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5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

5.7 PRINCIPAIS PRODUTOS AGROPECUÁRIOS EXPORTADOS PARA A CHINA . 42

5.7.2. Carnes

5.7.2.1 Carne bovina

Atualmente, o Brasil exporta carne bovina para mais de 150 países, entretanto ainda não atingiu os compradores mais exigentes e, consequentemente, os que remuneram melhor o produto, como é o caso do Japão e da Coreia, atendidos pela Austrália e Nova Zelândia, países tradicionais pela excelência do produto (ABIEC, 2016). Tratando-se de uma commodity, para a indústria frigorífera brasileira o importante é o volume de venda com preço baixo e margem pequena de lucro (SOUZA, 2008).

Enquanto em países onde o sistema de confinamento se constitui como a base da produção de carne (como no caso dos EUA, da Austrália e de diversos países europeus), alimentar o gado demanda o uso intensivo de mão de obra, máquinas, equipamentos e combustível fóssil, no Brasil a maior parte de seu rebanho é criado a pasto (FERRAZ; FELÍCIO, 2010), sendo essa a forma mais econômica e prática de produzir e disponibilizar alimentos para os bovinos. Além disso, no sistema de produção a pasto, o produtor possui a vantagem de não depender de fatores instáveis, como altas nos preços de grãos (TORRES JÚNIOR; AGUIAR, 2013). O resultado desses fatores reflete na redução de custos, riscos econômicos e impactos ambientais, na melhoria no bem-estar animal e com um produto final mais saudável, com elevada qualidade nutricional e com crescente demanda no mercado internacional (DALEY et al., 2010; NUERNBERG et al., 2005). Em virtude dessa vocação da pecuária brasileira, advinda, principalmente, das características climáticas e da extensão territorial do País, o Brasil apresenta

0 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000 600.000 700.000 800.000

2013 2014 2015 2016 2017

Ásia (Exceto China) China África Américas

Em US$ 1000

53 um dos menores custos de produção de carne do mundo (CARVALHO et al., 2009; DEBLITZ, 2012; FERRAZ; FELÍCIO, 2010).

A pecuária desenvolvida a pasto tem sido a atividade historicamente pioneira na ocupação de áreas de fronteira agrícola no Brasil, por ser a forma menos onerosa e mais eficiente para ocupar e assegurar a posse de grandes extensões de terra. (DIAS-FILHO, 2011, 2013). O crescente aumento do preço das terras em outras regiões do Brasil, como no Sudeste, impulsionado pela expansão do mercado de cana-de-açúcar (ADAMI et al., 2012; OLIVETTE et al., 2010) e produção de grãos, tem deslocado a pecuária para regiões de fronteira agrícola do País, com disponibilidade de terras nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (DIAS-FILHO, 2010; DIAS-FILHO; ANDRADE, 2006). Na região Norte, outro aspecto favorável para a atividade pecuária são as condições climáticas, que permite que a pastagem seja a base alimentar da pecuária de corte ao longo de todo o ano, reduzindo os custos de produção (DIAS-FILHO; ANDRADE, 2006).

Estimativas do último Censo Agropecuário Brasileiro, de 2006 (IBGE, 2017), indicam que a área total de pastagens (naturais e plantadas) no Brasil é de 172,3 milhões de hectares.

Nos últimos 30 anos, todas as regiões brasileiras elevaram a taxa de lotação de suas pastagens, especialmente nas regiões Norte e Centro-Oeste, com evolução superior a 200% na taxa de lotação estimada no período (DIAS-FILHO, 2014). O Centro-Oeste é a região brasileira que concentra a maior participação relativa do rebanho de bovinos de corte, com aproximadamente um terço do rebanho total ao longo de 2000 a 2014 (LOPES E BASSO, 2016).

