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4 ACHADOS EMPÍRICOS DE PESQUISA

4.1 Questões da Pesquisa Narrativa e Análise das Categorias

4.1.6 CATEGORIA “ANTIGOS MESTRES”

Antes de dar sequência à pergunta seis, enfatiza-se que o motivo pelo qual formulou-se a questão acerca do planejamento das atividades inovadoras -- se os docentes que inovam se basearam em algum autor, teórico, antigo professor ou método de ensino -- teve como escopo encontrar respostas às questões atinentes ao objetivo específico “Investigar junto aos professores inovadores quais os referenciais teóricos e metodológicos mobilizam para exercer práticas inovadoras”.

Mediante as respostas, chegou-se à categoria temática “Antigos mestres” por ter sido comum a quase todos os interlocutores. Tardif e Raymond (2000), em uma abordagem aos saberes docentes baseados na experiência pré-profissional, asseguram que “[...] uma boa parte do que os professores sabem sobre o ensino, sobre os papéis do professor e sobre como ensinar provém de sua própria história de vida, principalmente de sua socialização enquanto alunos” (TARDIF; RAYMOND, 2000, p. 216), chamando a atenção, deste modo, para a influência que ex-professores exercem sobre a prática dos professores, servindo-lhes de modelo.

Ainda acerca desse tema, Anastasiou (2002) explica que:

Por falta de um outro referencial de ação, do conhecimento da teoria e da prática pedagógica que possam lhe oferecer formas mais atuais e adequadas de ação como profissional docente, o professor seleciona de suas experiências como aluno àquelas que considerou mais afetivas para sua aprendizagem, e passa a reproduzi-las em sala de aula. (ANASTASIOU, 2002, p. 176).

Houve, não obstante, uma opinião na qual foi expressa a contramão do entendimento da maioria dos professores participantes, mas que entretanto recebe tutela de Cunha (2006, p. 46) quando reconhece que “[...] a trajetória que (os professores) vivenciaram enquanto estudantes marca sua trajetória como profissionais, tanto para repeti-la como para negá-la”.

[...] eu saí odiando Língua Portuguesa e eu decidi estudar, fazer graduação para entender por que eu odiava tanto. As minhas experiências com professores de Língua Portuguesa não foram boas. Na verdade, eu aprendi como não dar aulas de Português, a aula que não deveria ser ministrada. (PP6).

Além do mais, o quase consenso presente na fala de diferentes participantes ao declararem que têm antigos professores como modelo diverge da constatação de que, enquanto estudantes da Educação Básica e Superior, não tenham tido alguma ou quase

nenhuma chance de presenciar a inovação, segundo a continuação da fala anterior na qual afirma-se que “[...] Na graduação eu tive alguns bons professores, não foram muitos. Eu

tive excelentes experiências foi mesmo no mestrado e doutorado [...]” (Idem). Tal

assertiva encontra em Cunha (2006, p. 58) a ratificação para o registro acima quando a autora diz que:

[...] parte significativa dos entrevistados não se lembram de nenhuma experiência inovadora enquanto estudantes. Suas graduações foram marcadas por um componente fortemente tradicional, principalmente no tocante à dinâmica em sala de aula. Pode se supor que, pelo contra-exemplo, hoje, parte significativa desses professores seja identificada como inovadora.

O fato de os professores-colaboradores terem afirmado que os seus antigos mestres tiveram papel preponderante na constituição de suas trajetórias profissionais e/ou que lhes serviram de inspiração parece denotar que mais relevante do que se esses ex- mestres eram ou não inovadores foi o vínculo que se formou entre alunos e professores. Esse corolário tem embasamento em Carbonell (2002, p. 74), que defende que “O desejo de aprender e de estudar do menino ou da menina cresce em função da relação que estabelece com seu professor ou professora e de como estes o seduzem com seus planejamentos metodológicos”.

Essa constatação foi erigida na narrativa de que:

O que me mobilizava na escola era o afeto. Então, quando fui aluna da professora Cleusa aos 8 anos de idade e eu era essa criança assustada, que não conseguia aprender e ela me oferece colo, ali, em grande medida, ela imprime uma marca em mim. Ela diz assim: “olha, educar é acolher, é acreditar, é cuidar, é se conectar”. Então eu construo uma percepção do que é ser professora vinculada a essa ideia de que ser professora é não ficar indiferente; ser professor é não olhar para a fragilidade, mas olhar para o que há de potência em uma criança. Porque foi isso o que ela fez comigo. (PP2).

E da mesma maneira no trecho selecionado de outro professor quando disse que

“[...] eu vim me constituindo com as minhas professoras, desde a Educação Básica”

(PP1). Hoje, mostra-se premente, quiçá mais do que em muito tempo, que não caia no esquecimento, talvez conveniente, a educação proporcionada por professores, pois sabe- se que a transcendem. Segundo Santos (1993),

Paul Valery dizia que foi esquecido algo essencial na educação dos jovens: que é muito mais importante para uma pessoa aprender com seu professor do que das páginas de um livro. O que se aprende com professores tem como base a experiência de vida, e, portanto, o que ensinam não são coisas, mas muito mais do que coisas. Nos ensinam a viver, e viver não é uma coisa, mas algo que está mais além, um assunto quase desconhecido hoje. (SANTOS, 1993, p. 40).

Para além, abre-se espaço, ainda nessa alocução de Santos, a rememorar a dimensão que alude à atual conjuntura brasileira na qual, uma vez mais, os professores são desconsiderados ou omitidos do processo decisório sobre os rumos que a educação em nosso país tomará dentro em pouco. Conforme salientado, os docentes têm muito a ensinar e a dizer. Nesse contexto,

Por um lado, os professores são olhados com desconfiança, acusados de serem profissionais medíocres e de terem uma formação deficiente; por outro lado, são bombardeados com uma retórica cada vez mais abundante que os considera elementos essenciais para a melhoria da qualidade do ensino e para o progresso social e cultural. (NÓVOA, 1999, p. 3).

Partindo-se do referenciado por Nóvoa (1999), importa reafirmar que um dos aspectos mais marcantes de proceder à investigação para essa dissertação foi o reconhecimento de que, em razão de o Ensino Médio hoje se encontrar tão aviltado pelos ditames da BNCC, mostrou-se primordial e recompensador ter a possibilidade de revelar o valoroso e inovador trabalho desenvolvido por professores de Língua Portuguesa em instituições públicas de ensino aqui no Distrito Federal.