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Relações bilaterais nos principais produtos agrícolas entre o Brasil e a China

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Academic year: 2022

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA

Celso Herculano Duque da Silva

RELAÇÕES BILATERAIS NOS PRINCIPAIS PRODUTOS AGRÍCOLAS ENTRE O BRASIL E A CHINA

Brasília/DF

Julho/2017

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CELSO HERCULANO DUQUE DA SILVA

Monografia apresentada ao curso de Agronomia, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília (FAV/UnB), como requisito parcial para a obtenção do título de Engenheiro Agrônomo.

Orientador: Prof. Dr. Armando Fornazier

Brasília/DF Julho/2017

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

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Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária

Monografia apresentada ao curso de Agronomia, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília (FAV/UnB), como requisito parcial para a obtenção do título de Engenheiro Agrônomo.

Relações bilaterais nos principais produtos agrícolas entre o Brasil e a China

COMISSÃO EXAMINADORA

A Comissão Examinadora, abaixo identificada, aprova o Trabalho de Conclusão do Curso do aluno: Celso Herculano Duque da Silva

________________________________________________________________

Prof. Dr. Armando Fornazier

Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da UnB (Orientador)

________________________________________________________________

Profª. Drª. Mireya Eugenia Valencia Perafán

Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da UnB (Examinadora)

________________________________________________________________

Prof. Dr. Andrei Domingues Cechin

Faculdade de Administração, Contabilidade, Economia e Gestão de Políticas Públicas (FACE/UnB)

(Examinador)

Brasília/DF; 07 de julho de 2017

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4 RESUMO

Este trabalho procurou reunir e sintetizar algumas informações sobre o comércio dos quatro principais produtos agrícolas exportados para a China, de 1997 até 2016. O Brasil pode se tornar o principal fornecedor de alimentos do mundo na próxima década e enfrenta vários desafios pela frente, desde falta de credibilidade no sistema político e em gigantes da iniciativa privada, como problemas ambientais e sociais resultantes de políticas agrícolas ineficientes. Com uma breve leitura da história do Brasil, de sua agricultura e posterior modernização, da evolução chinesa nas últimas décadas, da relação entre Brasil e China, e de uma compilação de dados dessa relação nas últimas duas décadas, buscou-se reunir informações a fim de revelar algumas vantagens e desvantagens do atual comércio bilateral sino-brasileiro. Entre as vantagens, os benefícios à economia brasileira, assim como uma maior inserção e competitividade do Brasil no cenário internacional. Entre as desvantagens, uma economia que está se especializando na exportação de bens básicos, baseada na exploração de recursos naturais, o que ameaça, à longo prazo, a sustentabilidade da produção agrícola brasileira. Em seguida, procurou-se destacar a importância do correto manejo dos recursos naturais, assim como estratégias de desenvolvimento rural e instrumentos para agregação de valor dos produtos brasileiros.

Palavras-chave: agronegócio; relações bilaterais; comércio exterior; desenvolvimento econômico.

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5 ABSTRACT

This study was made intended to gather and synthetize information about the four main agricultural products exported from Brazil to China, between 1997 and 2016. Brazil can become the world leader food supplier in the next decade and will face a variety of challenges, from lack of credibility in the political system and big companies, to environmental and social problems resulting from inefficient rural policies. With a brief reading of the history of Brazil, its agriculture and subsequent modernization, the evolution of China in the last decades, the relationship between Brazil and China, and a data compilation on the agricultural commercial relationship between the last two decades, this work paper sought to gather information in order to reveal some benefits and disadvantages of the current Sino-Brazilian bilateral trade. Among the advantages, the benefits to the Brazilian economy, as well as a greater insertion and competitiveness of Brazil in the international scenario. Among the disadvantages, an economy that is specializing itself in the export of basic goods, based on the exploitation of natural resources, which threatens, in the long term, the sustainability of Brazilian agricultural production. Thereafter, an emphasis on the importance of the correct management of the natural resources, as well as rural development strategies and instruments to aggregate value to Brazilian products.

Key-words: Agribusiness; Bilateral relations; foreign trade; economic development.

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6 SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 10

2. JUSTIFICATIVA ... 13

3. OBJETIVOS ... 14

3.1. Objetivo Geral ... 14

3.2. Objetivos Específicos ... 14

4. METODOLOGIA ... 15

5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ... 17

5.1. HISTÓRICO DA INSERÇÃO COMERCIAL AGRÍCOLA DO BRASIL ... 17

5.2. MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA BRASILEIRA ... 18

5.3. EXPANSÃO AGRÍCOLA NO CERRADO ... 20

5.4. A EVOLUÇÃO CHINESA NAS ÚLTIMAS DÉCADAS ... 25

5.5. PERANTE O MUNDO ... 28

5.5.1. Brasil ... 28

5.5.2. China ... 34

5.6. RELAÇÃO BILATERAL ENTRE O BRASIL E A CHINA ... 34

5.7 PRINCIPAIS PRODUTOS AGROPECUÁRIOS EXPORTADOS PARA A CHINA . 42 5.7.1 Soja ... 42

5.7.2. Carnes ... 52

5.7.3. Complexo sucroalcooleiro... 58

5.7.4. Papel e celulose ... 64

5.8. DESAFIOS ... 69

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 72

7. REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO ... 74

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7 LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Área agricultável no Brasil...22

Gráfico 2: Participação (%) do Brasil nas Exportações e Importações Mundiais...29

Gráfico 3: Variação (%) anual das Exportações e Participação (%) das Exportações no PIB.29 Gráfico 4: Balança Comercial Brasileira - 1950 a 2014...30

Gráfico 5: Comércio entre Brasil e China...30

Gráfico 6: Balança comercial entre Brasil e China...31

Gráfico 7: Comércio entre Brasil e União Europeia...31

Gráfico 8: Balança comercial entre Brasil e União Europeia...32

Gráfico 9: Comércio entre Brasil e Estados Unidos...32

Gráfico 10: Balança comercial entre Brasil e Estados Unidos...33

Gráfico 11: Evolução anual da balança comercial brasileira e do agronegócio...33

Gráfico 12: Exportações brasileiras para o mundo, de 1997 a 2015...38

Gráfico 13: Exportações brasileiras para o mundo quanto à intensidade tecnológica...39

Gráfico 14: Área destinada à soja no Centro-Oeste e no Brasil...43

Gráfico 15: Produção de soja no Centro-Oeste e no Brasil...43

Gráfico 16: Produtividade da soja no Centro-Oeste e no Brasil...44

Gráfico 17: Área de soja plantada, por região...44

Gráfico 18: Produção de soja por região...44

Gráfico 19: Exportações brasileiras do complexo soja, em dólares...50

Gráfico 20: Exportações brasileiras de soja para a China, em toneladas...50

Gráfico 21: Exportações brasileiras do complexo soja para o mundo...51

Gráfico 22: Exportações brasileiras de farelo de soja para o mundo...51

Gráfico 23: Exportações brasileiras de óleo de soja para o mundo...52

Gráfico 24: Exportações brasileiras de carne para o mundo...58

Gráfico 25: Exportações brasileiras de carne para a China...58

Gráfico 26: Produtividade da cana-de-açúcar no Centro-Oeste e no Brasil...60

Gráfico 27: Área plantada de cana-de-açúcar, por região...60

Gráfico 28: Produção de cana-de-açúcar, por região...61

Gráfico 29: Exportações brasileiras do complexo sucroalcooleiro ao mundo...63

Gráfico 30: Exportações brasileiras de açúcar em bruto para a China...64

Gráfico 31: Exportações de papel e celulose para o mundo...67

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8

Gráfico 32: Principais importadores da celulose brasileira...68

Gráfico 33: Principais estados brasileiros exportadores de celulose...68

Gráfico 34: Exportações brasileiras de celulose para a China...69

LISTA DE TABELAS Tabela 1: Principais players mundiais do mercado da soja...47

Tabela 2: Principais players mundiais de carne bovina...55

Tabela 3: Principais players mundiais de carne de aves...57

Tabela 4: Principais players mundiais do açúcar...62

Tabela 5: Principais players mundiais de celulose...66

LISTA DE FIGURAS Figura 1: Expansão da fronteira agrícola no Brasil e no bioma do Cerrado em diferentes períodos...23

LISTA DE SIGLAS

ABIEC: Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes.

