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“Quem casa, quer casa.” (ditado popular brasileiro) No Brasil, a conquista da casa própria é um sonho compartilhado por grande parte da população. Sonho este que está ligado ao desejo de se alcançar uma independência em relação ao pagamento de aluguel e a aquisição de maior estabilidade econômica. Na realização deste sonho alguns fatores são levados em conta, dentre eles, a localização e os materiais empregados na construção da obra. Por um lado, valores são somados ou subtraídos de determinado imóvel de acordo com sua localização geográfica dentro do perímetro da cidade e do estado em que está inserido. Por outro, o material empregado para a construção da casa

também pode alterar o valor do imóvel, além de empregarem valores simbólicos diferenciados ao mesmo. Uma casa de alvenaria, construída com tijolos e cimento é tida como ideal de solidez e durabilidade, enquanto que as casas de madeira, por exemplo, são associadas a moradias provisórias.

Contudo, a concretização do sonho da conquista da casa própria, para boa parte da população que vive de aluguel, ou em situações irregulares, não parece tão simples frente a realidade financeira atual. Uma saída para a realização deste sonho costuma ser o parcelamento e/ou financiamento do imóvel, o que significa um compromisso de longo prazo (cerca de 20 a 30 anos) com pagamentos mensais acoplados de juros e correções monetárias, que encarassem ainda mais a aquisição do espaço próprio.

Os grupos teatrais brasileiros compartilham de situação semelhante a de grande parte da população. Assim como um casal sonha com a conquista da casa própria para dar base e acolher sua família, da mesma forma os grupos teatrais que pretendem desenvolver trabalhos contínuos sonham com a conquista da sede própria, para auxiliar na construção e desenvolvimento de uma linguagem particular.

Para se realizar qualquer atividade teatral – ensaio, leitura de texto, trabalho prático, confecção e armazenamento de cenário, iluminação, figurino, arquivo do grupo, apresentação, criação de oficinas teatrais etc. – faz-se necessário um lugar. Mesmo aqueles grupos que trabalham com o teatro de rua necessitam de um espaço em que seus integrantes possam encontrar-se, e guardar seus materiais.

A necessidade da sede está ligada à atuação do Teatro de Grupo. Uma sede pode ser unicamente um teto para ensaios e guarda de material. E pode também abrigar oficinas, espetáculos, intercâmbios, ser um ponto de referência, um celeiro sobre um tipo muito específico de atividade artística e de encontro social. Os projetos do Teatro de Grupo ultrapassam os limites da cena. Trata-se de uma microempresa, uma razão social que quer mostrar a que veio, criar seu espaço de ação. Este caminho pode levar alguns grupos a empreender uma determinada “política cultural” em seu meio. Como empresa de arte e cultura, o grupo, ao optar por certa iniciativa, definir seus critérios, identificar seu público e seu patrocinador potencial, está pondo em prática aquilo que os políticos via de regra não conseguem sequer colocar no papel. (TROTTA, 1995, p. 133).

Apesar da importância atribuída as sedes para o desenvolvimento dos projetos artísticos dos grupos, ainda são poucos os grupos teatrais brasileiros que possuem espaço próprio. O que, não necessariamente, significa que hajam poucos espaços destinados às práticas teatrais e às apresentações. Mas sim, que os custos financeiros de se adquirir e

administrar um espaço/sede ainda são altos para a realidade de boa parte dos grupos brasileiros. Inclusive a reivindicação por criação, apoio e manutenção de espaços/sedes são algumas das principais pautas de discussões entre grupos, organizações e movimentos teatrais e o Estado.

A questão da conquista de uma sede própria pelos grupos não se resume apenas a questão da independência do espaço físico e de uma autonomia administrativa, mas tem a ver, sobretudo, com as possibilidades de experimentação cultural que ultrapassa, em muito, a mera criação e realização de espetáculos. A transformação da cultura em mercadoria; o esvaziamento dos orçamentos públicos para a área cultural; a falta de investimento em espaços públicos; a hegemonia do circuito comercial de salas de espetáculos, seus preços exorbitantes e as suas limitações de uso; a necessidade de se recorrer às Leis de Incentivo para se viabilizar a produção e a circulação, transformou a “liberdade” de criação em uma obediência a um receituário que nada tem a ver com o fenômeno estético teatral. [...] A conquista de sedes próprias pelos coletivos criativos e pelas organizações da sociedade civil é [...] romper a dependência que nos faz a contragosto conceder em nosso ofício. (MAIA, 2004, p.47-48).

