• Nenhum resultado encontrado

2. BENS CULTURAIS E PRESERVAÇÃO

2.2 CAUSAS DE DEGRADAÇÃO DOS BENS CULTURAIS

Considera-se que todo bem cultural, de material, é constituído por matéria e por forma, podendo sua composição ser de origem orgânica ou inorgânica, e que a escolha da técnica e do material empregado, muitas vezes, está associada aos aspectos cronológico e geográfico. Na sua execução, geralmente são utilizados materiais distintos, entre eles madeira, metal, adesivo, pigmento e tecido e que, conforme as condições existentes, talvez ocorram alterações no estado de conservação da obra.

Sabe-se que a degradação dos objetos pode ter origens físicas, químicas ou biológicas. Pode também estar associada às condições ambientais existentes ou à ação humana, de modo que para sua preservação são necessários estudos acurados sobre a natureza do material e as causas da degradação. Assim, por meio dos resultados obtidos nas inspeções e nas análises

laboratoriais é possível identificar a natureza do material e diagnosticar o estado de conservação do bem e, posteriormente, propor medidas que auxiliem a sua preservação.

A madeira, por se tratar de matéria orgânica, heterogénea, anisotrópica e higroscópica, acaba sofrendo alterações em sua conformação, sendo que os problemas patológicos gerados ao suporte podem além da integridade física, também a estética da obra. Dentre estes fatores constatam-se: alterações como produto da ação de microrganismos e insetos xilófagos

ou ocasionados por mudanças da madeira que, se em condições de elevada

umidade relativa do ar, a água existente no meio, até atingir um equilíbrio, provocando, assim, inchamento ou retração. Tais variações podem gerar deformações, trincas e fendas no suporte (Ilustração 4), sendo muitas vezes extensivas à policromia, com o surgimento de craquelês (Ilustração 5), que consistem em pequenas fissuras nesta camada e que podem ocasionar a perda parcial desta.

Ilustração 4 - Fendas no suporte. Foto da autora. 2004.

Ilustração 5 - Craquelê e desprendimento de policromia. Foto da autora. 2004.

que o comportamento dimensional da madeira está associado às condições ambientais, referentes à umidade relativa do ar e à temperatura do ambiente e que sua atuação pode ser distinta conforme a espécie de madeira. Martins et (2003) referindo-se ao Teor de Umidade de Equilíbrio (TUE), cujo valor depende da temperatura e da umidade relativa do ar na região, mencionam que a madeira pode ser considerada seca quando o seu teor de umidade for igual ou ligeiramente inferior ao teor de umidade de equilíbrio médio da região onde esta se encontra, favorecendo, assim, a atenuação das variações dimensionais associadas às trocas

concluíram que a região litorânea brasileira apresenta áreas com TUE entre 16% e 18%. Para a região de Florianópolis o valor é de 16%.

A umidade, além de influenciar na estabilidade dimensional da madeira, tem ação sobre a sua resistência e durabilidade, sendo que o agravamento das condições existentes pode facilitar a

biodeterioração. Restrepo (1998), referindo-se a indica que o termo foi

definido pela primeira vez por H. J. Hueck (1965) como certas mudanças indesejáveis nas propriedades do material, causadas pela atividade vital de alguns microrganismos. O termo biodegradação diz respeito ao processo de destruição de um material por organismos vivos ou por produto de seu metabolismo, e está associado ao mecanismo de desaparecimento do património material (GOREM, 2000).

O apodrecimento da madeira ocasionado por fungos ocorre em condições onde o teor de umidade do material é aproximadamente 30% e a temperatura ambiente entre a faixa de 25°C

a 30°C (MARTINS et 2003; MARAGNO, 2004). Ressalta-se que a deterioração

microbiológica pode ocorrer para teores acima dos 20%

SALVADORI, MARAGNO, 2004) e que conforme mencionado por Terezo, e

Teles (2003), embora uma umidade de 16% não se constitua numa condição favorável para o desenvolvimento de fungos, há um risco maior de deterioração da madeira, uma vez que o potencial de ataque por fungos é acentuado quando se têm temperatura e teores de umidade elevados.

Acrescenta-se que os efeitos gerados pelo processo de deterioração e abiótica vão desde a produção de toxinas, pigmentação afetando as características estéticas do objeto; alteração das propriedades químicas, com a decomposição do material e/ou físicas,

acarretando em sua desintegração e, na perda de resistência mecânica.

Estes processos podem ocorrer simultaneamente e dependem dos agentes de biodeterioração, do tipo de substrato e das condições ambientais existentes (CANEVA; NUGARI;

SALVADORI, 1991; 1998).

A deterioração biótica é associada à ação dos fungos, bactérias, insetos, roedores, aves, etc. As ações abióticas na madeira estão associadas aos fatores de crescimento, como fibra torcida, nó, fendas; agentes climáticos, fogo e ações mecânicas.

Também contribuem para a proliferação dos agentes de as falhas na elaboração de projeto ou de execução de obra. Cita-se como exemplo, peças estruturais, em madeira, apoiadas diretamente à alvenaria e sem qualquer proteção, deixando na peça um ponto de fragilidade. Associados a este fato, a ventilação ineficiente do ambiente e o acúmulo de pó que também facilitam no processo de degradação.

A degradação do bem cultural pode, ainda, estar associada aos poluentes atmosféricos; à iluminação que pode deixar os materiais frágeis e provocar alteração de sua cor

1998; GOREN, 2000); à falta de manutenção; ao desgaste ocasionado pelo uso e/ou às intervenções inadequadas. Para Feilden (1994), a negligência e a ignorância são possivelmente as maiores causas de destruição patrimonial provocadas pelo homem, além do vandalismo e dos incêndios.

Ressalta-se que o bom desempenho das coberturas favorece a conservação do edifício, de seus bens integrados e dos demais bens móveis existentes no interior da edificação. Para tal são necessários sistemáticos serviços de manutenção, ou seja, garantir o perfeito funcionamento da coleta e destinação das águas pluviais e da substituição de telhas comprometidas.

Considera-se que todo local é relevante e interfere no estado de conservação do objeto e que ações estratégicas devem ser desenvolvidas para se amenizar o seu declínio, das quais destacam-se os monitoramentos das condições ambientais existentes, entre estas, temperatura e umidade, por meio de equipamentos específicos para poder conhecer e compreender as oscilações no ambiente. Para tal deve-se contar com a colaboração de especialistas na área para a compreensão dos problemas existentes e proposição de soluções.