• Nenhum resultado encontrado

1. INTRODUÇÃO 33 A gestão da doença crónica

2.3. Seleção dos participantes

2.3.2. Caraterização clínica dos participantes

Os participantes da primeira fase do estudo têm em média, aproximadamente 4 anos de transplante (DP = 4,54). O tempo de transplante varia entre os 6 meses e os 18 anos, contudo 50% dos participantes têm até 3 anos de transplante. 11% (n = 16) dos participantes teve necessidade de retransplante. O tempo médio de internamento dos participantes aquando do transplante foi de 30 dias (DP = 23,57), sendo que o participante que esteve menos dias internado permaneceu 10 dias no hospital e o participante internado durante mais tempo

permaneceu 156 dias. Todavia, 50% dos participantes estiveram internados, aquando do transplante hepático até 22 dias.

No que se refere à causa da doença hepática verificamos que em 36% dos participantes foi o álcool, seguindo-se a mutação da transtirretina que provoca a PAF com 17,3%.

Tabela 8: Distribuição dos participantes pela causa da doença hepática

Causa da doença do fígado n %

Álcool 54 36

Mutação da transtirretina 26 17,3

Hepatite 23 15,3

Mista (álcool e hepatite ou hepatite e carcinoma) 22 14,7

Carcinoma 6 4

Outras 19 12,7

Apresentamos na tabela 9 os valores médios dos parâmetros da função hepática, uma vez que é uma das medidas que traduz o sucesso do transplante hepático. De forma a melhor compreender os dados tomamos como referência os valores preconizados no contexto do estudo.

Tabela 9: Perfil analítico da função hepática dos participantes

Parâmetros Valores médios (min.-max.) Valores de Referência (CHP) Alanina Aminotransferase (ALT/TGP) (U/L) 42,91 (3,0-240,0) 10-44 Aspartato Aminotransferase (AST/TGO) (U/L) 36,19 (9,0-192,0) 10-34 Fosfatase alcalina (FA) (U/L) 153,61 (38,0-1113,0) 45-122 Gamaglutamiltransferase (GGT) (U/L) 150,03 (5,0-1515,0) 10-66

Bilirrubina total (mg/dl) 1,06 (0,22-13,91) 0,20-1,0

Albumina (g/dl) 4,07 (2,07-5,53) 3,5-5,0

Creatinina Sérica (mg/dl) 1,25 (0,32-10,18) 0,9-1,1

INR 1,17 (0,86-3,36) 0,7-1,2

Da análise dos dados verificamos que os participantes do estudo têm, genericamente, valores médios superiores aos preconizados na tabela de referência2.

Dadas as limitações que os valores da média encerram fomos verificar a percentagem de participantes que possuíam valores acima dos valores de referência preconizados. Verificámos que 32% apresentam valores de creatinina acima dos valores preconizados; 28,7% na bilirrubina; 35,3% no TGO; 28,7% no TGP; 32% na fosfatase alcalina; 6% na albumina (23% abaixo); 40% no INR. Apesar de genericamente os participantes do estudo apresentarem nos valores médios resultados acima do normal, verificamos que a sua maioria apresenta percentualmente valores dentro do valor de referência, sendo por isso considerados neste âmbito casos de sucesso.

77 Avançamos então no cálculo da intensidade da alteração dos valores analíticos com recurso à recodificação das variáveis originais (Mota, 2011). A cada um dos parâmetros analíticos (variável original) e, em cada caso, foi atribuído o valor 0 quando o parâmetro estava abaixo do normal, o valor 1 quando estava dentro da normalidade preconizada pelo HSA e o valor 2 quando estava acima do normal. A intensidade da alteração dos valores analíticos é igual à média ignorando os nulos dos 8 valores que compõe a nova variável. A intensidade dos valores analíticos varia entre zero e 2, sendo que os casos com valores mais próximos de 2 são os que estão analiticamente piores.

