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Crenças em sala de aula de línguas: atividades de reflexão e conscientização

Reflexão 2

Que atividades você proporia para refletir sobre crenças em sala de aula?

Fonte: Elaboração da autora.

As atividades descritas a seguir fazem parte de uma tentativa de implementar a aprendizagem reflexiva em minhas aulas de língua inglesa para futuros professores de inglês no curso de Letras, que ainda estão aprendendo a língua.

Atividade 1: Descobrindo suas Crenças

O objetivo desta atividade é tornar explícitas as crenças dos alu- nos de Letras a respeito do seu processo de aprendizagem da segunda língua, através da discussão de crenças comuns entre eles e o professor.

A atividade consiste na leitura das afirmações apresentadas no Anexo 1, expressão oral, através da discussão em pares e no grupo, e registro escrito das crenças comuns. A seguir, descrevo a atividade em detalhes.

Procedimentos:

1. Nas primeiras semanas de aula, entregue a seus alunos uma cópia do Anexo 1 (Find out about your language learning beliefs). O modelo é apenas uma sugestão. Professores de- vem se sentir à vontade para adaptar e inserir crenças mais comuns em seu contexto que gostariam de saber a respeito dos seus alunos.

2. Os alunos respondem ao questionário individualmente em sala.

3. Coloque os alunos em pares e explique que eles deverão interagir, discutindo suas crenças e justificando-as. (Em minha experiência, noto que os alunos gostam de fazer isso, mas alguns acabam não justificando, apenas mencionando suas crenças. O professor deve estar atento para isso e guiar esse processo caso perceba tal comportamento).

4. Em seguida, detalhe as crenças elencadas e indague o grupo sobre cada uma delas, pedindo para que os alunos ar- gumentem a ‘favor’ ou ‘contra’ uma determinada afirmação. Dessa forma, o professor será capaz de conhecer as diversas cren- ças que seus alunos trazem para a sala de aula. É importante também que o professor não só ouça seus alunos sem julgamento prévio, mas também faça perguntas que os levem a questionamentos que venham ajudá-los a encontrar alternativas para a solução de possíveis dificuldades na sua aprendizagem. Muitos alunos, até aquele momento, ainda não tiveram a oportunidade de refletir sobre algumas de suas crenças. Isso

pode ser verificado abaixo nos excertos dos Action Logs (essa atividade será explicada mais adiante) produzidos pelos alunos no ano de 2007.1

Quando discutimos sobre nossas crenças, vemos que elas realmente influenciam nossa vida, nossas atitudes!

[…] quando você responde sobre suas crenças, você descobre que não se conhece e quando você conversa com um amigo você se dá conta de suas opiniões diferentes e de por que acredita naquilo. Achei muito legal! Esse tipo de exercício nos ajuda a repensar conceitos de aprendizagem de línguas.

Foi uma discussão excelente e nos fez pensar mais como professores profissionais e pesquisadores também.

Foi legal ter uma discussão sobre nossas crenças porque, ao fazer isso, estamos ajudando uns aos outros a construir conhecimento que nos fará melhores professores de inglês.

5. Como etapa final, sugira que os alunos escrevam sobre as suas próprias crenças ou as do colega, comparando-as entre si. Isso pode ser feito como tarefa de casa para ser entregue na aula seguinte.

Reflexão 3

a) Qual é a sua opinião sobre a atividade apresentada? b) Como você identifica as crenças de seus alunos?

c) Você discute ou alguma vez já discutiu sobre esse assunto em sala com alunos? De que maneira?

Atividade 2: Histórias de Aprendizagem de Línguas (Hal)2

No início do semestre, alunos do nível intermediário de língua inglesa são convidados a escrever suas HAL em língua inglesa. O objetivo dessa atividade é ajudá-los, através do relato de suas histórias de apren- dizagem, a trazer à tona suas crenças sobre processo de aprendizagem da língua. Ao revisitar sua aprendizagem e ler sobre outras HAL, além de discutir suas histórias com os colegas, os alunos parecem se tornar mais reflexivos e mais conscientes de suas crenças. Tudo isso é feito através da leitura de outras HAL, da discussão em pares e da escrita de suas próprias HAL. A seguir, descrevo a atividade em detalhes.

