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1.2. A DESCRIÇÃO DO CORPUS

1.2.1. As Cartas

Os documentos reunidos sob a denomina€•o de carta apresentam estrutura semelhante, tratam de assuntos diversos e cada um deles est‚ assinado por uma pessoa. Em alguns casos, o prŒprio autor denomina o escrito como tal, mas isso n•o ocorre sempre. H‚ textos que fazem parte de apresenta€•o de outros documentos, contextualizando as causas de seu envio ou dando satisfa€•o de ordem vinda de superiores; outras possuem car‚ter peditŒrio, mas com estrutura diferente da de uma peti€•o ou requerimento. De acordo com Bellotto (2002, p. 51), na administra€•o colonial, a carta tinha a seguinte denomina€•o:

Correspondˆncia enviada por autoridade subalterna/delegada ou sŽdito ao Rei, diferindo do requerimento ou peti€•o pela natureza do teor documental, j‚ que estes Žltimos destinam-se a solicitar mercˆs, privil‹gios ou direitos de existˆncia consolidada, desde que preenchidos os requisitos necess‚rios. Quest‡es de car‚ter oficial ou particular que se desejasse expor ao Rei, quaisquer que fossem os assuntos, desde que n•o de car‚ter peditŒrio, eram- lhe dirigidas por meio de carta.

Ainda segundo Bellotto (2002, p. 51), carta ‹ documento n•o-diplom‚tico, mas de desenho mais ou menos padronizado, informativo, ascendente, descendente, horizontal,

19Esp‹cie documental ‹ a configura€•o que assume um documento de acordo com a disposi€•o e a natureza das

informa€‡es nele contidas (CAMARGO & BELLOTTO, 1996). A esp‹cie documental diplom‚tica ‹ aquela que obedece a fŒrmulas convencionadas, em geral estabelecidas pelo Direito administrativo ou notarial.

conforme o caso. Normalmente a carta ‹ composta por protocolo inicial, o texto propriamente dito e o protocolo final. Protocolo inicial: datas tŒpica e cronolŒgica. Endere€amento. Dire€•o. Texto: paragrafado, com a exposi€•o e o objetivo da carta. Protocolo final: fecho de cortesia, assinatura, nome e cargo do signat‚rio. Por ser uma forma de correspondˆncia largamente utilizada para transmitir informa€‡es, solicitar favores, fazer convites, era utilizada tanto no alto escal•o da administra€•o pŽblica em comunica€‡es sociais decorrentes de cargo e fun€•o pŽblicos quanto nas entidades privadas da ‚rea comercial, industrial, banc‚ria, social entre outras.

Apesar de n•o possuŠrem obrigatoriamente uma estrutura preestabelecida, possuem caracterŠsticas comuns que possibilitaram o seu agrupamento. Apresentam no inŠcio o nome ou forma de tratamento para quem se destina o documento, geralmente “Senhor”, “Vossa Majestade”, “Vossa Excelˆncia” ou, at‹, “Meu Senhor”, de acordo com a rela€•o entre os correspondentes. Em seguida, vem o teor da carta com a exposi€•o do assunto que a motivou. Por fim, o fecho de cortesia, seguido pela indica€•o das data€‡es tŒpica e cronolŒgica e a assinatura. Quando se trata de treslado, essa informa€•o abre o documento.

Os autores das cartas exerciam cargos e fun€‡es diversos. As que comp‡em o corpus, em sua maioria, possuem assinaturas de altos funcion‚rios da Administra€•o PŽblica. Com exce€•o de uma, escrita declarativamente por um escriv•o, as outras tˆm como assinaturas ouvidor, tenente general, provedor da fazenda real, mestre de campo e governadores de capitanias. A primeira carta data de 28 de outubro de 1705; a Žltima, de 17 de novembro de 1778.

Datação Localidade Escriba Cargo de quem assina a carta

1 1705, outubro 28 Santos Jozeph Monteiro de Mattos Capit•o e Governador da Vila de Santos

2 1706, dezembro 14 Santos Manoel Rodriguez de Oliveira Provedor da Fazenda Real 3 1710, outubro 12 Guaratinguet‚ Antonio de Albuquerque Coelho de

Carualho

Capit•o e Governador da Vila de Santos

4 1713, junho 1 S•o Paulo Antonio Correa de Sa‘ Escriv•o da Ouvidoria Geral 5 1713, setembro 1 S•o Paulo Bras Balthasar da Silveira Provedor da Fazenda Real 6 1717, setembro 30 JundiaŠ Duarte de Tauora Tabeli•o

7 1718, agosto 6 Santos Luis Antonio de S‚ Queiroga Tenente General

8 1719, junho 8 Santos Mathias da Sylva Juiz de Fora

9 1720, mar€o 13 Santos Joa‡ da Costa Ferreira de Brito Mestre de Campo e Governador de Santos

10 1721, dezembro 12 S•o Paulo Raphael Pires Pardinho Tenente General 11 1722, janeiro 31 Santos Raphael Pires Pardinho Tenente General

12 1723, abril 30 S•o Paulo RodrigoCezar deMenezes Capit•o General de S•o Paulo

13 1731, mar€o 5 S•o Paulo Antonio Rodrigues de Carvalho ?