Tabela 10: Estatística descritiva da intensidade da alteração dos valores analíticos

Mínimo Máximo Média Desvio padrão

0,50 1,75 1,26 0,23

Os participantes do estudo apresentam uma intensidade de alteração dos valores analíticos próximo de 1, o que significa que estão analiticamente bem.

Dado existirem estudos que utilizam o score MELD (Model for End-Stage Liver Disease) para predizer a sobrevida após transplante hepático (Habib, et al., 2006) calculámos o mesmo, de acordo com os dados analíticos dos nossos participantes, apesar de em Portugal o score MELD ser utilizado para priorizar os doentes em lista para transplante. Com recurso ao valor médio de cada um dos parâmetros clínicos da fórmula matemática verificamos que os nossos participantes têm um score MELD médio de 11 o que é indicativo de bom prognóstico, uma vez que scores MELD inferiores a 15 são um indicador de baixo risco de morte (Habib, et al., 2006).

Na análise da condição de saúde dos participantes consideramos ainda a perceção que estes têm de um conjunto de sinais e sintomas que são a expressão das alterações da função hepática (prurido, ascite, edema...) (anexo III). Cada uma das variáveis originais (prurido, ascite…) foi operacionalizada numa escala ordinal de frequência, que variava entre 1 – nunca e 5 – sempre. O cálculo da “intensidade dos indicadores qualitativos de complicação hepática” foi efetuado com recurso à média, ignorando os nulos, dos itens que a compõe. Os valores ou scores desta nova variável variam, também, tal como as variáveis originais entre 1 e 5 e, quanto mais próximo de 5 for o score calculado, maior é a perceção que o indivíduo tem das alterações nesse conjunto de sinais/sintomas. Assim, os indivíduos com scores mais próximos de 1 estão genericamente melhor.

Tabela 11: Estatística descritiva da intensidade dos indicadores qualitativos de complicação hepática

Mínimo Máximo Média Desvio padrão

1,00 2,62 1,45 0,42

Uma vez que os participantes do estudo apresentam valores médios mais próximos de 1 têm uma perceção baixa da intensidade dos indicadores qualitativos de complicação hepática. Contudo, constatou-se que 19% dos participantes não percecionavam qualquer complicação que fosse reflexo de uma alteração da função hepática.

Para além da computação de uma variável que agregava a perceção de cada participante acerca da intensidade de todos os sinais e sintomas indicativos de algum compromisso da função hepática, procedemos a um processo semelhante, mas tendo em consideração alguns aspetos da estrutura da CIPE® (ICN, 2011). Assim, denominados por “intensidade das hemorragias” o constructo que agrega os itens originais relacionados com as hemorragias e as epistaxes (as melenas foram excluídas uma vez que não se verificou em algum caso); “intensidade das sensações” a variável que agrega, para além das náuseas, da dor, do prurido e do apetite, os vómitos e o cansaço; “intensidade da retenção de líquidos” que agrega os edemas e a ascite; “intensidade dos compromissos mentais” que agrega a sonolência, alterações na concentração e compromissos na memória.

O cálculo da intensidade de cada um dos constructos foi efetuado com recurso à média, ignorando os nulos, dos itens que os compõe (tal como se procedeu no cálculo da “intensidade dos indicadores qualitativos de complicação hepática”). Os valores de cada um dos constructos varia entre 1 e 5, sendo que quanto maior é o valor ou score, maior será a perceção que o indivíduo tem da intensidade das complicações.

Tabela 12: Estatística descritiva da intensidade das complicações (indicadores qualitativos de complicação hepática) Intensidade das hemorragias Intensidade das sensações Intensidade da retenção de líquidos Intensidade dos compromissos mentais Mínimo 1,00 1,00 1,00 1,00 Máximo 2,00 3,25 5,00 4,00 Média 1,05 1,57 1,38 1,76 Desvio Padrão 0,16 0,54 0,76 0,77

Tendo presente que o valor 1 representa ausência da “complicação” constata-se que 50% dos participantes não evidenciam/percecionam complicações ao nível das hemorragias e da retenção de líquidos. Os valores médios apurados indicam, genericamente, intensidades baixas das diferentes complicações.

79