Sendo assim, qual a importância da conquista do espaço/sede para os grupos estudados nesta pesquisa? Continua sendo fundamental a delimitação do espaço geográfico coletivo para a prática de Teatro de Grupo? Será que em tempos líquidos a sede ainda simboliza a conquista de uma base sólida para os grupos teatrais?

Quando o assunto em questão é sede a única situação comum aos cinco grupos teatrais é que nenhum deles dispõe de um espaço próprio. É importante lembrar que todos os núcleos possuem mais de 10 anos, alguns mais de 15 anos de existência e operam como grupos profissionais. A partir desse fato, cada grupo vive uma realidade distinta - Os dezequilibrados estão sem espaço; a Vigor Mortis e o Teatro da Vertigem utilizam espaços locados; o Falos & Stercus participa de um processo de ocupação de espaço público e a Cia Carona possui concessão para uso de espaço particular.

Uma das características atribuídas como recorrente no trabalho do grupo carioca Os dezequilibrados surgiu justamente da dificuldade de se alugar um espaço para ensaios e apresentações. Desde sua fundação, o grupo não possui um espaço/sede. Mas, seus integrantes utilizam uma casa de apresentações, no bairro da Lapa97, para realizar eventuais reuniões, ensaios, apresentações e guardar os cenário e figurinos. “É um lugar que nós temos como referência, mas não é uma sede. Isso é uma coisa desejada pelo grupo” (SUGAHARA, 2007).

97 Dois integrantes do grupo são sócios do espaço, por isso, a foi possível utilizar o espaço em alternância com o

Como ressaltou a atriz Letícia Isnard 98, por ser uma casa de show o espaço “tem caco de vidro, passagem de som à tarde [...]. Não é o lugar ideal para ensaios. É um socorro”. Quando o grupo começa novo projeto de montagem a opção é alugar uma sala de ensaios, ou, ensaiar no próprio espaço em que será realizada a apresentação do espetáculo, como já ocorreu em algumas montagens. Foi o caso, por exemplo, do espetáculo Bonitinha mais ordinária (2001- 2002), concebida e ensaiada na própria boate em que fez temporada. Outro caso foi o espetáculo Um Quarto de Crime e Castigo (1999), ensaiado e apresentado no apartamento de um dos integrantes do grupo.

Houve um período, entre os meses de junho e dezembro de 2003, em que Os dezequilibrados tiveram uma sede provisória, no Porão da Casa de Cultura Laura Alvim. A Casa de Cultura fica localizada à Avenida Vieira Souto, 176, em Ipanema. E em 2004, o grupo também assumiu a direção artística do Teatro Café Pequeno com o projeto Cena Pop Carioca, que compreendia diversas apresentações artísticas. O teatro fica localizado à Avenida Ataulfo de Paiva, 269, no bairro Leblon. Os dois espaços ficam na zona sul – área nobre da cidade. Entretanto, em ambas as ocasiões as ocupações aconteceram por tempos delimitados, sem ampliação ou renovação.

O Teatro da Vertigem também ocupou dois espaços provisórios. A primeira ocupação foi em 1999, quando o grupo desenvolveu um projeto chamado Artista em Residência. O projeto era uma parceria entre a Oficina Cultural Oswald de Andrade, a Secretaria do Estado da Cultura. A residência artística ocorreu no edifício histórico em que funciona a Oficina Cultural Oswald de Andrade, situado à Rua Três Rios, 363, no bairro do Bom Retiro, na cidade de São Paulo.

Durante um ano o grupo ofereceu oficinas teatrais nas áreas de dramaturgia, direção, interpretação, iluminação, música, cenografia e produção. Ao total foram dez oficinas abertas à comunidade. Todas elas estavam ligadas ao projeto de montagem do terceiro espetáculo do grupo, Apocalipse 1,11, que também fora construído aquele ano nas dependências da Oficina Cultural Oswald de Andrade. Com o término do projeto, o grupo voltou a ficar sem espaço.

