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2. Cerclage da constrição himenial

6.3.1. CASO CLÍNICO

A técnica descrita anteriormente foi aplicada numa vaca da vacaria da UTAD, à qual foi diagnosticada urovagina.

Tratava-se de uma vaca de raça Holstein-Frísia, com cerca de 4 anos de idade. Depois do segundo parto, há quase um ano e meio, não voltou a ficar gestante. Foram feitas várias inseminações artificiais, sempre sem sucesso.

O exame do aparelho reprodutor revelou a acumulação de uma quantidade significativa de urina na vagina.

Tratamento:

Após o diagnóstico da urovagina, esta foi corrigida recorrendo à técnica da cerclage da constrição himeneal. As fotografias seguintes relatam a cirurgia.

Depois da tricotomia e preparação asséptica da zona sacrococcígea, foi feita uma anestesia epidural baixa com lidocaína 2% (Imagens 25 e 26).

Imagem 25. Preparação da zona sacrococcígea para administração da anestesia epidural.

As fezes foram retiradas do recto, e a vulva e região perineal foram lavadas e desinfectadas com clorhexidina (Imagem 27). A uretra foi cateterizada para evitar a contaminação do campo cirúrgico com urina, e para evitar que esta fosse incluída na sutura. (Imagem 28).

Imagem 27. Região perineal lavada e

desinfectada. Imagem 28. Cateterização da uretra.

Com o auxílio de pinças, dois ajudantes mantêm os lábios vulvares abertos expondo o campo cirúrgico. A imagem 29 é uma fotografia da vagina antes da intervenção, as fotografias seguintes (Imagens 30 a 33) correspondem à execução da técnica. De notar que com uma mão se palpa e com a outra se dão os pontos. A imagem 34 corresponde ao aspecto final da vagina.

Imagem 29. Aspecto da vagina antes da

Imagem 31. Execução da técnica. Confirma- -se que os pontos estão no local certo.

Imagem 32. Execução da técnica. São dados mais pontos.

Imagem 33. Execução da técnica. No fim são dados nós para fechar a sutura.

Imagem 34. Aspecto da vagina no final da cirurgia.

Evolução do caso:

Fez-se o acompanhamento do caso durante cerca de 3 meses (até ao momento). Embora em muito menor quantidade, ainda ocorre alguma acumulação de urina na vagina.

6.4. PROLAPSO VAGINAL Introdução:

Prolapso é a descida de um órgão, ou parte dele 8, da sua posição normal.

O prolapso vaginal começa pela formação de uma dobra no chão da vagina, imediatamente craneal à união vestíbulo-vaginal. O incómodo causado por esta eversão, juntamente com a irritação e a inflamação da mucosa exposta, provocam uma distensão e agravamento do prolapso. Por fim, toda a vagina pode estar prolapsada e o colo do útero ser visível na zona mais caudal do prolapso. A bexiga ou ansas intestinais podem estar contidas na vagina prolapsada 2.

Afecta principalmente a vaca, a ovelha e a porca, sendo menos comum na égua e na cabra 18. Tipicamente é uma condição de ruminantes na fase final da gestação 3 (no último trimestre) 2. Também pode ocorrer no pós-parto, ou mesmo sem qualquer relação com a gestação ou o parto 2.

Os prolapsos vaginais são recorrentes. Nas sucessivas gestações, aparecem cada vez mais cedo e são cada vez mais severos, pelo que se torna aconselhável refugar as vacas 17, 46.

Etiologia:

O prolapso ocorre devido ao relaxamento excessivo dos tecidos pélvicos antes do parto, e ao aumento da pressão intra-abdominal 18. Embora a sua causa exacta não seja conhecida, há vários factores importantes no desenvolvimento desta condição 3.

Factores predisponentes:

Nos bovinos, os prolapsos vaginais são mais frequentes em determinadas raças: Hereford, Santa Gertrudis e Holstein, sendo que na raça Hereford está comprovada a componente genética 3, 17, 18, 23. Nos ovinos as raças mais predispostas são Kerry Hill e Romney Marsh 2.

