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OS CASOS DE EXECUÇÃO OU DESAPARECIMENTO FORÇADO DE SINDICALISTAS

LABORAL HUMAN RIGHTS AND JURISPRUDENCE OF THE INTER- INTER-AMERICAN COURT OF HUMAN RIGHTS

3.1 OS CASOS DE EXECUÇÃO OU DESAPARECIMENTO FORÇADO DE SINDICALISTAS

6 Artigo 62 parágrafo 3 da Convenção Americana de Direitos Humanos.

7 Artigo 64 da Convenção Americana de Direitos Humanos.

8 Artigo o 64 da Convenção Americana de Direitos Humanos.

9 Artigo 62 parágrafo 1 e 2 da Convenção Americana de Direitos Humanos. Até maio de 2019, os seguintes reconheciam a jurisdição da Corte: Argentina, Barbados, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Suriname, e Uruguai. Em maio de 1998, Trinidad e Tobago denunciou a Convenção, incluindo a jurisdição da Corte. Em setembro de 2012, a Venezuela denunciou a Convenção e a jurisdição da Corte.

86 O estreito vínculo entre direitos sindicais e liberdades públicas está claramente estabelecido10, o que não é estranho à Corte Interamericana. Prova disso são os casos em que se analisa a execução extrajudicial ou o desaparecimento forçado de sindicalistas. Nestes casos é possível conhecer a evolução jurisprudencial.

No caso Caballero Delgado e Santana vs. Colômbia, a Corte estabeleceu a responsabilidade do Estado pela captura ilegal e morte presumidados sindicalistas, sendo imputável a violação dos direitos à liberdade pessoal e à vida11. Infelizmente, a Corte não o vincula à violação da liberdade de associação prevista no artigo 16, da Convenção em decorrência do desaparecimento dos sindicalistas.

Isso é remediado com o caso Huilca Tecse vs. Peru. Nele, a Corte considerou que o assassinato do dirigente sindical representou a violação simultânea do direito à vida e da liberdade de associação. Para chegar a essa conclusão, a Corte observou que a proteção à liberdade de associação ocorre em dois níveis: individual e coletivo. No primeiro, é um direito individual de se associar livremente com outras pessoas, sem a intervenção dos poderes públicos que o limitem ou o dificultem. No segundo, é um direito coletivo que busca por meio do sindicato a realização de uma finalidade lícita, sem pressões ou interferências que o impeçam. Portanto, a execução extrajudicial não restringe apenas a liberdade de associação de um indivíduo, mas também o direito e a liberdade de um determinado grupo de se associar livremente, sem medo ou temor12. A Corte considera que a execução extrajudicial foi uma retaliação com o objetivo de ter um efeito inibidor entre os trabalhadores e diminuir o exercício de direitos sindicais por um determinado grupo13. Portanto, o Estado tem a obrigação de garantir que as pessoas possam exercer livremente sua liberdade sindical14. Finalmente, a Corte afirmou que a liberdade de associação não se limita à constituição da união, mas inclui o exercício dessa liberdade por quaisquer meios legais15.

No caso Cantoral Huamaní e García Santa Cruz vs. Peru, a Corte aprofunda a discussão sobre o significado da execução extrajudicial de sindicalistas e seu impacto na liberdade sindical. No caso anterior, a execução extrajudicial afetou a liberdade sindical e no caso

10 Veja a Resolução sobre os direitos sindicais e sua relação com as liberdades civis adotada na 54ª sessão da Conferência Internacional do Trabalho em 1970.

11 Cfr. CORTE INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS. Caso Caballero Delgado y Santana vs.

Colombia. Sentencia 8 de diciembre de 1995. San José: Secretaría de la Corte, Serie C, N.° 22, párrafos 63-72.

12 Cfr. CORTE INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS. Caso Huilca Tecse vs. Perú. Sentencia de 3 de marzo de 2005. San José: Secretaría de la Corte, Serie C, N.° 121, párrafo 69.