Mais tarde, entre dezembro de 2002 e dezembro de 2004, o Vertigem ocupou novo espaço - a Casa nº1, localizada à Rua Roberto Simonsen, 186, no Centro de São Paulo. Assim como a primeira ocupação, esta também aconteceu em caráter de Residência Artística. Sendo que esta era fruto de uma parceria até aquele momento na cidade. Uma parceria entre a Secretaria Municipal de Cultura, o Departamento de Patrimônio Histórico (responsável pelo

espaço) e um grupo de teatro da capital paulista. A ocupação do espaço da Casa nº1 marcou a comemoração do aniversário de 10 anos do grupo Teatro da Vertigem.

Durante os dois anos em que o Vertigem permaneceu na Casa nº1, além de utilizá-lo como sede temporária para guardar seus cenários, figurinos, arquivos, realizar ensaios, treinamentos, reuniões, o grupo também reformou e melhorou a estrutura do espaço, e desenvolveu diversas atividades culturais, como: intercâmbio com outros grupos e artistas, pesquisas, treinamentos, palestras públicas, apresentações teatrais, exposições e concertos. “A idéia principal de nosso Projeto de Residência é que este não seja um espaço fechado, centrado apenas nas atividades do Vertigem, mas que acolha outras pesquisas, de outros grupos, proporcionando um espaço de convívio e diálogo entre produções e artistas”. 99 E

assim aconteceu.

Mesmo o grupo tendo ocupado dois espaços públicos da cidade de São Paulo, em caráter de Residência Artística para os integrantes do Teatro da Vertigem, esses espaços não se caracterizaram como espaços/sedes, mas sim como espaços de ocupação temporária. A primeira ocupação ocorreu por um tempo pré-estabelecido e a segunda por tempo indeterminado. Essa situação provisória não permitia aos artistas do grupo pensar e desenvolver trabalhos de longo prazo, mas apenas por tempos limitados o que também limitava, de certa forma, as possibilidades de trabalho.

Como o grupo trabalha com a exploração de espaços alternativos, acabava que o espaço de ensaio tornava-se também a sede provisória do grupo. Lugar onde realizávamos reuniões, ensaios, deixávamos nossos cenários, enfim. Claro que o arquivo ficava nas nossas casas. A minha casa durante muito tempo guardou o arquivo de vídeos antigos. [...] Na verdade, sede do Vertigem, a primeira é essa que nós temos agora. Faz um mês e meio ou dois que alugamos este espaço. 100

Apenas em janeiro de 2009, após dezessete anos de existência, o grupo conseguiu de fato, realizar o sonho de ter uma sede. Mesmo que ainda não seja o tão sonhado espaço próprio. Para Antonio Araújo, “o maior passo nós não demos, que é comprar uma sede”101. O

Teatro da Vertigem alugou o primeiro andar de prédio localizado à Rua Treze de Maio, 240, no bairro da Bela Vista, na capital paulista. Para a assistente de direção Eliana Monteiro, este

99 TEATRO DA VERTIGEM. Casa nº1. In: O Safarro. Maio de 2003 – número 3. 100 SIVIERO, In Entrevista coletiva Teatro da Vertigem, 2009.

momento “É um divisor de águas. É um casamento”102. O contrato de locação tem vigência de

três anos, podendo ser prorrogado. O espaço compreende uma área com hall de entrada, banheiros, cozinha e duas salas – sendo que, uma é utilizada para reuniões e secretaria e a outra (maior e mais ampla) foi equipada para as atividades práticas de ensaios e apresentações.

Para Luciana Schwinden, atriz e integrante do Teatro da Vertigem, entre os espaços ocupados anteriormente e este agora “tem uma diferença que é fundamental: é você ter um lugar para onde voltar. Ter uma sede é ter para onde voltar”103. Quando visitei a sede do

Vertigem, em fevereiro de 2009, pude perceber nas atitudes dos integrantes do grupo esta apropriação de que Schwinden fala. Na época, o espaço estava sendo reformado para adequar- se aos desejos e necessidades do grupo. Operários trabalhavam no local. O chão de madeira da sala destinada às apresentações estava sendo lixado e pintado, puxadores e chaves estavam sendo instalados nas portas de acesso às salas e também nos móveis da secretaria. Na parede do hall de entrada já se encontram pendurados banners com imagens dos espetáculos do grupo. Roberto Áudio parecia ser o integrante do grupo responsável por tratar das questões da obra naquele momento. Era ele quem conversava com os operários, indicava obras a serem realizadas, supervisionava as já terminadas e assinalava aquilo que não estava de acordo com o que o grupo desejava para o espaço. Ao ver Áudio conversando com os operários, pude perceber como aquele lugar pertencia àquelas pessoas. A impressão que tive era de que a obra realmente acontecia na casa daquele grupo de pessoas.

