• Nenhum resultado encontrado

5. Casais participantes

5.3. Casais que não vacinaram os filhos

Amanda e Fernando: Eles decidiram morar juntos após três meses de namoro e com um ano engravidaram sem planejamento. Amanda tinha muito medo de cirurgia, anestesia e da possibilidade de fazer cesárea. Assim, após ter passado por seis médicos, com 25 semanas de gestação encontrou uma parteira que lhe garantiu fazer parto normal. Amanda decidiu fazer parto em casa, a contragosto inicial do marido, que aos poucos foi aceitando a ideia. Após o parto, Amanda caiu e se machucou; além da dor, ela teve dificuldades no início para amamentar Mariana, ficando deprimida nos primeiros três meses, necessitando muito da ajuda do Fernando. Depois de contornada a situação, amamentou Mariana exclusivamente até 8 meses de idade. Eles escolheram uma pediatra homeopata e apenas medicavam a filha com homeopatia. Também seguiam a medicina chinesa. No tocante à vacinação, Amanda começou a pesquisar sobre o assunto durante a gestação, após sugestões advindas de uma das listas virtuais sobre parto natural e sobre vacinação. Compartilhando as informações lidas com a pediatra, Amanda decidiu inicialmente aguardar até a criança ter dois anos para começar um esquema alternativo de vacinas. Para Fernando, assim como a escolha de um parto em casa, não dar vacinas à filha causou-lhe estranheza e desconforto, porém, ele aceitou postergar o início baseado nas leituras trazidas pela esposa. Passado o período acordado, Amanda decidiu não dar as vacinas à filha por ora, com o argumento de que a criança estava saudável e tinha pouco risco de ter as doenças preveníveis pela vacinação, apesar do desejo contrário do parceiro, que achava importante a vacinação, e sentia a necessidade de dar pelo menos as “básicas”. Até o momento da entrevista, a Mariana, com dois anos e meio, não tinha sido vacinada.

Virgínia e Diogo: Eles estavam casados há dois anos quando engravidaram de Bianca e três anos após, do Lucas, ambos conforme tinham planejado. O parto foi muito traumático para Virgínia. Ela procurou um obstetra e falou do seu desejo de ter parto normal, mas o médico, no final da gestação, começou a mudar o discurso, pondo-lhe medo e, quando chegou ao redor de 40 semanas, ele marcou uma cesárea eletiva, justificada pela idade gestacional “limite” e por sua ausência, pois teria um congresso no exterior. Virgínia discutiu com ele, implorou para que ao menos ele tentasse induzir o parto. Ele induziu o parto por 12 horas, mas evoluiu para cesárea. Já o parto do Lucas foi programado para nascer em casa, mas Virgínia teve um sangramento vaginal, tendo que fazer o parto, que foi normal, no hospital. No âmbito da amamentação, Lucas é amamentado até hoje, com três anos de idade e Bianca, quando pede, também é amamentada por Virgínia. Eles vacinaram a filha até o primeiro ano e suspendeu o esquema, após Virgínia ter procurado uma médica homeopata. A experiência dolorosa acerca do parto (que a motivou a estudar sobre parto no Brasil e outras possibilidades, como o parto em casa) e a sugestão de estudo sobre vacinas da homeopata, foram decisórios para ela entrar em contato com a possibilidade de não vacinar e iniciar a problematização acerca da vacinação, buscando informações na internet sobre o assunto. Pelos estudos que ela tinha até então, ela ficou com muito medo das vacinas e estava tranquila com o modo de vida mais natural e saudável que seus filhos tinham, decidindo não vacinar Lucas e não dar mais vacinas à Bianca. Tanto a decisão inicial de parto em casa como a de não vacinação causou questionamentos e estranheza a Diogo, mas, por confiança na mulher, ele acatou as decisões e deu o seu apoio.