Se por um lado tais peculiaridades da pecuária brasileira se apresentam como vantajosas em determinados aspectos, por outro contribuem para criar uma tradição de baixo investimento no uso de tecnologia e de insumos na formação e no manejo das pastagens. Uma das principais consequências dessa situação tem sido a alta incidência de pastagens degradadas (DIAS-FILHO, 2014). De acordo com Dias-Filho (2014), com base no estudo UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME (2004) a degradação de pastagens é um fenômeno mundial.

Uma das principais causas de degradação de pastagens de influência antrópica direta, em termos globais, é o manejo inadequado, principalmente no que diz respeito ao uso persistente de taxas de lotação que ultrapassam a capacidade do pasto de se recuperar do pastejo e do pisoteio (FAO, 2009).

Conceitualmente, os dois extremos das condições de degradação de pastagens são denominados “degradação agrícola” e “degradação biológica”. Na degradação agrícola, plantas daninhas aumentam de proporção na pastagem, reduzindo gradualmente a capacidade de

54 suporte. Esse tipo de degradação é mais frequente em pastos formados em regiões onde o período seco não é tão severo, como é o caso da maior parte da Amazônia Continental. Já em locais onde o clima é mais seco, ou onde as condições naturais de solo e clima definem uma vegetação nativa menos vigorosa, como é o caso da vegetação em ecossistema de Cerrado, o tipo de degradação mais frequente é a degradação biológica. Na degradação biológica o solo perde significativamente a capacidade de sustentar a produção vegetal, o que acaba por levar a substituição da pastagem por plantas pouco exigentes em fertilidade do solo, ou simplesmente ao aparecimento de áreas ausentes de vegetação, deixando o solo exposto e intensificando os processos de erosão (DIAS-FILHO, 1998, 2011).

Entretanto, as pressões ambientais e de mercado nas últimas décadas, assim como o aumento na disponibilidade de tecnologia têm fomentado uma mudança de postura no setor produtivo de carne e leite brasileiro. Um número crescente de produtores tem buscado uma mentalidade de maior produtividade via intensificação, ou seja, maior produção de carne ou leite em menores áreas de pastagem. Ser mais eficiente tem se tornado uma necessidade de sobrevivência para a pecuária nacional (MARTHA JUNIOR et al., 2012; DIAS-FILHO, 2014).

Na busca por sistemas de produção mais sustentáveis pode-se citar a Integração Lavoura Pecuária e Floresta. Cordeiro et al. (2017), em um estudo sobre estratégias para intensificação sustentável do uso do solo, comenta:

Atualmente, as ações de conservação do solo e da água levam o ecossistema agrícola a ser não apenas um provedor de alimentos e fibras para gerar, de modo sustentável, renda ao produtor e segurança alimentar, mas também a ser um provedor de serviços ambientais. Há no Brasil práticas agrícolas que, se forem consideradas todas as práticas conservacionistas, podem oferecer diversos serviços ambientais, como, por exemplo: SPD contínuo na palha; sistema de ILP em SPD; e de ILPF em SPD (MACHADO et al., 2010). Ou seja, os sistemas de produção sustentáveis que integram atividades agrícolas, pecuárias e/ou florestais são, na atualidade, as principais soluções tecnológicas para a agropecuária sustentável nos trópicos, uma vez que proporcionam muitos benefícios técnicos, econômicos, ambientais e sociais.

De acordo com dados do PSD-USDA (2017), os Estados Unidos são os campeões na produção de carne bovina, sendo também os principais importadores (tabela 2). O Brasil vem em segundo lugar como produtor e exportador. Em 2016 éramos os maiores exportadores, entretanto, devido a irregularidades de alguns frigoríferos e fiscais do governo, o Brasil já foi ultrapassado pela Índia no mês de abril de 2017. Segundo dados do MDIC (2017), os principais

55 compradores da carne bovina brasileira no período de janeiro a maio de 2017 foram: China (19%), Hong Kong (18%) e Rússia (11%).