Os integrantes da Vigor Mortis, de Curitiba, a partir de 2008, também têm “para onde voltar”. Uma realidade recente. Em 2007, quando fiz a primeira visita à cidade a fim de conhecer e realizar uma entrevista com o grupo, perguntei se o grupo possuía uma sede, Biscaia respondeu:

O grupo não tem uma sede. Esse é um ponto difícil, principalmente pelo preço dos espaços. Para nós não compensa ter uma sede no momento, já que não estamos realizando nenhum tipo de oficina ou curso de interpretação a longo prazo. Inclusive uma dualidade do meu trabalho é que apesar de eu ser um professor, eu não gosto de ensinar as pessoas a interpretar. Eu prefiro trabalhar com atores menos moldados e mais maleáveis. [...] Nós estamos pensando em ter uma sede, mas nada concreto ainda. (BISCAIA, 2007).

102 MONTEIRO, In: Entrevista coletiva Teatro da Vertigem, 2009. 103 SCHWINDEN, In: Entrevista coletiva Teatro da Vertigem, 2009.

Ou seja, como o grupo não ministrava oficinas, nem desenvolvia trabalhos contínuos de treinamento de ator, a necessidade de se ter um espaço/sede aparecia em momentos específicos, quando o grupo precisava ensaiar ou montar novo trabalho.

No entanto, esta situação se modificou a partir de 2008, quando o grupo começou a se reunir para realizar leituras de textos teóricos e discutir a respeito de temas que diziam respeito à estética do grupo. Ao mesmo tempo, o grupo vinha acumulando espetáculos em seu repertório o que acarretou também um acumulo de cenários em uso. Assim, aumentava a necessidade de se conquistar um espaço físico adequado para os encontros e o armazenamento dos cenários (que até então eram guardados nas casas dos próprios integrantes do grupo, ou em espaços emprestados).

Em dezembro de 2008, quando retornei à Curitiba para realizar a terceira conversa com o grupo, fui convidada a conhecer a sede da Vigor Mortis. O espaço é uma casa antiga localizada à Rua Inácio Lustosa, 1098, no bairro residencial São Francisco. O bairro apesar de central é tranquilo, fica nas imediações do Cemitério Parque Iguaçu, região em que também está localizado o espaço cultural do Ateliê de Criação teatral – ACT 104. A casa pertence aos familiares de Paulo Biscaia, responsável pela locação do imóvel. Durante a visita ao espaço perguntei ao grupo como tinha sido a conquista do espaço/sede.

Rafaella - A idéia de ter o espaço começou a surgir quando a demanda [de trabalhos] aumentou.

Paulo Biscaia - Nós não tínhamos mais lugar para guardar cenário! Rafaella - E nós nos reuníamos nas casas das pessoas. Um dia na minha casa, outro dia na casa do Dani,

Paulo – e, de repente, o irmão ou a empregada de alguém passava no meio da reunião. [risos] Não era o lugar ideal. E o foco do trabalho não acontecia direito.

Rafella - Quando a demanda de trabalho começou a aumentar, nós começamos a sonhar. Acho que passamos uns dois anos pensando em arranjar um lugar. Até que o sonho se concretizou.

Paulo - Eu não fiz muita conta na hora de pegar a casa! Era preciso um espaço, por necessidade. Vamos pegar a casa e depois com a questão dos valores a gente se vira! E estamos até agora segurando bem as contas. Se eu tivesse parado para fazer a conta na ponta do lápis, eu iria dizer: melhor não, melhor não.

Rafella - É isso! Dizem mesmo, as pessoas que tem filhos, “ah, eu não tenho dinheiro para sustentar uma família”... mas, quando você está ali na situação, você arranja um jeito sempre! Nunca vai faltar porque você vai atrás de trabalho para pagar as contas.

