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Categoria A: “motivos por que” – A ação do enfermeiro no acolhimento do

5. Compreendendo o fenômeno

5.1 Categorias concretas do vivido

5.1.1 Categoria A: “motivos por que” – A ação do enfermeiro no acolhimento do

Ao serem questionados sobre o acolhimento do paciente psiquiátrico, os enfermeiros disseram que, na maior parte das vezes, esses pacientes não são acolhidos por eles. O paciente é quem decide por seu atendimento, como visto nos depoimentos.

Ele vem sempre com o acompanhante, ou vem com a ambulância, que já traz especifico para a psiquiatria (E1).

É assim: eles chegam aqui e se a queixa for psiquiátrica abre a ficha para a psiquiatria e já aciona (E2).

Geralmente ele já vai pro psiquiatra mesmo. Dependendo do quadro que ele chega, já é encaminhado direto pro psiquiatra (E3).

[...] o paciente chega, faz a ficha e não passa pela classificação de risco (E4).

O paciente psiquiátrico chega e ele mesmo se direciona a recepção pra fazer a ficha e ele mesmo já fala que quer abrir a ficha pra psiquiatria. O pessoal da recepção faz a ficha, discriminando que é psiquiatria, e deixa na caselinha da psiquiatria. O Psiquiatra vem e chama o paciente para o atendimento (E6).

Muitas vezes ele já vem e faz a ficha para o psiquiatra, então ele nem passa com a gente (E9).

Esse paciente psiquiátrico, quando ele chega, ele não passa comigo na triagem, a gente não faz classificação de risco dele (E11).

Há situações, porém, em que o paciente não se apresenta como “psiquiátrico” e sua ficha é encaminhada ao enfermeiro do acolhimento. Quando isso acontece, nem todos os enfermeiros conseguem identificar questões psiquiátricas, considerando que é esperado por eles que os pacientes a serem acolhidos tenham uma queixa clínica. Também dizem que o protocolo existente na unidade não os orienta nesse sentido. Assim, os pacientes são encaminhados para o médico clínico e ele é quem determinará a necessidade de atendimento especializado. Resumindo, quando acontece o acolhimento do paciente psiquiátrico, geralmente é realizado pelo médico.

A classificação mesmo a gente não faz, a não ser que a queixa seja clínica. Aí se for clínica, a primeira abordagem é nossa. Mas a da doença psiquiátrica mesmo, geralmente é feita por eles no

primeiro atendimento... a gente vai fazer o atendimento depois. (E12)

Fazer a classificação do paciente de psiquiatria é uma coisa assim, uma coisa que a gente não consegue... tipo assim, é uma coisa que às vezes a gente não consegue identificar no primeiro momento. Então como a ficha nossa já vem direcionada pra clínica, às vezes você encaminha o paciente para a clínica, pra dar continuidade, e muitas vezes a clínica pede uma intervenção do psiquiatra. Então nem sempre a gente consegue identificar que realmente ele tem uma necessidade de fazer uma interconsulta ou passar com o psiquiatra. Então já teve situação que eu acabei encaminhando o paciente pra clínica, não detectei que ele tinha traços, e aí acabei encaminhando pra clínica, que depois pediu uma interconsulta com a psiquiatria (E9).

Perguntar qual é a queixa principal que traz esse paciente ao pronto-socorro... e quando a gente vai entregar a ficha pro clínico a gente tem as classificações né, o verde, o azul, o amarelo e o vermelho, aí geralmente eu sinalizo pro clínico “olha, o paciente tá agitado, tá confuso, triei pra vocês mas aí vocês é quem vão decidir se vai precisar de uma interconsulta para a psiquiatria” (E6).

Alguns enfermeiros relatam conseguir identificar sinais e sintomas psiquiátricos durante o acolhimento, como conversa desconexa, agitação, ideação suicida e alucinações. Porém, a ação resultante dessa percepção é de encaminhar esses pacientes para o psiquiatra.

[...] a gente já avalia e fala “psiquiatria”. A gente não coloca na caixinha deles, a gente vai lá primeiro e conversa, passa todo o caso (E1).

[...] já chegou paciente com a queixa clínica e durante a classificação de risco a gente entender que ele necessitava de uma avaliação com a psiquiatria: conversa desconexa, agitação na sala, choro, ideação, e um paciente que a gente avalia e chega a uma conclusão que precisa passar pela psiquiatria (E4). Mas acontece, eventualmente, que esse paciente chegue pra gente. Uma vez a gente detectando essa demanda, ela não é clínica, ou para outra especialidade, a gente conversa e aí busca a equipe médica pra fazer esse atendimento com eles (E8). Como a ficha dele vem para o clínico, quando ele fala alguma coisa que é contundente e decisivo, aí eu passo pro psiquiatra. Por exemplo, quando tem indícios, sinais de suicídio, aí eu nem passo com a clínica [...] Então o paciente chega, a gente começa a questionar o paciente, e ele fala que ouve vozes... então, se ele tem alucinação auditiva, se ele tem alucinação visual, aí eu acabo encaminhando para o psiquiatra também (E9).