ALADI: Associação Latino-Americana de Integração.

AQSIQ: The General Administration of Quality Supervision, Inspection and Quarantine.

BASIC: Brasil, África do Sul, Índia e China.

BRICS: Brazil, Russia, India, China and South Africa.

CEBC: Conselho empresarial Brasil-China.

CI: Comissão de Serviços de Infraestrutura.

CIA: Central Intelligence Agency.

CONAB:Companhia Nacional de Abastecimento.

EMBRAPA: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária.

EUA: Estados Unidos da América.

FAO: Food and Agriculture Organization of the United Nations.

FMI: Fundo Monetário Internacional.

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9 IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

ILPF: Integração Lavoura, Pecuária e Floresta.

ILP: Integração Lavoura-Pecuária.

IPARDES: Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social.

MAPA: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

MATOPIBA: Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

MDIC: Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

OCDE: Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico.

OMC: Organização Mundial do Comércio.

ONG: Organização não governamental.

PCC: Partido Comunista Chinês.

PIB: Produto interno Bruto.

PND: Plano Nacional de Desenvolvimento.

PSD: Production, Supply and Distribution.

RPC: República Popular da China.

SPD: Sistema de Plantio Direto.

UE: União Europeia.

UNCTAD: United Nations Conference on Trade and Development.

USDA: United States Department of Agriculture.

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10 1. INTRODUÇÃO

Com muitos recursos naturais, o Brasil é o país com o maior estoque de terras agricultáveis do mundo, podendo ser o principal país exportador de alimentos na próxima década, segundo o relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) junto à Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) que trata das perspectivas agrícolas para os anos de 2015 a 2024 (OCDE-FAO, 2015). Este fator, somado aos consecutivos aumentos da produtividade no campo, tem levado o Brasil à expansão de sua fronteira agrícola.

O setor agrícola brasileiro tem se tornado o principal responsável pela pauta de exportações brasileiras e um dos setores que mais tem gerado divisas para a economia. O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de açúcar, suco de laranja e café, maior exportador de carne de frango, segundo maior produtor e exportador de etanol, soja e carne bovina (USDA, 2015). Apesar do setor agrícola ser muito benéfico para o país, por outro lado pode indicar uma possível reprimarização da pauta exportadora (SANTOS et al., 2017). Dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços - MDIC (2017) indicam que praticamente a metade das exportações do Brasil para o mundo é de produtos básicos, sendo os campeões o complexo soja, minério de ferro, petróleo e complexo carnes. Nossa pauta de importações apresenta diversos produtos manufaturados, medicamentos para a medicina humana e veterinária e peças de automóveis, por exemplo.

Para a China o Brasil vende, em ordem decrescente em valor, soja, minério de ferro, petróleo, celulose, carne bovina e de aves, açúcar, entre outros. O Brasil importa da China máquinas e materiais elétricos e mecânicos, produtos químicos orgânicos, plásticos, embarcações, automóveis, tratores, entre outros, de acordo com dados do Conselho Empresarial Brasil-China - CEBC (2017). Em se tratando de alimentos, importamos principalmente alho, filés de peixe e feijão preto (MDIC, 2017). Apesar da relação bilateral apresentar uma balança comercial positiva para o Brasil na maior parte do tempo, desde que os países estreitaram suas relações no começo do século XXI, o Brasil exporta produtos básicos de pouco valor agregado, baseado na exploração de recursos naturais, enquanto importamos da China produtos manufaturados, de alto valor agregado.

Os países da América Latina, assim como a China, têm buscado integrar-se cada vez mais à economia mundial. A produção da América Latina era sete vezes maior do que a da

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11 China, em 1980. Hoje a economia chinesa é maior do que todas as economias latino-americanas somadas (GALLAGHER, 2011).

O comércio internacional pode gerar ganhos econômicos, mas tem o potencial de exercer pressão sobre o meio ambiente, principalmente se for baseado na exploração intensiva de recursos naturais. Enquanto que pelo aspecto econômico fortalecer as relações comerciais com a China pode favorecer ganhos monetários, pelo aspecto ambiental pode acabar incentivando a especialização na produção e exportação dos recursos naturais. A vulnerabilidade ambiental do comércio bilateral da Argentina, do Brasil, do Chile e do Peru com a China, no período de 2000 a 2011 revelam uma tendência de aumento das pressões ambientais. Tal padrão exportador apresenta-se potencialmente insustentável no longo prazo (OLIVEIRA et al, 2016). Estudos têm mostrado que o comércio internacional de alimentos deve considerar, além dos valores monetários, a quantidade de terra e água implícita nessas transações (DALIN et al., 2012, SCHIPANSKI et al., 2012, KASTNER et al., 2014).

Castro (2016), ao analisar dados do levantamento de 2014 da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), indica que as commodities representam 65% do valor das exportações brasileiras. Segundo o MDIC os dez produtos brasileiros mais exportados são commodities. As exportações brasileiras somaram US$ 191 bilhões em 2015, destes 191 bilhões, 20,9 correspondem às exportações do complexo da soja.

O Brasil tornou-se o maior fornecedor de produtos agrícolas para o mercado chinês nos últimos vinte anos. Mais especificamente, em 2010, a China consolidou-se como o principal país importador de produtos brasileiros, conforme o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2011). Em relação à demanda externa chinesa de soja em grão, os principais mercados fornecedores são os Estados Unidos, Brasil e Argentina. O Brasil possui a vantagem de ser o único país capaz de expandir a área plantada, já que os demais países possuem fronteiras agrícolas esgotadas devido à urbanização e concorrência com outras culturas (CONTE, 2006).

Entretanto, enquanto a China investe na diversificação das suas fontes de abastecimento alimentar, a agricultura brasileira está, de certa forma, cada vez mais dependente do mercado chinês. A China parece não possuir de muitas alternativas de fornecimento de alimentos à curto prazo, mas no longo prazo a situação pode mudar (VIEIRA et al, 2016).

Em relação à problemática da logística interna, as exportações brasileiras têm como desafio o elevado “Custo-Brasil”, como pouca capacidade de armazenagem, condições precárias das estradas brasileiras, baixa capacidade de escoamento nos portos, inadequação do

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12 sistema tributário, malha ferroviária reduzida, entre outras causas (CONTE, 2006). A China, procurando também atingir seus objetivos como diminuir o custo logístico com nova rota de comércio com o Brasil pelo Oceano Pacífico, promete investir em infraestrutura e no setor industrial brasileiro (SOUSA, 2016). A construção da Ferrovia Bioceânica (ou Transcontinental), entre Brasil e Peru, já teve o estudo de viabilidade técnica apresentado em audiência pública da Comissão de Serviços de Infraestrutura (CI), em abril de 2017. Apesar de viável, o projeto não está nos assuntos prioritários tanto do governo brasileiro, com situação política instável, quanto do governo peruano, que tomou a decisão política de não investir na obra no momento. Além disso, há a problemática dos impactos socioambientais, já que a ferrovia cortará áreas de proteção ambiental e de moradia de indígenas isolados na Amazônia, segundo a Agência Senado (2017).

