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No que tange a este, a crítica tem início no próprio título do capítulo: não mais deve haver, na Receita Federal, uma Carreira “Auditoria da Receita Federal”, mas duas carreiras. A Carreira Auditoria-Fiscal da Receita

Federal, composta exclusivamente pelas autoridades fiscais e uma Carreira

Técnica de Apoio Administrativo da Receita Federal, composta pelos analistas e demais servidores administrativos.

Esta, a estrutura de carreiras que se verifica nos principais e mais eficientes órgãos e instituições brasileiras. De um lado, a carreira das autoridades que compõem o órgão; de outro, a carreira dos servidores administrativos.

Sem deméritos, mas se deve ressaltar o grande equívoco que é o Auditor- Fiscal e o Analista Tributário se encontrarem numa mesma carreira dentro da Receita Federal. Afinal este último não é Auditor, não audita, não fiscaliza. Não é autoridade.

Além dessa situação aberrante causar infindáveis desavenças e prejudiciais desentendimentos dentro da Receita Federal, tem ensejado, mormente nos últimos nove anos, indevida e inadmissível captis diminutio à autoridade fiscal, apanágio do cargo de Auditor-Fiscal, como fartamente demonstrado. Não subsiste sentido em haver uma carreira única. Não se verifica, no Poder Judiciário, uma carreira única de juízes e oficiais de justiça. Também não se observa, no Ministério Público, uma carreira única a abarcar os Procuradores da República e os Analistas do Ministério Público. O mesmo na Advocacia Geral da União ou na Procuradoria da Fazenda Nacional: os Advogados da União e os Procuradores da Fazenda não se encontram em carreiras que contenham outros cargos de nível administrativo, de apoio ou preparatório. As carreiras possuem um único cargo.

Não há qualquer justificativa a se permanecer com esse erro. A Lei

Orgânica deve se prestar a corrigir definitivamente essa situação, da seguinte forma: os Auditores-Fiscais da Receita Federal devem estar organizados em carreira composta apenas por este cargo, e denominada

Carreira Auditoria-Fiscal da Receita Federal.

Os Analistas Tributários, juntamente com os seus pares, os demais servidores administrativos que realizam atividades de natureza técnica, acessórias ou preparatórias ao exercício das atribuições privativas dos

Auditores-Fiscais, além do atendimento ao contribuinte, devem estar organizados numa outra Carreira, que se pode denominar Carreira Técnica

de Apoio Administrativo da Receita Federal.

O fim de uma carreira única que agregue indevidamente autoridades e seus auxiliares é medida salutar não apenas para a própria Receita Federal (pondo-se fim às infindáveis desavenças internas entre Auditores-Fiscais e Analistas), como também seria salutar para toda a sociedade. Veja-se, apenas como exemplo, a notícia que consta do Anexo Único a esta análise crítica, que narra um caso de não condenação penal por tráfico internacional de drogas pelo fato de a constatação da existência do objeto do delito ter sido realizada não por autoridade fiscal, mas por “mero auxiliar”, na dicção precisa da magistrada federal.

No item 16, propõe-se que as atribuições dos Auditores-Fiscais sejam

exclusivas, não privativas, haja vista serem estas, em tese, delegáveis.

No item 17, inciso III, vê-se a seguinte redação:

“17. São atribuições dos ocupantes do cargo de Analista Tributário da

Receita Federal do Brasil, resguardadas as atribuições privativas referidas no artigo anterior:

III - participar, sob supervisão de Auditor-Fiscal da Receita Federal do

Brasil, das atividades listadas no artigo anterior”. Propõe-se a exclusão deste inciso III.

Justificativa: nas atribuições privativas do Auditor-Fiscal, a participação de analistas se dá por meio das atividades de natureza técnica, acessórias ou preparatórias, que já estão inclusas no inciso I do item 17. A expressão “participar sob a supervisão” não esclarece quem decide.

Quanto ao item 18, suas disposições não devem existir. A uma, porque as carreiras devem ser separadas, não havendo, portanto, atribuições concorrentes. A duas, porque contém atribuições próprias da autoridade fiscal (como a do inciso IV, por exemplo) causado a indesejável confusão entre as atividades da autoridade fiscal e a dos servidores administrativos,

além de constituir uma afronta e uma redução da autoridade aduaneira.

Dessa forma, os incisos I, II e III do item 18 devem ser atribuições dos analistas sob a supervisão, se necessário, da autoridade fiscal.

Enquanto o texto da LOF proposto pelo Unafisco dispõe como atribuição de caráter geral a supervisão das demais atividades inerentes à competência da RFB, a minuta apresentada pela Administração mantém, como de caráter geral e concorrente, o exercício dessas atividades, ensejando a possibilidade de um Auditor-Fiscal exercer as mesmas atividades de um ATRFB, bastando que esteja trabalhando sob a supervisão de um Auditor-Fiscal. Isso é, por evidente, inaceitável.

Por fim, no item 15, observa-se um desrespeito patente às autoridades

fiscais, a demonstrar, como se asseverou ao início, que a minuta parece ter

sido realmente elaborada pelos analistas (servidores administrativos e auxiliares), não pelos Auditores-Fiscais, que são as autoridades do órgão. Veja-se:

“15. A Carreira Auditoria da Receita Federal do Brasil – ARFB, típica e

exclusiva de Estado, é integrada pelos seguintes cargos:

I – Analista Tributário da Receita Federal do Brasil II – Auditor da Receita Federal do Brasil”.

Ora, se não bastasse a aberração ululante que é a manutenção dos dois cargos incomunicáveis e absolutamente distintos em suas naturezas na mesma carreira, ainda se apõe o cargo de auxiliar em primeiro lugar e se retira a expressão “Fiscal” do cargo de Auditor-Fiscal da Receita Federal. Faz-se, ad argumentandi, um paralelismo com a Lei Orgânica do Ministério Público e, por absurdo, imaginar nesta situação semelhante.

Ficaria assim o esdrúxulo dispositivo:

“15. A Carreira dos Servidores do Ministério Público – SMP, típica e

exclusiva de Estado, é integrada pelos seguintes cargos:

I – Agente Administrativo do Ministério Público; II – Analista do Ministério Público;

III – procurador da república” (g.n.; observe-se as letras minúsculas).

Digno de escárnio!

Por aqui se verifica a real e eloqüente necessidade de se reescrever todo o

texto da minuta.

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