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Categorização metodológica das entrevistas

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE (páginas 102-111)

7. ANÁLISE DOS DADOS

7.7.3. Categorização metodológica das entrevistas

Conforme o que foi apresentado anteriormente no Capítulo 2 (que aborda as orientações metodológicas da pesquisa), as entrevistas realizadas com os docentes do curso de Administração foram semiestruturadas. As questões que fizeram parte do roteiro de entrevista foram elaboradas a partir do referencial teórico em que se fundamenta a pesquisa, assim como da análise do PPC e dos planos de ensino.

A vantagem, que percebi ao utilizar as entrevistas semiestruturadas, foi a possibilidade de dirigir a conversa, nos momentos que considerei oportunos, para aprofundar ou elucidar questões que não ficaram claras. Também tive a oportunidade de recompor o contexto das entrevistas nas vezes em que o entrevistado acabou fugindo do tema ou tendo dificuldades para abordá-lo.

A pesquisa de campo compreendeu o período de novembro a dezembro de 2016, sendo que as entrevistas foram gravadas para permitir uma análise dos dados obtidos na sua totalidade e foram conduzidas seguindo o roteiro de perguntas pré-estabelecido (Apêndice A). Foram entrevistados dez docentes, pois considerei que já existiam informações suficientes para serem analisadas a partir da conclusão da décima entrevista.

Para preservar a identidade dos entrevistados, cada um deles passou a ser identificado apenas como Docente, acrescido de um número de identificação que respeitou a ordem de realização das entrevistas. Na análise dos metatextos será feita referência a cada um deles desta forma (Docente 1, Docente 2, Docente 3,...).

Para a análise dos dados obtidos através das entrevistas, foi utilizada a Análise Textual Discursiva, proposta por Moraes e Galiazzi (2011), com a finalidade de produzir novas compreensões sobre os fenômenos e discursos. Os autores destacam que as pesquisas qualitativas estão utilizando cada vez mais as análises textuais:

Seja partindo de textos já existentes, seja produzindo o material de análise a partir de entrevistas e observações, a pesquisa qualitativa pretende aprofundar a compreensão dos fenômenos que investiga a partir de uma análise rigorosa e criteriosa desse tipo de informação. Não pretende testar hipóteses para comprová-las ou refutá-comprová-las ao final da pesquisa; a intenção é a compreensão, reconstruir conhecimentos existentes sobre os temas investigados. (MORAES e GALIAZZI, 2011, p. 11)

A escolha da ATD como metodologia de análise foi devido ao contato que tive com a metodologia em questão durante a realização do doutorado. Ao cursar a disciplina de Análise Qualitativa das Informações Discursivas, fui apresentada não somente a uma nova metodologia de análise de dados, a ATD, mas também a uma ferramenta bastante completa para auxiliar nesta análise, o software Atlas/ti, cuja versão gratuita foi utilizada neste trabalho.

O Atlas/ti é fruto de um projeto multidisciplinar da Universidade Técnica de Berlim. A sigla “Atlas” do alemão Aschiv fuer Technik, Lebenswelt und Alltagssprache pode ser traduzida como “arquivo em tecnologia o mundo e a linguagem cotidiana” e a sigla “ti” interpretação de texto. No Atlas/ti quatro princípios são guias do processo de análise: visualização, integração, causalidade e exploração (BANDEIRA-DE-MELLO, 2006, p. 440).

QUADRO 6 – Princípios que norteiam o processo de análise no Atlas/ti

Visualização Gerenciamento da complexidade do processo de análise, mantendo o contato do usuário com os dados.

Integração A base de dados e todos os elementos construídos na análise são integrados em um único projeto, a unidade hermenêutica.

Casualidade Promove a descoberta e os insights casualmente, isto é, sem a busca deliberada por aquilo que foi encontrado.

Exploração Interação entre os diferentes elementos constitutivos do programa promove descoberta e insights.

