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Elaboração e defesa da tese

II. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA ÁREA DE ESTUDO

6. Cenário Geológico

6.1. Sumário da geologia pré-quaternária

A região sul do Estado da Bahia pode ser dividida geotectonicamente em dois grandes setores: a faixa leste, composta por sedimentos terciários e coberturas quaternárias, e a porção oeste, composta na maior parte por rochas proterozóicas (Fig. 7). As rochas mais antigas, datadas do Proterozóico Inferior, ocorrem nas porções noroeste e oeste da Costa do Descobrimento, classificadas por Barbosa & Dominguez (1996) como ortognaisses da fácies anfibolito. Nas porções sul e sudoeste da área ocorrem os gnaisses do Complexo Kinzigítico. Na porção norte,

Limite da Plataforma Limite do Talude Continental BANCO ROYAL CHARLOTE BELMONTE PRADO 16°00'S 17°00' Areia Terrígena Lama Terrígena Lama Carbonática Calcarenito Retrabalhado Calcarenito Moderno Recife 39°00'W

Figura 6 - Fácies sedimentares da Plataforma Continental entre Belmonte e Prado (Modificado de Meloet al., 1975)

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afloram silimanita-xistos, mica-xistos e metarcóseos do Grupo Macaúbas e quartzitos e calcários dolomíticos do Grupo Rio Pardo (Barbosa & Dominguez, 1996). Ocorrem ainda, na porção oeste da área, intrusões de rochas ácidas (granitos e granitóides) (Fig. 7).

Depois de um longo período de estabilidade tectônica teve início, durante o Jurássico, a formação da “Depressão Afro-Brasileira”. No Cretáceo Inferior o fundo desta bacia começou a sofrer uma rápida subsidência e foi inundada por águas salobras, constituindo uma estrutura do tipo “rift valley” (Campos et al., 1974), que resultou na separação Brasil-África. Durante este evento foram formadas as bacias marginais brasileiras.

Na região sul do Estado da Bahia estão individualizadas três pequenas bacias: Bacia do Jequitinhonha, Bacia de Cumuruxatiba e Bacia de Mucuri (Fisher et al., 1974), cujos depósitos não afloram na Costa do Descobrimento. Estas bacias são formadas por folhelhos cretáceos da Formação Urucutuca, depositados na região do talude inferior; por calcilutitos e calcários, respectivamente na região do talude superior e plataforma, ambos de idade terciária e pertencentes à Formação Caravelas; e na porção mais próxima ao continente por clásticos (areias e conglomerados) da Formação Rio Doce, também de idade terciária, que se formaram como leques deltáicos progradando mar adentro.

No Plioceno ocorreu uma sedimentação detrítica, areno-argilosa, ao longo da zona costeira e plataforma continental, que constitui o Grupo Barreiras. Parece ter havido, simultaneamente a esta deposição, um soerguimento do continente que acentuou o caráter torrencial desta sedimentação (Ghignone, 1979; Bittencourt et al., 1999). Os depósitos do Grupo Barreiras, como já mencionado anteriormente, formam tabuleiros costeiros, entalhados por vales profundos e escarpados. Estes depósitos são constituídos por areias finas a grossas, argilas cinza-avermelhadas, arroxeadas e amareladas e arenitos grossos com matriz caolinítica, pobremente consolidados e selecionados, mas que localmente podem se apresentar bem consolidados. Na Costa do Descobrimento estes depósitos repousam sobre o embasamento cristalino.

6.2. Oscilações do nível do mar durante o Quaternário

O nível marinho alto mais antigo de que até então se tem registro na costa leste-nordeste brasileira foi denominado de Transgressão Mais Antiga (Bittencourt et al., 1979) e só se tem indicações no litoral dos estados da Bahia, Sergipe e Alagoas. Uma nova fase transgressiva ocorreu por volta de 120 ka e atingiu 8 ± 2 m acima do nível atual (Martin et al., 1982). Esta transgressão foi denominada por Bittencourt et al. (1979) de Penúltima Transgressão. Testemunhos desta transgressão são encontrados na forma de terraços marinhos arenosos, onde ocorrem tubos fósseis de Callichirus situados acima da zona de vida atual destes animais. A transgressão seguinte,

nomeada de Última Transgressão (Bittencourt et al., 1979), alcançou seu máximo há cerca de 5,1 ka, quando o nível relativo do mar esteve a 5,0 ± 0,5 m acima do nível atual (Martin et al., 1979, 1980a).

A partir de datações por radiocarbono de amostras de incrustações de vermetídeos, algas calcárias, corais e de outros testemunhos, foi possível construir uma curva de variações do nível relativo do mar para os últimos 7,0 ka na região de Salvador (Martin et al., 1979). Construída a partir de 60 reconstruções, constitui-se numa curva que serve de base para outros trechos costeiros onde não foi possível construir uma curva completa (Fig. 8-A). Esta curva mostra que o nível médio atual do mar foi ultrapassado pela primeira vez há cerca de 7,0 ka; há aproximadamente 5,1 ka o nível do mar atingiu seu primeiro máximo, situado a 5,0 ± 0,5 m acima do atual; por volta de 3,8-3,9 ka o nível do mar atingiu um mínimo, provavelmente um pouco abaixo do atual; entre 3,9 e 3,5 ka ocorreu uma rápida transgressão, chegando ao seu máximo em torno de 3,5 ka, situado a 3,5 ± 0,5 m acima do nível atual; entre 3,5 e 3,0 ka o nível do mar desceu lentamente, passando por uma rápida descida após 3,0 ka e atingindo um outro mínimo há cerca de 2,7 ka, provavelmente situado novamente abaixo do nível atual; entre 2,7 e 2,5 ka o nível relativo do mar subiu rapidamente, passando por um terceiro máximo em torno de 2,5 ka, situado a 2,5 ± 0,5 m acima do nível atual; após 2,5 ka o nível médio do mar sofreu um abaixamento regular até atingir a posição atual.

Figura 8 - Curvas de variações do nível relativo do mar para os últimos 7.000 anos: A)Salvador; B)Caravelas-Nova Viçosa (modificado de Martin et al., 1980a).

No trecho costeiro entre Caravelas e Nova Viçosa, a aproximadamente 50 km a sul da área de estudo, foram realizadas 11 reconstruções, compondo uma curva incompleta (Fig. 8-B). Os dados encontrados estão de acordo com a curva de Salvador (Martin et al., 1980a).

6.3. Depósitos quaternários

Os principais depósitos quaternários encontrados na Costa do Descobrimento são (Martin et al., 1980b): depósitos arenosos marinhos pleistocênicos e holocênicos, depósitos fluviais, depósitos de “terras úmidas”, depósitos de mangues, bancos de arenito e recifes de coral (Fig. 07).

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