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Mapa 2 – Municípios de Manaus e de Tefé (Estado do Amazonas)

3.5 SEGURANÇA NO TRABALHO DE MOTO-TÁXI

3.5.1 Causas Prováveis de Acidentes de Trânsito

Na opinião de Vasconcellos (2000), dois fatores, além de “psicológico-individuais” de comportamento, relacionados às estruturas específicas dos países em desenvolvimento

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Os acidentes de trânsito provocam impactos negativos (perdas individuais, sociais e econômicas elevadíssimas), constituindo alto preço para a sociedade. Os acidentes de trânsito, por ano, no conjunto das cidades com mais de 60 mil habitantes do estado do Amazonas custam o valor de R$ 40 milhões. No estado do Pará, os custos totais anuais somam R$ 60 milhões. No Capítulo IV deste estudo (A precariedade do trabalho de moto-táxi) são descritos alguns impactos negativos relacionados aos acidentes de trânsito no Brasil, por tema, problema, indicações para políticas públicas e as entidades/órgãos envolvidos. No Capítulo V (Subindo na moto para trabalhar) falamos sobre os acidentes de trânsito, bem como descrevemos alguns dos indicadores desse fenômeno envolvendo moto-taxistas, nas cidades de Castanhal e Tefé.

contribuem para os acidentes de trânsito. Primeiro, a organização do ambiente construído113 intrinsecamente perigoso, adaptado para o automóvel. Segundo, a concentração do poder de decisão, devido a disparidade econômica e social que influenciam a desigual representação de grupos e classes sociais.

O termo “causa” implica uma contingência de eventos. Todo acidente de trânsito tem uma causa material ou psíquica. No simples “dirigir um veículo” há uma enorme quantidade de fatores no veículo, no ambiente e no próprio indivíduo a serem considerados. É praticamente impossível dizer quantos fatores estão funcionando e integrando quando se está guiando um veículo. Como resultado do mau funcionamento de um ou alguns desses fatores os acidentes acontecem. O acidente pode ser considerado como uma disfunção do sistema homem-via-veículo que, em circunstâncias normais, funciona muito bem. Porém, uma vez que o sistema consiste em uma enorme quantidade de fatores114, é possível que um fator o desvie tanto do normal que o sistema já não consiga mais adaptá-lo ou colocar outros mecanismos e fatores em seu lugar. Uma das abordagens que está ganhando mais adesão no campo da pesquisa de acidentes é que a causa do acidente é multifatorial (ROZESTRATEN, 1988).

Uma equipe de estudo da Universidade de Indiana chegou à conclusão de que se devia fazer uma distinção entre causas humanas diretas e causas humanas indiretas. As causas humanas diretas são comportamentos que precedem imediatamente ao acidente e que são diretamente responsáveis por ele (como falta de vigilância visual, falta de atenção, velocidade excessiva, ação evasiva inadequada, suposição falsa, distração interna, manobra inadequada, técnica inadequada de dirigir, técnica inadequada de dirigir defensivamente, supercompensação, etc.). As causas humanas indiretas são condições e estados (como fadiga, sono e embriaguez) que deterioram o nível dos diversos processos básicos. As causas indiretas são definidas por Treat et al. (1977 apud ROZESTRATEN, 1988, p. 103) como as condições e estados do motorista “que afetam negativamente a habilidade do motorista em realizar as funções do processamento da informação que são necessárias para um desempenho

113 Segundo recomendações da OMS, todas as ações de prevenção de lesões por acidente de trânsito devem levar

em consideração, segundo recomendação da OMS, os cinco fatores de risco: o álcool, o não uso do capacete, o não uso do cinto de segurança, a velocidade e a infra-estrutura. A infra-estrutura era algo que muitos não consideravam como fator de risco (OTAVIO, 2006).

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O sistema de trânsito funciona através da interação entre três fatores: a via, o veículo e o homem. O comportamento humano é o principal responsável pelos acidentes. Duas pesquisas, uma realizada na Inglaterra, entre 1970 e 1974, pelo Grupo de Investigações de Acidentes do Transport Road Research Laboratory do Departament of The Environment, em Londres, e outra na Universidade de Indiana, para o Departament of Transportation dos Estados Unidos, entre 1972 a 1977, mostraram que o fator humano entrou direta ou indiretamente, sozinho, em 50% e 57%, respectivamente (ROZESTRATEN, 1988).

seguro da tarefa de dirigir”. Essas condições e estados surgem de três fontes principais: as condições e os estados físico–fisiológicos; os estados mentais e emocionais; as condições de experiência e familiaridade (TREAT et al. apud ROZESTRATEN, 1988).

Deve-se lembrar que existe uma íntima relação entre causas indiretas e diretas dos acidentes. Assim, um motorista alcoolizado tem maior probabilidade de ficar distraído, de não ver direto, de andar com maior velocidade e de supercompensar em caso de algum incidente, o que facilmente pode provocar um acidente.

Pode-se ainda acrescentar alguns outros fatores relacionados à realidade brasileira. Segundo Rozestraten (1988): a ausência ou a precariedade da educação para o trânsito na escola; a precariedade da formação do motorista na maioria das auto-escolas; exames teóricos e práticos fracos para obtenção da CNH; CNH compradas ou obtidas por influencia política; insuficiência dos exames médico-psicológicos; analfabetos e semi-analfabetos na estrada, além de muitos alfabetizados que não conhecem as normas nem a sinalização; a impunidade dos delitos de trânsito, considerando-se que todo delito neste campo é apenas culposo.

Na pesquisa de campo realizada nas cidades de Castanhal e Tefé, os moto-taxistas foram indagados sobre as principais causas de acidente no trânsito (Gráfico 5).

55% 32% 13% 42% 19% 39% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% % Municípios

Falta de atenção Embriaguês Alcoólica Outras causas

Falta de atenção 55% 42%

Embriaguês Alcoólica 32% 19%

Outras causas 13% 39%

Castanhal T efé

Gráfico 5 – Causas dos Acidentes de Trânsito na Percepção dos Moto-Taxistas dos Municípios de Castanhal e Tefé (2005/2006)

Observa-se que, na percepção de 55% dos indivíduos de Castanhal a principal causa de acidente estava relacionada a falta de atenção. Trinta e dois por cento admitiram que a

embriaguez alcoólica foi o principal causador de acidentes. As demais causas prováveis como avanço de sinal, dirigir na contra mão e desrespeitar a preferência representaram apenas 4%.

Em 48% dos casos não foi possível identificar a causa provável do acidente.

Em Tefé, a principal causa de acidentes, na percepção de 42% dos indivíduos, é a falta

de atenção. Dezenove por cento disseram que a embriaguez alcoólica estava por trás do

sinistro. Doze por cento informaram excesso de velocidade. As demais causas prováveis representaram 27%. Em 60% dos casos não foi possível identificar a causa provável do acidente.