Assim, dada a importância do comércio entre os dois países no comércio, especialmente a grande importância da China ser um dos principais importadores de produtos agrícolas do Brasil, torna-se importante verificar alguns aspectos desta relação tanto para conhecer mais detalhadamente os fluxos do comércio, como para detectar alguns aspectos problemáticos desta relação e possíveis consequências futuras. Este trabalho visa verificar alguns dos fatores inerentes à competitividade dos principais produtos agrícolas brasileiros exportados ao país asiático, e relatar as oportunidades e intempéries das transações sino-brasileiras.

Fica o alerta ao leitor que, dependendo do tipo de interesse de cada um, muitos tópicos dessa monografia estão organizados em uma linha do tempo, ou seja, os primeiros parágrafos representando o passado (para quem se interessa pelo contexto), o meio o presente (últimos dados, tabelas, interpretação de gráficos) e o fim, que na verdade é apenas o início das especulações (projeções para os próximos anos).

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13 2. JUSTIFICATIVA

A curiosidade de realizar este trabalho surgiu durante o período de dois anos em que morei na China (中国), pelachamada pública para bolsa de Graduação Sanduíche na China - CSC- Edital nº 163/2013, do programa Ciências sem Fronteiras. No primeiro ano fui designado a morar na cidade de Tianjin (天津市) e aprender mandarim na Tianjin University (天津大学).

A cidade de Tianjin possui o maior porto do Norte da China, responsável pelo abastecimento da cidade e outras cidades da região, principalmente a capital, Pequim (北京市). Ao visitar o porto de Tianjin me interessei em conhecer mais sobre o comércio exterior chinês. Tianjin, assim como Pequim, está entre as dez maiores cidades da China, e lá tive a oportunidade de observar de perto a dinâmica da vida urbana chinesa.

Patas de galinha temperadas, pré-cozidas, embaladas a vácuo e em temperatura ambiente, são comuns em filas de caixas de supermercados. Considerado uma iguaria, o produto fica ao lado dos costumeiros chicletes e chocolates, surpreendendo o olhar ocidental. Na peixaria, além dos peixes congelados, peixes em aquários, assim como rãs e tartarugas, atendendo clientes que procuram produtos frescos. Galões de 5 litros de óleo de soja, assim como de outras oleaginosas, são comuns entre a clientela chinesa, que costuma ser generosa na porção de óleo em seus pratos. Assim como são generosos na pimenta, considerada uma ótima aliada à saúde. A cultura do chá no país é presenciada ao observar as garrafinhas próprias para chá, populares entre jovens, adultos e idosos. Os chás são vendidos em lojas especializadas, com variedades mais baratas, e outras que custam mais que ouro a grama.

No segundo ano cursei agronomia na Northwest A&F University (西北农林科技大学), no distrito rural de Yangling (杨陵区), na cidade de Xianyang (咸阳市). Lá a oportunidade foi de observar a vida em uma cidade do interior chinês, com costumes tradicionais e população majoritariamente rural. A forma de organização e trabalho dos numerosos produtores rurais me fez ter interesse sobre as estratégias relacionadas à produção agrícola e ao desenvolvimento rural chinês. Ao retornar ao Brasil, o interesse pelos contrastes da realidade rural brasileira e chinesa, assim como pelo comércio exterior de produtos agrícolas entre os dois países, resultaram na elaboração desta monografia.

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14 3. OBJETIVOS

3.1. Objetivo Geral

Pretende-se, com este trabalho, expor dados e leituras de acontecimentos das relações sino-brasileiras no agronegócio, buscando um olhar no passado, presente e futuro dessas nações, destacando os pontos positivos e negativos e fatores socioeconômicos, políticos e ambientais decorrentes do comércio de produtos agropecuários entre Brasil e China.

3.2. Objetivos Específicos

A partir desta ótica, especificamente pretendeu-se:

a) explicar o relacionamento comercial sino-brasileiro;

b) destacar a importância da discussão sobre a ameaça de reprimarização da economia brasileira, baseada na exportação de produtos básicos e importação de produtos manufaturados;

c) considerar soluções para os problemas e desafios relacionados a esse comércio bilateral

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15 4. METODOLOGIA

Este trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica, pois se realizou a partir do registro decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos (SEVERINO, 2007, p. 122); e de uma pesquisa documental nos relatórios institucionais, documentos e sítios oficiais das instituições ligadas à agricultura no Brasil e no mundo. A pesquisa exploratória, com abordagem qualitativa, teve como objetivo descrever e analisar as relações bilaterais entre o Brasil e China no âmbito do agronegócio, focando nos quatro principais produtos agrícolas exportados para a China no ano de 2016. A China se tornou, nos últimos anos, o principal importador dos produtos agrícolas brasileiros, e o agronegócio nacional hoje se vê totalmente dependente do mercado chinês.

Segundo Gil (2008, p. 51), quanto à pesquisa documental:

A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A única diferença entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa.

O desenvolvimento da pesquisa documental segue os mesmos passos da pesquisa bibliográfica. Apenas há que se considerar que o primeiro passo consiste na exploração das fontes documentais, que são em grande número. Existem, de um lado, os documentos de primeira mão, que não receberam qualquer tratamento analítico, tais como: documentos oficiais, reportagens de jornal, cartas, contratos, diários, filmes, fotografias, gravações etc. De outro lado, existem os documentos de segunda mão, que de alguma forma já foram analisados, tais como: relatórios de pesquisa, relatórios de empresas, tabelas estatísticas etc.

Ademais, a análise documental constitui uma técnica importante na pesquisa, seja por complementar informações obtidas por outras técnicas, seja revelando novos aspectos de um tema ou problema (LUDKE e ANDRÉ, 1986). Assim, dado a complexidade da relação comercial entre Brasil e China no agronegócio, uma reunião das informações dessa relação nos últimos anos pode trazer insights de interesse nacional.

Fez-se uma compilação de dados da produção brasileira e do comércio exterior por meio de bancos de dados online nacionais, como: Alice Web, AGROSTAT, Banco SIDRA, Comex Vis, CONAB, MDIC, MAPA e IBGE, além de banco de dados internacionais, como:

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16 FAOSTAT, COMTRADE, WORLDBANK, The World Factbook da CIA, The Atlas of Economic Complexity e a plataforma PSD do USDA. Com o Microsoft Excel elaborou-se gráficos a fim de melhor visualização dos dados.

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17 5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

5.1. HISTÓRICO DA INSERÇÃO COMERCIAL AGRÍCOLA DO BRASIL

Nos anos iniciais do Brasil a principal atividade econômica foi a extração do pau-brasil, obtida principalmente mediante escambo com os índios. Após as três primeiras décadas a colonização começou a tomar forma. Como aconteceu em toda a América Latina, o Brasil viria a ser uma colônia cujo a função básica de sua existência seria o de fornecer ao comércio europeu gêneros alimentícios ou minérios importantes. A política da Metrópole portuguesa consistira no incentivo à empresa comercial, com base em uns poucos produtos exportáveis em grande escala e assentada na grande propriedade. No Nordeste, o primeiro centro de colonização e de urbanização da nova terra, a indústria açucareira foi o núcleo central da ativação socioeconômica. A criação de gado também era, em parte, atrelada às necessidades da economia açucareira, mas a expansão do cultivo da cana foi empurrando os criadores para o interior. A pecuária foi responsável pelo desbravamento do "grande sertão”, e do resto do interior brasileiro (FAUSTO, 1994).

