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O histórico do Fundo Amazônia está interligado com as Negociações Internacionais sobre Mudanças Climáticas, como já apresentado nas seções 3.1.3. e 3.2. De acordo com Tasso Azevedo5, em uma fala proferida em 2009 durante encontro no BNDES, e registrada no livro “The Amazon Under

Debate6”:

a proposta, no sentido de implementar um mecanismo de redução de emissões advindas do desmatamento e degradação foi feita em 2005 durante a Conferência das partes na COP de Montreal e de lá em diante começaram as propostas de adoção de mecanismos que resultariam em iniciativas capazes de gerar mecanismos de REDD+ (BNDES, 2009)

De acordo com Tasso, a ideia era a de criar mecanismos para levantar recursos, de uma forma unificada e em larga escala, para investir de forma

5 Engenheiro Florestal e primeiro Diretor Geral do Serviço Florestal Brasileiro e membro do Comitê

Orientador do Fundo Amazônia e um dos responsáveis pela elaboração e apresentação da proposta de criação do Fundo Amazônia.

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The Amazon Under Debate – textos resultados da transcrição das discussões realizadas no BNDES durante sessões de brainstroming sobre o Fundo Amazônia – Três encontros foram feitos entre funcionários do banco e especialistas no setor – encontros entre abril e junho de 2009 (8 meses depois do decreto de criação do Fundo Amazônia)

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continuada em políticas de combate ao desmatamento e ao uso mais sustentável para a conservação das Florestas.

A proposta de criação do Fundo foi baseada em uma primeira abordagem brasileira sobre REDD+ levada à 12ª COP, realizada em Nairóbi, no Quênia, em 2006. No ano seguinte, em 2007, o Conceito final do Fundo foi apresentado pelo Governo Brasileiro durante a COP 13, realizada em Bali, e teve sua criação autorizada por meio do Decreto 6.527, de 1º de agosto de 2008.

A experiência brasileira foi uma das pioneiras e começou a ser desenvolvida ainda quando não havia regulamentações internacionais sobre o modelo de funcionamento dos instrumentos de REDD+. Inspirou, inclusive, a definição dos mecanismos de funcionamento do Green Climate Fund, na COP 16 - Varsóvia.

O Fundo é um instrumento econômico de política ambiental baseado na lógica de pagamento por resultados. Recebe recursos de doação com base nos resultados verificados de redução do desmatamento e destina-os a projetos que fortaleçam ou implementem políticas e ações que contribuam para novas reduções.

A formulação da proposta do Fundo estava inserida nos esforços brasileiros de redução do desmatamento da Amazônia e nos compromissos internacionalmente assumidos de redução das emissões dos gases de efeito estufa. De acordo com o documento “Estimativas anuais de emissões de gases de Efeito Estufa”, publicado em 2013 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, no ano de 2005, as emissões brasileiras resultantes de Uso da Terra e Florestas correspondia a 53% do total das emissões. Dessas emissões florestais, 72% eram fruto do desmatamento da Amazônia.

Na seção 3.1.2, desse trabalho, quando apresentados os dados do desmatamento nos últimos anos, verifica-se que o ano de 2005 já havia indicado uma redução na taxa de desmatamento na Amazônia Legal. A redução verificada em 2005 e nos anos subsequentes é explicada, por alguns autores, como resultante não só de políticas como o PPCDAm e o uso de

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novas tecnologias como o DETER, mas também do fortalecimento de órgãos de governo responsáveis por gestão e fiscalização ambiental (ARRAES, MARIANO e ZSIMONASSI, 2012), da criação de áreas protegidas, da promoção do ordenamento territorial das restrições ao crédito para municípios com alta taxa de desmatamento, além dos embargos à produtos provenientes de áreas desmatadas ilegalmente (LOPOLA et al., 2013 e FERREIRA E COELHO, 2015).

O esforço brasileiro de redução do desmatamento no bioma, aliado à importância que a agenda de redução de emissões havia ganhado em âmbito global, criou o ambiente propício para a apresentação da proposta de um instrumento econômico baseado na premissa de “pagamento por resultados”. O Brasil já tinha resultados a serem apresentados e buscava nações parcerias que apoiassem um Fundo que apoiaria projetos que fortalecessem as ações de redução de desmatamento, desenvolvimento e conservação das florestas. Um desenho de retroalimentação.

Há três documentos que são considerados relevantes para estudar o histórico da criação do Fundo Amazônia, um Folder do Serviço Florestal Brasileiro, sem data, o “Documento de Projeto” de 2008 e a sua versão revisada de 2013, ambos elaborados pelo BNDES. Esses documentos apresentam o marco conceitual que embasou a elaboração do decreto de criação do Fundo e o desenho das estruturas de governança.

