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Quando perguntados se a USF realiza o acompanhamento da glicemia dos pacientes diabéticos, todos (as) os (as) enfermeiros (as) respondem que sim. A pesquisa constatou que nem sempre os pacientes comparecem na USF para a verificação glicêmica, e que a equipe se dispõe a ir até a residência do paciente, caso este não possa ir até a unidade. Como demonstra as falas a seguir:

12%

88%

Exame físico dos pés por um profissional

SIM

“Sim, através da verificação do dextro. Porém nem todos os pacientes realizam.” (ENF 3).

“Sim, todos os dias é feito dextro na USF e em alguns casos na residência do paciente.” (ENF 5).

O acompanhamento dos níveis glicêmicos é primordial na avaliação da eficácia do plano alimentar, da medicação oral e da insulina. Alterações do nível glicêmico podem configurar em reajuste de dose da medicação ou falha no seguimento do plano terapêutico

(BRUNNER E SUDDARTH, 2009).

Cabe a equipe da USF, incentivar o paciente a ter o rígido controle da glicemia, fazendo com que os pacientes percebam a relação da hiperglicemia com o aparecimento de alterações nos pés (ANDRADE et al., 2010; VEDOLIN, 2003)

Quanto à disponibilização de medicamentos antidiabético pela USF, todos (as) os (as) enfermeiros (as) afirmaram que é realizada essa distribuição de medicamentos aos pacientes diabéticos. Um dos entrevistados relatou que ocorre de faltar a medicação, como mostra a fala a seguir:

“Sim, porém acontece de faltar a medicação.” (ENF 3).

O Ministério da Saúde, por meio do departamento de assistência farmacêutica e insumos estratégicos referem que:

A interrupção no tratamento pela falta de medicamento, seja por cortes dos pedidos de compras ou por falta de orientação adequada ao paciente, representa prejuízos efetivos, não só na melhoria da qualidade de vida do paciente como na credibilidade do serviço prestado. A falta de medicamentos de uso contínuo pode comprometer e agravar a situação de saúde dos pacientes (2006, p. 12).

O Governo Federal criou em 2004, o Programa Farmácia Popular do Brasil (FPB) objetivando ampliar o acesso aos medicamentos, distribuindo medicamentos para doenças mais comuns através de redes próprias de Farmácias Populares e por meio de parcerias de redes privadas, intitulada “Aqui Tem Farmácia Popular” (BRASIL, 2011).

Essa iniciativa do governo em ampliar o acesso dos pacientes às medicações ameniza os transtornos sofridos por estes pacientes, que muitas vezes não encontram as medicações na USF e são obrigados a comprá-las na rede privada, por preços muitas vezes não acessíveis.

É válido destacar que a USF tem importante papel na prevenção de doenças e seus agravos, partindo esse ponto, todos (as) os (as) enfermeiros (as) afirmaram que USF realiza

educação em saúde com os pacientes diabéticos. As falas a seguir são referentes a metodologia de trabalho empregada na realização da educação em saúde.

“Realiza através de palestras sobre o assunto, bem como através da orientação dos pacientes e familiares, além disso, os Agentes Comunitários de Saúde também são orientados e capacitados para realizar essa orientação.” (ENF 2).

“Geralmente palestras com exposição de imagens em computador, ou na „sala de espera‟ onde os pacientes tiram dúvidas sobre um determinado assunto. Além da orientação individual.” (ENF 3).

“Através de orientações oferecidas pelos ACS nas visitas, nas consultas médicas e de enfermagem.” (ENF 4).

Quando a educação é feita de forma estruturada e organizada, a mesma desempenha importante papel na prevenção de lesões nos pés dos pacientes portadores de DM. A educação tem o objetivo de sensibilizar motivar e mudar atitudes sobre o cuidado com os pés, sendo um dos maiores subsídios para a prevenção (REVILLA; SÁ; CARLOS, 2007; VIGO; PACE, 2005; ROCHA; ZANETTI; SANTOS, 2009).

Por outro lado, o conhecimento nem sempre configura na realização de medidas de autocuidado para prevenir problemas relacionados com os pés. Dessa forma há a necessidade dos profissionais do âmbito da USF envolvidos na realização de ações educativas, valorizarem o aspecto individual dos pacientes diabéticos. É preciso compensar o descompasso entre conhecimento e comportamento, buscando estratégias que motivem os portadores de DM a participarem ativamente dos cuidados e superar barreiras (ROCHA; ZANETTE; SANTOS, 2009).

A família do paciente tem grande responsabilidade direta e indiretamente no controle da doença, no suporte emocional, apoio a uma alimentação saudável, realização de atividade física. A família tem o poder de sensibilizar a adesão à práticas de autocuidado (MILHOMEM et. al., 2008).

Os (as) enfermeiros (as) foram questionados sobre os cuidados específicos com os pés que eram passados aos pacientes diabéticos, dessa forma obtiveram-se as seguintes falas:

“Cuidados em relação ao calçado e limpeza.” (ENF 1).

“É entregue um manual com orientações sobre os cuidados específicos com os pés. Sapatos adequados, hidratação dos pés, cuidado na remoção de calos, secar os pés e uso de meias de algodão.” (ENF 2).

“Cuidados com os sapatos, temperatura da água, bem como cuidados com os curativos quando eles já se machucaram.” (ENF 3).

