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CAPÍTULO 3 – APRESENTAÇÃO DOS DADOS/CONSIDERAÇÕES

3.2 DISCUSSÃO DOS DADOS COLETADOS NAS ENTREVISTAS

3.2.3 Dimensão: Gestão Democrática

3.2.3.1 Categoria: Viabilidade da Gestão Democrática

O PPP é planejamento das atividades da escola , processo que exige monitoramento e dinâmica que impõem flexibilidade aos seus executores, de modo a trabalhar a execução de forma intencional, sem perder a noção de que os atores envolvidos têm forma diversa de percepção de cada realidade específica e cabe aos gestore s viabilizar para que o consenso se imponha.

3.2.3.1.1 Subcategoria: Papel do gestor

De acordo com Lück (2006), o papel do gestor é fazer fluir nova s formas de pensar e fazer as coisas de modo a estabelecer relações circulares, com interação, cooperação e construção coletiva, com o foco na busca do próprio crescimento e da realização dos que estão sob sua responsabilidade, com a adequação ao contexto educacio nal, projetando ações e permitindo resultados.

Os depoimentos colhidos nas entrevistas não evidenciaram que a equipe gestora esteja ciente do papel que cabe a cada um. As falas traduzem despreparo, são repetitivas e evasivas. Chega a ter depoimento de fragmentação na atuação do gestor que se volta só para o administrativo, enquanto o vice -diretor se envolve com o pedagógico:

[...] ele dev e ter um a prox imidade m uito grande com o grupo que ele trabalha. Dev e ter um a af inidade, um a linguagem acessív el para o s alunos, par a os prof essores, ter sim patia, tem que ter aceitação no grupo, porque quando a gente passa por um a gestão dem ocrática, tudo passa pela av aliação tudo passa pelo av al dos prof essor es. (Superv isora Pedagógica)

Para construir um novo paradigma de gestão, é preciso superar a concepção hierarquizada de poder e diminuir as relações verticais das

organizações, substituindo-as por relações circulares, com ei xos , como a interação, a cooperação e a construção coletiva.

O cotidiano da escola precisa que a gestão administrativa e a pedagógica, entrelaçadas, sejam, na prática, ambiente onde a cultura do diálogo ocorra constantemente. Cabe aos gestores motivar a comunidade para que o ambiente educativo seja uma construção constante. A pedagogia da certeza e do saber pré -fixado (ASSMAN, 1999) precisa dar lugar à pedagogia das perguntas, da reflexão e das respostas elaboradas no contexto em que os temas são debatidos.

Gestão participativa é aquela em que os envolvidos no proce sso educacional são chamados a construir o projeto da escola, passando a ser responsáveis e conhecedores do que se espera deles, desde sua participação até sua cumplicidade.

[...] ele [o gestor] tem que ter ao seu f av or o gr upo, ele tem que c ontar com os pais, tem que contar c om os serv idores, porque se não ele não v ai trabalhar. Ele não v ai ter ess e apoio. [...] ele tem que ter a capacidade de env olv er todas a pessoas que f azem parte realm ente da esc ola, eu ac ho que esse talv ez seria assim , o grade desaf i o do gestor [...] ele tem um a equipe realm ente que corresponde, m as m uito m ais que a equipe ele tem na v erdade, pessoas para assim chegar em juntos a um m esm o objetiv o. [...] não adianta o diretor ou o gestor trabalhar só com os prof essores, tem que trabal har com os alunos. Ele tem que trabalhar tam bém com os assistentes de educação, com a secret aria, ele tem que trabalhar lá com a f axineira [...] ele tem que ter esse cam po de v isão bem abrangente. Ele tem que conv ersar inclusiv e com o PM do batalhão escola r pra v er, por ex em plo, com o é que está a segur ança nas redondezas da escola. Ele tem que conv ersar com o v izinho da escola que tem , por ex em plo, né, um com ércio ali que pode ser parceiro da escola. Então o gestor ele tem um papel f undam ental de unir os el os de um a corrente [...] tem que saber que todo m undo tem um trabalho ali dentro da sua escola. (Vice-diretor)

[...] o gest or é igual ao pr esidente; ele c om anda todas a s ações adm inistrativ as e pedagógicas da escola. Ent ão o gestor dentro de um a escola e le tem um a f unção prim ordial que é a de gerir o andam ento pedagógico e adm inistrativ o . (Coordenadora Pedagógica 1)

