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Redes na perspectiva da inovação

A maioria dos estudos empíricos sobre a relação entre redes e inovação tem foco em laços formais estabelecidos entre as organizações. Esta corrente de pesquisa documenta uma forte relação positiva entre formação de alianças e inovação, através do estudo de diversas indústrias (POWELL; GRODAL, 2005). A chave está no paradigma de ação do cliente no desenvolvimento do produto em contraste com o antigo paradigma, pelo qual a indústria era responsável por esse desenvolvimento, tomando por base estudos empíricos para sua validação. Alguns estudos de inovação usaram o conceito de redes de informação e comunicação para explicar os padrões de técnica de transferência de informações entre as empresas.

Em tal abordagem, uma rede é definida como um conjunto fechado de ligações selecionadas e explícitas com parceiros, no espaço de uma empresa com ativos complementares e relações de mercado, tendo como um dos objetivos principais a redução da incerteza estática e dinâmica (FREEMAN, 1991). Essas redes, como Powell e Grodal (2005) explicam, contribuem significativamente para a capacidade de inovação das empresas,

expondo-as a novas fontes de ideias, permitindo acesso rápido a recursos e promoção da transferência de conhecimento. Em termos de conhecimento tácito ou explícito, as redes são um fator importante para determinar se seus membros podem efetivamente compartilhar informações e habilidades. As redes funcionam como um roteador em uma divisão da lógica de trabalho inovador na transferência de conhecimento tácito na forma de insumos acabados.

Em síntese, as redes da abordagem inovadora foram passando do foco em redes sociais de informação que leva principalmente informações técnicas e know-how, para o foco em relações interorganizacionais e inovação como um fenômeno que ocorre dentro e fora das fronteiras organizacionais. Esta mudança de ênfase abriu um novo domínio para a investigação relativa aos modos de governança e aos regimes de apropriação de produtos de inovação, empurrando estudos de inovação para mais perto de outras abordagens de rede. Por exemplo, a abordagem de redes industriais, há muito tempo, já expôs casos para estudar a inovação e a aprendizagem como meio e produto da interação entre indivíduos e organizações.

No Quadro 3, verifica-se, conforme análise realizada, como a perspectiva redes para inovação é conceituada no Brasil.

Quadro 3 – Conceito de redes na perspectiva redes para inovação

(continua) P E R S P E C T IV A R E D E S P A R A I N O V A Ç Ã O

Pesquisa Conceito Referências do Conceito

Olave e Amato Neto (2001)

As redes de empresas representam uma forma inovativa de obter competitividade e sobreviver no mundo globalizado.

Powell (1990) Rodrigues,

Maccari e Riscarolli (2007)

Forma específica de empresa, cujo sistema de meios é constituído pela intersecção de segmentos de sistemas autônomos de objetivos. Assim, os componentes da rede são tanto autônomos quanto dependentes em relação à rede e podem ser uma parte de outras redes e, portanto, de outros sistemas de meios destinados a outros objetivos.

Castells (2000)

Teixeira, Vitcel e Beber (2007)

As redes horizontais são atividades colaborativas de negócios realizados por distintos grupos de empresas – geralmente pequenos –, no intuito de gerar vendas e lucros, possuindo flexibilidade nas distintas possibilidades construtivas e operacionais. As redes de cooperação têm sido apresentadas como um novo lócus da inovação, em que o conhecimento pode ser gerado de forma mais eficiente e rápida. Fialho (2005); Nakano (2005) Gerolamo, Carpinetti, Fleschutz e Seliger (2008)

O termo redes baseia-se na cooperação entre vários parceiros, tendo o trabalho em rede potencial para adquirir sinergia e, dessa forma, criar valor, sendo a divisão de conhecimento e a troca de ideias fundamentais. As redes são instrumentos que podem estimular a competitividade de PME’s, regiões e países por meio de inovação.

Ketels (2004)

Verschoore e Balestrin (2008)

Redes são arranjos organizacionais de longo prazo entre empresas e permitem a obtenção ou a sustentação de diferenciais em face dos competidores fora da rede.

Perrow (1992); Human e Provan (1997); Jarillo (1988); Powell (1998)

(continuação)

Pesquisa Conceito Referências do Conceito

Balestrin e Verschoore (2010)

Reúne um grupo de empresas que se situam geograficamente próximas; essas empresas operam em um segmento específico de mercado, estabelecendo relações horizontais e colaborativas entre os seus atores. A rede é formada por tempo indeterminado e é estruturada através de instrumentos contratuais que garantam regras básicas de governança. Prevalecem relações de mútua confiança entre as empresas. As redes, em seus espaços inter-relacionais, promovem um ambiente favorável à socialização e à complementaridade de conhecimentos, fundamentais à aprendizagem e à inovação. Perrow (1992); Human e Provan (1997); Ahuja (2000) Mariano, Guerrini e Rebelatto (2012)

Rede interorganizacional colaborativa é um conjunto de três ou mais organizações que se unem, por meio de uma aliança, em torno de algum propósito. Uma aliança pode ser definida como uma cooperação de longo prazo, visando a um objetivo comum

Bell, Den Olden e Zigger (2006); Provan, Fish e Sydow (2007) Zancan, dos Santos e Cruz (2013)

Redes são entidades complexas, definidas como uma configuração particular de organização, cujo desempenho depende, de um lado, da capacidade de facilitar a comunicação entre seus componentes e de outro, da coerência entre os objetivos da rede e os objetivos de seus componentes. Podolny e Stuart (1995); Todeva (2006); Balestrin, Verschoore e Reyes Junior (2010) Balestrin, Verschoore e Reyes Junior (2010)

O conjunto de transações repetidas e sustentadas por configurações relacionais e estruturais dotadas de fronteiras dinâmicas e elementos interconectados. Todeva (2006) Alves, Balsan, Bazzo, Lubeck e Grohmann (2011)

Uma estrutura, da qual participam empresas que, em decorrência de limitações de ordem dimensional, estrutural e financeira, não podem, de modo isolado, assegurar as devidas condições de sobrevivência e desenvolvimento.

Cândido e Abreu (2005)

Fonte: Elaborado pelo autor

Além das definições apresentadas no Quadro 3, ressaltam-se estudos de Bengtsson e Sölvell (2004), Love e Roper (1999) e MacPherson (1997), que mostram a intensidade de interação em rede positivamente correlacionada à geração de inovações (QUANDT, 2012).

A inovação, segundo Teixeira e Souza (2007), necessariamente não precisa ser radical. São consideradas também as inovações incrementais, implantadas pelas empresas participantes da rede como pequenas melhorias nos processos produtivos e organizacionais advindas do processo de aprendizagem. A ideia utilizada aqui se aproxima mais do conceito de inovação autônoma proposto por Chesbrough e Teece (1996) segundo o qual uma inovação pode ser realizada de modo independente de outras inovações, representando evoluções incrementais em partes do produto ou processo. Contrapõe-se a essa definição o conceito de inovação sistêmica, a qual só pode ser realizada em conjunto com outras inovações relacionadas e complementares. Contudo, deve-se manter o preceito de Schumpeter (1984), segundo o qual uma inovação precisa gerar ganhos econômicos para ser considerada como tal.