Procedimentos

1. Inicialmente, para efeito de motivação, os alunos lêem

exemplos de HAL escritas por outros aprendizes de inglês

– do Brasil ou de outro país.3 Isso se constitui em uma ex-

celente atividade de leitura na língua inglesa e de reflexão sobre o processo de aprendizagem de línguas. Os alunos, em sala, recebem duas HAL diferentes que são distribuí- das para dois grupos distintos (A e B) que leem suas HAL silenciosamente.

2. Após essa leitura, membros dos diferentes grupos sentam- se em pares para contar suas HAL uns para os outros. Essa é uma atividade interessante de prática oral, já que os alunos são instruídos a contar a história e a lê-la. Ao final, o professor pode otimizar um diálogo, fazendo perguntas como: “O que vocês acharam das HAL? Quais as semelhanças e diferenças com suas HAL?”

3. O professor, então, conta sua HAL para os alunos e depois pergunta-lhes: “E vocês, como aprenderam a língua? Quando ocorreu o primeiro contato com essa língua?” O professor

pede para que os alunos contem oralmente suas HAL para um colega diferente na sala.

4. Em seguida, os alunos recebem o roteiro da HAL (vide Anexo 2) a ser escrita em casa e para trazer na aula seguinte. Embora eu ainda não tenha feito isso em minha prática, uma boa continuação dessa atividade seria cada aluno apresentar a sua história oralmente em sala, trazendo artefatos, tais como fotos, livros, músicas e outros elementos que ilustrem a sua história. Pode-se filmar essa apresentação, que poderá servir como inspiração para outros alunos e também como corpus de uma pesquisa narrativa. Alternativamente, o aluno pode escrever uma narrativa multimídia. (cf. MENEZES, 2008) Através dessas HAL, o professor terá a oportunidade de, não só conhecer melhor seus alunos e as origens de muitas de suas crenças, mas também ajudá-los a compreender os tipos de crenças que construíram ao longo do seu processo de aprendizagem de línguas.

As HAL também são úteis na disciplina de prática de ensino, a qual sempre inicio pedindo aos alunos para escreverem suas Histórias de Ensino de Línguas (HIEL) (vide roteiro no Anexo 3). Essa não é uma tendência nova. (cf. VIEIRA-ABRAHÃO, 2004; JOHNSON, 1999) Mais recentemente, tenho sugerido que os alunos acrescentem uma repre- sentação visual de ensino de línguas (vide Anexo 4), seguindo uma tendência atual das narrativas visuais no ensino de línguas. (KALAJA et al., 2008; MENEZES, 2008) A forma que tenho trabalhado com as HIEL na prática de ensino é semelhante à das aulas de língua inglesa. Entretanto, na prática de ensino, peço que a HIEL seja lida e comenta- da por escrito por um colega (vide exemplo de comentário no Anexo 4). Isso ajuda na aprendizagem colaborativa e em outros espaços de aprendizagem, denominados por Murphey (2009 p. 131) “ecologia de aprendizagem de contágio linguístico”, os quais se referem a ambientes ricos de aprendizagem em que, não só ocorre uma ativação neurológica

de cunho individual, mas também social entre os grupos. Tal fenômeno se dá por conta da comunicação altamente contagiosa e generalizada, envolvendo pessoas que usam a língua de forma construtiva em seus contextos locais.

Reflexão 4

a) Se possível, conte, escreva ou peça a seus alunos para escreverem sua HAL ou HIEL e, com um colega, tente identificar suas crenças. Discuta com seus colegas e professores.

b) Leia a história de FSR (Anexo 4) e identifique suas crenças sobre ensino de línguas.

c) Você acredita que essa atividade possa ser utilizada em outros contex- tos de ensino de línguas? Quais? Que adaptações poderiam ser feitas? Justifique.

Fonte: Elaboração da autora.

