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1. INTRODUÇÃO 33 A gestão da doença crónica

2.1. Desenho do estudo

Em consequência da finalidade e dos objetivos de investigação que orientaram esta pesquisa enveredamos por um estudo de natureza qualitativa, pelo facto desta metodologia implicar “(…) ênfase sobre as qualidades das entidades e sobre os processos e os significados que não são examinados ou medidos experimentalmente (…)” (Denzin & Lincoln, 2006, p. 23). Na pesquisa qualitativa os investigadores procuram “(...) soluções para as questões que realçam o modo como a experiência social é criada e adquire significado” (Denzin & Lincoln, 2006, p. 23). Além disso, na pesquisa qualitativa ressalta-se “(…) a natureza socialmente construída da realidade, a íntima relação entre o pesquisador e o que é estudado, e as situações situacionais que influenciam a investigação” (Denzin & Lincoln, 2006, p. 23), pelo que o investigador tenta compreender os significados que as pessoas criam acerca dos fenómenos (Santos, et al., 2016). Assim, decidimos avançar com a investigação em duas fases como demonstra a figura 9.

Figura 9: Desenho do estudo de investigação

A fase I do estudo assenta num paradigma qualitativo e exploratório, de caráter indutivo. Neste quadro “a atenção dos investigadores incide sobre a realidade tal como é percebida pelos indivíduos” (Fortin, 2003, p. 148). Esta fase do estudo teve por objetivo analisar o modelo de acompanhamento de enfermagem em uso dos clientes submetidos a transplante hepático, caraterizar o estilo de gestão do regime terapêutico dos clientes, identificar os critérios de vulnerabilidade e identificar os casos mais vulneráveis.

Na análise do modelo de acompanhamento em uso dos clientes submetidos a transplante hepático recorremos a análise documental e observação para melhor compreendermos a forma como os profissionais de saúde interpretam a realidade. Em resultado, analisamos os registos de enfermagem efetuados no SAPE, módulo consulta externa e, no módulo internamento, dos clientes submetidos a transplante. No internamento, analisamos ainda a documentação efetuada em papel pelos enfermeiros referente à consulta de enfermagem pré e pós transplante hepático (1º, 3º e 6º mês).

No sentido de caraterizarmos o estilo de GRT dos clientes recorremos a uma entrevista altamente estruturada com recurso ao formulário de caraterização dos estilos de gestão do regime terapêutico (anexo III) desenvolvido por um conjunto de peritos da Escola Superior de Enfermagem do Porto (Bastos, Brito, & Pereira, 2014). Aquando da aplicação do formulário recorremos ainda à observação produzindo notas de campo do comportamento dos participantes e registando os relatos dos mesmos e familiares que os acompanhavam.

69 Na identificação dos critérios de vulnerabilidade e dos casos especialmente vulneráveis recorremos também a análise documental dos registos efetuados pelos profissionais de saúde no processo clínico eletrónico e à observação.

“Os pesquisadores qualitativos utilizam a análise semiótica, a análise da narrativa, do conteúdo, do discurso, de arquivos e a fonémica e até mesmo a estatística, as tabelas, os gráficos e os números” (Denzin & Lincoln, 2006, p. 20). Contudo, “na investigação científica, encontram-se dados que podem ser quantificados e outros que podem ser analisados de forma qualitativa” (Batista & Campos, 2007, p. 81).

Na fase II do estudo enveredamos por um estudo multicasos que teve como intuito o acompanhamento dos casos identificados na fase I do estudo como casos especialmente vulneráveis. O estudo de caso “(…) permite uma investigação para se preservar as caraterísticas holísticas e significativas dos eventos da vida real – tais como ciclos de vida individuais, processos organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas em regiões urbanas, relações internacionais e a maturação de alguns setores” (Yin, 2001, p. 21). Por conseguinte, o estudo de caso tem por objeto o estudo do fenómeno no seu contexto real, as fronteiras entre o fenómeno e contexto não estão bem definidas e o investigador utiliza fontes múltiplas de dados (Yin, 2001). Assim, foram fontes de dados a entrevista, a consulta do processo clínico, a observação, os relatos dos participantes, família e profissionais de saúde. O estudo multicasos “(…) visa descobrir convergências entre vários casos” (Lessard - Hébert, Goyette, & Boutin, 1990, p. 170), estando a sua problemática assente na definição dos casos a incluir no estudo. A definição dos casos a incluir no estudo decorreu dos resultados da primeira fase do estudo, pelo que no subcapítulo da seleção dos participantes descrevemos os critérios considerados na sua seleção.

A opção por um estudo multicasos permite a comparação entre os mesmos, permitindo generalizações mais amplas do que os estudos de caso único.

O estudo foi retrospetivo, quando tentamos perceber como decorreu a transição saúde doença; e longitudinal quando acompanhamos os casos ao longo de 8 meses (de maio a dezembro de 2015).

A análise de dados foi efetuada de acordo com o método para construir uma Grounded Theory proposta por Strauss e Corbin (2008) que define a teoria que deriva dos dados e que mantém uma relação próxima entre a colheita e análise dos dados e, a eventual teoria. Com recurso a este tipo de análise de dados a interação entre o investigador e os dados é fundamental, pelo que a “criatividade se manifesta na capacidade dos pesquisadores de competentemente nomear categorias, fazer perguntas estimulantes, fazer comparações e extrair um esquema

inovador, integrado e realista de massas de dados brutos desorganizados” (Strauss & Corbin, 2008, p. 25).

Inicialmente efetuamos uma revisão da literatura de forma a melhor compreendermos a problemática em estudo e melhor analisarmos os dados que emergem do nosso processo de colheita de dados. Sempre que sentimos necessidade de melhor compreendermos a relação entre os dados voltamos novamente à revisão da literatura, de forma a melhor alicerçarmos o nosso processo de tomada de decisão, pelo que a revisão da literatura nos acompanhou ao longo do tempo. É de salientar que na análise dos dados não partimos com qualquer teoria à priori que nos permitisse a organização dos mesmos, uma vez que a essência da teoria fundamentada tem por base a técnica de construção da teoria, pelo que o investigador não pode iniciar a investigação com uma estruturação teórica orientada ou lista de conceitos preconcebidos (Strauss & Corbin, 2008). Contudo, a teoria das transições de Meleis e colaboradoras (2000), a teoria de autocuidado de Orem (1983) e a teoria de Bastos (2012) foram fundamentais na forma como olhamos os dados e os relacionamos. Assim, todo este processo foi de comparação constante entre o que nos emergia dos dados e aquilo que já é conhecido e reconhecido pela comunidade científica, no sentido de perceber o que emergia de novo nos dados.