Fonte: Bandeira-de-Mello (2006)

Para trabalhar com a ATD é necessário que o pesquisador organize, de forma criteriosa, toda a condução do processo. Na análise textual identificam-se e isolam-se enunciados dos materiais a ela submetidos, categorizam-se esses enunciados e elaboram-se textos, em que há descrição e interpretação baseadas no sistema de categorias desenvolvido na análise. A utilização do Atlas/ti mostrou-se uma ferramenta favorável em todo o processo de análise, permitindo a importação dos dados digitados no Word, a associação de elementos a cada categoria, assim como permitiu a vinculação entre as falas dos docentes e as categorias criadas. Também facilitou a visualização e posterior análise de todas as etapas realizadas.

Moraes (2003) trabalha essa abordagem de análise, organizando argumentos em torno de quatro focos, cujas características podem ser observadas no Quadro 7:

QUADRO 7 – Os quatro focos da Análise Discursiva

FOCOS CARACTERÍSTICAS

Desmontagem dos textos Também denominado de processo de unitarização, implica examinar os materiais em seus detalhes, fragmentando-os no sentido de atingir unidades constituintes, enunciados referentes aos fenômenos estudados.

Estabelecimento de relações Processo denominado de categorização, implicando construir relações entre as unidades de base, combinando-as e classificando-as no sentido de compreender como esses elementos unitários podem ser reunidos na formação de conjuntos mais complexos, as categorias. Captando o novo emergente A intensa impregnação nos materiais da análise desencadeada pelos

dois estágios anteriores possibilita a emergência de uma compreensão renovada do todo.

Um processo auto-organizado As três etapas anteriores compõem um ciclo de análise que, ainda que composto de elementos racionalizados e em certa medida planejados, em seu todo constitui um processo auto-organizado do qual emergem novas compreensões.

Fonte: adaptado de Moraes (2003)

Para iniciar o processo de análise textual, é necessária a constituição do corpus de pesquisa, partindo da delimitação de produções textuais, as quais são consideradas produções linguísticas referentes a um determinado fenômeno e tempo. No caso pesquisado, o corpus é constituído pelas transcrições das entrevistas dos docentes do curso de Administração da FURG. Todas as entrevistas foram gravadas com a prévia autorização dos docentes, sendo posteriormente transcritas com o auxílio do aplicativo Word. Durante a etapa de transcrição iniciei o processo de mergulho no corpus da análise, uma etapa muito importante da ATD, segundo Moraes e Galiazzi (2011). Ao escutar novamente a fala de cada professor e digitar tudo o que estava sendo dito, tive a oportunidade de mergulhar profundamente no material a ser analisado, antes mesmo de iniciar o processo de unitarização.

Em seguida acontece a desmontagem do corpus de pesquisa através da fragmentação dos textos em unidades, ocorrendo, assim, a desconstrução provocadora do caos e da desordem. A unitarização de um conjunto de textos é a identificação e a separação dos enunciados que compõem tais textos. A definição da unidade de análise, que pode ser palavra, frase, parágrafo ou mesmo fragmentos de textos maiores, irá depender dos objetivos da pesquisa, do problema formulado, das questões de pesquisa e do próprio objeto de investigação.

Assim, da desconstrução surgem as unidades de análise/significado/sentido, mas é importante que se saiba de onde saíram tais unidades e, para isto, são utilizados códigos que sinalizam para o pesquisador a origem de cada uma (número, letra, cor). Após a transcrição, todas as entrevistas foram importadas no Atlas/ti, constituindo assim o corpus das narrativas dos

docentes entrevistados. Todas as dez entrevistas foram codificadas de forma alfanumérica, permitindo que fosse possível relacionar as unidades e categorias construídas posteriormente.

Para cada fala dos entrevistados (resposta dada pelos docentes às perguntas que faziam parte do roteiro de entrevista), foram construídas uma ou mais unidades de sentido, as quais receberam uma codificação que permitisse o acompanhamento sequencial dos demais códigos a serem atribuídos (ex: DOC0709B, que representa a segunda unidade de sentido, B, extraída da pergunta de número 9 do roteiro cuja fala foi elaborada pelo sétimo docente a ser entrevistado, DOC07).

O tamanho da unidade de sentido não importa; o que importa é o significado da mesma. Tal unitarização possui três momentos distintos: fragmentação dos textos e codificação de cada unidade; reescrita de cada unidade para assumir significado completo; e atribuição de um nome para cada unidade produzida.