Ainda de acordo com os dados do PSD-USDA (2017), dois países da Oceania, a Austrália (terceiro maior exportador) e a Nova Zelândia (quinto maior exportador), são conhecidos pela qualidade de seu produto, atingindo mercados de maior valor (como o Japão e a Coreia do Sul, terceiro e quarto maior importador, respectivamente) que os produtos brasileiros. Os dois países ainda apresentam a vantagem de estarem mais próximos do segundo, terceiro, quarto e quinto maiores importadores de carne do mundo. Ademais, os Estados Unidos têm a Austrália como maior fornecedor. De acordo com a Agência Brasil (2017), os Estados Unidos suspenderam as importações de carne brasileira em junho de 2017, e não alterarão a decisão até que uma maior responsabilidade dos exportadores brasileiros reflita nos produtos apresentados aos clientes americanos. Além dos Estados Unidos, a União Europeia e diversos outros países impuseram medidas administrativas à carne brasileira.

Porém, apesar das más notícias à cadeia produtiva de carne bovina, dados da plataforma Comex Vis do MDIC revelam que de janeiro a maio de 2017 a China comprou US$ 2,13 bilhões a mais em carne do que no mesmo período em 2016.

Tabela 2: Principais players mundiais de carne bovina.

PRODUTORES IMPORTADORES EXPORTADORES

Estados Unidos 19,60% Estados Unidos 16,10% Índia 19,20%

Brasil 15,40% China 12,30% Brasil 18,70%

União Europeia 12,80% Japão 9,80% Austrália 14,50%

China 11,48% Coreia do Sul 6,90% Estados Unidos 12,80%

Índia 6,90% Rússia 6,30% Nova Zelândia 5,70%

Fonte: PSD-USDA (2017).

5.7.2.2 Carne de frango

O Brasil é, atualmente, o maior exportador mundial de frango. A performance das exportações avícolas advém da reorganização da produção de carnes ocorrida no Brasil a partir da década de 1970. Empresas, antes especializadas na produção de suínos, migraram para a produção de aves, mudança beneficiada pela oferta de créditos para investimentos de longo prazo, em conjunto com a utilização de tecnologias importadas e aprimoramentos nas técnicas de manejo, nutrição e sanidade (CANEVER, 1997). Numa análise comparativa entre as exportações de carne bovina, suína e aves, o grande destaque comercial é o frango de corte. A avicultura consolidou-se como o segundo maior no ranking das exportações do agronegócio

56 brasileiro, superado apenas pelo complexo da soja; na pauta geral brasileira, está em sexto lugar (DA CUNHA et al., 2015).

De acordo com o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES, 2002), o desempenho das exportações avícolas brasileiras é resultado do baixo preço relativo da carne de frango, da sua imagem como produto saudável junto ao consumidor e da sua aceitação pela maioria das culturas e religiões. Os resultados positivos da avicultura brasileira estão relacionados com a diversificação e adequação dos produtos exportados, com a finalidade de atender às crescentes demandas internacionais e satisfazer hábitos específicos de cada mercado consumidor. Outras vantagens, como clima favorável e grande produção de grãos, além das constantes inovações tecnológicas, diminuem o custo de produção e tornam o país altamente produtivo, elevando o grau de competitividade dos produtos avícolas brasileiros no mercado externo (DA CUNHA et al., 2015).