O início da mineração, no século XVIII, provocou o primeiro surto de urbanização. A atividade mineradora motivou a transferência da capital da então colônia de Portugal, de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763, e o deslocamento do eixo produtivo do Nordeste açucareiro para o Sudeste aurífero (REIFSCHNEIDER, 2010). No final do período colonial o café foi introduzido no país. Após a independência a produção se consolidou na região Sudeste, sobretudo no estado de São Paulo, atraindo diversos imigrantes estrangeiros. A riqueza gerada pelo café acabou por aumentar as diferenças entre as regiões brasileiras, principalmente o Nordeste. Outras culturas também tiveram crescimento ainda no século XIX, como a borracha na Amazônia. Na década de 1910 a borracha da seringueira era responsável por cerca de 40%

das exportações (BAER, 2003). A seringueira, planta nativa brasileira, acabou sendo levada para as colônias britânicas na Ásia, sendo cultivada principalmente na Malásia. Em consequência, o Brasil perde o posto de principal exportador em 1912, apenas início do declínio da indústria do látex nacional (ABAPOR, 2003).

Na década de 1920, no Estado de São Paulo, a superprodução do café, aliada à quebra da bolsa de 1929, propiciou o declínio da economia cafeeira, dando novos impulsos ao cultivo da cana-de-açúcar. Usinas e refinarias surgiram, modernizando o complexo produtivo, a fim de

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18 atender o crescimento das exportações e a política cambial favorável ao açúcar, na época (REIFSCHNEIDER, 2010).

Na década de 1950 a agricultura enfrentava sérios problemas, não sendo mais capaz de atender a demanda dos grandes centros urbanos (ORTEGA E NUNES, 2001). Diante desse problema, o governo brasileiro, durante o regime militar, procurou focar na diversificação da produção agrícola, dando início à expansão das fronteiras agrícolas para o Cerrado, elevando o número de latifúndios monocultores produtores de soja, algodão e feijão (BAER, 2003).

Com a estabilização monetária do Plano Real, a partir de 1994, o modelo agrícola brasileiro se transforma: o Estado diminui sua participação e o mercado passa a financiar a agricultura, fortalecendo a cadeia do agronegócio, desde a substituição da mão-de-obra por máquinas (reduzindo a população rural brasileira), passando pela liberação do comércio exterior (diminuição das taxas de importação dos insumos), e outras medidas que forçaram os produtores brasileiros a se adaptarem às práticas de mercado globalizado (BAER, 2003).

5.2. MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA BRASILEIRA

A partir da década de 1950, nos Estados Unidos e na Europa, foram desencadeadas iniciativas fundamentadas no progresso técnico (insumos e maquinários), com o intuito de proporcionar o desenvolvimento rural. O crescimento da produção agrícola era o indicador primário de medida do desenvolvimento econômico do campo. Esse novo paradigma de produção para a agricultura foi denominado de Revolução Verde e caracterizou o processo inicial de modernização da agricultura brasileira (MATOS e PESSÔA, 2011).

O termo modernização da agricultura é empregado para designar a mudança na base técnica da produção agropecuária no pós-guerra e as intensas transformações da produção no campo e das relações entre capital e trabalho. Esse período é marcado pela dependência do mercado externo dos meios de produção. Sua consolidação se iniciou a partir de 1960, com o incremento das inovações tecnológicas no processo produtivo (inovações agronômicas, físico- químicas, biológicas) e com a constituição dos complexos agroindustriais, o que gerou uma nova composição espacial e socioeconômica no campo brasileiro (SILVA, 1996)

Evidencia-se que a estratégia brasileira de modernização agrícola, no período entre 1960 e 1980, baseava-se em quatro pontos principais: ampliação dos programas de crédito subsidiado, aumento dos gastos em extensão rural e pesquisa, maior abertura ao comércio internacional e prioridade ao setor de insumos modernos (BARROS, 1983)

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19 A agricultura no Brasil atravessaria um intenso processo de transformação. A estratégia de modernização agrícola brasileira tinha como eixo central a ampliação do crédito rural subsidiado destinado à aquisição de insumos mais modernos, em conjunto com um processo expressivo de substituição das importações, tanto na área mecânica quanto na área química de insumos agrícolas. Esse processo acabou contribuindo com a consolidação do setor de insumos modernos, que evoluiu em consequência da expansão da área plantada, dos incentivos à produção doméstica de insumos, do incremento do volume de crédito seletivo e da dinamização das exportações de produtos agrícolas, favorecidas por um mercado externo fortemente em expansão. Ademais, no início da década de 1970 foram criadas, nos âmbitos federal e estadual, as instituições de ensino, pesquisa e extensão rural e os instrumentos de política econômica, com o propósito de elevar a produtividade (CONCEIÇÃO, 2014). Em destaque temos a criação da Embrapa, em 1973 (no contexto da Revolução Verde), inicialmente como propagadora de tecnologias estrangeiras, passando posteriormente a desenvolver tecnologias próprias adequadas à realidade dos produtores nacionais (VIDAL, 2015).

As políticas foram destinadas a transferir renda do setor rural para o urbano-industrial, propondo uma modernização da agricultura no Brasil, objetivando o aumento da produção e da produtividade de culturas de interesse internacional, por meio da introdução de inovações tecnológicas. Procurava-se uma mudança de paradigma na agricultura que modernizasse a produção e a produtividade no campo (LOPES et al, 2007). Assim, o desenvolvimento da ciência e tecnologia no campo proporcionou à agricultura brasileira um grande impulso entre as décadas de 1960 e 1980, com o domínio de regiões antes consideradas inadequadas para a agropecuária, como no caso do Cerrado (CONCEIÇÃO, 2014).

Entretanto, como a modernização do setor agrícola baseava-se em atender a produção e a produtividade, consequências sociais e ambientais geradas por esse modelo foram desconsideradas, assim com os problemas da estrutura fundiária no país. Isso acabou por reforçar a concentração de terras e a aumentar a exclusão social, ocasionando a modernização do latifúndio e o êxodo de milhares de pessoas do campo para a cidade (MATOS e PESSÔA, 2011). Entre 1960 e 1980 houve o maior êxodo rural da história do Brasil (SANTOS, 1994).

A partir da década de 1980 a estratégia de modernização agrícola brasileira começa a se mostrar defasada. Uma nova política agrícola mais voltada para o comércio exterior começou a ser esboçada, motivada pelo esgotamento do modelo de substituição de importações e no início do processo de abertura da economia. A década de 1990 trouxe um novo desafio à agricultura brasileira, devido às restrições decorrentes da abertura econômica e da crise fiscal:

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20 o crescimento com maior eficiência no processo produtivo (CONCEIÇÃO, 2014). Por eficiência entende-se que o crescimento da produção no setor agropecuário nacional é intrínseco às questões relacionadas ao uso do solo no médio e longo prazo. A sustentabilidade ambiental, a legalidade do uso da terra e o desenvolvimento dos resultados das pesquisas agropecuárias são essenciais para a continuidade da trajetória de crescimento do setor agropecuário (NASSAR et al., 2010).

Também de suma importância é levar em conta que o desenvolvimento rural não se trata apenas de produção agrícola, mas também da questão social no campo (NAVARRO, 2001). O setor agrícola brasileiro é heterogêneo desde sua modernização, como descrito por Paiva (1971). As políticas públicas brasileiras de incentivo à modernização agrícola beneficiaram notadamente as grandes e médias propriedades (CIPRANDI E FERT NETO, 1996).

