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Estratégia Nacional para Redução das Emissões Provenientes do

3.1 POLÍTICAS ORIENTADORAS DO FUNDO AMAZÔNIA

3.1.3 Estratégia Nacional para Redução das Emissões Provenientes do

Carbono Florestal, Manejo Sustentável de Florestas e Aumento de Estoques de Carbono Florestal - ENREED+.

As subseções anteriores descreveram as Políticas e Planos vigentes quando o Fundo Amazônia foi criado, e foram observados nas análises dos primeiros projetos apresentados ao Fundo. Entretanto, conforme apresentado no item 3.1 dessa dissertação, outras duas Políticas passaram a ter relevância para a ação do Fundo, a primeira a ser apresentada é a ENREED+.

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A discussão sobre instrumentos para Redução das Emissões Provenientes do Desmatamento e da Degradação Florestal (REED+) vem ocorrendo na esteira das instâncias internacionais de negociação sobre temas de meio ambiente e mudanças climáticas. Em 2007, durante a 13ª Conferência das Partes3 (COP- 13), da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças no Clima (UNFCCC)4, estabeleceu-se o Plano de Ação de Bali. Esse plano de ação tinha entre seus elementos, o incentivo à criação de ações e instrumentos que visassem reduzir as emissões por desmatamento e degradação florestal (BRASIL, 2016, p.9).

Depois de intensas negociações nos anos subsequentes, em 2010, durante a COP-16 em Cancun (México), foi firmado acordo que consolida o conceito e os elementos necessários para a caracterização e reconhecimento de atividades e instrumentos de REDD+. Foi estabelecido que o REED+ deveria ser implementado por fases, incluindo a elaboração de ações de preparação e projetos pilotos nos países em desenvolvimento (SALLES, SALINAS e PAULINO, 2017, p.447). Já em 2013, durante a COP-19, em Varsóvia (Polônia), o chamado Marco de Varsóvia reconheceu o papel do Green Climate

Fund (GCF) no financiamento e distribuição de recursos para REDD+.

Entretanto, apesar dos avanços alcançados nas referidas Conferências, o REDD+ estará integralmente operacional com o pleno funcionamento do Acordo de Paris, aprovado em dezembro de 2015 (21ª COP), e entrou em vigor em 2016, na COP-22 de Marrakesh, substituindo o Protocolo de Quioto em 2020 (SALLES, SALINAS e PAULINO, 2017, p.447). O Art. 5º do Acordo de Paris cita REDD+, indicando que as partes signatárias devem atuar para conservar e ampliar os sumidouros e reservatórios naturais de gases de efeito estufa, incluindo as florestas (UNFCCC, 2016, 2017).

3 Conferência das Partes – COP – Órgão criado pelo tratado que criou a Conferência-Quadro das Nações

Unidas sobre Mudança do Clima, reúne anualmente os países signatários do tratado. A primeira COP ocorreu em 1995 em Berlim e, em 2019 está em sua 25ª edição

4 Tratado Internacional resultante da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o

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Apesar de não haver consenso sobre a definição conceitual precisa de REDD+ (SALLES, SALINAS e PAULINO, 2017, p.450), pode-se caracterizá-lo como um instrumento econômico que prove incentivos financeiros a países em desenvolvimento por seus resultados no combate ao desmatamento e à degradação florestal e na promoção do aumento de cobertura florestal (BRASIL, 2016, p.9). Esse conceito exclui o uso para pagamentos por resultados de REDD+ de países desenvolvidos nos esforços de cumprir as metas de redução nacional de emissão de gases de efeito estufa. De acordo com Salles, Salina e Paulino (2017, p.447), “em âmbito internacional, o REDD+ é construído tendo como referência instrumentos econômicos de política ambiental, já que envolve utilização de incentivos econômicos e não de regulação direta para alcançar seus objetivos ambientais.”.

A implementação nacional do REDD+ pode ocorrer por meio de distintos instrumentos e ações que, de acordo com Salles, Salina e Paulino (2017, p.447), podem ser caracterizados como instrumentos da economia ambiental neoclássica ou na perspectiva da economia ecológica. De acordo com os autores, enquanto a visão neoclássica privilegia instrumentos baseados em transações de mercado, a visão da economia ecológica postula a maior participação do Estado, podendo ou não envolver transações de mercado.

As negociações internacionais de REDD+, o desenvolvimento do conceito e as estratégias de implementação estão estritamente atreladas ao Fundo Amazônia. Atualmente o Fundo Amazônia é responsável pela mobilização da maioria do financiamento de REDD+ no Brasil (SILVIA-CHÁVEZ, SCHAAP e BREITFELLER, 2015) e é reconhecidamente uma iniciativa do governo brasileiro para financiamento de atividades de REDD+ (VIANA, 2009). Em 2015, com a instituição da Comissão Nacional de REDD+, pelo Decreto nº 8.576/2015, ficou explicitado no art. 5º que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, por meio do Fundo Amazônia, seria instrumento elegível para acesso a pagamentos por resultados REDD+ alcançados pelo País e reconhecidos pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. A mesma previsão foi incorporada ao Decreto que regulamenta o Fundo Amazônia no art. 8º do Decreto 6.527/2008.

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A incorporação da Estratégia Nacional de REDD+, como uma Política na Diretriz Orientadora do Fundo, foi apenas uma evolução da Diretriz que existia desde o início das atividades do Fundo que previa verificar se os projetos submetidos estavam aderentes a ações de REDD+. A elaboração da Estratégia Nacional de REDD+ foi um desdobramento dos trabalhos da Comissão Nacional de REDD+ e delimitou como objetivo principal:

contribuir para a mitigação da mudança do clima por meio da eliminação do desmatamento ilegal, da conservação e da recuperação dos ecossistemas florestais e do desenvolvimento de uma economia florestal sustentável de baixo carbono, gerando benefícios econômicos, sociais e ambientais. (BRASIL, 2016, p.21)

A Estratégia foi elaborada levando em consideração um marco de políticas instrumentos da política ambiental já existente conforme abaixo:

Figura 2: Marco das políticas públicas brasileiras na qual a Estratégia se insere.

Fonte: Estratégia Nacional de REDD+ (Brasil, 2016, p.18)

Além do objetivo, a Estratégia delimitou três esferas de ação: (i) coordenação de políticas públicas de mudança do clima, biodiversidade e florestas, incluindo salvaguardas; (ii) mensuração, relato e verificação de resultados (MRV); (iii) captação de recursos de pagamento por resultados de REDD+ e distribuição de benefícios.

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O papel do Fundo Amazônia na Estratégia Nacional de REED+ tem duas pontas distintas. Por um lado, e como apresentado nos documentos acima, o Fundo é um instrumento de captação e repartição de recursos, o que está explícito na terceira linha de ação da Estratégia, mas também é um instrumento de apoio a iniciativas que reforçam as ações da Estratégia nas linhas de ação 1 e 2. Assim, os projetos apoiados pelo Fundo devem, pela sua concepção e pelos regulamentos vigentes, ter conteúdos finalísticos aderentes à Estratégia como um todo. A relação do Fundo com o arcabouço estabelecido nacionalmente e internacionalmente no contexto das negociações de REDD+ pode ser sintetizado na figura 3, extraída do documento que detalha a Estratégia Nacional de REDD+, e encontra-se a seguir:

Figura 3: Arranjos de Implementação da Estratégia Nacional de REDD

Fonte: Estratégia Nacional de REDD+ (BRASIL, 2016, p.29)