Uma tendência das principais economias capitalistas é a oferta de bens diferenciados ou customizados. (COUTINHO, 1992). No complexo industrial avícola, um exemplo de diferenciação, na ampliação do mercado, é a atuação das empresas de abate de frango no mercado internacional: frangos abatidos de acordo com os preceitos do Alcorão para os mercados muçulmanos, por exemplo (BELUSSO E HESPANHOL, 2010). A tendência de adição de valor ao produto final, por meio do crescimento das vendas de partes de aves, em detrimento das exportações de frangos inteiros, é outra característica a ser destacada nas exportações da avicultura brasileira. Em 1996, os cortes de frango representavam menos que 50% das exportações totais do segmento evoluindo para cerca de 60%, em 2004. Essa inversão retrata a “descomoditização” do frango: os cortes geram uma adição próxima de 50% de valor ao produto, em relação ao frango inteiro (JANK, 1997). Os pés de frango, por exemplo, são exportados para vários países, principalmente para os mercados orientais, sendo a China o maior importador mundial (BRIZIO et al., 2013). Estes cortes possuem grande importância comercial e são considerados verdadeiras iguarias da culinária asiática (RODRIGUES, 2008).

Entre as diversas causas do expressivo desempenho da avicultura brasileira, estão as mudanças nos fluxos de comércio, motivadas por questões na esfera sanitária, como a influenza aviária. O surto da doença, ocorrido desde o final de 2003, prejudicou a produção e causou o sacrifício de mais de 120 milhões de aves na Ásia (MARTINS, 2005). O Brasil, país livre da doença, teve a oportunidade de ocupar as lacunas abertas pela queda de produção nos países contaminados. O país acabou se beneficiando dos preços e, em menor medida, da expansão do mercado (DA CUNHA et al., 2015).

57 Na tabela 3 tem-se que os Estados Unidos são os maiores produtores de frango do mundo, seguidos pelo Brasil, União Europeia, China e Índia. O Brasil é o maior exportador do mundo, tendo seu principal cliente a Arábia Saudita, terceiro maior importador do mundo. O frango tem o diferencial de ser aceito por diversas religiões e culturas.

O Brasil é referência mundial em se tratando de avicultura, sendo esta a maior responsável pelas receitas de exportação de carnes brasileiras. Segundo dados do MDIC (2017), os principais compradores da carne de frango brasileira no período de janeiro a maio de 2017 foram: Arábia Saudita (19%), Japão (13%) e China (12%).

Tabela 3: Principais players mundiais de carne de aves.

PRODUTORES IMPORTADORES EXPORTADORES

Estados Unidos 20,80% Japão 10,30% Brasil 38,30%

Brasil 15% México 8,90% Estados Unidos 28,10%

União Europeia 12,80% Arábia Saudita 8,50% União Europeia 10,50%

China 12,30% União Europeia 8,30% Tailândia 6,50%

Índia 5% Iraque 7,10% China 3,10%

Fonte: PSD-USDA (2017).

O gráfico 24 permite a visualização do panorama das exportações de carnes “in natura”

brasileiras para o mundo. A avicultura é o carro-chefe (43% do valor total), seguido pela carne bovina (31%) e por último pela suína (10%). Em 2014 o Brasil atingiu o recorde nas receitas geradas pela exportação do complexo carne, contribuindo com mais de 16 bilhões de dólares na balança comercial brasileira. Desde então observou-se uma queda nos valores gerados, muito devido à queda de preços nas commodities em geral.

Quanto às exportações de carnes brasileiras para a China (gráfico 25), nota-se que as exportações começaram a crescer apenas em 2009, com crescimento vertiginoso até 2016. A carne de frango sendo a principal responsável pelas receitas geradas, seguido pela carne bovina, que veio apresentar números mais expressivos apenas em 2015. A China segue importando carne brasileira, mas a situação pode mudar a qualquer momento. A desconfiança com a carne brasileira no cenário internacional, assim como a desconfiança generalizada pela instabilidade política, com denúncias de corrupção envolvendo o presidente em exercício do Brasil (Temer) com empresários no setor de carnes, podem trazer surpresas desagradáveis às exportações brasileiras no complexo carne.

58 Gráfico 24: Exportações brasileiras de carne para o mundo.

Fonte: MDIC (2017). Elaboração do autor.

Gráfico 25: Exportações brasileiras de carne para a China.

Fonte: AGROSTAT (2017). Elaboração do autor.

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