• Nenhum resultado encontrado

Carreira e o equilíbrio trabalho e família

Um dos fatores relevantes no desenvolvimento da carreira está associado ao equilíbrio entre trabalho e família. Conforme Evans (1996), o trabalho e a família são dimensões importantes nas nossas vidas e devem ser percebidas de maneira indissociável. O trabalho e a vida pessoal podem ficar em harmonia e um reforçar o outro.

Trabalho e família são respectivos e um dá suporte ao outro. Dessa forma, a vida profissional pode acrescentar ou atrapalhar a vida familiar, como também a vida familiar pode ter influências sobre a vida profissional, sejam elas boas ou ruins (GREENHAUS; CALLANAN 1994; GREENHAUS; SINGH, 2004).

De acordo com Evans (1996), no contexto social atual, homens e mulheres possuem suas carreiras e elas não estão ligadas apenas ao trabalho. O autor ressalta que o indivíduo tem carreira profissional de trabalho, carreira conjugal, carreira de pai ou mãe e, às vezes, também uma carreira ativa de lazer.

De acordo com Silva (2005), na sociedade “pós tradicional”, homens e mulheres trabalham e têm filhos, contudo, podem deparar-se com problemas ao atuarem nos espaços organizacionais e vivenciar conflitos, principalmente ao dedicar mais energia e tempo a uma das dimensões da vida – o trabalho.

As questões relacionadas à interseção entre trabalho e família tornaram-se centro de atenção de diversos pesquisadores (EVANS, 1996; PARASURAMAN; BEUTELL; GODSHALK, 1985; GREENHAUS; CALLANAN, 1994; LINDO, 2004; SILVA, 2005) com o intuito de conhecer as razões dos conflitos existentes entre trabalho e família que interferem no desenvolvimento da carreira.

Os primeiros estudos sobre conflito trabalho e família surgiram na década de 60, com Kahn (1966), com o objetivo de estudar o comportamento humano dentro das organizações, conflito dentro e fora do trabalho e o stress causado pela vida moderna (KAHN apud GREENHAUS; PARASURAMAN; 1997) Os autores definiram conflito trabalho e família como uma forma de conflito em que as pressões dominantes do trabalho e da família são de certa forma mutuamente incompatíveis.

Para Greenhaus e Parasuraman (1997), o conflito entre trabalho e família surgiu a partir da segunda metade do século XX, quando inúmeras esposas e mães entraram no mercado de trabalho. A mulher, que antes tinha o papel único de cuidar da casa e do lar, passou a ter a necessidade de dividir seu tempo disponível entre a casa e o trabalho.

Lindo et al.(2004) afirmam que, apesar das transformações sociais no mundo moderno, as expectativas da sociedade em relação aos papéis masculinos e femininos mudaram muito pouco ao longo do tempo, moldando a relação entre a satisfação na carreira e o conflito família e trabalho. Aspectos bastante diferentes são encontrados frequentemente entre homens e mulheres. Eles tendem a priorizar suas carreiras; as mulheres costumam fixar prioridades para suas famílias que não dependem das responsabilidades profissionais. Neste sentido, alguns conflitos podem ocorrer na relação trabalho e família.

Greenhaus e Beutell (1985, apud SILVA, 2005) abordam este assunto explicando que a origem dos conflitos na relação trabalho e família pode estar associada à natureza entre papéis de cada um. Argumentam, também, que o conflito entre o trabalho e família existe quando o tempo dedicado às necessidades de um papel torna difícil satisfazer as necessidades do outro; quando a tensão da participação em um papel torna difícil a satisfação das necessidades do outro; e quando os comportamentos específicos requeridos por um papel tornam difícil a satisfação das necessidades do outro. Os autores classificam os conflitos entre trabalho e família, numa perspectiva multidimensional, em três tipos, visualidos abaixo:

a) Conflito baseado no tempo: ocorre quando a demanda de tempo em uma situação esgota o tempo disponível requerido para encontrar demandas associadas com outro domínio;

b) Conflito baseado no comportamento: surge quando comportamentos utilizados em um domínio interferem no desempenho do papel em outro domínio;

c) Conflito baseado na tensão: surge quando o estresse surge em um domínio e compromete o desempenho em outro domínio, geralmente como um resultado de papéis incompatíveis

