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OS CASOS DA LIBERDADE SINDICAL

LABORAL HUMAN RIGHTS AND JURISPRUDENCE OF THE INTER- INTER-AMERICAN COURT OF HUMAN RIGHTS

3.5 OS CASOS DA LIBERDADE SINDICAL

Embora os casos de execução extrajudicial ou desaparecimento forçado de sindicalistas tenham abordado a violação da liberdade de associação em matéria sindical, nesta seção enfoco o conteúdo da liberdade de associação conforme estabelecido pela Corte Interamericana.

O caso Baena Ricardo e Outros vs. Panamá é produzido pela demissão de 270 dirigentes sindicais estaduais panamenhos. Refiro-me aqui apenas à violação do artigo 16 da Convenção e à ordem de reintegração dos trabalhadores despedidos.

A Corte conceitua a liberdade sindical em termos de liberdade de associação, lembrando que consiste no poder de constituir organizações sindicais para a realização comum de um fim lícito e de pôr em marcha a sua estrutura interna, atividades e programas de ação, sem intervenção das autoridades públicas que limita ou dificulta o exercício do direito. Essa liberdade significa que cada pessoa pode determinar, sem qualquer coerção, se deseja ou não fazer parte da associação53. Assim, o artigo 16 da Convenção inclui tanto o direito de constituir associações como a liberdade de não ser obrigado a se associar54. Este conceito desenvolvido baseia-se nos pronunciamentos dos órgãos de supervisão da OIT - o Comitê de Peritos e o Comitê de Liberdade Sindical - reconhecidas pela Corte55. Em sua própria apreciação da controvérsia, a Corte considerou que a demissão de trabalhadores do Estado está vinculada à sua atividade sindical. Afirma que a demissão dos sindicalistas não constitui causa válida no direito panamenho à época dos fatos56. Mesmo a jurisdição sindical dos dirigentes não é respeitada porque a norma que se aplica a eles para demiti-los viola-a57. Concluindo que o Estado panamenho violou o direito à liberdade sindical consagrado no artigo 16 da Convenção, em prejuízo dos 270 trabalhadores58.

52 Cfr. CORTE INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS. Caso Trabajadores de la Hacienda Brasil Verde vs. Brasil. Sentencia de 20 de octubre de 2016. San José: Secretaría de la Corte, Serie C, N.º 337, párrafo 332.

53 Cfr. CORTE INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS. Caso Baena y Ricardo y otros vs. Panamá.

Sentencia de 2 de febrero de 2001. San José: Secretaría de la Corte, Serie C, N.º 72, párrafo 156.

54 Idem., pár. 159.

55 Idem., pár. 162-164.

56 Idem., pár. 162-164.

57 Idem., pár. 166.

58 Idem., pár. 173.

94 A outra questão central do Caso Baena é a parte operativa em que ordena ao Panamá o pagamento dos salários vencidos e outros direitos trabalhistas que correspondem aos 270 trabalhadores; reintegrá-los nos seus cargos e, caso isso não seja possível, oferecer-lhes alternativas de emprego que respeitem as condições, salários e remuneração que possuíam no momento da demissão; pagar a cada um dos trabalhadores por danos morais; e pagar aos 270 trabalhadores o reembolso das despesas geradas pelas diligências das vítimas e seus representantes, e o reembolso das custas. A ordem de reintegração dos trabalhadores despedidos baseia-se no artigo 63.1 da Convenção, sustentando a Corte que a reparação do dano causado pela violação de uma obrigação internacional requer a sua restituição integral (restitutio in integrum), ou seja, a restauração a situação anterior da violação e a reparação das consequências que a violação produziu, bem como o pagamento de indenização a título de indenização pelos danos causados59. Isso significa que em casos futuros que forem submetidos à Corte, se a demissão for comprovada em violação da Convenção ou do Protocolo Adicional, a reparação da violação deve ser, prima facie, ordenar a reintegração do trabalhador. Veremos isso mais tarde.