Enquanto alguns produtores buscam adotar modernas técnicas de produção, a fim de obter maiores produtividades, outros acabam por adotar técnicas com menor intensidade tecnológica, devido às dificuldades de acesso às tecnologias mais modernas ou mesmo às dificuldades relacionadas com o processo de adaptação. No Brasil é histórica a coexistência de uma agricultura mais moderna, orientada para o mercado externo, com outra voltada quase exclusivamente para a subsistência das famílias do campo e para o abastecimento de pequenos mercados locais. Como exemplo, tem-se que menos de 10% dos estabelecimentos agropecuários foram responsáveis por 85% do valor bruto da produção (VBP), de acordo com dados do censo agropecuário de 2006 do IBGE (VIEIRA FILHO E SANTOS, 2011; VIEIRA FILHO, SANTOS e FORNAZIER, 2012; FORNAZIER E VIEIRA FILHO, 2012).

Ao longo das últimas décadas a agricultura brasileira mostrou intenso crescimento, tornando-se mais produtiva, menos intensiva em trabalho e com estabilidade da utilização da terra. Entretanto, ainda existem desafios enormes relacionados com a promoção do desenvolvimento inclusivo dos agentes produtivos (FORNAZIER E VIEIRA FILHO, 2012).

5.3. EXPANSÃO AGRÍCOLA NO CERRADO

5.3.1 Histórico

O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro, superado em área apenas pela Amazônia.

Ocupa aproximadamente 24% do território nacional (IBGE, 2014) e é considerado a última fronteira agrícola do planeta (BORLAUG, 2002). Os solos do Cerrado são muito antigos, profundos, bem drenados, muito antigos, ácidos, esgotado de nutrientes, com concentrações

(21)

21 elevadas de alumínio. Para torná-los produtivos para fins agrícolas, emprega-se o uso de fertilizantes e calcário. A falta de nutrientes dos solos, portanto, não se constituiu em obstáculo para a ocupação de grandes extensões de terra pela agricultura moderna (KLINK et al., 2005).

O Cerrado é a mais diversificada savana tropical do mundo. Existe uma grande diversidade de habitats e alternância de espécies (RATTER et al., 2003). Entretanto, cerca de metade dos 2 milhões de km² originais do Cerrado foram transformados em pastagens plantadas, culturas anuais e outros tipos de uso. Cerca de 55% do Cerrado já foi desmatado ou transformado pela ação humana, o que equivale a uma área de 880.000 km², ou seja, cerca de três vezes a área desmatada na Amazônia brasileira (MACHADO et al., 2004).

A expansão para o Cerrado aconteceu em um contexto amplo de fatores e eventos favoráveis, que vão desde as características físicas da região (terras adequadas à mecanização, disponibilidade pluviométrica e excelente luminosidade), o incentivo do Estado (por meio do crédito), o desenvolvimento de novos sistemas técnicos, a imigração de agricultores e empresas e o aumento da demanda nacional e internacional por grãos (FREDERICO, 2008).

As políticas de desenvolvimento do II Plano Nacional de Desenvolvimento (PND)1, em conjunto com as características do Cerrado, permitiram a ocupação desse território pelo capital para a produção de monocultura de grãos. Outro fator de grande importância foi a localização geográfica, que lhe permite condições de fácil intercâmbio com as demais regiões do Brasil, facilitando investimentos em logística (MATOS E PESSÔA, 2011). Destaca-se, também, a criação da Embrapa Cerrados em 1975, permitindo o intercâmbio de saberes entre universidades, instituições e outras unidades da Embrapa, cooperando na geração de conhecimento e tecnologias aplicadas à realidade do Cerrado (EMBRAPA, 2017).

Em resumo, pode-se considerar que as políticas estatais destinadas à região tinham como metas principais aumentar a produção de alimentos para abastecer a crescente população urbana, elevar a exportação de commodities, devido aos aumentos nos preços internacionais, ocupar uma área central e de fronteira, deslocar enorme contingente populacional a fim de diminuir conflitos fundiários em outras regiões e, por fim, efetivar uma grande distribuição de terras sem realizar uma reforma agrária (FREDERICO, 2008). Além disso, com a construção de Brasília, possibilidades para a expansão do sistema capitalista foram criadas, o que impulsionou ainda mais a expansão agrícola no Cerrado (ESTEVAM, 2004).

1 O I Plano Nacional de Desenvolvimento, também chamado I PND (1972 - 1974), foi um plano econômico brasileiro. Foi instituído durante a última ditadura militar, iniciada em 1964, pelo governo do general Emílio Garrastazu Médici. O II Plano Nacional de Desenvolvimento foi lançado no final de 1974. Foi instituído durante o governo do general Ernesto Geisel e tinha como finalidade estimular a produção de insumos básicos, bens de capital, alimentos e energia (MANTEGA, 1997; DE SOUZA, 2015).

(22)

22 De acordo com dados da FAO (2017), de 1961 a 2014 a terra arável praticamente quadruplicou no Brasil, saltando de 22 milhões de hectares para 80 milhões, resultado da expansão agrícola no Cerrado; a área de lavouras permanentes teve um acréscimo em área de apenas 5%; e a área destinada a pastos teve um acréscimo de 60%, sendo os pastos e pradarias responsáveis pela maior parte da área agricultável no Brasil (aproximadamente 70% da área total). O crescimento pode ser visto no gráfico a seguir:

Gráfico 1: Área agricultável no Brasil

Fonte: FAO (2017). Adaptado pelo autor.

5.3.2 Expansão agrícola nos dias de hoje

Atualmente observa-se que o fenômeno se expande pelos estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (MATOPIBA), com reflexos em ocupação de área na região Norte do País, onde Pará, Amazonas e Tocantins têm experimentado aumentos no preço de terras nos últimos anos (GASQUES, BOTELHO e BASTOS, 2015). A expansão agrícola brasileira está bem definida na rota Centro Noroeste de ocupação de novos espaços. Destacam-se também a intensificação de uso agrícola no norte do Paraná, Oeste Paulista, arredores do Distrito Federal e Centro-Sul do Mato Grosso do Sul (FREITAS, 2016). Na figura 1, a seguir, é possível visualizar a expansão da fronteira agrícola em diferentes períodos.

(23)

23 Figura 1: Expansão da fronteira agrícola no Brasil e no bioma do Cerrado em

diferentes períodos.

Fonte: Filho (2016).

A partir de 2008 marcou-se um novo período na corrida mundial por terras. A estrangeirização da terra ocorre há séculos, a própria colonização do Brasil por Portugal representa um processo de estrangeirização da terra. A estrangeirização atual de terras é impulsionada, principalmente, pela mudança da matriz energética, pelo interesse na produção de agrocombustíveis (FERNANDES, 2011; SASSEN, 2013) e alimentos, buscando a segurança alimentar. Países da América Latina e África, com grande extensão de terras agricultáveis, disponibilidade de água, legislação ineficaz e mão-de-obra barata, se tornam os principais alvos (PEREIRA E PAULI, 2016).

Inserida neste contexto de acentuação do processo de aquisição de terras por estrangeiros, a região do MATOPIBA, que abrange 337 municípios em uma área de 73.173.485 hectares, tem causado interesse do capital transnacional. As commodities mais expressivas no MATOPIBA são o algodão, a cana-de-açúcar, o milho e a soja (PEREIRA E PAULI, 2016).