Atividade 3: Diários de Ação (Action Logs)

No ano de 2007, inspirada pelo artigo de Woo e Murphey (1999) sobre Action Logs (AL), resolvi pedir a meus alunos que escrevessem diários sobre as aulas da disciplina Inglês IV (Disciplina LET 211). De acordo com Woo e Murphey (1999, p. 15), action logs são diários de aprendizagem que podem ser usados para vários propósitos na sala de aula, sendo um dos principais “estimular a metacognição”. De acordo com os autores, os AL podem ajudar os alunos a:

• Tornarem-se mais conscientes metacognitivamente ao es-

crever e, assim, clarear e criar pensamentos;

• Perceberem mudanças em sua aprendizagem, apreciá-las e planejarem-se para mais mudanças.

Os autores acrescentam que, quanto mais os alunos fazem AL e refletem sobre esse processo, mais metacognitivamente conscientes se tornam. Isso significa que eles são capazes de falar sobre suas próprias crenças e de refletir sobre elas.

Ao final de cada aula, os alunos escreviam AL, expressando suas opiniões sobre as atividades ministradas ou outros assuntos pertinen- tes à aula. Não foi dada nenhuma instrução escrita, mas simplesmente eu pedia aos alunos que olhassem para a agenda da aula (que sempre coloco no quadro) e comentassem sobre cada atividade, o que acharam mais interessante, suas dificuldades, do que gostaram ou não. Vejamos alguns excertos dos AL (da Newsletter de 17.10.2007):

Foi legal conversar com Raquel sobre o homework. Rebeca fala muito bem. Hoje me senti muito feliz porque me senti confortável, mais segura e sem medo de cometer erros.

Hoje eu conversei com Deusa. Ela é entusiasmada e quer aprender mais, Eu gostei de conversar com Alessandra. Ela é muito legal e está sempre motivada para as aulas de inglês. Ela me encoraja a aprender mais e mais! Eu adorei conversar com ela!!!

Eu acho que essa discussão é muito importante para nosso processo de aprendizagem de línguas, porque geralmente nós nos sentimos ansiosos na aprendizagem e eu deveria ser um falante mais apaixonado pela língua. Como se pode perceber, os excertos ilustram a reflexão que es- ses alunos fazem sobre sua aprendizagem, sobre as aulas, sobre suas emoções e sobre comportamentos dos colegas que os motivam. Esses AL constituem-se em oportunidades de escrita diárias para os alunos

de uma forma rápida e descontraída. Conforme sugerido por Woo e Murphey (1999), toda semana, eu levava os AL para casa, digitava os comentários de todos os alunos (sem colocar os seus nomes) em uma

newsletter, editando alguns erros e na aula seguinte, distribuía essa

newsletter que era lida e comentada por todos. Mas qual é a relação

dessa atividade com crenças? Através dessa escrita diária, os alunos podiam não somente expressar suas crenças a respeito da aula e sobre o processo de aprendizagem, mas também, através da leitura da news-

letter, conhecer o pensamento de seus colegas. Para Woo e Murphey

(1999), quando os alunos lêem os AL dos colegas, eles podem reavaliar suas próprias crenças e estratégias através de uma nova perspectiva. Na verdade, os AL são um instrumento poderoso de “ecologia de aprendizagem de contágio linguístico”. (MURPHEY, 2009, p. 192) Em outras palavras, ao ler o que o colega escreveu (como foi ilustra- do anteriormente), o aluno também se sentia motivado a aprender, a se engajar, criando, assim, uma comunidade imaginada para esses alunos – uma comunidade imaginada de aprendizes bem-sucedidos e motivados. Isso, por sua vez, alimentava pensamentos e imagens positivas de aprendizes de sucesso para esses alunos, retroalimentando crenças propícias à aprendizagem de línguas.