14 1737, outubro 7 S•o Paulo Jo•o dos Santos Ala Mestre de Campo e Governador de Santos

15 1737, outubro 7 São Paulo João dos Santos Ala Mestre de Campo e Governador de Santos

16 1739, setembro 3 Santos Joseph de Godoy Moreyra Provedor da Fazenda Real 17 1741, junho 5 São Paulo Diogo Pinto do Rego Mestre de Campo e Capitão 18 1742, março 11 Santos Manoel Gonçalves de Aguiar Sargento-mor

19 1744, outubro 15 São Paulo Doutor Domingos Luiz da Rocha Ouvidor Geral e Corregedor

20 1748, junho 9 São Paulo Mathias ? ?

21 1748, junho 10 Santos João Vieira de Andrade Juiz de Fora 22 1749, fevereiro 27 Santos Luís Antonio desá gueiroga Tenente General

23 1752, agosto 16 São Paulo Antonio Bispo ? Frei

24 1755, maio 8 Santos Joseph de Godoy Moreyra Provedor da Fazenda Real 25 1756, fevereiro 1 Parnaíba Joseph de Godoy Moreyra Provedor da Fazenda Real 26 1761, janeiro 30 São Paulo João de Souza Filgueiras Ouvidor da Comarca de São Paulo 27 1769, maio 6 São Paulo José Onorio deValladares e Aboim Provedor da Fazenda Real 28 1773, julho 3 Itapetininga Miguel Luís de Abreu Responsável pelas execuções 29 1773, setembro 16 V. de Cuiabá Francisco Lopes de Araujo Mestre de Campo

30 1774, setembro 24 São Paulo José Custódio de Sá e Faria Engenheiro Militar - Governador Interino

31 1774, outubro 1 São Paulo José Onório de Valladares e Aboim Provedor da Fazenda Real 32 1775, junho 21 São Paulo Martim Lopes Lobo de Saldanha Capitão General de São Paulo 33 1776, junho 6 Sorocaba Jacinto José de Abreu Capitão

34 1778, janeiro 17 São Paulo Martim Lopes Lobo de Saldanha Capitão General de São Paulo

Exemplo de carta:

Edição Semidiplomática da Carta:

Excellentissimo Senhor governador eCapitam general <15-1-108>

Recebo as deVossaExcellencia hua de 25 deAbril feitanaVilla | de Saõ Ioaõ deElRey, outra na Meyaponte a 30 de | Iunho; e em ãbaz reconheço ahonraque aVossaExcellencia devo | aqual lheremunero com amayor veneraçaõ quepossa = | nellas, ou naprimeira dellas me ensinuaVossaExcellencia emqueCazos | poderâ oGovernador destapraça mandar fazer alguas dispezas | Semque Seja necessaria aintervençaõ deVossaExcellencia epara oque | fico aduertido: na [ultima] ordenameVossaExcellencia lhefaça emvi= | ar athe sincoenta arrobas depolvora, ballaaSuaproporçaõ, pe | derneiras, etambem algunzLivros; destezja remetti 20 por | Marcos daCosta Beneuides a entregar ahi aoProvedor [Jutamente] | equando Sefaçaõ necessarios mais, com omenor avizode | VossaExcellencia remetter: para aremessa dasmuniçoens mencionadas | intentei mandar fazer cargasdeduasarrobas depezo para que distri= | buidas pellos conductores podessem esses carregar mais comoda | mente cadaqual conforme apossebilidade deSeucomboyo; | poremcomooGovernador meparticipou adeVossaExcellencia as que dizia Se | lheremetesse de duas emduasVillas tanto apolvora comobal | la, ponto que mepersuade Ser isso enganodo escrevente, | assim naformaqual Se achavaõ no armazem, fiz remetter | aoTenente [de] General Manuel Rodriguez deCarvalho 4 barris depolvora | outrostantos cunhetesdeballa, emil pederneiras aduir | tindoo deavizarme quando isso distribuisse naformaque lhe es= | taua ordenado, para poder emviarlheSegundo caminho

Para executar diligente mente as ordenz deVossaExcellencia e empregarme | todonoquefor deSeugosto ficaprompto rogandooguardeDeos | muitos annos Praça deSantos 3 desetembro de 1739

DeVossaExcellencia Mayor venerador eaffectivo

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