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5 PSICOLOGIA DO MEDO

5.3 Categorias do assistir ao horror

Assistir a filmes sozinho ou acompanhado pode fazer diferença na fruição fílmica? Acredito que sim. E assistir acompanhado também possui características específicas que devem ser levadas em consideração, como assistir no cinema rodeado de estranhos, ou com amigos de ambos os gêneros ou do gênero oposto, e assistir em casa também com pessoas conhecidas de ambos os gêneros, de gêneros opostos ou do mesmo que o seu.

Outra forma de categorização do assistir ao horror é o que foi cunhado por Deirdre D. Johnston, em um estudo em 1995, no qual ela observou 220 estudantes de Ensino Médio enquanto assistiam a filmes slashers e chegou à conclusão que as motivações caíam em quatro categorias gerais:

 Gore watching – Caracterizado por cenas com violência brutal e filmes com assassinos seriais com os quais o espectador possui baixa empatia, alta busca por sensações e, nos homens, com frequência ocorre uma forte identificação com o assassino. Essa abordagem reflete a curiosidade pela violência física e vingança. O observador está interessado no modo como as vítimas estão morrendo, ele gosta que tenham o que “merecem” para satisfazer seus desejos de vingança e de ver sangue.

 Thrill watching – Ocorre alta empatia, desejo de aventura e alta busca por sensações motivadas pelo suspense do filme e mais identificação com as vítimas. O espectador está interessado nas emoções de tensão e excitação evocadas por um filme.

 Independent watching – Baixa empatia com a vítima com um alto efeito positivo ao superar o medo sozinho, sem ajuda de ninguém para isso. Estes são espectadores independentes que escolheram um papel particular que o fazem passar pelo teste de sua própria bravura e idade adulta.

 Problem watching – Também ocorre alta empatia com a vítima, mas é caracterizado por um efeito negativo, o resultado, então, é um sentimento de desamparo e de isolamento. O espectador observa o horror porque ele se sente abandonado, irritado e ele tenta evitar os problemas de sua vida mundana. Ele procura entusiasmo no sofrimento dos outros, mas muitas vezes se identifica com a vítima, revelando dessa maneira sua própria impotência.

Com apenas uma pequena amostra de adolescentes num subgênero dos filmes de horror – o slasher – nós podemos perceber que existem muitas razões pelas quais as pessoas assistem ao horror e às vezes essas motivações podem mudar de um dia para outro ou de um filme para outro. A complexidade do nosso cérebro e a variação no gosto pessoal de cada indivíduo não nos permitem chegar a uma explanação simples e universal.

De acordo com essa pesquisa publicada pela Dra. Deirdre Johnston (1995), existem essas quatro principais razões diferentes por que nós (ou pelo menos uma pequena amostra de 220 adolescentes americanos) gostamos de assistir filmes de horror. Essas quatro razões também foram discutidas em relação a várias características disposicionais, como medo, empatia e busca de sensações. A Dra. Johnston relatou que: "As quatro motivações de visualização estão relacionadas às respostas cognitivas e afetivas dos espectadores aos filmes

de horror, bem como à tendência dos espectadores de se identificarem com os assassinos ou vítimas desses filmes".

A título de explicação sobre os subgêneros de horror, os quais cito em muitos momentos desta tese, trago a passagem do autor Filipe Falcão (2016), onde resumidamente afirma que

Os títulos gores são marcados por cenas de mutilação e com muito sangue. Os slashers respondem como um roteiro simples onde um grupo de jovens é perseguido por um assassino geralmente psicopata e mascarado. Os torture porn trazem cenas de tortura dentro de longas sequências ricas em detalhes quase como em filmes pornográficos. (...). É importante destacar como a existência de subgêneros pode ser responsável pela manutenção do gênero como um todo. Ao pegar novamente o terror como exemplo, é possível perceber como trata-se de um gênero que sempre teve representatividade nas salas de cinema, embora com alguns períodos estrelados por filmes com maiores destaques do que outros. Alguns subgêneros são bastante antigos enquanto outros são mais novos. (FALCÃO, 2016, p. 11).

Cunhado por David Edelstein em 2006, o termo “torture porn” descreveu o subgênero de filmes de horror caracterizados pela série “Jogos Mortais” (Saw, Dir. James Wan, 2004) e “O Albergue” (Hostel, Dir. Eli Roth, 2005), e desde então tem sido amplamente adotado (JONES, 2013). Por um lado, os filmes dizem justapor violência com nudez, ou enfatizar a violência sexual, como atos de estupro e castração. Por outro lado, eles alegadamente apresentam violência não sexual em detalhes tão sangrentos e vistos de tão perto, em close-ups, que sua estética é semelhante à pornografia. Dialogando com Falcão (2016), também está implícito que os filmes são consumidos como uma espécie de pornografia fetichista violenta por espectadores que são excitados sexualmente por exibições de tortura. Mas, essas definições não concordam necessariamente. Ao incluir o termo, Edelstein juntou a “tortura” com “porn” como uma metáfora, o que implica que o horror contemporâneo é gratuito até a obscenidade. “O espetáculo da violência – a pornografia da tortura, em outras palavras – excede o que é necessário para transmitir o significado da ação no contexto narrativo. ” (JONES, 2013, p. 188).

Os filmes desses subgêneros do horror, segundo Johnston (1995), embora tenham seu público-alvo formado majoritariamente por adolescentes, recebem uma classificação etária muito alta, exatamente devido à alta carga de violência gráfica exibida. Isso faz com que os adolescentes tenham que baixar os filmes pela internet, ou alugarem por algum site, ou comprarem por pay-per-view, ou até mesmo, entrarem escondido nas salas de cinema que não têm muita vigilância com relação à idade dos frequentadores. Esse esforço que os espectadores adolescentes têm que fazer para poder assistir a um filme torna o gênero ainda mais instigante, exatamente por ser censurado para eles.

Como podemos perceber, existem muitas teorias e hipóteses sobre o que nos leva a essas obras, mas são incapazes (algumas até mesmo contraditórias) de abraçar a produção completa do horror, elas apenas abarcam alguns dos temas ou de seus subgêneros, e se relacionam apenas a uma categoria limitada de espectadores. Todo fã de horror tem suas próprias razões para buscar produções cheias de elementos aterrorizantes e repulsivos. Alguns querem experimentar o que não é permitido na vida real; outros querem momentaneamente fugir da realidade desconfortável de suas vidas; alguns estão testando seu caráter e resistência; outros aumentam sua tolerância ao medo e ao susto para evitar o pânico em situações perigosas da vida real. Muitas vezes, as pessoas nem sequer podem explicar ou descrever o que as leva a buscar histórias de horror, elas só sabem que gostam. No entanto, sempre há uma razão (ou várias), que pode estar escondida nos recônditos mais profundos de nossa alma e mente, que são difíceis de alcançar.