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O processo de universalização do acesso às escolas entre as crianças de 7 a 14 anos no Brasil segue uma trajetória que já dura décadas, subindo de 97,1% para 98,5% entre 2004 e 2011. Esse avanço também é encontrado entre os alunos de 15 a 17 anos, passando de 81,8% em 2004 para 83,7% em 2011, mas com um retrocesso de 1,5 ponto percentual a partir de 2009, quando a referida trajetória atingia 85,2%.

Marcelo Neri

Presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Luis Felipe Batista de Oliveira

Pesquisador da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA). Possui graduação e mestrado em Economia pela Universidade de Brasília. Realiza estudos sobre Educação, políticas públicas, desigualdade e pobreza.

1. A taxa de atendimento, assim como os demais números apresentados neste texto, leva em consideração a idade dos jovens em anos completos em 30 de setembro, data de refe- rência da Pnad. o todos Pela educação considera, no cálculo da meta 1, a idade em anos completos em 30 de junho. esta diferença metodológica justifica eventuais diferenças en- tre as taxas de atendimentos apresentadas no texto e as divulgadas pelo tPe.

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Note-se que, concomitante à queda na frequência bruta2

entre os maiores de 15 anos, é cada vez maior o número de estudantes na etapa correta de ensino, cuja proporção subiu de 50,9% para 51,6% entre 2009 e 2011. Entre os adolescentes de 15 a 17 anos, o percentual de alunos que ainda frequenta- va o Ensino Fundamental era de 34,6% em 2004, tendo sido reduzido para 31,9% em 2009, e para 29,4% em 2011.

Tal melhoria no fluxo é percebida, com nitidez, nos indicadores de distorção idade-série, sobretudo no Ensino Médio. Como esperado, essa etapa tem uma distorção mais alta, por incluir alunos que estão no sistema educacional há mais tempo. A média de anos fora da idade correta para o ano cursado se reduziu de 2,84 anos em 2004 para 2,21 anos em 2009, caindo para 1,96 ano em 2011. Assim, houve gran- de redução no percentual de distorção no Ensino Médio, passando de 42,1% em 2004 para 32,9% em 2009, e 29,8% em 2011. Destaca-se, em particular, a queda entre 2009 e 2011.

Esses dados comprovam que o Ensino Fundamental pos- sui um efeito de seleção para a etapa seguinte. Isso se dá de tal forma que – dada a pouca evolução dos indicadores de dis- torção no Ensino Fundamental –, diante de um Ensino Mé- dio com currículo extenso e sem aparente aplicação prática, as sucessivas quedas nos prêmios salariais para trabalha- dores mais qualificados, e o mercado de trabalho aquecido, sobram menos estímulos para cursar a etapa seguinte, ou existem incentivos para adiar os estudos.

Assim, as melhorias recentes do Ensino Médio acabam sendo auferidas pelos que ainda permanecem interessados: os jovens de 15 a 17, na idade correta e com retornos claros, no horizonte da vida, quanto aos ganhos propiciados pela continuação do investimento na ampliação de suas dotações de capital humano. Esse público representa pouco mais da metade da população nessa faixa etária – e vem crescendo. Por outro lado, ainda representa muito menos do que seria socialmente desejável.

Diante do que se viu até o momento, a queda de 1,5 ponto percentual na frequência escolar bruta entre alunos de 15 a 17 anos pode ser explicada tanto por melhorias no fluxo quanto por outros fatores sempre levantados, como mercado de tra-

2. taxa de frequência escolar bruta é a proporção de pessoas de uma determinada faixa etária que frequenta a escola em relação ao total de pessoas da mesma faixa etária. taxa de frequência escolar líquida é a proporção de pessoas de uma determinada faixa etária matriculadas na série adequada, em relação ao total de pessoas da mesma faixa etária.

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balho. O percentual de jovens com Ensino Médio completo cresceu entre os alunos adiantados, de 15 e 17 anos. Este úl- timo público atualmente representa cerca de 3,6% dos indi- víduos dessa faixa, sendo 2,5% não estudantes. Por simples- mente estarem adiantados, acabam sendo responsáveis por uma parte da diminuição da frequência bruta entre os jovens nessa faixa etária. Isso porque, se descontados aqueles que já possuem o diploma de Ensino Médio completo, a taxa de frequência bruta diminuiria 0,5 ponto percentual entre 2009 e 2011. Isso é três vezes menor do que a redução do indicador que incorpora os que já concluíram o Ensino Médio.

Em suma, entre os jovens estudantes de 15 a 17 anos ain- da permanece um processo de troca e melhoria no tipo de curso frequentado. Como desejado, há uma diminuição de 2,5 pontos percentuais daqueles que estão no Ensino Funda- mental, um acréscimo de quase 2,0 pontos percentuais dos que cursam o Ensino Médio, e até mesmo uma elevação da- queles matriculados em algum curso superior. Todos esses fatores corroboram a melhoria do fluxo comentada3.

Por isso, decompor a queda da taxa de frequência bruta em seus possíveis determinantes é essencial. Essa frequên- cia entre os jovens de 15 a 17 anos caiu 1,46 ponto percentual. Porém, 1,19 ponto percentual pode ser atribuído à pura me- lhoria de fluxo – ou seja, por jovens de 15 a 17 anos que com- pletaram o Ensino Médio e aguardam o próximo passo. Isso explica mais de 80% da queda de frequência bruta. A menor parte é explicada por aqueles que desistiram de completar os estudos, responsáveis por 0,27 ponto percentual – ou apenas 18,5% da queda da frequência nessa idade.

A maior parte dos alunos de 15 a 17 anos não completou o Ensino Médio. Entretanto, as recentes melhorias de fluxo já apresentadas engrossaram as estatísticas de alunos adian- tados. Tal grupo, embora cada vez maior, representa apenas 3,6% dos jovens nessa faixa etária. Mesmo assim, esse per- centual é capaz de explicar a maior parte da recente queda da frequência bruta nessa faixa etária.

3. ampliando essa observação para as questões que envolvem o mercado de trabalho e a possibilidade de se ausentar da escola, as boas notícias são várias. aumentou o percentu- al de adolescentes de 15 a 17 anos que se dedicam exclusivamente aos estudos, passando de 57,3% para 60,4%. Concomitantemente, houve redução dos que estudam e procuram emprego, dos que estudam e trabalham, dos que apenas trabalham. Já entre aqueles que não trabalham nem estudam, houve um aumento de 1,6 ponto percentual entre aqueles que, além disso, sequer procuram emprego.

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