3.2.3.1.2 Subcategoria: Viabilidade/Organização do cotidiano

A equipe gestora evidencia, em seus depoimentos, que a organização do cronograma de atividades interativas é decidida de modo participativo, no intuito de viabilizar que o cotidiano da escola tenha um norte a seguir e que as ações sejam desenvolvidas sem questionamentos posteriores, tendo em vista que a decisão é sempre coletiva:

[...] o trabalho é m uito dem ocrático. A gente v ai f echar um a data de pr ov a, a gente v ai f echar um tipo de av aliação, m esm o já tendo o norteador que é o projeto político-pedagógico, a gente está sem pre ouv indo m ais, justam ente para f azer esse s aperf eiçoam entos, né, que serv em para o ano seguinte. Entã o a gente está sem pre ouv indo os pr of essores, eles participam de f orm a m uito direta m uito ativ a, e os alunos tam bém , a gente nunca c hega com nada pr onto pr o prof essor, com nad a que v ai ser im posto, que eles sabem que não v ai f uncionar bem , só v ai f uncionar bem se as c oisas f orem planejadas em conjunto, então a gestão é m uito dem ocrática . (Coor denador a Pedagógica 2)

[...] tem os o conselho esc olar que sem pre é conv ocado, né, por ex em plo, quando é par a av aliar o Program a de Descentralização Adm inistrativ a e Financeira (PDAF) que é a v erba que v em do gov erno. A com unidade escolar, né, ness e m om ento se une tam bém às ações do projeto político- pedagógico [...] são as necessidades m ateriais. [...] a escol a depende da ex ecução dessa v erba, da ex ecução e da fiscalização; então a com unidade participa . (Superv isor a Pedagógica)

[...] todas as ações são di scutidas em equipe, né, no grupo d e prof essores. Então nós não tom am os nenhum a atitude por m enor que seja, sem consultar nosso c or po docente, então, e u acredito que nós tem os f eito um trabalho bem dem ocrático . (Superv isora Pedagógica)

O depoimento do vice-diretor evidencia que há uma divisão de tarefas bem definida, no cotidiano da escola:

[...] o diretor da escola, ele cuida m ais da part e adm inistrativ a, então ele tem um a v isão muito grande sobr e assim , sobre todo docum ento que c hega à escola. A part e m ais v oltada assim pra parte pedagógic a, eu tom o m ais ciência. Não que ele esteja ausente, não que ele não tenha conhecim ento, m as então ele assim m e delegou essa parte de projetos, a parte que env olv e alunos, ele m e delegou e eu tam bém tenho que saber um pouco m ais da part e

adm inistrativ a porque querendo ou não, não estando o diretor , quem responde é o v ice- diretor, não estando o v ic e- diretor, o diretor responde pela parte pedagógica tam bém . Então nã o v ou dizer que são duas coisas di stantes, m as é bom f azer isso porque nos aliv ia um pouco m ais entendeu? Então assim eu tenho essa v isão m ais pedagógica, ele tem essa v isão m ais adm inistrativ a e nós cam inham os juntos. [. .. ] E a gente v ai tentando resolv er o que precisa ser resolv ido diariam ente . (Vice-diretor)

3.2.3.1.3 Subcategoria: Valorização/Motivação pessoal

O respaldo da comunidade escolar possibilita a valorização das ações que os gestores desenvolvem. Os depoimentos evidenciam que o trabalho é feito com motivação e que a equipe gestora se sente valorizada por seus pares. No entanto, em seus depoi mentos, referem - se a eventos específicos, no passado remoto, como se as ações ocorressem de vez em quando, sem estarem sistematizadas.

[...] tiv em os v árias iniciativ as positiv as. Entre elas, eu destac o o conselho participativ o. Nos prim eiros anos, né, nós f izem os um esf orço m uito grande de conv ocar pai s e tiv em os um a presenç a m aciça desses pai s na escola. Isso f oi m uito im portante para que os pais interagi ssem com o trabalho, né, participassem m ais diretam ente do trabalho que a direção tem desenv olv ido, que os prof essor es têm desenv olv ido. Então esse conselho participativ o f oi um f ato im portantís sim o. O outro que eu consider o m uito im portante tam bém é a prepar ação da nossa equipe assim em relação à parte do s cursos que f oram of erecidos pelo GDF, os cur sos de f orm ação. Então a m aioria dos nossos prof essor es consegui u agora ter o c ur so da pós- graduação, então nós est am os c om 70% dos pr of essor es com curso de pós-graduação, então e u acho que isso ai é m uito im portante, né, auxilia bastante. O s alunos nos r espeitam por isso, nós tem os aqui três doutores, dois m édicos, então isso ai no c orpo docente, é u m f ato positiv o, né, [...] nós tem os o poder de gerenciar nossa s v erbas, né, e com isso nós conseguim os equipar todas a s salas, né, nós tem os agora telev isão em cada sala, um laboratório de inf orm ática equipado, então isso é m uito positiv o, e contribui bastante para m elhorar o nosso trabalho . (Superv isora Pedagógica)

