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3.3 FUNCIONAMENTO DO FUNDO AMAZÔNIA

3.3.5 Carteira de Projetos em 30.06.2018

Como apresentado no item 1.3 dessa dissertação, essa pesquisa tem como delimitação de escopo a Carteira de projetos do Fundo Amazônia na data base de 30 de junho de 2018. Assim, para finalizar o capítulo reservado à contextualização, apresenta-se nessa subseção a evolução da carteira do fundo, desde a sua criação até a data base. Além disso, estará descrita a caracterização da carteira em termos de número de projetos, valores de apoio, natureza dos proponentes e o desempenho em termos de desembolso do fundo para projetos. Apesar do foco principal da pesquisa estar nos projetos classificados como “apoiados” (contratados e aprovados), essa subseção apresenta uma visão geral do contexto da carteira na data estabelecida como corte.

De acordo com o Boletim Informativo disponibilizado na página do Fundo Amazônia na internet, referente ao dia 30 de junho de 2018, havia um total de 100 projetos apoiados, dos quais 15 totalmente concluídos. Os recursos financeiros alocados aos projetos apoiados somavam R$ 1,78 bilhão, sendo que 54% desses valores já foram desembolsados para os beneficiários

Objetivo Geral

Redução do Desmatamento com Desenvolvimento sustentável na Amazônia Legal

Componente Produção Sustentável Componente Monitoramento e Controle Componente Ordenamento Territorial Componente Ciência, Inovação e Instrumentos Econômicos

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(BNDES, 2018, p.9). Dos 100 projetos apoiados, 91 deles apresentavam algum desembolso de recurso até a data corte dessa pesquisa. Para ter uma perspectiva histórica da evolução do fundo, os gráficos abaixo foram elaborados com base em mais de um boletim informativo e representam a evolução do número de projetos apoiados ao longo dos anos e o valor desembolsado aos beneficiários ano a ano.

Gráfico 4: Evolução da Carteira de Projetos do Fundo Amazônia

Fonte: Boletim de Carteira - Fundo Amazônia. Elaborado pelo autor.

Os primeiros projetos do Fundo foram aprovados e contratados no ano de 2009. Com o passar dos anos o número de projetos apoiados foi aumentando e o número de consultas e análises foi diminuindo, parte dessa mudança de padrão explica-se por três movimentos distintos, o primeiro deles referente à promoção daqueles projetos que estavam em análise para as fases seguintes, o segundo motivo relaciona-se à quantidade excessiva de projetos que chegavam ao fundo, em um primeiro momento e que não tinham aderência às regras ou vinham de proponentes que não tinham as condições mínimas necessárias para operar com o BNDES e, o terceiro motivo, principalmente a partir de 2012, a mudança de padrão de recebimento de projetos pelo BNDES. Quando adota-se a diretriz de apoiar apenas projetos estruturantes ou projetos selecionados por Chamadas Públicas. Essa mudança na maneira de operar do Fundo é o objeto principal de estudo dessa dissertação.

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Uma vez contratados, os projetos começam a ser implementados e vão sendo finalizados e concluídos alguns anos depois de sua contratação. Os primeiros projetos concluídos no Fundo datam de 2013 e seu número vem aumentando ano a ano conforme gráfico abaixo:

Gráfico 5: Projetos concluídos (acumulado)

Fonte: Boletim de Carteira - Fundo Amazônia. Elaborado pelo autor

A tendência é de que o número de projetos concluídos comece a crescer nos próximos anos, vez que o prazo médio de execução e conclusão dos projetos tem sido de quatro anos e meio.

Como os proponentes executores dos projetos podem ter naturezas jurídicas distintas, uma maneira relevante de observar a carteira é a distribuição dos projetos em relação à natureza jurídica dos executores. Como essa pesquisa está relacionada com os modelos adotados pelo Fundo para ganhar capilaridade por meio de instituições do Terceiro Setor, é importante verificar que, depois de 10 anos de existência do Fundo, mais da metade dos projetos apoiados é com organizações dessa natureza, com 56% dos projetos apoiados, seguido pelos projetos com Estados que totalizam 21%. Os dados

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referentes à distribuição dos projetos em relação à natureza dos proponentes estão representados no gráfico abaixo.

Gráfico 6: Distribuição de Projetos Pela natureza do Proponente (número de projetos)

Fonte: Fundo Amazônia. Elaborado pelo autor.

Ainda com relação à natureza dos proponentes e, fazendo referência ao grupo pesquisado nesse trabalho, do total de 15 projetos concluídos até o ano de 2018, 40% são do terceiro setor (6 projetos concluídos). Essa informação denota que, dos 56 projetos apoiados pelo Fundo tendo o terceiro setor como executor, 90% ainda estão em fase de execução ou de comprovações finais.