Paula e André: Eles estavam namorando há quatro anos, quando Paula com 23 anos engravidou de Kelly sem planejamento. Apesar de Paula desejar parto normal, com 10 semanas de gestação eles souberam que o feto tinha gastrosquise e, por esse motivo, foi indicada cesárea eletiva seguida de uma cirurgia na recém-nascida. Após 10 anos, eles programaram e engravidaram do Davi. Nesse intervalo, Paula começou a buscar na internet informações sobre parto e encontrou o movimento parto ativo e a maternidade ativa. Paula teve o Davi por um parto natural em casa. Ela relata uma mudança nos cuidados em saúde do primeiro ao segundo filho. Kelly recebeu todas as vacinas,

vitaminas e ia ao médico regularmente. Davi, que amamentava no momento da entrevista, não tomou nenhuma medicação, nem vacina e, após as duas primeiras consultas, não foi mais ao pediatra.

Clara e Jonas: Eles estavam casados há cinco anos. Eles moraram na Austrália e lá cursaram a faculdade. Próximo do retorno ao Brasil, Clara engravidou de Marian. Por influência de uma amiga e uma postura mais natural de modo de vida, Clara já no Brasil procurou um médico humanizado e teve parto de cócoras na maternidade, nas duas gestações. Amamentou a primeira filha até a gestação da segunda, que estava sendo amamentada no momento da entrevista. O questionamento sobre as vacinas iniciou-se na Austrália, quando Clara assistiu a um seminário que falava dos malefícios da vacina. Desde então, Clara começou a pesquisar o assunto pela internet, dividiu suas inquietações com Jonas, sobretudo o receio sobre a composição das vacinas, a presença de metais como mercúrio e alumínio e as reações adversas. Assim, eles decidiram pela não vacinação das filhas.

Ana e Vinícius: Estavam casados há cinco anos, e planejaram a gravidez após estabilidade profissional dos dois. Ana, durante a gravidez, começou a pesquisar e conheceu a corrente do parto natural. Em conjunto analisaram os prós e contras sobre as vias e possibilidades do parto e decidiram por fazer o parto da Bruna em casa, que foi vivido como uma experiência muito especial. Já a segunda gestação, por uma alteração no ritmo cardíaco encontrada em exame intra-útero, a médica indicou realizar o parto natural no hospital. A Milena nasceu bem, mas o casal sentiu muito a diferença entre os dois partos pela desumanização do hospital. As crianças foram amamentadas e o casal decidiu postergar a vacinação e, enquanto isso, estava estudando o assunto. Como eles ainda não tinham uma posição firmada nem contra nem a favor, as crianças não tinham sido vacinadas até o momento da entrevista.

Elaine (marido Fábio não entrevistado): Elaine engravidou com 26 anos, sem planejamento, tomando anticoncepcional. Ela abandonou a sua obstetra uma semana antes de ter o parto, por indícios de que ela iria fazer cesárea. Desejando parto normal,

ela foi ter Leonardo numa casa de parto pública. No intervalo entre o rompimento com a obstetra e o parto do primeiro filho, ela recebeu apoio e informação do grupo da maternidade ativa e, assim, não deu colírio de nitrato de prata e nem as vacinas na maternidade. Quando ela engravidou do segundo filho, ela já havia se inteirado do parto natural e fez o parto do Douglas em casa. Amamentou por mais de dois anos o primeiro filho e estava amamentando o segundo no momento da entrevista. Fábio aceitou bem a questão do parto, mas era contrário à não vacinação, sobretudo por ser advogado e do medo das consequências legais. Essa tensão no casal foi mandatória para que Elaine não permitisse a inclusão de Fábio no estudo. Ela encarou o marido, impondo em casa sua decisão acerca da não vacinação, pelo seu medo das vacinas, dos efeitos adversos e da composição, já que Elaine buscava um modo de vida mais natural, sem intervenções e medicamentos.

6. TOMADA DE DECISÃO SOBRE A (NÃO) VACINAÇÃO DOS