104 O espaço funciona como um Centro Cultural Alternativo da cidade de Curitiba. E vem se tornando espaço de

referência realizando eventos como exposições, cursos, oficinas, debates, ensaios e apresentações artísticas. Atualmente, o espaço é coordenado por Nena Inoue (idealizadora do espaço) e Luis Melo.

Paulo – É o sonho da casa própria! 105

O espaço da casa compreende uma pequena sala de entrada, mais duas salas geminadas - local que o grupo procura deixar livre para ensaios ou reuniões; uma sala para armazenar figurinos, adereços e livros; uma sala pequena utilizada como escritório; banheiro; cozinha e na área externa (além do quintal com dois cachorros) há uma garagem/depósito onde estão armazenados outros cenários do grupo. Como o espaço originalmente foi projetado para ser uma residência, não há uma sala ideal para apresentações teatrais. Assim, a sede poderá ser utilizada como espaço de pesquisas teóricas e práticas, ensaios, oficinas, alguns pequenos eventos e para as atividades administrativas do grupo, mas não para apresentações.

O grupo Falos & Stercus, radicado na cidade de Porto Alegre, extremo sul do país, durante boa parte de sua história viveu situação semelhante àquela vivida pelo grupo paulista Teatro da Vertigem. Por realizar seus espetáculos em espaços públicos significativos da cidade, o grupo gaúcho acabava por utilizar esses mesmos espaços para ensaiar e também como sede provisória do grupo – local onde aconteciam as reuniões e eram armazenados os cenários. No entanto, essa situação provisória, por vezes, inviabilizou a continuação de alguns espetáculos.

O Grupo Falos & Stercus viveu entre 2000 e 2002 em diversos espaços, no Armazém Cinco do Caís do Porto, no Hospital Psiquiátrica São Pedro, na Ilha da Casa da Pólvora, no Memorial do Rio Grande do Sul, no Castelo do Alto da Bronze e na Usina do Gasômetro. No ano de 2002, governo Rigotto, o grupo Falos & Stercus foi expulso do Armazém Cinco do Cais do porto, pois o Secretário de Cultura, na época o Sr. Roque Jacoby, decidiu alugar os armazéns para realizar leilões de bois e vacas.106

Naquela época os integrantes do grupo se subdividiram em pequenos núcleos para construir espetáculos distintos. O resultado desse processo foi a utilização de uma multiplicidade de espaços da cidade como espaços cênicos. No final de 1999, um destes subgrupos começou a ensaiar o espetáculo In Surto107. A montagem era baseada em uma coletânea de textos de diversos autores, mas focado principalmente naqueles escritos por autores que haviam passado por hospitais psiquiátricos, como por exemplo, Antonin Artaud.

105 Entrevista Coletiva Vigor Mortis, 2008.

106 VARGAS, Alexandre. O espaço da arte na sociedade playbeck. Disponível em: ousarte.blogspot.com

(Acessado em 11/02/2009, às 10h32‟).

O espaço da cidade escolhido para criação e apresentação de In Surto não poderia ser mais apropriado para o tema, era um dos prédios desativados do conjunto arquitetônico histórico, do Hospital Psiquiátrico São Pedro – HPSP. Mais especificamente, o vão livre entre os pavilhões cinco e seis. O Hospital, com mais de 120 anos, fica localizado à Avenida Bento Gonçalves, distante cerca de quarenta minutos do centro da cidade.

O espetáculo estreou em 2001, alcançando grande repercussão entre o público e o meio artístico da cidade. O espetáculo utilizava, com radicalidade, o rappel cênico108 e para viabilizar a apresentação no hospital foi necessário realizar uma limpeza da área e refazer a instalação elétrica do prédio, que encontrava-se totalmente abandonado.

Com a apresentação de In Surto, o Falos & Stercus revelou à cidade um espaço que encontrava-se esquecido e acumulando entulhos. Com a repercussão positiva da peça, o grupo foi convidado a se reapresentar no mesmo espaço durante a III Bienal de Artes Visuais Mercosul, ainda em 2001.

Com as apresentações, o HPSP recebeu um grande número de visitas e passou a ter

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