• Nenhum resultado encontrado

Felizmente, hoje podemos afirmar com toda certeza que já se foi o tempo em que o material didático serviu de pretexto para propagan- da política e ideológica. A Alemanha nazista praticou tal política com muita eficácia. As crianças e os jovens adolescentes eram usados como

massa de manobra e foram alvo de lavagem cerebral. De modo geral, os regimes ditatoriais no mundo inteiro recorreram ao uso maquiavélico do sistema educacional para fazer apologia de si e utilizaram os materiais didáticos para essa finalidade. Graças à nova realidade engendrada no rastro da queda do muro de Berlim e da eclosão de regimes democráticos no mundo afora, tais práticas pertencem, na vasta maioria dos países, a um passado morto e enterrado.

Infelizmente, não se pode dizer a mesma coisa a respeito de ma- teriais didáticos utilizados para o ensino de línguas, sobretudo as línguas hegemônicas como inglês, francês e espanhol, entre outras. Confinadas as nossas atenções na língua inglesa e sua expansão em países ditos “periféricos”, é notável a tendência de utilização dos materiais didáticos para fins propagandísticos ou, no mínimo questionáveis, do ponto de vista ideológico. (SAKAI; KIKUCHI, 2009)

Um caso bastante comentado, aqui entre nós, no Brasil, foi um projeto chamado Paraná-ELT (1999-2000), um programa de capacitação em língua inglesa para professores da rede pública estadual no Paraná, desenvolvido pela Secretaria Estadual de Educação do Paraná em par- ceria com o Conselho Britânico, financiado pelo Banco Mundial e pelo BID e executado pelas universidades públicas do estado, bem como por alguns institutos privados de ensino de língua inglesa. O programa, nas palavras de Jordão (2003, p. 132), se desenvolveu,

[s]ob o pressuposto de que tenha sido concebido com o objetivo de atender às necessidades do mercado profissional neoliberal, expressas nas opiniões de alunos e professores quanto ao ensino de língua inglesa, muito mais do que com o objetivo de promover a educação continuada de professores de língua inglesa.

A ingerência ideológica ficou patente, segundo muitos pesqui- sadores que se debruçaram sobre a forma como foi conduzido o pro-

grama, na total displicência em relação às verdadeiras necessidades do público-alvo. As decisões, inclusive as que diziam respeito à escolha de materiais didáticos, foram tomadas unilateralmente e evidenciava uma visão bastante elitista de definir o papel da língua inglesa e os motivos pelos quais se imaginava que os alunos brasileiros deveriam apreender o idioma.

Em um texto que publiquei em 2005, sob o título de O grande

desafio: aprender a dominar a língua sem ser dominado/a por ela (RAJAGO-

PALAN, 2005b), discuti os perigos inerentes às atitudes de subserviência que muitas vezes norteiam os programas de ensino de língua estrangeira. Infelizmente, ainda não há uma percepção geral de que o ensino de línguas faz parte da política linguística de um país e deve estar atento às questões relativas à geopolítica do momento em que seu povo se encontra. (RAJAGOPALAN, 2005c, 2006b, 2008)

Em trabalhos mais recentes (RAJAGOPALAN, 2011b), tenho de- fendido a posição de que os países do “círculo em expansão” têm muito a aprender com a experiência dos países do “círculo externo”, tanto no sentido de aprender a desconfiar das ideologias linguísticas impostas pela metrópole, como para formular políticas que visam a enfrentá-las de forma eficaz.

Agradecimento

Sou grato ao CNPq pela concessão da bolsa de produtividade (Nº. de processo: 301589/2009-7).

Notas

1

“If you can’t beat them, join them”. 2

“Ensinar inglês a imigrantes” (Tradução nossa) 3

“Unless I get a rise, I’ll have to leave,” George Strong said to himself. The morning shift was just beginning and he was sitting at his desk in

the design department. George liked his job, the town he lived in, and even his boss, Henry Manley. But his wife kept telling him that she simply could not make ends meet on his salary. That was why he was thinking of taking a job in Birmingham, which was the nearest big city and was about 50 miles away. He had been offered the job in a factory there, and both pay and promotion prospects were far better”.