A carteira também pode ser apresentada em função do montante de recursos alocados nos projetos. O próximo gráfico apresenta a evolução dos recursos alocados aos projetos apoiados, de forma cumulativa, ano a ano. Comparando os dados de número de projetos com o valor alocado aos projetos apoiados ao longo dos anos, temos que o ticket médio dos projetos começando em R$ 14 milhões em 2009 e passando para R$ 18 milhões em 2018.

Com relação à natureza do proponente, a alocação de recursos do Fundo em projetos na situação de apoiado, para os dados da carteira de 30 de junho de 2018, apresenta o padrão descrito no Gráfico 7, a seguir.

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Gráfico 7: Valor alocado nos projetos apoiados (acumulado em R$ milhões)

Fonte: Elaborado pelo Autor

Gráfico 8: Alocação dos recursos para projetos apoiados – natureza do executor

Fonte: Elaborado pelo autor

Ao compararmos a participação do Terceiro Setor como executor de projetos, observamos que, apesar de representar 56% dos contratos, apenas 36% dos recursos estão alocados para os projetos executados por esses proponentes, o que denota que o valor médio dos projetos desse segmento é inferior ao valor médio dos projetos de outros executores. De fato, o ticket médio dos projetos do terceiro setor é de R$ 11 milhões, abaixo da média de R$ 18 milhões do

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total da carteira e ainda mais baixo perto do valor médio dos projetos dos demais executores que é de R$ 25,8 milhões. Esse dado é relevante uma vez que os projetos tramitam no BNDES passando pelas mesmas etapas e cumprindo as mesmas exigências, independente do valor. Nesse sentido, em uma análise relativa, os custos de transação para projetos do terceiro setor são mais elevados em proporção ao seu valor de apoio quando comparados aos custos de transação proporcionais dos demais executores.

Como será possível verificar mais adiante nessa pesquisa, os movimentos de formação da carteira do Fundo Amazônia, em relação a entidades do terceiro setor, foram muito influenciados pelos modelos de atuação com esse segmento, tanto em relação ao número de contratos firmados, quanto no valor dos projetos apoiados e na abrangência de subprojetos ou de instituições efetivamente apoiadas. Nesse ponto é relevante esclarecer que, no caso dos projetos do terceiro setor contabilizados nessa subseção, cada contrato pode subdividir-se em uma miríade de projetos de menor escala executados na ponta por outras organizações. Estudar como ocorreu o processo de definição da atuação com parceiros aglutinadores, as motivações que levaram a escolha e desenvolvimento institucional desse tipo de parceria, a tipologia de modelos adotados e as implicações desses modelos em relação a custos de transação e relação de agência são o fundamento da pesquisa que está descrita nas próximas seções.

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4 METODOLOGIA

Conforme relatado no item 1 dessa dissertação, o objetivo geral dessa pesquisa é estudar, à luz das teorias dos custos de transação e de agência, a relação do Fundo Amazônia com organizações do terceiro setor, para a busca de capilaridade de sua ação no território amazônico.

Para buscar evidências que auxiliassem na interpretação desse fenômeno foi desenvolvida uma pesquisa de caráter qualitativo. De acordo com Denzin e Lincoln (2006) a pesquisa qualitativa está relacionada ao estudo e à coleta de uma diversidade de materiais empíricos, como por exemplo, estudo de caso, textos e experiências pessoais. Além disso, envolve métodos e técnicas distintas para compreender com profundidade um fenômeno. Assim, para avançar nessa compreensão, utilizam-se “conjuntos distintos de métodos, como a análise semiótica, a análise narrativa, do conteúdo, do discurso e a fonêmica, até mesmo as estatísticas, as tabelas, os gráficos e os números” (DEZIN e LINCOLN, 2006).

Uma estratégia utilizada em pesquisas qualitativas para contornar questões relacionadas à validação de evidências é a prática da triangulação. A triangulação compreende a utilização de três perspectivas diferentes com o intuito de analisar um mesmo fenômeno com distintas “lentes”, assim, quanto mais técnicas são utilizadas, maior a validação dos dados e, por conseguinte, a confiabilidade da interpretação.

A triangulação, como estratégia na pesquisa qualitativa, pode ser feita de diversas formas. Denzin (1978) enumera quatro formas de triangulação: (i) dados; (ii) pesquisadores; (iii) teoria e; (iv) metodologia. Esta pesquisa utilizará a triangulação de dados por meio de técnicas distintas para coleta. Utilizou-se a pesquisa documental, a pesquisa em dados de arquivo e a observação direta. Dessa forma, a triangulação agrega elementos para uma compreensão mais geral do objeto de estudo, com diferentes ângulos e perspectivas, incorporando mais camadas de informação à análise dos resultados.

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