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4.1 D ESCRIÇÃO E PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DOS CASOS

4.1.4 O caso da Rede Pneus

A Rede Pneus (associação de revendedores de pneus, peças, acessórios e prestadores de serviços) surgiu de um projeto da SEDAI (Secretaria do Desenvolvimento e dos Assuntos Internacionais) e da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), em outubro de 2006, com o objetivo de criar grupos de micro e pequenos empresários do mesmo segmento, com a finalidade de melhorar seu desempenho em questões como: a) marketing; b) negociação; c) inovação. Ela foi composta por 19 empresas, abrangendo 10 cidades da Região Central do estado do Rio Grande do Sul.

Em outubro de 2006, foi formada a Rede Pneus, que começou com 19 integrantes, hoje reduzidos para 14. Conforme relato do presidente fundador (E10), ele foi convidado para assistir ao lançamento de uma rede pela UFSM. Após tal lançamento, ele se interessou pelo projeto, pouco depois, um dos consultores da UFSM o convidou a organizar uma rede. Ele ficou incumbido de ajudar a encontrar pessoas interessadas em se associar. Foram feitos alguns contatos com apoio da universidade. Na primeira reunião, participaram 21 empresas; na segunda, 14; na terceira, 7; na quarta, só 3 empresas. Existiu uma expectativa inicial muito grande, que depois diminuiu. Por fim, foi formatada a rede com 19 empresas.

4.1.4.1 O processo de desenvolvimento da Rede Pneus

Sobre o processo de desenvolvimento da rede Central de Pneus identificou-se que ela, ao longo dos anos, passou por três momentos evolutivos ou eventos que resultaram em mudanças e desenvolvimento.

O primeiro momento foi o da formação da rede e início das atividades em rede, no qual identificaram-se as teorias do ciclo de vida, teleológica e dialética.

A teoria do ciclo de vida foi identificada, na formação da rede, na participação do programa “Redes de Cooperação”, através da universidade, que convidou os empresários do setor a conhecer a metodologia do programa e a formatar e organizar a Rede Pneus. Tal metodologia segue fases determinadas, em um contexto individual, com tempo definido de implantação, sem contar com a participação dos empresários do setor, apenas com a da universidade.

De acordo com a metodologia do programa, foram definidas as equipes de atuação. O Quadro 23 mostra tais equipes, bem como a relação com a teoria do processo de desenvolvimento e a perspectiva temporal.

Quadro 21 – Equipes Rede Pneus

Equipe /Diretoria Teoria Desenvolvimento Tempo Atuação

Marketing Teleológica Vertical Não identificado a atuação da equipe Negociação Teleológica Vertical Busca poder barganha em fornecedores Inovação Teleológica Vertical Não identificado a atuação da equipe Expansão Teleológica Vertical Sensibilizar e aderir novos associados à rede Fonte: Dados da Pesquisa (2016)

Ao analisar as equipes evidenciadas no Quadro 23 e através da entrevista com o presidente e da consulta a documentos da rede, verifica-se a falta de uma trajetória definida da atuação ao longo do tempo, pois todas as equipes seguem a teoria teleológica. Apesar de os objetivos serem coletivos, a forma como a rede os atinge não é clara, os objetivos definidos em rede, sem o apoio do programa, não foram claramente identificados. Muito disto se deve à situação revelada pelo entrevistado: "Todo mundo semianalfabeto, somos gente que discute sem estudo, sem conhecimento nenhum".

Ressalta-se que a teoria teleológica se apresentou na operacionalização do estatuto, do regulamento e do regimento. Apesar de serem específicos, estes documentos não foram totalmente aplicados. Por exemplo, devido ao foco no aumento de integrantes da rede, não

houve critérios para seleção e, pela falta de conhecimento dos participantes por não ser totalmente entendido por eles, este fato acabou gerando problemas devido à variação no número de integrantes ao longo do tempo.

Os benefícios criados na teoria teleológica foram construídos coletivamente, mas com trajetórias individuais autônomas, podendo, na prática, serem associados, em algumas atividades, à teoria dialética, como ilustrado no Quadro 24.