4

“His secretary told him that George Strong wanted to see him about ‘something personal’ as soon as possible. Manley sighed again. He could guess what it was. Strong was a very good young design engineer. The company had no future unless it could attract and keep men like him. Manley rubbed his forehead. He was desperate. His problems seemed endless. He had to see Strong that morning”.

5

“He had to see Strong that morning, but from a weak bargaining position”.

Referências

ACHEBE, C. Morning yet on Creation Day. Nova Iorque: Anchor Press/ Doubleday, 1975.

BAMGBOSE, A. Torn between the norms: innovations in world Englishes. World Englishes, n.17, v. 1, p. 1-14, 1988.

BAYNHAM, M.; DEIGNAN, A.; WHITE, G. (Org.). Applied linguistics at the interface. London, UK and Oakville, USA: Association for Applied Linguistics in association with Equinox, 2004.

BRIDGES, R. The society’s work. In: BOLTON, W. F.; CRYSTAL, D. (Org.). The English Language, v. 2, 1925/1965, p. 86-89.

CORDER, S. P. Introducing applied linguistics. Harmondsworth: Penguin, 1973.

DERRICK, J. Teaching English to immigrants. New York: Longman, 1968. HOLLIDAY, A. The struggle to teach English as an international language. Oxford: Oxford University Press, 2005.

HOWATT, A. The background to course design. In: ALLEN, J. P. B.; CORDER, S. P. (Org.). The Edinburgh Course in Applied Linguistics. Oxford: Oxford University Press, 1974. p. 1-23. (Techniques in Applied linguistics v. 3).

JENKINS, J. The phonology of English as an international language: new models, new norms, new goals. Oxford: Oxford University Press, 2000. JORDÃO, C. M. O Programa de capacitação em língua inglesa para professores da rede pública estadual no Paraná: da capacitação à formação. In: Congresso de Leitura, 14., 2003, Campinas, SP, Anais. Campinas, SP: Graf. FE, 2003. p. 132-137.

KACHRU, B. B. Standards, codification and sociolinguistic realism: the English language in the outer circle. In: QUIRK, R.; WIDDOWSON, H. G. (Ed.). English in the world: teaching and learning in the language and literatures. Cambridge: Cambridge University Press, 1985, p. 11-30.

KIRKPATRICK, A. World Englishes: implications for international communication and English language teaching. Cambridge: Cambridge University Press, 2007.

LOOMBA, A. Colonialism/Postcolonialism. Londres: Routledge, 1998. MEIERKORD, C. It’s kuloo tu: recent developments in Kenya’s Englishes. English Today. v. 25, n. 1, p. 3 -11, 2009.

MCKAY, S. L. EIL curriculum development. In: RUBDY, R.; SARACENI, M. (Org.). English in the world. Londres: Continuum, 2006, p.114 -129.

MOITA LOPES, L. P. da. Introdução – Uma linguística aplicada mestiça e ideológica: interrogando o campo como linguista aplicado. In: MOITA LOPES, L. P. da (Org.). Por uma Linguística Aplicada INdisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006a. p.13-44.

______. (Org.). Por uma Linguística Aplicada INdisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006b.

O’NEILL, R. Interaction. Londres: Longman, 1976.

OWOLABI, K.; AKINLABI, A. Language in Nigeria: essays in honor of Ayo Bamgbose. Lagos: Africa World Press, 1998.

PENNYCOOK, A. English and the discourses of colonialism. London: Routledge, 1998.

______. The Cultural Politics of English as an International Language. London: Longman, 1994.

PERREN, G. E. Some problems of oral English in East Africa. English Language Teaching, Cambridge, v. 11, n. 1, p. 1-13, 1956.

PHILLIPSON, R. Linguistics and the myth of nativity: comments on the controversy over ‘new/non-native’ Englishes. Journal of Pragmatics, v. 27, n. 2, 1997, p. 225-238.

______. Linguistic imperialism. Oxford: Oxford University Press, 1992. RAJAGOPALAN, K. A norma linguística do ponto de vista da política linguística. In: LAGARES, X. C.; BAGNO, M. (Org.). Políticas da norma e conflitos linguísticos. São Paulo: Parábola, 2011a.