Segundo Moraes e Galiazzi (2011, p. 71), a unitarização “constitui um exercício de leitura intensa e rigorosa, capaz de fazer emergir múltiplos significados a partir de uma reunião de textos, um exercício de desordenação na procura de uma nova ordem”. Neste exercício foram elaboradas 142 unidades de sentidos.

Não existiu uma preocupação com o número de unidades resultantes do processo de unitarização e sim com o processo de decomposição do corpus de análise, de forma que o mesmo pudesse expressar de forma significativa toda a diversidade do pensamento produzido pelos entrevistados referente às questões propostas no estudo.

A segunda etapa do ciclo destacado por Moraes (2003) compreende o estabelecimento de relações entre as unidades produzidas na primeira etapa, da qual emergem categorias relacionadas com o objeto de pesquisa. A categorização é um processo de comparação constante entre as unidades, levando a agrupamentos de elementos semelhantes. É um processo de classificação das unidades de análise produzidas a partir do corpus, sendo com base nelas que se constrói a estrutura de compreensão e de explicação dos fenômenos investigados.

As categorias possibilitam focalizar o todo por meio das partes, exercitando a dialética entre o todo e a parte. Elas podem ser produzidas por diferentes metodologias: dedutiva (do geral para o particular, em que há construção de categorias a priori); indutiva (do particular para o geral, em que origina categorias emergentes); mista (combinação das duas anteriores); intuitiva (por meio de inspirações repentinas; dá origem a categorias emergentes também). No trabalho de pesquisa foi usada a metodologia indutiva.

Para Moraes e Galiazzi (2011), a escolha por realizar a análise na vertente mais subjetiva e indutiva objetiva buscar resultados mais criativos e originais ao fenômeno de pesquisa, conforme explicam a seguir:

O método indutivo implica produzir as categorias a partir das unidades de análise construídas desde o “corpus”. Por um processo de comparar e contrastar constante entre as unidades de análise, o pesquisador vai organizando conjuntos de elementos semelhantes, geralmente com base em seu conhecimento tácito. Este é um processo indutivo de caminhar do particular ao geral, resultando no que se denomina de categorias emergentes. (MORAES e GALIAZZI, 2011, p. 11)

Isto posto, são apresentadas, no Quadro 8, as categorias inicias, construídas a partir da significação do corpus fragmentado em unidades de sentido.

QUADRO 8 – Título das categorias iniciais

CÓDIGO TÍTULO DAS CATEGORIAS INICIAIS

A Reconhecimento das organizações como campo de atuação dos administradores B Questões que precisam ser abordadas/enfatizadas no curso de Administração/Furg C Educação integral: pensar no ser humano, no meio ambiente e na sociedade D Importância das políticas públicas ambientais

E Necessidade de romper com a visão economicista/calculista F Insustentabilidade do padrão de vida atual: finitude dos recursos G Inclusão de tópicos relacionados à EA em todas as disciplinas do curso

H Educação Ambiental x Sustentabilidade

I Abordagem superficial da EA nos cursos de Administração

J Desenvolvimento de uma consciência ambiental

L Necessidade de criar uma disciplina específica ligada à EA

M Capacitação dos docentes para trabalhar com EA

N Dificuldade dos docentes em trabalharem de forma transdisciplinar O Conteúdos trabalhados nas disciplinas e considerados próximos à EA P Educação Ambiental como instrução para a preservação ambiental

Q Educação Ambiental é o mesmo que Gestão Ambiental?

R Impacto das decisões administrativas no ambiente

S Preocupação com as multas por infração à legislação ambiental

T Responsabilidade social e Normas ISSO

U Barreiras para trabalhar com a EA no curso de Administração: tempo e interesse V Reflexões sobre o papel do administrador no estímulo do consumo e na degradação

ambiental

X Discurso organizacional x práticas ambientais Fonte: elaborada pela autora (2017)

As categorias iniciais foram elaboradas partindo da releitura das 142 unidades de sentido retroalimentadas pelos fragmentos do corpus. O primeiro passo desta etapa de categorização foi a definição de títulos que expressassem de forma gradativa as compreensões atingidas até este

momento, onde foram elaborados 22 títulos codificados alfabeticamente. O segundo passo desta etapa foi a aproximação de categorias criadas a priori, buscando agrupar as categorias iniciais que tivessem alguma relação de acordo com o entender da pesquisadora. O resultado deste processo de aproximação das categorias iniciais pode ser observado no Quadro 9.

