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Cenário da pesquisa

No documento Leandro de Paula Santos (páginas 61-64)

7. Metodologia

7.2 Cenário da pesquisa

A cidade de Nova Serrana é conhecida na região por sua intensa produção no comércio calçadista. Marcas, originais e falsificadas, estão presentes em toda a cidade em outdoors, carros adesivados e nos calçados de grande parte da população. É muito comum, por exemplo, que jovens alunos recém-chegados à cidade, vindos das regiões do norte do estado ou do nordeste do país, se surpreendam com o fato de quase todos na cidade usarem tênis de marca.

52 Disponível em: http://www2.educacao.mg.gov.br/images/documentos/4310-20-r%20-

A promessa de se viver um estilo de vida moderno, voltado ao consumo, é presente discursivamente na cidade. O marketing, como discutimos anteriormente, não diz respeito apenas a uma questão comercial, mas também a processos identitários. Considerando a alta oferta de empregos, a aquisição dos produtos da área calçadista é de fácil entrada e o custo relativamente acessível53. Segundo o

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE54, Nova Serrana teve um

crescimento demográfico de 96% de 2000 a 2010. Em decorrência dessa expansão, a perspectiva da população em relação a uma vida de qualidade não acompanhou o ritmo acelerado trazido pelo setor calçadista.

A defasagem na infraestrutura, o aumento da criminalidade e as demandas do mercado, por exemplo, colocaram a cidade em uma situação de desequilíbrio. Logo, criou-se um estigma de que a “terra do calçado” era um local exclusivo para o trabalho, uma vez que não havia segurança nem investimentos voltados ao lazer, como parques e locais públicos para recreação, e nos novos bairros, nem mesmo acesso permanente a serviços de saneamento básico.

Recentemente, a prefeitura de Nova Serrana fez uma ostensiva campanha, utilizando os dados do IBGE de 2018, de que a cidade foi a que mais cresceu no Estado (35% segundo a última pesquisa), passando dos 100 mil habitantes no ano de 2020. A campanha buscou valorizar os números do último levantamento para promover o mote: “terra das oportunidades, local de recomeço”.

Nesse horizonte, a escola estadual onde eu trabalho localiza-se no maior bairro de Nova Serrana. Esse bairro, historicamente, foi habitado por moradores de classe média baixa vindos de outras cidades. Nos últimos anos, a localidade tem passado por uma visível mudança positiva, evidenciado pela acessibilidade e mobilidade urbanas. Para explicitar esse progresso, pode-se mencionar a melhoria da infraestrutura, com os novos conjuntos habitacionais nos arredores; e, dentro do bairro, o acesso a vários serviços básicos: desde transporte, três supermercados, áreas de lazer, até unidades básicas de saúde (UBS), serviços terceirizados e novas habitações.

53 Como a cidade é conhecida por sua produção calçadista, há uma grande oferta de produtos com

significativas variações de preço (o que reflete na qualidade da mercadoria), tornando assim a aquisição de produtos desse mercado possível inclusive para pessoas com baixa renda.

54 Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?dados=29&uf=31. Acesso em: 30

A escola foi inaugurada em 2010. A instituição atende, em 2020, ao longo dos três turnos, 1301 estudantes, dos quais 754 são alunos do ensino médio: 413 matutino e 341 noturno. No ensino fundamental são 548 estudantes: 77 no matutino e 471 no vespertino. O corpo de servidores é composto de 55 professores regentes de turma e 04 docentes de Atendimento Educacional Especializado (AEE); trabalhando como Assistente Técnico de Educação Básica (ATB) são 07 profissionais e de Auxiliar de Serviços de Educação Básica (ASB) são 18 funcionários, homens e mulheres. A escola conta com 13 salas de aula com ventilador, 01 sala de professores, 01 banheiro masculino e 01 banheiro feminino para uso preferencial dos docentes; 01 sala usada simultaneamente para direção (01 diretor) e financeiro; 01 sala utilizada simultaneamente para supervisão (03 supervisores – em seus respectivos turnos) e vice direção (03 vice-diretores – manhã, tarde e noite).

Em 2020, essa instituição teve que adaptar a antiga sala da supervisão para ser o laboratório de informática porque o número de matrículas foi maior do que o ano anterior. Em relação aos computadores da (antiga) sala de informática, eles não estão em condição de uso por motivos relacionados a furto de peças, equipamento queimado e/ou estragado e/ou faltando. A escola ainda possui: 01 secretaria, 01 biblioteca, 01 laboratório de ciências, 01 almoxarifado, 01 quadra de esportes coberta, 01 banheiro masculino para uso exclusivo dos alunos, 01 banheiro feminino para uso exclusivo das alunas; 01 banheiro adaptado para deficientes e 01 refeitório. Há 03 computadores desktop para uso dos docentes (na sala dos professores), 03 laptops, 05 datashow, 02 TVs smart para uso didático. A escola possui uma parceria com a fanfarra da comunidade, que anualmente se apresenta no desfile de 07 de setembro junto com outras escolas em um evento público que acontece no centro da cidade. A instituição ficou localizada por muitos anos em uma área periférica do bairro ao lado de um esgoto a céu aberto55.

Atualmente, no entanto, o local já está inserido no cenário urbano fazendo vizinhança com três novos bairros. Durante três anos, entre 2014 e 2016, a Escola Estadual foi considerada “escola prioritária do Brasil56” e “escola prioritária do Estado”.

55 Até hoje o esgoto a céu aberto que está localizado ao lado da escola é um problema ainda não

resolvido pela prefeitura.

56Os termos “escola prioritária do Brasil” e “escola prioritária do Estado” referem-se aos problemas

enfrentados pela escola sobre o alto número de evasão e reprovação escolares. A Superintendência Regional de Ensino (SRE) intensifica suas medidas de intervenção e implementação de estratégias para solucionar a questão.

Segundo a Superintendência Regional de Ensino (SRE), o diagnóstico preocupante foi devido aos resultados das avaliações externas e, principalmente: à alta taxa de evasão escolar, a maior registrada na cidade.

A evasão se deve, sobretudo, à peculiaridade econômica do município, que basicamente se sustenta com a fabricação e o comércio de calçados. Os educandos, em sua maioria de classe baixa ou média baixa, recém-chegados à “terra dos sapatos” ou ao bairro, já aos 14 anos, deixam a vida estudantil para ingressar no primeiro emprego com baixa remuneração, às vezes inferior ao salário mínimo, geralmente produzindo calçados (inclusive falsificados) para ajudar a complementar a renda familiar.

A jornada de trabalho em alguns setores do comércio calçadista é excessiva e irregular. Quando à oferta de empregos se torna disponível em larga escala, geralmente no último trimestre do ano, muitos trabalhadores, inclusive alunos, não conseguem conciliar trabalho e escola. Em algumas áreas da produção calçadista, por exemplo, é comum uma jornada de trabalho superior às 44 horas semanais estabelecidas, sem o benefício de receber a hora extra trabalhada. O acordo, entre empregador e empregado é chamado de Banco de Horas e é permitido por lei. As horas extras trabalhadas são registradas e posteriormente são descontadas quando o volume de serviço for baixo.

No documento Leandro de Paula Santos (páginas 61-64)