Em fevereiro de 2017 o governo de Michel Temer anunciou um projeto (PL 2289/07 e PL 4059/12) que autorizará aquisições de terras agrícolas por parte de estrangeiros, desde que sejam utilizadas para cultivos com ciclos mais longos de produção, como cana-de-açúcar, café, celulose e laranja. O uso da terra para lavouras de curto prazo, como soja e milho, estará

(24)

24 proibido para estrangeiros. Os chineses, um dos maiores interessados na compra de terras brasileiras, se decepcionaram com as novas regras (VILARDAGA, 2017).

Nesta produção do Cerrado como país emergente nas relações comerciais de produtos agropecuários com o Brasil destaca-se o mercado chinês. A China se consolidou no agronegócio brasileiro, com participação em toda a cadeia, exceto no cultivo em larga escala. Segundo dados do MDIC (2017), é o maior comprador da soja brasileira. Superou os Estados Unidos como maior importador dos produtos agrícolas brasileiros e, nos últimos anos, vem diversificando sua pauta e adquirindo mais proteína animal. Foi o segundo país que mais importou carne bovina do Brasil em 2016, atrás apenas de Hong Kong. Ademais, compraram mais carne de frango e, desde 2009, passaram a comprar mais açúcar. Os chineses são responsáveis, atualmente, por um quarto das exportações do agronegócio brasileiro.

Os chineses, preocupados com a segurança alimentar, estão focados em investir diretamente na produção agrícola em outros países. O principal produto é a soja, consumida no país asiático tanto na forma de grãos, como na forma de leite, carne e molhos. É um ingrediente básico da culinária chinesa e uma das principais fontes de proteína da população local. Ainda que o Brasil seja um fornecedor competitivo, produtivo e seguro, os chineses buscam diversificar sua fonte de fornecedores. Nas últimas décadas, os chineses trataram de comprar grandes lotes de terras em países africanos e em vários países da América Latina. Até 2012, o Paraguai, por exemplo, segundo a ONG Grain, vendeu 8 milhões de hectares, 38% de suas terras agrícolas do país sul-americano, para grupos estrangeiros, entre eles chineses (VILARDAGA, 2017).

No Brasil, a China tem buscado aumentar sua participação em várias etapas da cadeia produtiva. A empresa estatal chinesa COFCO, após várias aquisições, vem sendo uma das maiores compradoras de grãos de soja no Brasil, competindo, desde 2015, com os principais donos do mercado nacional, os ABCDs – ADM, Bunge, Cargill e Dreyfus. Outros exemplos são: a aquisição de 57% da Fiagril (compradora de grãos e distribuidora de insumos agrícolas do Mato Grosso do Sul) pela Hunan Dakang Pasture Farming, e os investimentos do grupo CCCC, no ano passado, no Terminal de Uso Privado de São Luiz (MA), para escoamento da produção agrícola do Meio-Oeste. Os chineses pretendem ainda participar intensivamente nas licitações de projetos de ferrovias a serem abertas neste ano, como a da Ferrogrão, entre Mato Grosso e Pará, e do trecho da Ferrovia de Integração Oeste-Leste, entre Ilhéus (BA) e Caetité (BA), cada um orçado em mais de R$ 1 bilhão (VILARDAGA, 2017).

(25)

25 Todos esses investimentos estão relacionados a uma estratégia de uma maior aproximação comercial chinesa com os países da América Latina, especialmente com o Brasil.

O novo posicionamento foi estabelecido no 13º Plano Quinquenal apresentado pelo governo chinês, em 2015, e definiu o objetivo prioritário de renovar a qualidade das parcerias econômicas na região de um nível estritamente comercial para um estágio de investimento direto (VILARDAGA, 2017).

5.4. A EVOLUÇÃO CHINESA NAS ÚLTIMAS DÉCADAS

A crescente urbanização e industrialização ocorrida nas últimas décadas na China causou profundas transformações econômicas e sociais no país, levando ao aumento na demanda por alimentos e forçando o país asiático a preocupar-se cada vez mais com sua segurança alimentar. Devido à estrutura fundiária chinesa, grande parte do meio rural chinês ainda encontra dificuldades de expandir sua produção. Além disso, problemas ambientais, como a poluição e a escassez de água, têm levado a China a reformas em suas políticas agrícolas (JÚNIOR, 2017). Nos últimos anos, o país também passou a buscar no exterior parte de sua segurança alimentar para o futuro, seja por meio de acordos comerciais, compra de terras estrangeiras, ou mesmo pelo aumento do investimento em empresas multinacionais do agronegócio (LONDON, 2011). A China tornou-se um país industrializado e urbanizado, o que ficou comprovado em dois eventos recentes: em 2010 o país ultrapassou o Japão para se tornar a segunda maior economia do mundo; e a taxa de população urbana passou 50% pela primeira vez em 2012 (ZHANG, 2015).

Contudo, mesmo com um custo significativamente mais elevado, a China tem buscado incrementar a sua produção agrícola, mantendo alto grau de autossuficiência (acima de 95%), e aumentando o apoio interno à sua agricultura, através de subsídios (FIGUEIREDO, 2013).

O ingresso da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), no início dos anos 2000, proporcionou ao país uma maior participação no comércio internacional de produtos agrícolas. Entre 2001 e 2008, com o intuito de assegurar a disponibilidade interna de alimentos, a China inverteu o saldo de sua balança comercial, passando de exportadora à importadora de alimentos. Durante esse período as exportações e importações desses produtos cresceram, respectivamente, 170% e 225% (CARTER et al., 2012).

Mas o recente e intenso êxodo rural chinês drenou a força de trabalho para o setor industrial, acabando por causar uma perda de vitalidade nas áreas rurais e na agricultura em

(26)

26 geral. Essa mudança demográfica criou uma nova problemática social na China rural: a emergência da população dos “deixados para trás”, que consiste basicamente de crianças, mulheres e idosos, que carecem dos devidos cuidados físicos e mentais (BIAO 2007; YE et al., 2011; JACKA 2012; YE et al. 2013). A preocupação com a situação agrária chinesa é um dos conteúdos do 13° Plano Quinquenal, lançado em março de 2016. O governo central estabeleceu o objetivo de alcançar uma “sociedade rica em tudo” (quánmiàn jiànshè xiǎokāng shèhuì - 全 面建设小康社会) até 2020. Esses desenvolvimentos e objetivos políticos fazem-se necessários para o governo central chinês para implementar políticas com ideais de “cidades cultivarem o campo” e “as indústrias nutrirem a agricultura” (ZHANG, 2015).

Entre os objetivos do plano encontram-se: a modernização da agricultura de maneira ecologicamente sustentável; o aumento da renda no campo; e o incentivo a uma urbanização controlada de determinadas regiões, principalmente no noroeste do país, já que a costa leste se apresenta saturada. O governo prevê, com isso, que 100 milhões de chineses rurais se estabeleçam em cidades até 2020 (NPC, 2016). Esse fluxo migratório pode acabar por reproduzir alguns padrões já observados na sociedade contemporânea chinesa nesse tipo de transição da população rural para urbana, destacando-se a ocidentalização de hábitos alimentares. Assim, é provável que, durante esse período, uma maior demanda por alimentos processados, carnes e lácteos, assim como uma maior procura por refeições realizadas fora dos domicílios é esperada. O Brasil apresenta condições de produzir essa cota adicional de alimentos para o povo chinês a um custo ambiental significativamente menor (JÚNIOR, 2017).

O aumento da renda do trabalhador rural através da adoção de políticas públicas, destacadamente os subsídios agrícolas, pode acabar afetando o preço internacional dos alimentos, sobretudo quando a política é aplicada em um país de tamanho continental como a China. Em 2000, os subsídios representavam 2,77% de toda receita agrícola chinesa, elevando- se para 21,34% em 2015 (OCDE, 2016). Quando um país fixa preços mínimos e garante a compra de parcela da produção, dependendo da proporção do país, essa política pode gerar uma série de discrepâncias no comércio internacional e na geografia da agricultura mundial (JÚNIOR, 2017).