QUADRO 9 – Aproximação das categorias iniciais

CATEGORIAS INICIAIS CITAÇÕES12

A . Reconhecimento das organizações como campo de atuação dos administradores B. Questões que precisam ser abordadas/enfatizadas no curso de Administração/Furg D. Importância das políticas públicas ambientais

G. Inclusão de tópicos relacionados à EA em todas as disciplinas do curso I. Abordagem superficial da EA nos cursos de Administração

L. Necessidade de criar uma disciplina específica ligada à EA M. Capacitação dos docentes para trabalhar com EA

N. Dificuldade dos docentes em trabalharem de forma transdisciplinar

U. Barreiras para trabalhar com a EA no curso de Administração: tempo e interesse

4 2 2 12 7 9 8 9 4 C. Educação integral: pensar no ser humano, no meio ambiente e na sociedade

J. Desenvolvimento de uma consciência ambiental

P. Educação Ambiental como instrução para a preservação ambiental

8 8 5 E. Necessidade de romper com a visão economicista/calculista

F. Insustentabilidade do padrão de vida atual: finitude dos recursos R. Impacto das decisões administrativas no ambiente

S. Preocupação com as multas por infração à legislação ambiental

V. Reflexões sobre o papel do administrador no estímulo do consumo e na degradação ambiental

X. Discurso organizacional x práticas ambientais

9 6 4 2 17 9 H. Educação Ambiental x Sustentabilidade

O. Conteúdos trabalhados nas disciplinas e considerados próximos à EA Q. Educação Ambiental é o mesmo que Gestão Ambiental?

T. Responsabilidade social e Normas ISO

8 15 13 2 Fonte: elaborada pela autora (2017)

Durante este processo de aproximação das categorias iniciais, algumas unidades de sentido receberam mais de um vínculo com os títulos, devido ao contexto das informações narrativas apresentado no fragmento do corpus. Considerando este fato, algumas unidades de sentido que apresentavam mais de um vínculo precisaram ser desdobradas, sendo consideradas como outra unidade de sentido, passando-se então de um total de 142 para 163 unidades de sentido, devidamente classificadas por título.

Moraes (2003) destaca essa possibilidade de uma mesma unidade ser lida de diferentes perspectivas, resultando em múltiplos sentidos, dependendo justamente da perspectiva em que a mesma seja examinada.

12 A expressão “citações” foi utilizada como uma referência à terminologia utilizada no programa Atlas/ti (citas) e

significa o número de referências feitas a cada um dos códigos criados durante a análise das entrevistas realizadas (que totalizou 163 citações).

O autor esclarece porque aceita que uma mesma unidade possa ser classificada em mais de uma categoria, ainda que com sentidos diferentes: “isso representa um movimento positivo no sentido de superação da fragmentação, em direção a descrições e compreensões mais holísticas e globalizadas” (MORAES, 2003, p. 199).

Durante o movimento de construção das categorias finais, procurei colocar, em uma mesma categoria, fragmentos das narrativas que foram construídas com significativa proximidade entre si, no sentido de abordarem um mesmo aspecto da realidade a ser analisada, embora possam apresentar contradições implícitas quanto ao modo de descreverem esse aspecto.

Seguindo o mesmo caminho trilhado anteriormente para aproximar as categorias entre si, a realização de um movimento indutivo de análise dos elementos unitários para aspectos mais abstratos e gerais, foram elaboradas as categorias finais, apresentadas a seguir no Quadro 10.

QUADRO 10 – Título das categorias finais

TÍTULO DAS CATEGORIAS FINAIS

Educação Ambiental no curso de Administração: fragilidades e desafios a serem enfrentados.

Visões da Educação Ambiental: diferentes interpretações elaboradas pelos docentes do curso de administração.

Reflexões sobre a formação do administrador e o seu papel no estímulo do consumo e na degradação ambiental.

Gestão Ambiental, Sustentabilidade e Responsabilidade Social: discursos sobre as questões ambientais baseados numa visão economicista.

