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3. O Ensino por Problemas e a aprendizagem de Química

3.2 Ensino problêmico

3.2.1 Categorias do Ensino Problêmico

O sistema didático do ensino problêmico tem sido classificado por diferentes autores, cujas estruturas apresentam variadas quantidades de categorias. Para Calderón (1996, p. 28) são três: “a situação problêmica, o problema docente, em tarefas e perguntas problêmicas e o problêmico”. Segundo Martinez (2005, p. 1), “mediante cinco categorias fundamentais: a situação problêmica, o problema docente, as tarefas problêmicas, as perguntas problêmicas e o problêmico”.

Adota-se neste trabalho a proposta fundamentada na teoria histórico-cultural, de Majmutov e Martinez, que está situada, segundo Núñez e Silva (2002, p. 1199):

no contexto do enfoque sócio-histórico, os quais desenvolveram a orientação que é conhecida como “ensino por problemas” e se estrutura a partir de quatro categorias teóricas: as situações problemáticas, o problema, as tarefas-problema e o problemático. Os fundamentos filosóficos desse enfoque são encontrados nas categorias, princípios e leis do materialismo dialético e histórico, tomando como centro o caráter ativo da aprendizagem e as contradições dialéticas, como fonte do desenvolvimento.

Uma situação de aprendizagem que propicie um ensino problêmico, pode ser denominada de situação problêmica. É indicada como a primeira das categorias teóricas desse sistema didático. De acordo com Núñez e outros (2004, p. 147):

“Essa situação caracteriza-se pela contradição que se expressa na relação dialética entre o conhecido e o não conhecido, funcionando como fonte do desenvolvimento cognitivo”.

Segundo Mora (2005, p. 25), o ensino problêmico “parte da criação de uma situação problêmica, que deve ser fundamentalmente, de caráter social e relacionada com o perfil profissional”. Como ponto de partida, caracteriza-se como uma etapa extremamente importante, pois deve iniciar o processo de motivação dos alunos. Segundo Núñez e Silva (2002, p. 1200):

A situação-problema deve ter como traços essenciais a validade, dada pelo fato da necessidade que sente o estudante de sair dela; a exeqüibilidade deve estar ajustada ao nível do estudante e provocar interesse; seus aspectos básicos são o conceitual e o motivacional. No aspecto conceitual, deve estar refletida a contradição entre o conhecido e o não conhecido, que funciona como fonte de desenvolvimento da atividade cognoscitiva, enquanto que o aspecto motivacional é dado pelo grau de novidade do desconhecido, que pode orientar a necessidade do estudante, para sair dos limites do conhecimento já assimilado.

A situação problêmica é associada a uma das categorias dialéticas principais, a contradição. Em relação ao aluno, pode ser compreendida como um contexto, “espaço pedagógico, onde ele se enfrenta a uma situação concreta que para ele é inesperada, algo incompreensível, desconhecida e alarmante, incitando-lhe a uma ativação cognitiva que origina a curiosidade”. (BUENO, PACHECO, 2004, p. 84, tradução nossa).

A situação problêmica se define como um estado de tensão intelectual que se produz no aluno ao se confrontar com uma contradição do conteúdo do ensino, que para ele, nesse momento, resulta inexplicável com os conhecimentos que possui acerca do objeto de estudo. O professor cria a situação problêmica ao revelar aos estudantes a contradição. (MARTINEZ, 2005, p. 2).

Esta situação deve despertar a curiosidade diante do desconhecido para motivar o interesse em solucionar o problema e ser efetivamente didática. Deve se apresentar como possível de ser elucidada, para que propicie motivação.

A situação problêmica é um estado psíquico de dificuldade que surge no aluno quando não pode explicar um fato novo na tarefa que está resolvendo por meio dos conhecimentos que têm, ou realizar um ato conhecido através dos procedimentos gerais e deve, portanto, buscar um novo procedimento de atuação. (ibidem, p. 25).

A situação problêmica gera o problema. Este não é somente uma pergunta, apesar de poder ser representado por uma sentença, mais complexa. Diferente de um exercício, que é mais simples, exige solução original. Para Hung e López (2006, p. 19, tradução nossa):

Resolver um problema é solucionar uma contradição que manifesta não só a dificuldade a ser superada, mas reflete e projeta o caminho de solução, e com ele a própria superação dialética do problema. Se o ensino se desenvolve num amplo contexto de contradições, é necessário então processos educativos, desenvolver o pensamento, o conhecimento e a comunicação pedagógica mediante a dinâmica que gera as contradições.

A relação problema/situação-problema é explicada por Núñez e Silva (2002, p. 1201): “A situação-problema encontra sua forma de expressão no problema, subordinado a um objetivo formulado, mas sem solução aparente. Então, definimos o problema como a contradição própria da situação-problema assimilada pelo aluno”. Essa relação pode ser mais bem compreendida no esquema da figura 9.

Figura 9 – Esquema da relação Problema e Situação-problema.

Fonte: (NÚÑEZ, SILVA, 2002, p. 1201).

Um problema pode ser ainda “uma situação que um indivíduo, ou um grupo, quer ou precisa resolver e para a qual não dispõe de um caminho rápido e direto que leve à solução”. (ibid., p. 1202). “Um problema é uma dificuldade, não trivial, que se pretende ultrapassar. [...] uma dada situação pode ser um problema para uma pessoa e não o ser para outra”. (SANTOS, PONTE, 2002, p. 31-33).

Na perspectiva do materialismo histórico-dialético, deve ser compreendido como a manifestação de uma “contradição lógico-psicológica do processo de

Expressa a assimilação da própria contradição para organizar a busca Revela a contradição dialética

Situação-problema Problema docente

assimilação, que determina o sentido da procura intelectual, desperta o interesse para a investigação da essência do desconhecido [...]”. (MORA, 2005, p. 25).

A solução de qualquer problema começa com sua definição, ou ao menos com a tomada de consciência da formulação já feita. A formulação do problema constitui em si a expressão linguística lógica dele, graças à qual se localiza o campo de busca intelectual que ocorre, especificando não só os objetivos mas também as condições em que se levará a cabo a solução e que constituem os componentes do problema. O problema representa a própria contradição já assimilada pelo estudante, o que surge durante a atividade cognoscitiva, como resultado da identificação com o conflito cognitivo. Este só se revela, quando se assimila a contradição de forma consciente e com possibilidades de explicitá-la. Constitui um recurso metodológico para a resolução do conflito; sua solução implica em uma procura organizada e depende da atividade investigativa do aluno. (NUÑEZ, SILVA, 2002, p. 1201).