Reflexão 5

a) Você, como professor ou aluno, já trabalhou com action logs? Qual sua opinião sobre eles?

b) Na sua opinião, os action logs podem ser um instrumento de infor- mação e de reflexão sobre crenças? Como? Justifique

Atividade 4: Projeto de aprendizagem de línguas

Não basta identificarmos as crenças dos alunos. É preciso também mostrar-lhes alternativas ou criar “oportunidades de aprendizagem” (ALLWRIGHT, 2005) para que eles tenham a chance de experimentar efetivamente maneiras autônomas de aprender. Nesse sentido, tal projeto de aprendizagem de línguas oferece oportunidade para que os aprendizes se tornem, além de mais autônomos, mais responsáveis, desconstruindo atitudes passivas e crenças comuns como, por exemplo, “o professor é responsável por minha aprendizagem”.

Procedimentos

Em minha prática, tenho trabalhado com o projeto de aprendi- zagem de línguas desde 2003. Um aspecto importante do projeto é a leitura de um livro que ajuda os alunos a questionar algumas crenças comuns, como, por exemplo, a crença de que erros são prejudiciais ao processo de aprendizagem. Após a leitura e resumo de capítulos espe- cíficos de Murphey (2006), os alunos manifestam as suas opiniões sobre as temáticas. Através do diálogo e engajamento com o texto, pode-se, mais uma vez, refletir sobre suas crenças relacionadas à aprendizagem de Língua Estrangeira (LE).

A segunda parte do projeto consiste em pedir que os alunos elaborem um plano de ação contendo atividades específicas que eles devem realizar fora da sala de aula de forma a melhorar o seu domínio do inglês. Eles devem escolher as habilidades (escrita, compreensão oral, produção oral e leitura), em que apresentam maior dificuldade ou que desejam melhorar, escolhendo as atividades que preencham as lacunas referentes a esses aspectos. Esse plano de ação deve conter um crono- grama a ser cumprido. Ao final, os aprendizes relatam os resultados dessas ações em sua aprendizagem durante o semestre.

do curso um trabalho em que o aluno refletia sobre os seguintes aspectos de sua aprendizagem durante o semestre:4

Neste trabalho você irá avaliar:

1. Suas crenças sobre aprendizagem de línguas – você mudou algu- mas? Quais? O que o/a fez mudar? Releia a sua HAL e compare sua aprendizagem antes e agora. Mudou alguma coisa?

2. Analise os seus action logs e reflita sobre o que você escreveu. Faça um resumo. Quantos AL você escreveu? O que foi mais comum em seus action logs? O que o/a motivou a aprender?

3. Escreva sobre as atividades em que você esteve envolvido FORA da sala de aula. Você usou a língua inglesa fora da sala de aula? Quando? Como? Com que frequência? Fale sobre isso em detalhes.

4. Escreva sobre as conversas gravadas e sua utilidade.5 Justifique.

5. Escreva sobre as apresentações dos capítulos de Murphey (2006) e como elas ajudaram sua aprendizagem de alguma forma.

6. Sua aprendizagem, melhorias e progresso. Fale sobre o que apren- deu. Quanto você aprendeu? Como você sabe? O que melhorou no seu inglês? Fale sobre sua participação e compromisso com sua aprendizagem neste semestre.

7. Como você pretende continuar estudando inglês daqui em diante? Como você pode melhorar a sua proficiência na língua inglesa? 8. Conclusão.

(Fonte: Barcelos – Disciplina LET 211 – Inglês 4 – DLA-UFV) Fonte: Elaboração da autora.

Os alunos escreveram esse projeto, em inglês, relatando detalha- damente para o grupo os resultados das ações que realizaram. Foi um momento de compartilhar os avanços e concluir o semestre de uma forma positiva. Certamente, o projeto oferece grande oportunidade de aprendizagem e reflexão das crenças.

Reflexão 6

a) Que outros projetos de aprendizagem podem ser realizados na sala de aula de línguas para desenvolver a reflexão e para nos tornarmos mais conscientes de nossas crenças e de suas mudanças?

b) Você já fez algo parecido com seus alunos? Ou como aprendiz, já participou de experiências como essa? Relate a sua experiência. c) Em sua opinião, as atividades propostas aqui servem ao seu propósito, ou seja, de levar alunos e professores a refletir sobre suas crenças em sua aprendizagem e se tornarem mais conscientes desse processo? Justifique. d) Você sugere alguma adaptação para essas atividades? Quais?

Fonte: Elaboração da autora.