13 Idem., pár. 78.

14 Idem., pár. 77.

15 Idem., pár. 70.

87 Cantoral foi enfatizado que ele prejudicou o exercício legítimo da liberdade sindical por ser a causa das execuções extrajudiciais16. No entanto, a Corte não especificou se a execução extrajudicial ou o desaparecimento forçado de um sindicalista que viola a liberdade de associação deve incluir o próprio sindicato e seus membros como vítimas. No caso García e familiares vs. Guatemala, apenas se menciona que o desaparecimento forçado do sindicalista visava restringir o exercício de seu direito de associação livre, embora também reconheça que o desaparecimento teve um efeito inibidor sobre os sindicalistas17. Em minha opinião, a execução judicial ou o desaparecimento forçado de um sindicalista afeta diretamente sua organização sindical e seus membros, pois, como a própria Corte destacou em sentenças anteriores, compromete o exercício dos direitos sindicais.

A Corte avança nessa direção ao fazer uma interessante análise da perseguição sindical institucionalizada sofrida por dirigentes colombianos no caso Isaza Uribe vs. Colômbia. Com base no relatório da Comissão Interamericana de 1993 sobre a situação dos direitos humanos no país andino18, a Corte indicou que os sindicalistas foram classificados como “inimigo interno” no âmbito da doutrina de segurança nacional respaldada pelo Decreto 3398/1965, assumido pelas forças da ordem colombianas19, e, desta forma se considerou que a luta contra o inimigo incluía pessoas e organizações que exerceram ou reivindicaram seus direitos por meio da ação coletiva20. Infelizmente, a doutrina da segurança nacional também foi assumida pelos demais países do hemisfério, o que explica o assassinato e a perseguição de sindicalistas no continente. Por sua vez, a Corte avança em seu andamento sobre a afetação dos direitos sindicais ao afirmar: “O artigo 16.1, da Convenção Americana também contém a liberdade de associação e o Estado deve garantir que as pessoas possam exercê-la livremente, sem medo de ser submetidas a qualquer violência; caso contrário, a capacidade dos grupos de se organizarem para a proteção de seus interesses21 poderia ser diminuída”, embora sem considerar o sindicato e os sindicalistas como lesados pelo desaparecimento forçado do sindicalista colombiano. O que a Corte ordenou foi que o Estado fortaleça os mecanismos de proteção aos sindicalistas,

16 Cfr. CORTE INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS. Caso Cantoral Huamaní y García Santa Cruz vs. Perú. Sentencia de 10 de julio de 2007. San José: Secretaría de la Corte, Serie C, N.º 176, párrafo 147.

17 Cfr. CORTE INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS. Caso García y familiares vs. Guatemala.

Sentencia de 29 de noviembre de 2012. San José: Secretaría de la Corte, Serie C, N.º 258, párrafos 119-121.

18 Cfr. COMISIÓN INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS. Segundo Informe de la Situación de los derechos humanos en Colombia. Washington: Organización de Estados Americanos, 1993.

19 Cfr. CORTE INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS. Caso Isaza Uribe vs. Colombia. Sentencia 20 de noviembre de 2018. San José: Secretaría de la Corte, Serie C, N.º 363, párrafo 124.

20 Cfr. CORTE INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS. Caso Isaza Uribe vs. Colombia. Sentencia 20 de noviembre de 2018. San José: Secretaría de la Corte, Serie C, N.º 363, párrafo 124.

21 Idem., pár. 145.

88 representantes e organizações sindicais, bem como que esses mecanismos sejam consultados e em coordenação com os sindicatos, para que possam exercer suas atividades livremente e sem medo de represálias22.

Os casos examinados mostram a evolução jurisprudencial da Corte sobre a vinculação do direito à vida (artigo 4, da Convenção) com o direito à liberdade de associação (artigo 16) quando da execução extrajudicial ou desaparecimento forçado de sindicalistas23; assim, também destaca que são violações autônomas desses direitos humanos, mesmo que venham dos mesmos atos ilegais.

3.2 OS CASOS DE LIBERDADE DE TRABALHO, PROIBIÇÕES DE ESCRAVIDÃO