Em todos os documentos há a menção explícita ao uso dos recursos captados pelo Fundo para auxiliar no processo de redução contínua do desmatamento e o alcance de metas estabelecidas:

O Fundo contribui para o alcance das metas do Plano Nacional sobre Mudanças do Clima, em especial a meta 4: redução de 40% da taxa de desmatamento no período 2006 – 2009, em comparação com a taxa média de desmatamento no período 1996 – 2005, e de 30% nos dois quadriênios seguintes” (SERVIÇO FLORESTAL, s.d)

Por meio de recursos captados com base nas reduções reais das emissões oriundas do desmatamento obtidas nos últimos anos, em comparação com o período de 1996 a 2005, o Fundo Amazônia deverá apoiar fortemente o alcance da meta de reduzir em 70% o desmatamento no Brasil até 2017.(BNDES, 2008,

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p.1)

O Fundo Amazônia dará suporte ao governo brasileiro no cumprimento do compromisso internacional assumido durante a COP-15 e formalizado pela Lei Federal 12.187 (de 29 de dezembro de 2009), que instituiu a Política Nacional de Mudanças Climáticas, e o Decreto 7.390/2010. Redução de 80% das taxas de desmatamento da Amazônia Legal, comparadas com a taxa média de desmatamento do período 1996-2005 até 2020. (BNDES, 2013, p.17)

Os documentos de referência do Fundo foram adaptados ao longo dos anos para refletir as metas voluntárias ou oficiais do governo brasileiro no âmbito das Políticas sobre Mudanças do Clima refletindo a atuação diretamente relacionada a esses compromissos.

Antes de passar aos próximos tópicos, que descreverão a forma de funcionamento do Fundo, apresenta-se nas próximas duas páginas uma linha do tempo com os principais marcos no contexto internacional, nacional e do Fundo Amazônia. Para facilitar a identificação de cada um dos contextos foi elaborada a seguinte padronização para organização da informação:

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Figura 4: Linha do Tempo – Fundo Amazônia

2005

•COP 11 - Montreal, Canadá. Primeiras abordagens relacionadas à REDD+

2006

•COP 12 - Nairóbi, Quênia - Brasil apresneta primeiras idéias em instrumentos de REDD+ •Criação do Serviço Florestal Brasileiro

2007

•COP 13 - Bali, Indonésia. Apresentação do conceito Final do Fundo Amazônia

2008

•Crianção do Fundo - Decreto nº 6.527/2008

•Comitê Orientador do Fundo define primeiros critérios para aplicação de recursos

2009

•Política Nacional sobre Mudança do Clima •Lançamento PPCDAm II

•Primeira Doação da Noreuga

•Primeiros Projetos Apoiados pelo Fundo Amazônia

2010

•COP - 16 (Cancum) - Acordo que consolida elementos de REDD+

•Primeira doação do KFW

•Lançamento do Site do Fundo Amzônia •Divulgação do Quadro Lógico do Fundo •Primeira Reunião anual de doadores

2011

•Primeira Doação da Petrobrás

•Assinatura do Primeiro Projeto de Cooperação com a GIZ

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Legenda: Contexto Internacional; Contexto Nacional; Fundo Amazônia 2012

•Realização da Conferência Rio +20 •Lançamento PPCDAm III

•Novo Código Florestal - Lei 12.651/2012

•Primeira Chamada Pública de Projetos do Fundo

•Divulgação do Estudo - Oportunidades de Apoio a Atividades Produtivas Sustentáveis na Amazônia

2013

•COP-19 (Varsóvia) - Green Climate Fund para financiar e distribuir recursos para REDD+

•Criação de Focos Estratégicos bianuais para o Fundo •Revisão do Documento de Projeto do Fundo •Prazo de Utilização das Doações extentido até 2020

•Fim da Incidência de Pis/Pasep e Cofins sobre os recursos doados ao Fundo - Lei 12.810/2013

•Primeiros Projetos Concluídos com recursos do Fundo Amazônia

2014

•Realização da avaliação ex-post feita pela Norad

•Início de vigência do segundo acordo de cooperção com a GIZ •Lançamento da Chamada para projetos PNGATI

2015

•COP - 21 (Paris) - Acordo de Paris

•Comissão Nacional de REDD+ - Decreto nº 8.576/2015

•Mesa Redonda - 6 anos de Fundo Amazônia

2016

•COP - 22 (Marrakesh) - Entrada em vigor do Acordo de Paris •PPCDAm IV

•Estratégia Nacional de REDD+

•Alteração do Decreto do Fundo Amazônia

•Prorrogação do prazo de utilização dos recursos doados até 2030

•Oficina de Intercâmbio de Experiências entre Projetos de Produção Sustentável •Oficina – Fundo Amazônia: Evolução, desafios e perspectivas

2017

•Política Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa – Proveg •Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg)

•Segundo contrato de doação da Alemanha assinado •Matriz do Quadro Lógico é atualizada

•Chamada Pública - Recuperação da Cobertura Vegetal

•Chamada Pública - Consolidação e Fortalecimento de Cadeias Produtivas

2018

•Carteira Base para Pesquisa - 30 de junho de 2018 •100 projetos apoiados e R$ 1 bilhão em desembolsos

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