“Orientação quanto aos calçados apertados e muito abertos, hidratação dos pés.” (ENF 4).

As falas apontam para informações superficiais dadas aos pacientes por parte dos enfermeiros, destacando apenas a fala de ENF 2 que apresenta informações que mais condiz com o ideal e disponibilizando um manual aos pacientes diabéticos.

As informações devem ser oferecidas aos pacientes e familiares de forma clara, concisa e principalmente de forma completa. A atenção primária da saúde tem como papel desenvolver habilidades de autocuidado no pacientes. No entanto, estudos revelam que há um despreparo do profissional enfermeiro, quanto a realização da educação em saúde (ANDRADE et al., 2010; ALMEIDA; SOARES, 2010).

Os (as) enfermeiros (as) foram perguntados se os pacientes diabéticos recebiam exame físico direcionado aos pés, a fim de detectar sinais e sintomas, bem como hábitos precursores do pé diabéticos. Dessa forma destacam-se as seguintes falas:

“Sim, quando queixa.” (ENF 2).

“Apenas quando o paciente refere alguma queixa.” (ENF 4).

O diagnóstico do pé diabético depende muito de uma boa anamnese e um bom exame físico, podendo ser empregado apenas tecnologia leve e média leve, com o monofilamento, diapasão e o martelo. Porem, muitos profissionais não dão a devida importância ao exame físico dos pés dos pacientes, esse descaso ainda é um obstáculo que deve ser transposto (ANDRADE et al., 2010; LOPES, 2003).

Os profissionais da saúde não devem esperar que os pacientes diabéticos apresente queixa de alterações nos pés, pois muitos pacientes diabéticos não conhecem os mecanismos fisiopatológicos, os sinais e sintomas do pé diabético, dessa forma não conseguem identificar alterações importantes nos pés.

Os (as) enfermeiros (as) tiveram a oportunidade manifestar suas opiniões sobre as principais dificuldades enfrentadas pelos pacientes diabéticos, quando se trata de cuidados com os pés. Dessa forma obtiveram-se as seguintes falas:

“Não adesão ao tratamento, falta de higiene pessoal.” (ENF 1). “Cultura, obesidade, falta de união na família.” (ENF 2).

“Apesar de todas as orientações, ainda existem pacientes que não conhecem a importância do cuidado com os pés e do controle da glicemia. Muitos não têm facilidade em aderir o tratamento medicamentoso e não-medicamentoso. O que falta é a adesão dos pacientes e mais orientações sobre esse cuidado com os pés”. (ENF 3)

“A própria cultura do paciente, talvez por falta de informação adequada ou má interpretação, ou até mesmo pela dificuldade em aderir corretamente ao tratamento.” (ENF 4).

“Resistência, e financeiramente não tem condições de usarem sapatos confortáveis.” (ENF 5).

Os (as) enfermeiros (as) entendem que trabalhar com educação em saúde exige esforços tanto dos pacientes quanto dos profissionais e que há multifatores que influenciam na absorção do conhecimento, na execução dos cuidados e que nem sempre conhecimento configura em ações. Daí a importância de tratar individualmente os pacientes e identificar suas dificuldades e potencialidades, usando-as em prol da motivação da adesão aos cuidados com os pés.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dessa forma, o estudo revelou que os pacientes não realizam os cuidados com os pés de maneira adequada e que a educação em saúde oferecida nas USFs ocorre de maneira muito sucinta e deficiente, não sendo capaz de atender os seus reais objetivos.

O manejo dos pés das pessoas com DM é complexo, e dificultado ainda mais pela estreita responsabilidade e colaboração tanto dos pacientes quanto dos profissionais.

Fatores como o mau controle glicêmico, falta de informações sobre cuidados com os pés, não adesão ao tratamento, sedentarismo e dificuldades econômicas. São fatores que de grande destaque, visto que grande parte dos sujeitos submetidos a amputações decorrente ao pé diabético apresentam influências desses fatores. No entanto, fatores como esses são passiveis de serem modificados, apenas com o uso de medidas e tecnologias de complexidade assistencial baixa.

Portanto, cabe a equipe da USF que é responsável pela assistência primária, dar maior ênfase na assistência dos pacientes portadores de DM, principalmente aqueles com maior tempo de doença e idosos, levando em consideração os fatores individuais que influenciam na aquisição de conhecimento e na adoção de cuidados com os pés.

Não se deve esperar que os pacientes diabéticos relate alguma alteração nos pés, médicos e enfermeiros devem incluir no exame de rotina dos pacientes com DM, o exame dos pés. O exame dos pés é de fundamental importância na detecção de sinais e sintomas precursores do pé diabético, embora não seja uma prática de rotina nas USF.

O enfermeiro tem a educação em saúde como principal ferramenta para desenvolver o autocuidado nos pacientes diabéticos. Portanto, a educação em saúde não deve ser realizada de forma superficial e a família tem que participar junto ao paciente.

Tangará da Serra é um município privilegiado com um campus da Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). É possível melhorar a educação em saúde oferecida nas UFS, explorando parcerias entre a UNEMAT e a saúde pública do município, onde alunos e professores do curso de enfermagem assumam o papel social de promover educação em saúde com os pacientes portadores de DM.

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