• Nenhum resultado encontrado

Categorias Analíticas: Aportes analíticos para leitura da realidade por meio da leitura do espaço

X Fonte e Org: CRUZ, Claudete R da

3.3 Categorias Analíticas: Aportes analíticos para leitura da realidade por meio da leitura do espaço

Nossa busca é a das categorias analíticas simples que dêem conta da inseparabilidade do "funcional" e do "territorial"(SANTOS, 2006, p.191).

Milton Santos elencou diversos categorias e conceitos para explicar que no espaço geográfico a relação homem e natureza podem ser apreendidas e compreendidas de modo relacional, não há separação do objeto (objetos no espaço geográfico) e ação dos homens, para entender espaço é necessário a relação ação e objeto, sociedade e natureza.

O ato de definir, claramente, o objeto de uma ciência é também o ato de construir-lhe um sistema próprio de identificação das categorias analíticas que reproduzem, no âmbito da idéia, a totalidade dos processos, tal como eles se produzem na realidade.(SANTOS, 1980, p.118)

A escolha das categorias é fundamental, é por intermédio delas que se apresenta a possibilidade de “desmembrar o todo através de um processo de análise, para reconstruí-lo depois através de um processo de síntese”(SANTOS, 1980, p.117). Todavia, Santos alertava para distinção entre categorias da realidade e categorias de análise, pois, de acordo com ele “conservar categorias envelhecidas equivale a erigir um dogma, um conceito. E, sendo histórico, todo conceito se esgota no tempo”(2011,p.15). Ainda ele acrescenta que

os fatos estão todos aí, objetivos e independente de nós. Mas cabe a nós fazer com que se tornem fatos históricos, mediante a identificação das relações que os definem seja pela observação de suas relações de causa e efeito, isto é, sua história, seja pela constatação de ordem segundo a qual eles se organizam para formar um sistema, um novo sistema temporal, ou melhor, um novo momento do modo de produção antigo, um modo de produção novo, ou a transição entre os dois. Sem relações não há “fatos”.(IBID, ID). Reconhecendo que a organização espacial é configurada pela ação dos homens; Através de suas ações a sociedade dispõe os objetos técnicos na superfície terrestre, no intuito de atender funções específicas, e que com passar do tempo vão adquirindo formas particulares, compondo a materialidade social, o espaço precisa ser:

considerado como um conjunto de relações realizadas através de funções e de formas que se apresentam como testemunho de uma história escrita por processos do passado e do presente. Isto é, o espaço se define como um conjunto de formas representativas de relações sociais do passado e do presente e por uma estrutura representada por relações sociais que estão acontecendo diante dos olhos e que se manifestam através de processos e funções. O espaço é, então, um verdadeiro campo de forças cuja aceleração é desigual. Daí porque a evolução espacial não se faz de forma idêntica em todos os lugares. (SANTOS, 1986, p.122)

Para compreender essa dinâmica estabelecida entre espaço e sociedade, Santos concebeu as categorias analíticas, pois são elas que especificam as noções de forma, função, estrutura e processo como elementos fundamentais para a compreensão da produção do espaço.

Santos elencou as categorias analíticas - forma, função, estrutura, processo- como categorias capazes de representar o verdadeiro movimento da totalidade, o que permitirá fragmentá-la para em seguida reconstruí-la. Em outras palavras, as categorias analíticas apropriadas dão a possibilidade de capturar a apreender a marca da sociedade sobre a natureza e as relações existentes antes, durante e depois dessa metamorfose. Estas categorias, no desenvolvimento de Santos são estrutura, processo, função e forma, que definem o espaço em relação à sociedade. Assim,

(...) forma, função, estrutura e processo são quatro termos disjuntivos, mas associados, a empregar segundo um contexto do mundo de todo dia. Tomados individualmente, representam apenas realidades parciais, limitadas, do mundo. Considerando em conjunto, porém, e relacionados entre si, eles constroem uma base teórica e metodológica a partir da qual podemos discutir os fenômenos espaciais em totalidade (SANTOS, 1985, p. 71).

O espaço é a mais representativa das objetivações da sociedade, na medida em que acumulam, no decorrer do tempo, as marcas das práxis. (SANTOS, 2004). Tais afirmações de Santos (2004) referem-se ao valor histórico das práticas humanas na organização sócio-espacial, pois, no decorrer do tempo, o homem imprimiu formas no espaço, resultantes do seu grau de desenvolvimento econômico e tecnológico. Entretanto, essas formas não se dissiparam totalmente, muitas resistem às metamorfoses socioeconômicas, alterando apenas sua função, acompanhando as exigências e as necessidades da sociedade.

De acordo com Santos (1980, p.8)

categorias fundamentais como o homem, a natureza, as relações sociais, estarão sempre presentes como instrumentos de análise, embora a cada período histórico o seu conteúdo mude. É por isso que o passado não pode servir de mestre do presente, e toda tarefa pioneira exige do seu autor um esforço enorme para perder a memória, porque o novo é o ainda não feito ou ainda não codificado. O novo é, de certa forma, o desconhecido e só pode ser conceitualizado com imaginação e não com certezas.

Outro ponto importante das discussões sobre o espaço é a necessidade de levar em consideração o movimento histórico-social de construção do espaço. Neste sentido, o espaço é concebido como um fator e não como causa, pois ele “testemunha a realização da história, sendo ao mesmo tempo, passado, presente e futuro”.(SANTOS, 1997, p.124). A cada modo de produção, os elementos e objetos geográficos, isto é, os sistemas de objetos e ações em interação constituíram funções, estruturas e formas espaciais distintas.

Com isso, a análise dos objetos do espaço levam em conta o movimento da história, pois o valor dos elementos do espaço varia com o tempo, pois a “cada momento histórico cada elemento muda seu papel e a sua posição no sistema temporal e no sistema espacial, e, a cada momento, o valor de cada qual deve ser tomado da sua relação com os demais elementos e com o todo”(SANTOS,1985, p. 9).

As categorias analíticas aqui apontadas são consideradas essenciais no processo de realização da leitura do mundo por meio da leitura do espaço. Considerando, como aponta Perez ( 2001, p.107) que:

ler o mundo é apreender a linguagem do mundo, traduzindo-o e representando-o: a percepção do espaço e sua representação é um processo de múltiplas operações mentais que se desenvolve a partir da compreensão simbólica do mundo e das relações topológicas locais.

O espaço aqui é a síntese dos acontecimentos do mundo, sendo, portanto, essencial seu estudo. Santos explica que “a compreensão da organização espacial, bem como de sua evolução, só se torna possível mediante a acurada interpretação do processo dialético entre formas, estrutura e funções através do tempo” (1996, p.69).

O espaço hoje global é o que nos une concretamente em sociedade. Compreender o espaço geográfico como elemento formativo demanda uma pedagogia que valorize o entorno, o lugar onde o sujeito da aprendizagem está inserido. Implica entender a dinâmica do processo de organização e produção dos arranjos espaciais no território, o que supõe reconhecer o homem, as firmas, as instituições, as infraestruturas, como constituintes dessa organização, uma vez que, esses elementos é que formam os sistemas de objetos e sistemas de ações, que configuram o espaço geográfico.

Outline

Documentos relacionados