São mais afectadas fêmeas pluríparas, pelo que a idade, as sucessivas gestações e a perda de elasticidade muscular que implicam predispõem à ocorrência de prolapsos

3, 18.

Outro factor importante é o elevado nível de estrogénio. Este pode ser devido a produção endógena (nos últimos dois a três meses da gestação a produção pela placenta é maior) 17, a um excesso de estrogénio na dieta, nomeadamente pela presença de alguns trevos, ou a administração de componentes estrogénicos, geralmente na forma de implamtes promotores do crescimento 2, 3, 18. Altas concentrações de estrogénio levam ao relaxamento dos ligamentos pélvicos e das estruturas anexas 17.

A frequência de prolapsos é maior em animais estabulados do que em animais de pastoreio, o que indica a falta de exercício físico como um factor a ter em conta 2, 3.

Também predispõem ao prolapso as lesões prévias dos tecidos, a ingestão de grandes quantidades de forragem de má qualidade, o excesso de gordura perivaginal, gestações gemelares e timpanismo ruminal 3, 18, 23.

Sinais Clínicos:

O prolapso identifica-se pela presença de uma formação avermelhada e cilíndrica a nível dos lábios vulvares 39, que corresponde à eversão da vagina com exposição da superfície mucosa 18.

Os prolapsos vaginais são classificados atendendo à duração, severidade e prognóstico 17. Num prolapso de primeiro grau só há protusão do chão da vagina, e apenas quando a vaca está deitada (o prolapso desaparece quando esta se levanta) 17, 23. A irritação constante e a dessecação conduzem, na maioria dos casos, a uma eversão constante da mucosa vaginal 23.

Nos prolapsos de segundo grau o chão da vagina está constantemente prolapsado, e nos de terceiro grau há exposição da vagina e da cérvix. O prognóstico é reservado 17.

Um prolapso de quarto grau implica uma duração maior, e normalmente necrose da mucosa vaginal exposta e aderências entre tecidos perivaginais, pelo que o prognóstico se torna muito reservado 17.

Imagem 35. Prolapso vaginal 46

numa Vaca. Imagem 36. Prolapso vaginal (esquema)

16.

Quanto mais longe do parto o prolapso ocorre, mais severo tende a tornar-se, pois a gestação avançada acentua a condição 3.

O órgão exposto é vulnerável a traumatismos e infecções 18. A irritação constante leva a contracções e esforços de expulsão, que aumentam o grau do prolapso

3. Trombose, ulceração e necrose do órgão prolapsado, associadas a toxémia e

contracções severas, levam a anorexia, rápida deterioração da condição corporal, e ocasionalmente morte 3.

O parto ou o aborto aliviam a condição, e podem levar à rápida recuperação do animal 3.

Tratamento:

Os objectivos são o retorno dos tecidos à sua posição normal, a manutenção da vagina na sua posição normal, e conseguir que o parto ocorra sem obstáculos 23.

O tratamento depende da severidade do prolapso. Pode ser suficiente elevar o terço posterior e recolocar o prolapso, em casos ligeiros e intermitentes, ou podem ser necessárias suturas de retenção 18.

Sob anestesia epidural, a massa prolapsada é lavada, lubrificada (a glicerina proporciona lubrificação e reduz a congestão e o edema por acção osmótica) 2, e recolocada mediante massagens 3,17, 18, 23. A anestesia epidural não só dessensibiliza a

esvaziar a bexiga, se esta está cheia e contida na massa prolapsada 2, 23. Se há lesões graves ou necrose da mucosa, deve ser feita uma ressecção submucosa antes de recolocar a vagina 16.

Em prolapsos ligeiros, em que a vagina sofreu poucos danos, e especialmente se o parto está próximo, este tratamento pode ser suficiente. Particularmente se a vaca for estabulada num plano inclinado, que permita manter o terço posterior mais elevado 3, 18.

Para manter a vagina na posição normal são realizadas suturas de retenção. Estão descritos vários padrões de sutura dos lábios vulvares 2, 18, 23, no entanto a sutura descrita por Bühner (1958) é uma das mais eficazes 2, 3, 23.

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