No caso chinês, as políticas de preços mínimos e compras governamentais têm sido fonte de problemas para a administração central do país. Além dos estoques de qualidade duvidosa, a dificuldade logística de armazenar quantidades cada vez maiores de grãos é latente.

O estoque de milho, por exemplo, equipara-se à produção anual brasileira. Esse problema, aparentemente restrito ao ambiente interno chinês, tem gerado incertezas quanto às reais

(27)

27 necessidades alimentícias chinesas, o que reflete em pressões sobre as fronteiras agrícolas de seus parceiros comerciais e volatilidades nos preços internacionais (JÚNIOR, 2017).

Na China, o desenvolvimento rural pode ser visto como a integração dos camponeses como cidadãos na China moderna (ou, de modo menos ortodoxo, como uma política para apaziguar seu imenso campesinato). No país asiático existe um marco dominante na política rural: a construção de um meio rural socialista. Entretanto esse marco foi influenciado e dá continuidade à política anterior, a sān nóng (三农), ou os “três problemas rurais”, que são:

aumentar progressivamente a produção agrícola (buscando garantir a soberania alimentar);

ampliação da renda dos camponeses (a fim de incentivar o mercado interno e diminuir os desequilíbrios entre a cidade e o campo) e a necessidade de criar um ambiente atrativo no campo (PLOEG, 2011).

Nos processos de desenvolvimento rural chinês alguns novos e interessantes mercados emergiram: o mercado de alimentos orgânicos (que atualmente abarca mais de 500 variedades de produtos, em sua maioria, exportados; o valor de exportação é de cerca de 400 milhões de dólares); o mercado de alimentos verdes (Green Food) que distribui alimentos certificados na China (vendas deste mercado totalizam hoje 19 bilhões de Euros/ano); o mercado da ecoagricultura, que resgata antigas tradições agrícolas chinesas; os mercados focados em produtos típicos de um determinado local ou região; e os mercados do agroturismo (que geram uma renda de cerca de 5 bilhões de Euros/ano) (YE et al., 2010).

As relações de troca entre cidade e campo (entre agricultura e indústria) literalmente se reverteram ao longo dos últimos 6 anos, em benefício do campo e da agricultura chinesa. O princípio político de “dar mais e tomar menos” (formulado em setembro de 2002 e reafirmado nos Documentos Centrais Nº 1 de 2004 e 2005) tiveram um papel essencial nesta reversão. A nova tendência foi reforçada recentemente, através da tentativa de ampliar o mercado interno chinês com o propósito de reduzir a dependência das exportações (PLOEG, 2011).

O Brasil, parceiro comercial indispensável para a China, necessita de profundo conhecimento da realidade rural chinesa, já que é bastante provável que oportunidades emergirão a partir de falhas nos planos chineses para esse setor. A China tem procurado assegurar que o Brasil tenha condições de permanecer provendo sua cota necessária para a segurança alimentar chinesa (JÚNIOR, 2017).

(28)

28 5.5. PERANTE O MUNDO

5.5.1. Brasil

Segundo dados do IBGE, a República Federativa do Brasil é o maior país da América do Sul, segundo maior do continente americano (atrás apenas dos Estados Unidos) e o quinto maior do mundo em área territorial (8,514,877 km², equivalente a 47% do território sul- americano), com mais de 207 milhões de habitantes. É o único país falante da língua portuguesa na América e o maior país lusófono do mundo, além de ser uma das nações mais multiculturais e etnicamente diversas do planeta, resultado da forte imigração vinda de muitos países e dos índios que aqui já habitavam. O país faz fronteira com todos os outros países sul-americanos, exceto Equador e Chile. É a oitava maior economia do mundo a taxas de mercado de câmbio e a oitava maior em paridade do poder de compra (PPC), de acordo com o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial.

Os principais produtos agropecuários brasileiros são: café, soja, trigo, arroz, milho, cana-de-açúcar, cacau, suco de laranja, tabaco e carne (CIA, 2017). A tabela 1 mostra os principais produtos da pauta de exportações do Brasil para a China. Mesmo existindo outros produtos com grande importância como os minérios e petróleo, o foco da análise deste trabalho será nos produtos do agronegócio.

O gráfico 2, a seguir, permite a visualização da participação do Brasil nas exportações e importações mundiais entre 1950 e 2014. Vê-se que essa participação vem caindo desde o início da série, comportamento explicado pela pauta de exportações brasileira, majoritariamente matérias-primas, produtos básicos de pouco valor agregado. A participação das exportações no PIB brasileiro manteve-se praticamente constante durante todo o período, ora mais ora menos que 10% (gráfico 3).

O grande aumento das exportações brasileiras nas últimas décadas refletiu em maior renda per capita, resultando em um crescimento também nas importações. Apesar disso a balança comercial se mostra favorável ao Brasil na maior parte do tempo, como pode ser observado no gráfico 4.

(29)

29 Gráfico 2: Participação (%) do Brasil nas Exportações e Importações Mundiais

Fonte: MDIC (2017).

Gráfico 3: Variação (%) anual das Exportações e Participação (%) das Exportações no PIB

Fonte: MDIC (2017).

(30)

30 Gráfico 4: Balança Comercial Brasileira - 1950 a 2014

Fonte: MDIC (2017).

Os principais parceiros comerciais do Brasil, historicamente, são os países da Europa (já que fomos colonizados pelos portugueses) e os Estados Unidos. Hoje a China lidera a lista.

Dados do MDIC (2017) revelam que as exportações brasileiras para a China não pararam de crescer desde 1997 até 2011, não registrando quedas mesmo após a crise econômica mundial de 2008 (gráfico 5). O mesmo não ocorreu em relação à União Europeia e aos Estados Unidos, que em 2009 deixaram de importar mais de US$ 12.4 bilhões e US$ 11.8 bilhões, respectivamente, em relação à 2008 (gráficos 7 e 9).

Gráfico 5: Comércio entre Brasil e China

Fonte: MIDC (2017). Elaboração do autor.

0 5.000.000.000 10.000.000.000 15.000.000.000 20.000.000.000 25.000.000.000 30.000.000.000 35.000.000.000 40.000.000.000 45.000.000.000 50.000.000.000

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Exportações Importações US$

(31)

31 Gráfico 6: Balança comercial entre Brasil e China

Fonte: MIDC (2017). Elaboração do autor.

A União Europeia, em se tratando de valor acumulado, foi a que mais apresentou lucratividade nas exportações brasileiras no período de 1997 a 2016, mais de US$ 66 bilhões.

Entretanto, a China apresentou a crescimento mais vertiginoso. Em 2016 a China comprou mais do que todos os países da União Europeia somados. O total acumulado durante o mesmo período ultrapassa os US$ 59 bilhões (gráfico 6). Ademais, as projeções da demanda asiática por produtos brasileiros para os próximos anos são mais otimistas do que qualquer outro parceiro comercial brasileiro.

Gráfico 7: Comércio entre Brasil e União Europeia

Fonte: MIDC (2017). Elaboração do autor.

-4.000.000.000 -2.000.000.000 0 2.000.000.000 4.000.000.000 6.000.000.000 8.000.000.000 10.000.000.000 12.000.000.000

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

0 10.000.000.000 20.000.000.000 30.000.000.000 40.000.000.000 50.000.000.000 60.000.000.000

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Exportações Importações US$

US$

(32)

32 Gráfico 8: Balança comercial entre Brasil e União Europeia

Fonte: MIDC (2017). Elaboração do autor.