Em algumas falas, os enfermeiros da UER demonstram não se reconhecerem como profissionais adequados para acolher o paciente psiquiátrico. A ação de enfermagem aparece então como sendo guiada pela figura do médico, dependendo de ordens desses para realizar a sua função. Também fica evidenciado que o psiquiatra não reconhece a ação do enfermeiro no acolhimento, pois o profissional é orientado a encaminhar o paciente ao

clínico que então irá decidir se o paciente necessita de intervenções psiquiátricas ou não.

O paciente já chega em surto psiquiátrico, ele já tem a abordagem do profissional adequado, é nesse sentido [...] é uma sala fechada, que o enfermeiro não tem uma dinâmica adequada e uma técnica adequada de abordagem desse paciente como o psiquiatra tem, então quando ele vai direto pro psiquiatra, o psiquiatra já consegue conduzir melhor a situação e já tomar uma decisão do que fazer (E5).

Ninguém mais preparado do que eles (psiquiatras) pra fazer o acolhimento e eles não fazem. E esse acolhimento muitas vezes é feito por nós na avaliação, exatamente porque como eu falei que às vezes chega lá e a gente nem sabe o que é isso ainda, e mais principalmente é feito pela clínica médica. Lógico que a gente também tem na formação, mas nada como o psiquiatra (E10).

Às vezes o residente da psiquiatria fala: “mas o caso dele nesse momento não é psiquiatria. Vai na clínica médica primeiro, vê com eles o que eles acham e manda pra gente”, aí a gente conversa (E1).

[...] depende de quem é o residente. É “Tá, deixa a fichinha ali que eu já vou ver” e depende tipo “ó, passa lá na clínica”. Tipo, o que você identificou não faz muito sentido, é melhor passar com o clínico e se tiver mesmo necessidade... deixa o outro profissional mais competente avaliar e vir falar comigo. Então se

você é muito antigo da instituição isso não acontece muito, mas quando você é recém-admitido na instituição, que você não tem ainda aquela credibilidade, então pode acabar acontecendo isso, lamentavelmente (E9).

[...] já chama o psiquiatra de imediato pra ficar com a gente, e vai tentando conduzir, aí conforme o que o psiquiatra vai fazendo a gente vai fazendo as coisas. A gente sempre procura o psiquiatra, pra fazer qualquer conduta (E11).

Então, aqui na triagem a gente acaba não fazendo a classificação de risco desse paciente, a gente fica sabendo do paciente pelos médicos, que acabam nos chamando quando o paciente tá em crise, em surto às vezes, porque às vezes ele já atendeu o paciente... então a abordagem é por eles lá, na maioria das vezes. Casos raros que o paciente chega muito desorganizado, aí a gente tá aqui na frente e a gente vai abordar esse paciente, senão a gente é chamada pelos médicos e pedem pra gente fazer a contensão, medicação, e aí a gente fica sabendo o que o paciente tem, qual é a patologia. (E12)

Os enfermeiros que atuam no acolhimento na UER disseram que possuir experiência com esses pacientes, ter percepção e bom senso lhes serve de embasamento para suas ações, utilizando seus conhecimentos prévios e intuição para decidir a quem encaminhá-los.

[...] pela própria rotina, pela própria prática, as vezes a gente consegue discernir um pouco (se o paciente é psiquiátrico) (E3).

Vai depender da situação do momento e da avaliação clínica que você faz. Da experiência que você tem com esse paciente também. Muita coisa a gente acaba classificando pela experiência por saber que aquela situação vai ter um problema se você não resolver logo. Então você faz a avaliação também de acordo com a sua experiência (E5).

No nosso critério de classificação de risco, por exemplo, o paciente que tem um risco grande de fuga... assim, não tem nada em protocolo, que a gente possa classificar “não, esse paciente eu vou classificar como amarelo, porque ele tem um risco de fuga”, não, a isso a gente não tem. Mas aqui, vai depender muito do bom senso do profissional (E6).

Enfermeiros relataram que os pacientes psiquiátricos, na maioria das vezes, chegam à unidade acompanhados de seus familiares. Quando isso acontece, se faz necessário voltar o olhar para a família, pois ela pode ajudar com mais informações, mantendo o paciente tranquilo, mas, às vezes, a presença de outras pessoas na sala pode impedir que o paciente fale.

[...] durante parte das vezes também, ele vem acompanhado dos familiares, então a gente tem ajuda do familiar, que traz informações que às vezes o paciente não tá passando (E8). É interessante porque, muitas vezes, o paciente esconde da família a situação, então quando você tá fazendo a entrevista, quando você tá examinando no consultório, você tem essa percepção de que ele não quer falar as coisas na frente da família, ai você precisa pedir para o acompanhante sair, mas

depois você retorna com o acompanhante pro consultório e explica porque você pediu pra ele sair... (E9).

[...] quando chega um paciente mais tranquilo, mas às vezes com uma fala mais organizada, a gente até tenta. A gente tenta colocar num lugar mais tranquilo, com a família, tenta deixar um familiar junto, até chegar o psiquiatra pra fazer o atendimento (E11).

5.1.2 Categoria B: “motivos por que” – Como o enfermeiro se sente

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