Na Opinião Consultiva sobre “Titularidade dos direitos das pessoas jurídicas no sistema interamericano de direitos humanos”, o Panamá pergunta à Corte se as pessoas jurídicas estão excluídas da proteção da Convenção Americana. A Corte sustenta que resulta do artigo 12 da Convenção que as pessoas jurídicas não são titulares de direitos convencionais, portanto não podem ser consideradas supostas vítimas60, com exceção das comunidades indígenas e tribais e das organizações sindicais. Este último assunto é o que nos interessa analisar. A Corte analisa o conteúdo dos direitos sindicais estabelecidos no Artigo 8, 1, a do Protocolo Adicional. De acordo com o instrumento internacional, os Estados permitirão o livre funcionamento das organizações sindicais. Apoiando-se na Convenção 87 da OIT, a Corte sustenta que isto implica: criar seus próprios estatutos, eleger seus representantes, administrar suas finanças, associar e formar outras organizações coletivas que tenham capacidade para praticar esses atos, a existência de personalidade jurídica das organizações sindicais61. Este direito a uma personalidade jurídica diferente da personalidade de seus associados, levando a Corte a afirmar que eles têm uma capacidade diferente para contrair obrigações, adquirir e exercer direitos62.

Em decorrência dessa afirmação, a Corte reconheceu que as organizações sindicais têm direitos específicos que não os de seus associados, ou seja, as organizações sindicais são sujeitos

59 Idem., pár. 202.

60 Idem., pár. 202.

61 Idem., pár. 91.

62 Ibidem.

95 de direitos autônomos que têm por objetivo permitir que sejam interlocutoras de seus associados, facilitando a proteção, gozo mais amplo e efetivo dos direitos dos trabalhadores63. Da mesma forma, a proteção dos direitos sindicais é essencial para salvaguardar o direito dos próprios trabalhadores, sua falta de proteção geraria um prejuízo ou limitação do gozo efetivo dos trabalhadores para se organizarem coletivamente64. A Corte concluiu que a interpretação mais favorável do Protocolo passa pelo entendimento de que os direitos são consagrados a favor das organizações sindicais, uma vez que são interlocutoras dos associados e procuram salvaguardar e garantir os seus direitos e interesses65. Desta forma, as organizações sindicais são titulares dos direitos consagrados no Protocolo, o que lhes permite comparecer perante o Sistema Interamericano em defesa de seus próprios direitos66.

No caso de Lagos del Campo vs. Peru, a Corte aprofunda o conteúdo da proteção da liberdade sindical. Em primeiro lugar, sustenta que a liberdade de expressão é uma condição necessária para a atividade sindical, seja protegendo os direitos trabalhistas, seja melhorando suas condições e interesses legítimos, pois sem esse direito lhes faltaria eficácia e razão67. Afirma que a proteção do direito à liberdade de pensamento e expressão deve ser reforçada no ambiente de trabalho, especialmente para os representantes, por ser de interesse geral ou público68. Isso ocorre quando a sociedade tem um interesse legítimo em ser informada69, e, isso ocorre no ambiente de trabalho70. Mesmo as manifestações destinadas a promover o bom funcionamento e a melhoria das condições de trabalho, ou das reivindicações dos trabalhadores, representam um objetivo legítimo e coerente no âmbito das organizações de trabalhadores71. Em segundo lugar, a Corte sustenta que a proteção do direito à liberdade sindical não abrange apenas os sindicatos, os seus membros e os seus representantes72, mas também as organizações e seus representantes que têm por objetivo a representação dos legítimos interesses dos trabalhadores73.

63 Idem., pár. 92.

64 Idem., pár. 96.

65 Idem., pár. 97.

66 Idem., pár. 105.

67 Cfr. CORTE INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS. Caso Lagos del Campo vs. Perú. Sentencia de 31 de agosto de 2017. San José: Secretaría de la Corte, Serie C, N.º 340, párrafo 91.

68 Idem., pár. 96.

69 Idem., pár. 110.

70 Idem., pár. 111.

71 Idem., pár. 113.

72 Idem., pár. 157.

73 Idem., pár. 158.

96 Finalmente, no Caso Isaza Uribe vs. Colômbia, a Corte destacou que por trás das ações antissindicais podem estar as empresas que buscam eliminar as organizações sindicais74, para que em sua análise jurídica do exercício da liberdade sindical incorpore as ações da empresa e não se reduza apenas às obrigações do Estado.

3.6 OS CASOS DE DEVIDO PROCESSO LABORAL (A PROTEÇÃO CONTRA