De acordo com Lindo (2004), existem outras variáveis, como idade, gênero e estado civil, que podem estar moldando e influenciado a satisfação na carreira e o conflito trabalho e família. O conflito trabalho e família pode sofrer alteração significativa conforme o ciclo de vida da pessoa. Na fase inicial da carreira, o indivíduo pode submeter-se à tensão, com o objetivo de conseguir mais estabilidade, aceitação, reconhecimento no processo de desenvolvimento da carreira. Neste momento de vida, os conflitos trabalho e família podem ser ainda mais acentuados. Na fase de média carreira, o conflito trabalho e família tende a diminuir. Nesta fase, as pessoas geralmente têm carreiras mais definidas. (GREENHAUS; CALLANAN, 1994).

No tocante aos conflitos trabalho e família, quando relacionados às questões de gênero, encontram-se realidades bastante distintas. A carreira das mulheres apresenta algumas particularidades que as diferenciam claramente dos padrões de desenvolvimento masculino, e que se relacionam com o papel central de que estas continuam a desempenhar na esfera familiar (GALLOS apud GAIO, 2008). Os homens relatam que sentem maior stress emocional quando há interferência das obrigações domésticas no trabalho; as mulheres, justamente o contrário. Elas sentem que o trabalho gerava conflito com a família, principalmente pelo tempo em que essas trabalhadoras alegavam não ter para atender suas famílias (POSIG; KICKUT apud STROBINO, 2009).

Os conflitos que as mulheres enfrentam na tentativa de administrar a sua vida privada e profissional podem ser ainda mais difíceis do que aqueles enfrentados pelos homens. As mulheres procuram compatibilizar sua carreira e sua vida pessoal, querendo conseguir uma carreira séria e, ao mesmo tempo, participar ativamente da educação dos filhos. Neste sentido, recebem maior pressão para administrar com habilidade os limites entre

a vida privada e profissional. Isto, de certa forma, indica que os homens e mulheres vivenciam de forma diferente as relações entre trabalho e família (BARTOLOMÉ; EVANS, 2001; SCHWARTZ, 2001). Para Lindo (2004), de uma maneira geral, as mulheres tendem a fixar prioridades para suas famílias e, caso haja a existência de filhos, as horas de trabalho das mulheres crescem muito mais em relação as dos homens. Dessa forma, a satisfação na carreira da mulher tende a ser negativamente mais afetada do que a do homem.

Parasuraman et al. (1996) explicam que uma das formas de solucionar o conflito trabalho família pode estar no apoio familiar à mulher e destacam a existência de dois tipos de apoio por parte do cônjuge considerados importantes no contexto do conflito entre trabalho e família: o apoio instrumental e o apoio emocional. O primeiro significa a participação efetiva do companheiro nos cuidados com a casa e os filhos; e o segundo refere-se ao auxílio em forma de informações, conselhos e afeição à prosperidade da parceira. Maior grau de apoio instrumental proporciona uma diminuição da grande carga de trabalho dentro do lar, proporcionando mais tempo para a dedicação ao trabalho. Já o apoio emocional ajuda a realçar o sentimento de capacidade e eficácia por parte da mulher.

Neste sentido, Greennhaus (1994) sugere que uma das formas de equilibrar trabalho e família está nas condições do casal poder ajustar a carreira de um dos membros da família ou dos dois a um estilo de vida mais flexível de forma a atender às necessidades de familiares. Neste sentido, a carreira baseada no modelo Protean (HALL, 1996), que traz o conceito de flexibilidade, pode ser uma das alternativas utilizada para um dos membros da família.