______. The ‘Outer Circle’ as a role model for the ‘Expanding Circle’ in dealing with English. English Today. v. 27, n. 4, dez. 2011b, p. 58-63. ______. The English language, globalization and Latin America: possible lessons from the ‘Outer Circle’. In: OMONIYI, T.; SAXENA, M. (Org.). Contending with globalization in world Englishes. Clevedon, UK: Multilingual Matters, 2010a, p. 175-195.

______. The soft ideological underbelly of the notion of intelligibility in discussions about ‘World Englishes.’ Applied Linguistics, v. 31, n. 3, p.465-470, 2010b.

______. O inglês como língua internacional na prática docente. Kanavillil Rajagopalan responde. In: LIMA, D. C. de (Org.). Ensino e aprendizagem de língua inglesa: conversas com especialistas. São Paulo: Parábola Editoria, 2009a, p. 39-46.

______. ‘World English’ and the Latin analogy: where we get it wrong. English Today, v. 25, n. 2, p. 49-54, 2009b.

______. O ensino de inglês no contexto de transformação social. In: SCHEYERL, D.; RAMOS, E. (Org.). Vozes, olhares, silêncios: diálogos transdisciplinares entre a linguística aplicada e a tradução. Salvador, Bahia: Edufba, 2008, p. 83-88.

______. Revisiting the nativity scene: review article on Alan Davies’ The native speaker: myth and reality. Studies in Language. v. 31, n. 1, p. 193-205, 2007.

______. O ensino de línguas estrangeiras como uma questão política. In: MOTA, K.; SCHEYERL, D. (Org.). Espaços linguísticos: resistências e expansões. Salvador, BA: Edufba, 2006a, p.15-24.

______. Repensar o papel da linguística aplicada. In: MOTA LOPES, L. P. da (Org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial. 2006b, p.149-168.

______. A geopolítica da língua inglesa e seus reflexos no Brasil: por uma política prudente e propositiva. In: LACOSTE, Y.; RAJAGOPALAN, K. A geopolítica do inglês. São Paulo: Parábola, 2005a, p. 135-159.

______. O grande desafio: aprender a dominar a língua sem ser dominado/a por ela. In: GIMENEZ, T.; JORDÃO, C. M.;

ANDREOTTI, V. (Org.). Perspectivas Educacionais e o Ensino de Inglês na Escola Pública. Pelotas, RS: Educat, 2005b, p. 37-48.

______. Non-native speaker teachers of English and their anxieties: ingredients for an experiment in action research. In: LLURDA, E. (Org.). Non-native language teachers: perceptions, challenges, and contributions to the profession. Boston, MA: Springer, 2005c, p. 283-303. ______. Resposta aos meus debatedores. In: SILVA, F. L. da;

RAJAGOPALAN, K. (Org.). A linguística que nos faz falhar. São Paulo: Editora Parábola, 2004, p.166-231.

______. The philosophy of applied linguistics. In: DAVIES, A.; ELDER, C. (Org.). Handbook of applied linguistics. Nova Iorque: Blackwell Publishers, 2003, p. 397-420.

______. ELT classroom as an arena for identity clashes. In:

GRIGOLETTO, M.; CARMAGNANI, A. M. (Org.). Inglês como língua estrangeira: Identidade, práticas e textualidade. São Paulo: Humanitas, 2001. p. 23-29.

SAKAI, H.; KIKUCHI, K. An analysis of demotivators in the EFL classroom. System, v. 37, n. 1, p. 57-69, 2009.

SHOHAMY, E. The power of tests: A critical perspective of the uses of language tests. Singapore: Longman, 2001.

TÍLIO, R.; ROCHA, C. H. As dimensões da linguagem em livros didáticos de inglês. Trabalhos em Linguística Aplicada. v. 48, n. 2, p. 295-316, 2009.

ZOHREH, R. E.; ESLAMI-RASEKH, A. Enhancing the pragmatic competence of non-native English-speaking teacher candidates (NNESTCs) in EFL context. In: SOLER, E. A.; MARTÍNEZ-FLOR, A. (Org.). Investigating pragmatics in foreign language learning, teaching and testing.

Vilson José Leffa e Valesca Brasil Irala

O vídeo

e a construção da solidariedade