[...] tiv em os o nosso trabalho reconhecido, né, tanto é que [...] o Globo Educação passou um a sem ana aqui na escola, registrando todo o nosso trabalho, isso f oi assistido assim , em nív el nacional. Eu acho super im portante o r econhecim ento do trabalho da esc ola, né, assim com esses projetos, que a esc ola desenv olv e. O que m ais elev ou, né, a reportagem na

Via Brasília, né, f oi o f ato de [hav er] um a esc ola com tanto s projetos. Não é um a esc ola con teudi sta, c onseguiu aprov ar tantos alunos no v estibular, está bem classif icada no ENEM , então eles qui seram entender com o que a gente consegue conciliar essas duas coi sas, consider ar um a educação lúdica, cidadã, e ao m esm o tem po ser de qualidade . (Superv isor a Pedagógica)

É bastante louvável a constatação de uma equipe coesa, consciente da necessidade de se ater às orientações do PPP, na execução do trabalho pedagógico , como se observa na fala abaixo :

Bem , as f acilidades é que nós t em os um grupo já há bast ant e tem po aqui na escola [...] São pouc os os prof essor es qu e estão há pouc o tem po na escola. Então é um grupo já c oeso, é um grupo que com preende a necessidade do trabalho, que com preende que se dev e seguir m esm o este pr ojeto, que h á necessidade da ex ecuç ão do trabalho dentro do pr ojeto político-pedagógico. (Superv isora Pedagógica)

É evidente que há alguns professores resistentes a algumas ações. Os relatos evidenciam disfunções contornáveis:

As dif iculdades são quanto à ex ecução de al guns pr ojetos que f azem parte do projeto político, por ex emplo, nós tem os o projeto Literatur a em Cena, que f az parte do pr ojeto político- pedagógico, então um a dificuldade que a gente tem , é que essas pessoas que não são da área, eles v eem o projeto assim com o um a perda de t em po, um a perda da aula, então a gente tem que sem pre estar retom ando. [...] nós tem os um projeto por área, que todas as ár eas têm que ser contem pladas e que nós tem os que f azer o possív el para que todo m undo f aça parte desse trabalho, então algum as dif iculdades são na com preensão por parte dos prof essores . (Superv isora Pedagógica)

O professor é autor. E assi m deve se sentir. Ele não é apenas um consumidor do conhecimento. E cabe à escola ter

[...] um a atm osf era de discussão ou de busca que perm ita ao prof essor c onstruir tam bém a sua própria ref lex ão sobre a educaç ão, a sua f orm a de trabalho, pois isso é o que dá um sentido m aior à ativ idade que ele ex erce . (NUNES, 2000, p. 10).

Na escola, onde se retrata o mundo da educação, convivem pessoas envolvidas com o contexto sociocultural que reuniram ao longo

da existência, interagindo entre si e em função das suas semelhanças e diferenças, atentas a acontecimentos, a conflitos de liberdade e decisão e às condições da vida própria e de semelhantes. Também na escola o principal componente é o ser, agrupado em categorias distintas. Há os gestores, os docentes, os agentes, os alunos. Cabe ao gestor dar voz e vez para que cada um exponha suas ideias. Assi m, as pessoas se situam e se sentem val orizadas para produzir e buscar resultados.

Ouvir o outro e dialogar para buscar consensos são ações que evidenciam a prática democrática. Uma vez que a decisão foi tomada, respaldada pela maioria, precisa ser implementada, ocasionando que a ação tome o lugar da palavra. A ess a construção dialógica que define as ações cotidianas, organizadas em documento sistemático, dá -se o nome de PPP. Sua execução, tanto ou mais que sua elaboração, exige a prática da gestão democrática.

3.3 O PPP DA ESCOLA PESQUISADA E SUA RELAÇÃO COM OS