A força econômica dos Estados Unidos, que possui uma pauta de exportações com produtos de alto valor agregado, fica evidente nos gráficos 9 e 10. No acumulado da série, o Brasil registrou um déficit de mais de US$ 7 bilhões na balança comercial com os Estados Unidos, que se revela desfavorável desde o ano de 2009. Em contrapartida, a balança comercial do Brasil com a China só registrou déficits nos anos 2007 e 2008, apresentando valores extremamente favoráveis ao Brasil, do ponto de vista puramente monetário, desde então.

Gráfico 9: Comércio entre Brasil e Estados Unidos

Fonte: MIDC (2017). Elaboração do autor.

-6.000.000.000 -4.000.000.000 -2.000.000.000 0 2.000.000.000 4.000.000.000 6.000.000.000 8.000.000.000 10.000.000.000 12.000.000.000 14.000.000.000

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

0 5.000.000.000 10.000.000.000 15.000.000.000 20.000.000.000 25.000.000.000 30.000.000.000 35.000.000.000 40.000.000.000

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Exportações Importações US$

US$

(33)

33 Gráfico 10: Balança comercial entre Brasil e Estados Unidos

Fonte: MIDC (2017). Elaboração do autor.

Em relação as exportações e importações do agronegócio brasileiro, segundo dados da AGROSTAT (2017), os valores em exportação superam significativamente os de importação, reforçando a ideia do Brasil como um importante fornecedor mundial de alimentos. Em 2016 as exportações do agronegócio foram responsáveis por mais de 46% das exportações totais brasileiras. Em contraponto, menos de 10% das importações brasileiras estavam relacionadas ao agronegócio. O resultado é um superávit, em 2016, de mais de US$ 71 bilhões só no setor do agronegócio (gráfico 11).

Gráfico 11: Evolução anual da balança comercial brasileira e do agronegócio

Fonte: AGROSTAT Brasil, a partir de dados da SECEX/MDIC (2017). Elaboração:

DAC/ SRI/ MAPA.

-15.000.000.000 -10.000.000.000 -5.000.000.000 0 5.000.000.000 10.000.000.000

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

0 50 100 150 200 250 300

EXP. TOTAL IMP. TOTAL EXP. AGRONEGÓCIO IMP. AGRONEGÓCIO US$

bilhões

US$

(34)

34 5.5.2. China

Segundo dados do CEBC, a República Popular da China é o quarto maior país do mundo em área total (9,596,961 km²), fazendo fronteira com Afeganistão, Butão, Mianmar, Índia, Cazaquistão, Coréia do Norte, Quirguistão, Laos, Mongólia, Nepal, Paquistão, Rússia, Tadjiquistão e Vietnã. É o maior país da Ásia Oriental e o mais populoso do mundo, com mais de 1,3 bilhão de habitantes, aproximadamente um sétimo da população da Terra. É uma república socialista governada pelo Partido Comunista da China sob um sistema de partido único.

É a segunda maior economia do mundo. Segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), seu produto interno bruto (PIB nominal) é estimado em mais de US$ 11 trilhões, enquanto seu poder de compra foi calculado em pouco mais de US$ 21 trilhões. A China é a nação com o maior crescimento econômico dos últimos 25 anos, com a média do crescimento do PIB em 10% por ano.

Os principais produtos agropecuários chineses são: arroz, trigo, batata, milho, tabaco, amendoim, chá, maçã, algodão, carneiro, porco, camarão, ovos e peixes (CIA, 2017). Porém, para alimentar uma grande população o país necessita de um grande aporte de alimentos do exterior e o Brasil se constitui em um grande fornecedor de alimentos. Todavia, ao mesmo tempo que o Brasil exporta commodities (alimentares e não alimentares), também importa uma série de produtos da China. Segundo dados da plataforma The World Factbook da CIA (2017), os principais parceiros comerciais da China são: EUA 18%, Hong Kong 14.6%, Japão 6% e Coreia do Sul 4.5% (2015).

5.6. RELAÇÃO BILATERAL ENTRE O BRASIL E A CHINA

No início de 2000 o Brasil e a China formalizaram um acordo em que a China seria apoiada para uma posição de membro na OMC em troca de redução de algumas tarifas existentes sobre as importações do Brasil (DE MIRANDA, 2007). A adoção de um regime comercial de livre comércio pelo Brasil também promoveu um aumento no comércio. Na última década, o comércio bilateral entre o Brasil e a China continuou a crescer consideravelmente.

Em 2009, a China foi o destino de US$ 20,2 bilhões de exportações brasileiras, a maioria dos quais sob a forma de produtos agrícolas e minerais não processados. A China ultrapassou os EUA para se tornar o maior parceiro comercial do Brasil. Esta foi uma mudança histórica, já que os EUA foram o principal parceiro comercial do Brasil desde a década de 1930. Embora

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35 seja provável que seja temporário, dada a fraqueza excepcional da economia dos EUA nesse ano, é uma indicação da grande importância que o mercado chinês tem agora para os exportadores brasileiros de commodities (BROWN-LIMA, 2010).

A China começou a olhar para o exterior para fontes externas de alimentos em meados da década de 1990, quando ficou claro que a capacidade de produção do país para alimentos, especialmente produtos de carne, era insuficiente para atender a demanda crescente. Ao avaliar qual mercadoria importar, a soja tem mais sentido econômico em um país com uma escassez significativa de terras agrícolas, uma vez que o milho possui maior rendimento por hectare (WILSON, 2010). A importação de soja brasileira por volume aumentou 9 vezes em relação a 2000 e 2010. Em 2000, a China era o destino de 16% (1,8 milhões de toneladas) de soja total do Brasil exportar. Em 2009, a China importou 56% (15,9 milhões de toneladas) das exportações totais de soja do Brasil. Para entender a relação comercial da soja entre o Brasil e a China, é necessário compreender a evolução da capacidade de produção e exportação de soja do Brasil, bem como a evolução da demanda chinesa de soja (BROWN-LIMA, 2010).

Assimilando a perda relativa de poder dos EUA e a ascensão de outras potências importantes, em especial a China, o comportamento externo brasileiro atual tem partido da hipótese da possibilidade de um mundo mais multipolar. No final do governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), evidenciou-se um reforço no unilateralismo na política externa norte-americana e, desde então, o Brasil vem buscando universalizar mais suas relações, intensificando parcerias com países em desenvolvimento, criando as condições para uma geopolítica mais multipolarizada, onde o unilateralismo dos EUA seja relativo e o Brasil tenha mais oportunidades de influência nos processos de tomada de decisão internacionais.

Aumentando a reciprocidade de ganhos entre o Brasil e as estruturas externas da ordem internacional, objetiva-se diminuir a vulnerabilidade do país (CERVO, 2008; VIGEVANI;

CEPALUNI, 2007; LIMA, 2005; PECEQUILO, 2008).

Observa-se que a China possui como um dos pressupostos primários de sua política externa a multipolarização do mundo, objetivando evoluir para um ambiente internacional mais favorável para a realização dos seus interesses (DENG, 2008). É importante lembrar que desde o fim da década de 1970 o país tem implantado uma série de reformas graduais, tornando o seu perfil de inserção internacional mais pragmático e universalista. Ao observar os interesses chineses, acredita-se que a dominância ocidental (isto é, dos EUA e seus principais aliados) tenha de ser relativizada, a fim de possibilitar ao país asiático assegurar regras e normas internacionais mais favoráveis, defendendo o multipolarismo, um processo que pluraliza as

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