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A GENEALOGIA E HERÁLDICA DE ANTÓNIO JOSÉ DE SÃO PAYO

O CURSUS HONORUM DE ANTÓNIO JOSÉ DE SÃO PAYO

9. Cavaleiro Grã-Cruz da Ordem de Cristo em Tomar

A fonte que sustenta o ingresso na Ordem de Cristo é a certidão de ter tomado o Hábito2 de Cristo em Tomar em 4 de Julho de1751: «o Prior da Ordem Militar de Cristo certifica que António José de São Payo é Cavaleiro da mesma Ordem»3, (ver Anexo Documental4). Certificada depois em instrumento próprio: «certidão5 - Livro do Cartório dos Cavalleiros da Ordem de Christo, em hum délies

de follio encadernado em pergaminho a folhas dezassete (...) o suplicante he Cavalleiro (...) tomou o hábito delia em este novo Real Convento da Villa de Thomar aos Quatro de Julho de Mil Settecentos e Sincoenta e hum sendo D.Prior (...) Frei Luis Peixoto (...) e não continha mais a clareza do dito acento (...) assignada e sigilada com o sello deste dito Convento».

A Ordem Militar de Cristo tem origem na antiga Ordem Militar de Nosso

Senhor Jesus Cristo, fundada em 14 de Março de 1319, a pedido d'el-Rei D. Diniz,

por Bula do Papa João XXII - Ad ea ex-quibus, para suceder no Reino de Portugal à extinta Ordem dos Templários. Uma ordem militar era uma instituição militar e religiosa restrita aos nobres, que nela eram admitidos mediante sagração no grau de Cavaleiro, para combater os hereges (muçulmanos), tornando-se verdadeiros Monges-Soldados. Para se ingressar em Ordens Militares era necessário provar uma determinada pureza de sangue, que se estabelecia através de uma mais ou menos aturada investigação genealógica.

Quanto às dignidades da ordem, a primeira e principal, depois do Mestre, era 0 Prior-mor, que tinha jurisdição: espiritual e temporal do convento. Exercitava o poder espiritual não só com os clérigos residentes na casa mas também com os

1 MONTEIRO, Nuno Gonçalo - A Casa e o Património dos Grandes Portugueses (1750- 1832), Tese

mimeografada, Lisboa, 1995, pp. 688-689.

2 «rei. veste, uniforme usado pelos religiosos e religiosas, como distintivo da Ordem que professavam.» In Grande Enciclopédia Luso Brasileira, vol. 20, p. 446.

ADB/ACSP - ex.04, proc. 021- António José de São Payo Mello e Castro - 1° Conde de São Payo,

1754- 1853, ( 35 does), certidão do Cartório da Ordem de Cristo de 09.07.1759.

4 Anexo Documental, p. 222.

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Cavaleiros que viviam separados dela1: «ao D. Prior do convento de Tomar pertencia chamar por cartas a capítulo geral para nova eleição de Mestre, a quem tomava o juramento de fidelidade e obediência ao Papa»2. A segunda dignidade era o

Comendador-mor, que: «presidia na ausência do Prior, e por falecimento do Mestre,

no ínterim da vacante, lhe pertencia governar a ordem»3.

Seguia-se o Cavaleiro, cujo ofício era ter as chaves do convento quando os Cavaleiros viviam em comunidade, e ao qual competia distribuir o mantimento e tomar conta dos gastos que se faziam. A quarta dignidade era o Sacristão-mor, a quem pertencia em capitulo ter os selos da ordem4.

A quinta dignidade era o Alferes, que levava a bandeira nas procissões e em todos os actos de guerra em que participava o Mestre. D. Maria I, reformando as três ordens militares por sua carta de lei de 19 de Junho de 1789, estabeleceu entre outras disposições as seguintes: «depois do Grão-Mestre do Comendador-mor, as

dignidades serão gradualmente os Grã-Cruzes, os Comendadores e os Cavaleiros»5.

Nenhum irmão seria ordenado Grã-Cruz, da Ordem Militar de Cristo, sem ser Comendador. Pela mesma lei de D. Maria I foram as insígnias de Grã-Cruz e Comendador de cada uma das três ordens militares aumentadas com um coração, em memória do monumento ao Santíssimo Coração de Jesus que a mesma soberana pretendia estabelecer. Os Cavaleiros teriam a sua venera como mandavam os antigos estatutos da ordem6.

Em 13 de Setembro de 1800, o: «Príncipe Regente D. João dá carta e

promove o Conde de São Payo à dignidade de Grão Cruz da Ordem de Christo na Commenda de Sam Vicente de Pereiro»7, (ver Anexo Documental8). Ainda nestes

termos: «Conde de São Payo, amigo. Eu o Príncipe Regente vos envio muito

saudar, como aquelle que amo. Tardo muito na lembrança a qualidade, merecimentos e serviços, que concorrem na vossa pessoa e a distinção e fidelidade

1 AMARAL, Manuel (Transcrito por) - Portugal - Dicionário Histórico, Corográfico, Heráldico,

Biográfico, Bibliográfico, Numismático e Artístico, Volume Y, págs. 127-130 www.arquet.pt. Edição em

papel © João Romano Torres - Editor, 1904-1915. Ibidem.

3 Idem.

4 Idem.

5 Idem.

6 Idem.

7 In ADB/ACSP- cx.04, proc. 021 - António José São Payo Mello e Castro- 1° Conde de São Payo ,

1754-1783 (35 does.).

com que sempre vos empregastes no Real serviço, como Gentil homem da Câmara da Raynha minha senhora e mãe, como Conselheiro de Guerra e com General de Cavallaria: hey por bem promover-vos à dignidade de Gram Cruz da Ordem de Christo na Commenda de Sam Vicente de Pereiro. E para que tenhaes entendido e possaes usar das insígnias e divizas que assim vos pertencem, vos mando esta a Nosso Senhor vos tenha em santa guarda. Escripta no Palácio de Queluz em Treze de Setembro de Mil e Oitocentos. Principe»\

São interessantes as expressões do filho de D. Maria I: «muito tardava na

lembrança (...) o merecimento, do serviço, distinção e fidelidade»2 do ancião Conde

de São Payo. Traz esta carta, novas, sobre o facto o Conde, ter sido: «Gentil homem

da Câmara da Rainha D. Maria I»3. Poderá tratar-se de um dado fulcral, para

justificar certos actos, nomeadamente a promoção a Governador de Armas e a atribuição desta mais alta condecoração militar. É ainda explícito, que o Conde de São Payo foi: «Conselheiro de Guerra»4 de suas majestades.

Teria sido gradualmente Cavaleiro, Comendador, e Grã-Cruz5. Mas, o "nosso"

homem tinha já 80 anos. Esta condecoração, entregue pelo Príncipe Regente, significa a ascensão, à mais elevada condecoração da Ordem Militar de Cristo. Deste jaez, é retratado em pintura em ostentando este grau honorífico6.

Se tomar o Hábito de Cavaleiro da Ordem de Cristo, fora vulgarizado, o mesmo não aconteceria ao grau de Grã-Cruz, nem à concessão de comendas. O Conde de São Payo, como Grande do Reino, continuava a acumular propriedades e honras oficiais.

1 Idem.

2 Idem.

3 Idem.

4 Ibidem.

5 Idem. D. Maria I, que reforma as três ordens militares por sua carta de lei de 19 de Junho de 1789.

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