciência Perturbação da consciência (diminuição

da perceção do ambiente)

Flutuação no nível de consciência

Cognição

Alteração da cognição (incluindo desatenção, desorientação, perturbação da linguagem ou défice de

memória)

Flutuação da cognição

Perceção Desenvolvimento de uma perturbação

da perceção Alucinações e perceções erróneas Comportamento Físico _________ Agitação e inquietação aumentadas; flutuação na atividade motora Volição _________ Falta de motivação para: iniciar e manter

um comportamento voltado para uma meta;

iniciar e manter um comportamento

voluntário

Flutuação Presente Presente

Desenvolvimento Ao longo de um curto período de tempo Abrupto

Exclusão do Diagnóstico

Se alterações na cognição forem atribuídas a uma demência pré-

existente ou em evolução

A demência pode ser um fator relacionado com a

com a volição (são referidos diversos défices motivacionais relacionados com o início e manutenção de um comportamento voluntário e dirigido para uma meta). No caso do delirium, a APA (2002) refere que a entidade nosológica não deve ser diagnosticada no caso de esta ser mais bem explicada por uma demência pré- existente ou em evolução. Por outro lado, no que concerne à confusão aguda, e ainda que a NANDA International (2010) não refira que a confusão aguda não deve ser diagnosticada no caso de esta situação ser melhor explicada por uma demência pré-existente ou em evolução, é referido que a demência pode assumir-se como um fator relacionado com a confusão aguda. Portanto, verifica-se que a confusão aguda pode apresentar uma relação com a demência, o que não significa que esta deva ser diagnosticada se os sinais e sintomas apresentados pelo doente forem mais bem explicados pela evolução ou pré-existência de uma demência.

Em jeito de conclusão, é extremamente importante, na prática clínica, perceber qual a sintomatologia apresentada pelo doente, e se esta é sugestiva de confusão aguda ou, mais especificamente, de delirium. Realizando essa associação, torna-se possível finalizar o processo de tomada de decisão relativamente a qual o melhor instrumento psicométrico (CAM ou Escala de Confusão NeeCham) a utilizar. Em caso de dúvida, a Escala de Confusão NeeCham, pelo facto de avaliar a confusão aguda (condição mais abrangente) parece ser a melhor opção, já que permite um rastreio de uma condição mais geral. No entanto, o CAM, por ser um instrumento de diagnóstico de delirium (condição mais específica), pode permitir a realização de um diagnóstico mais concreto. Importa ainda ressalvar que, apesar de existir literatura que aponta o CAM como um instrumento de diagnóstico, a autora (principal responsável pela sua construção), afirma que a utilização pretendida do mesmo é enquanto instrumento de rastreio do delirium (Inouye, 2003).

Por ser um instrumento mais geral, a Escala de Confusão NeeCham, parece ser capaz de identificar, igualmente, o delirium (condição mais específica). Assim, torna-se importante, igualmente, perceber se o CAM é um instrumento psicométrico capaz de identificar casos de confusão aguda para além daqueles que se inserem nos critérios específicos do delirium, algo que não foi possível aferir a partir dos estudos analisados, decorrentes da pesquisa realizada.