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2.1. Hábitos do Sono

2.1.3. Carga laboral nos Profissionais de Saúde

No ramo de atividade hospitalar, é inadmissível a interrupção da sua assistência em qualquer horário, tendo a instituição de se organizar com trabalho em turnos para o atendimento contínuo à população.

O termo “trabalho por turnos” possui múltiplas combinações na organização do trabalho.

A definição de trabalho por turnos proposta por Fischer (1981) é a que melhor expressa os ajustes na organização do trabalho onde no trabalho por turnos, um turno é iniciado após término de outro e há continuação do trabalho interrompido pelo turno precedente por um segundo e/ou terceiro turno de operações, caracterizado por uma continuidade da produção e uma quebra da continuidade no trabalho realizado por cada trabalhador.

O trabalho por turnos pode ser baseado nos esquemas de rotatividade ou fixo, cada um deles tem as suas vantagens e desvantagens. Porém, estudos comparativos entre os dois turnos, fixos e rotativos, mostram que os turnos fixos são mais vantajosos do ponto de vista fisiológico. Porém, o mais importante é que a elaboração de um esquema de trabalho por turnos seja organizada de forma a provocar o menor desgaste possível à saúde e ao convívio social dos trabalhadores.

Existem muitas possibilidades de divisão dos turnos de trabalho, determinados pela carga horária semanal e outras condições especiais de trabalho nas empresas.

Os estudos de Fisher (1997) apresentam muitas variáveis que podem melhorar ou piorar a tolerância ao trabalho por turnos, estando ligadas às condições de vida e trabalho como: o meio ambiente, fatores psicossociais, situação político-económico- social do país, carga de trabalho, e características individuais. É a relação entre estas condições que determina a tolerância ao trabalho, sendo distinta para cada trabalhador, tais como: o grau de tolerância e a forma como o trabalhador se adaptará ao trabalho

em turnos determinará em grande parte a sua qualidade de vida (Martins, 2002).

Longas ou poucas horas de sono têm sido consideradas um costume nas vidas dos profissionais de saúde. Contudo, a pressão dentro da comunidade médica, técnica e sociedade em geral desencadeou a mudança de práticas, no interesse da segurança do paciente, estas alterações são consistentes com evidências de estudos do sono em laboratório, que sugerem que a privação de sono prejudica o humor, funções cognitivas e

performance motora (Woodrow et al., 2008).

Da mesma forma, Woodrow et al. (2008) revela que estudos recentes têm demonstrado que após um turno de trabalho existem probabilidades de haver erros por deficiências no funcionamento neuro-behavioural. Ou seja, a privação de sono afeta o desempenho numa variedade de tarefas no geral, no entanto, algumas pessoas acreditam que a privação de sono não os afeta. Por isso, mais pesquisas devem ser feitas para o desempenho cognitivo e técnico, sob condições de privação de sono para determinar se os efeitos percebidos da privação de sono são precisos.

Também foi realizado um estudo piloto por Dorrian et al. (2006) sobre as implicações do sono em enfermeiros australianos segundo as horas de trabalho. Os níveis observados de alerta à noite tornam-se piores à medida que aumenta o número de horas de trabalho, isso é um indicativo de que a sonolência no trabalho noturno é presente e pode prejudicar seriamente, tanto trabalhadores como pacientes (Fisher et al., 2002).

A primeira constatação é que os trabalhadores por turnos do sexo feminino queixam-se muito mais de distúrbios do sono do que os trabalhadores por turnos do sexo masculino (Admi, Tzischinsky, Epstein, Herer, & Lavie, 2008) e é normal o aparecimento de episódios repetidos de faringite, infeções urinárias e distúrbios no padrão de sono decorrentes de baixa resistência devido ao trabalho por turnos (Campos & Martino, 2004).

Segundo um estudo de Admi et al. (2008), o facto do trabalho em enfermagem ser realizado por turnos é realmente um fator de risco para a saúde dos enfermeiros e para a segurança dos pacientes.

O sono diurno é prejudicado pelas condições ambientais não favoráveis como iluminação, ruídos e acontecimentos domésticos, que modificam a distribuição das fases do sono, interferindo na propriedade restauradora (Campos & Martino, 2004).

Atualmente existe muito pouca informação disponível sobre o sono em enfermeiros ou os seus níveis de fadiga, nem há qualquer informação sobre se este afeta o seu desempenho de forma real (Dorrian et al., 2006).

Contudo, há evidências na literatura científica sobre os efeitos adversos fisiológicos e psicológicos do trabalho por turnos, incluindo a perturbação do ritmo biológico, distúrbios do sono, problemas de saúde, e consequentemente a diminuição do desempenho no trabalho, a insatisfação no trabalho e o isolamento social (Admi, 2008).

Segundo Chan (2008), os enfermeiros são mais propensos a sofrerem de depressão e perturbações somáticas, o sono insuficiente aumenta a excitação e diminui o limiar da dor.

Para além disso, o quotidiano da profissão de enfermagem leva-nos a pensar que estes profissionais são extremamente ansiosos, por lidarem com aspetos emocionais do paciente-família, diante do sofrimento, dor e morte (Campos & Martino, 2004).

O trabalho por turnos ocorre com uma frequência cada vez maior, com razões que vão desde motivos de ordem técnica e económica ao atendimento das necessidades básicas da sociedade, envolvendo assim, o ser humano como elemento principal do processo de trabalho.

Desta forma, os trabalhadores são expostos a numerosos fatores perturbadores da saúde, como alterações de ritmos biológicos, perturbações do sono e alterações cardiovasculares, gastrintestinais e nervosas, que trazem desconforto, restringindo a vida social e familiar e potencializando doenças.

Tais fatores estabelecem uma complexa relação entre trabalho, qualidade de vida e capacidade para o trabalho.

Devido a determinados aspetos da organização do trabalho, o tempo transforma- se na própria medida da atividade caracterizando a produtividade e sendo a base da remuneração.

O tempo biológico desaparece e o trabalhador deve adaptar-se ao quadro temporal que é imposto, enquanto que o trabalho em turnos aumenta em termos de quantidade e qualidade de trabalho exigidas por unidades de tempo. Uma duração diária de oito horas de atividade profissional constitui um limiar, além do qual decai a qualidade ou a quantidade de trabalho executado pelo trabalhador (Laville, 1977).

uma das profissões amplamente estudadas, onde o trabalho por turnos aparece como um fator stressante, visto que uma percentagem significativa de pessoas que trabalham neste sistema de horário relata uma série de perturbações, principalmente físicas (Lautert, Chaves, & Moura, 1999).