Fonte: elaborada pela autora (2017)

A terceira etapa do ciclo descrito por Moraes (2003) é aquela em que se capta o novo emergente através de um metatexto. O metatexto é o produto da análise após a caracterização dos enunciados e a categorização dos elementos unitários. Nele organizam-se e apresentam-se as principais descrições e interpretações, a fim de expressar uma nova compreensão do fenômeno investigado. Logo, no encaminhamento do metatexto, a sua organização ocorre em dois momentos consecutivos: o da descrição e o da interpretação.

As categorias apresentadas no Quadro 10 constituem os elementos de organização do metatexto, que conterá as novas compreensões possibilitadas pela análise. Moraes e Galiazzi (2011) observam que:

As categorias, na análise textual, podem ser produzidas por intermédio de diferentes metodologias. Cada método apresenta produtos que se caracterizam por diferentes propriedades. Por outro lado, cada método também traz já implícitos os pressupostos que fundamentam a respectiva análise. (MORAES e GALIAZZI, 2011, p. 11).

A produção de argumentos em torno das categorias implica assumir um olhar fenomenológico em relação aos objetos investigados, deixando que os fenômenos se manifestem, sem impor direcionamentos. Este olhar valoriza a desordem e o caos como momento necessário para a compreensão, o que só pode ser atingido por meio de movimentos hermenêuticos em espiral, possibilitando, em cada retomada do fenômeno, uma compreensão mais aprofundada.

No primeiro momento, são apresentados diferentes tipos de elementos que emergem dos textos analisados e representados nas diversas categorias construídas. Descrever é apresentar as categorias e subcategorias, fundamentando e validando essas descrições a partir das interlocuções empíricas retiradas do texto. Já é uma interpretação que está muito próxima da realidade examinada, correspondendo a uma leitura com base em conhecimentos tácitos (conhecimento da experiência) e implícitos (estruturas ocultas de conhecimentos socialmente compartilhados) do pesquisador ou dos sujeitos pesquisados, sem teorizá-los.

No segundo momento, exige-se uma leitura teórica mais aprofundada. Estabelecem-se pontes entre as descrições e as teorias que servem de base para a pesquisa. Portanto, interpretar é teorizar sobre o objeto de pesquisa. É tentar explicá-lo produzindo razões e argumentos de maneira ordenada, mostrando as novas compreensões atingidas dentro da pesquisa.

Existem dois tipos de interpretação: a priori, em que a interpretação se dá a partir de um conjunto de pressupostos teóricos assumidos de antemão. Neste caso, a interpretação implica construir pontes entre os resultados analíticos da descrição e os referenciais teóricos assumidos a

priori. No outro caso, emergente, a interpretação ocorre a partir das teorias que fluem da própria

análise; e o pesquisador faz suas interpretações a partir das teorias que o próprio processo de análise lhe possibilita construir, do qual se vale a investigação.

A validade das categorias está relacionada à interlocução empírica e teórica que garanta a sustentabilidade do argumento, ou seja, os nós da rede se fortalecem a partir do suporte teórico usado na pesquisa, fazendo produzir a sua validade.

Uma teoria não é o conhecimento, ela permite o conhecimento. Uma teoria não é uma chegada, é a possibilidade de uma partida. Uma teoria não é uma solução, é a possibilidade de tratar um problema. Uma teoria só cumpre seu papel cognitivo, só adquire vida, com o pleno emprego da atividade mental do sujeito (MORIN et al., 2003, p. 24).

A validade de um metatexto poderá ser construída a partir da inserção de falas e citações de fragmentos dos textos analisados durante o momento descritivo da análise, o que se denomina interlocução empírica. Já na parte interpretativa, cabem as interlocuções teóricas, que são os diálogos com teóricos que tratam dos mesmos temas e fenômenos.

Conforme observado por Moraes (2003), na última etapa do ciclo surge um processo auto-organizado, pois os resultados finais criativos e originais não podem ser previstos. Tal processo necessita de uma impregnação aprofundada do pesquisador a fim de provocar a emergência das compreensões.

Nos capítulos a seguir serão apresentadas as discussões das categorias emergentes, construídas com base no movimento de análise, permitindo a integração das vozes dos docentes entrevistados na pesquisa com as teorias que envolvem cada categoria, no sentido de comunicar as novas compreensões elaboradas a partir da realidade pesquisada.

8. EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO: FRAGILIDADES E

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