Quadro 22 – Benefícios gerados na Rede Pneus

Benefício Teoria Desenvolvimento Tempo Eventos

Poder de barganha Dialética Vertical Negociação com fornecedores conforme necessidades rede de produtos

Troca de informações e experiências

Dialética Vertical Realizado nas reuniões, porém sem controle das trocas e experiências

Marketing

compartilhado

Teleológica Vertical Ações individuais dos associados não identificado na rede

Capacitação Teleológica Horizontal Fornecedores realizam capacitações aos integrantes em períodos específicos Fonte: Dados da Pesquisa (2016)

Ao analisar o Quadro 24, verificam-se as teorias teleológica e dialética diretamente relacionadas aos objetivos e a teoria do ciclo de vida relacionada aos fornecedores, sendo indiretamente derivadas dos objetivos poder de barganha e capacitação.

Na teoria teleológica, o benefício marketing compartilhado, gerido, na prática, pela equipe de marketing, não evidenciou claramente sua geração no nível de rede, estando mais relacionado ao nível individual dos integrantes. Resultado similar ao obtido em capacitação que, apesar de ser um dos benefícios gerados pela rede, o aprendizado ocorre no nível individual, não existindo ações pós-treinamentos para o nível rede. Essas capacitações são oferecidas pelos fornecedores e possuem relação direta com o benefício poder de barganha, identificado na teoria dialética, no qual, através, da equipe de negociação, a rede obtém tanto benefício econômico como treinamento para seus integrantes.

Além do benefício poder de barganha, na teoria dialética foi identificada a troca de informações e experiências que ocorre nas reuniões. Ela não foi relacionada à teoria teleológica, pois não existe um objetivo definido, mas é uma atividade com predominância no nível individual. Ele parte da construção coletiva, mas acontecimentos, eventos e valores contraditórios acabam competindo, sendo aproveitado de maneira distinta por seus integrantes.

Esses benefícios são gerados nas reuniões realizadas pela rede que segue a teoria dialética, em que todos participam e expõem suas opiniões. Essas reuniões podem ser consideradas como o elo de desenvolvimento tanto no nível de estrutura quanto de atividades realizadas pelas equipes na rede.

Ao longo do tempo, a rede chega ao segundo momento de seu desenvolvimento: a desvinculação da rede do programa “Redes de Cooperação” e a percepção, por parte da gestão da rede, da falta de critérios para a seleção dos integrantes e os problemas gerados pela metodologia do programa “Redes” não ter deixado claros esses critérios. Essas situações se justificam pela teoria evolutiva, que em seu ponto extremo, foi a determinação, na prática, do fim das equipes de atividade, ficando a gestão da rede a cargo de seu presidente e da diretoria. As decisões são tomadas em conjunto nas reuniões que passaram a ser semanais, com a presença dos demais integrantes da rede.

Nesse momento, a rede sofreu redução do número de integrantes e passaram a ser gerados apenas os benefícios do poder de barganha, através da aproximação com fornecedores, e da troca de informações e experiências, relacionada ao aumento do número de interações através das reuniões semanais.

A rede chegou então ao terceiro momento de desenvolvimento que perdura até os dias atuais. O processo atual de desenvolvimento da rede contempla: harmonização de seus processos e de seus integrantes, conforme a teoria evolucionária de variação, seleção e retenção de práticas; busca pelo fortalecimento da marca da rede e por tornar a rede mais conhecida; possibilidade futura de expansão com critérios definidos; aprendizado gerado, nesse tempo de atividade da rede, para seus integrantes e fornecedores; negociações vantajosas para rede e para seus fornecedores; busca de parcerias e alianças estratégicas.

Em síntese, o processo de desenvolvimento da rede está descrito na Figura 12. Fica claro que a rede passou da teoria do ciclo de vida para as teorias evolucionária e dialética, na redefinição contínua dos critérios de seleção e retenção dos integrantes, de novos integrantes e de fornecedores ao longo do tempo.

Fonte: Elaborado pelo autor (2016)