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Tabela 9 – Principais características observadas ao longo da Costa do Descobrimento, nas praias localizadas nos segmentos de 19 a 25.

VII. MODELAGEM DE ONDAS E TRANSPORTE LITORÂNEO DE SEDIMENTOS

3. Transporte Litorâneo de Sedimentos

Como já foi dito anteriormente, as ondas são as principais responsáveis pelo transporte de sedimentos ao longo da costa (Goldsmith, 1976). Parte da energia dissipada pelas ondas incidentes na zona de surfe promove a geração de correntes costeiras. Quando as ondas quebram formando um ângulo com a linha de costa, são geradas correntes longitudinais. Estas correntes são fluxos

paralelos à costa entre a zona de arrebentação e a linha de costa que transportam os sedimentos colocados em suspensão pelas ondas ao longo da costa (Komar, 1976).

A deriva litorânea pode, sazonalmente, mover os sedimentos em sentidos opostos de acordo com a direção de aproximação das ondas; em geral, o sentido predominante do transporte de sedimentos ao longo da praia é mostrado por indicadores morfológicos como pontais arenosos, por exemplo.

Bittencourt et al. (2000) e Silva et al. (2001) estimaram a intensidade potencial da deriva litorânea efetiva de sedimentos, bem como seus sentidos gerais, para a Costa do Descobrimento, utilizando a expressão X = H2 Y, onde Y = sen α cosα , segundo Komar (1976), e H é a altura das ondas. Os primeiros autores consideraram H a altura da onda em alto mar e α o ângulo que a direção da frente-de-onda em alto-mar faz com a linha de costa. Silva et al. (2001) consideraram a altura da onda (H) e o ângulo de incidência (α) ao longo da costa, após a propagação da onda. Estes dados foram obtidos através de diagramas de refração construídos manualmente através de técnicas clássicas (CERC, 1984). Desta forma, H foi obtido através da expressão H = Ho K, onde K é o coeficiente de refração, definido por K = (bo/b)1/2, o zero subscrito designando condições de águas profundas e b a distância entre duas ortogonais às frentes-de-onda (Bascom, 1954).

Também no presente estudo, a intensidade potencial da deriva litorânea para a Costa do Descobrimento foi estimada através da expressão: X = H2 sen α cosα. Contudo, os dados de H e α, como já mencionado, foram obtidos através da modelagem de ondas feita por intermédio do software Mike 21. Com a utilização do Mike 21 pôde-se estimar a altura das ondas em alguns trechos da linha de costa em que isso não foi possível utilizando-se as metodologias adotadas por Bittencourt et al. (2000) e Silva et al. (2001). Esse é o caso, por exemplo, do extenso trecho costeiro entre Itaquena e o limite sul da área aqui estudada, no que diz respeito às ondas provenientes de SSE (Fig. 26).

A Costa do Descobrimento foi, como mencionado anteriormente, dividida em 21 segmentos, cada um deles aproximado para uma linha reta, de acordo com a orientação da linha de costa (Fig. 27). Foram então considerados valores médios de H e α para cada segmento, em relação a cada uma das frentes-de-onda estudadas (Tabs. 10, 11 e 12).

Como a percentagem de incidência anual das ondas varia para cada direção, a intensidade anual da deriva foi calculada multiplicando a intensidade da deriva, dada pela expressão X = H2 sen α cosα, pelo percentual de incidência anual da direção dos ventos (DHN, 1993) a que está associada a frente-de-onda (Tabs. 10, 11 e 12).

Nos trechos costeiros protegidos por recifes de corais, para efeitos do cálculo da intensidade da deriva a altura das ondas foi considerada desprezível. Isso ocorreu nos segmentos 5, 8, 9 e 16 para ondas de SE e SSE; nos segmentos 5, 6, 9 e 17 para ondas de NE; e nos segmentos 5, 6 e 9 para ondas de E (Figs. 26 e 27; Tabs. 10, 11 e 12). Nos casos em que os recifes de corais oferecem proteção apenas em uma parte do segmento, foram considerados os valores médios fornecidos pelas ondas que chegam aos locais não protegidos dentro do segmento. Isso ocorre, por exemplo, no segmento 6 para ondas de SE e SSE; nos segmentos 10 e 19 para todas as frentes-de- onda; e no segmento 17 para ondas de E, SE e SSE (Figs. 26 e 27).

Os valores adimensionais estimados para a intensidade potencial da deriva litorânea efetiva de sedimentos, bem como seus sentidos, ao longo da Costa do Descobrimento, podem ser vistos na figura 28.

De uma maneira geral, a deriva efetiva neste trecho costeiro é predominantemente de sul para norte, induzida principalmente pelas ondas de SE, que são as ondas que chegam a esta costa com maior energia. Contudo, em algumas regiões, as ondas de NE e E tornam-se mais efetivas que as de SE, promovendo inversões no sentido preferencial de deriva litorânea. Isso ocorre a partir da porção mediana do trecho entre Belmonte e Mogiquiçaba até a Ponta do Guaiú, entre Itaquena e a Ponta do Corumbau e entre Cumuruxatiba e Prado (Fig. 28), principalmente devido à interação das ondas de SE e SSE com os recifes de corais, respectivamente, da região de Santo Antônio, da Ponta do Corumbau e da região de Abrolhos. Silva et al. (2001) identificaram também estes três trechos de inversão no sentido da deriva efetiva, enquanto que Bittencourt et al. (2000) apenas os dois últimos.

A definição dos padrões gerais de dispersão de sedimentos, com a identificação de zonas de convergência e divergência da deriva litorânea, identifica zonas suscetíveis de acumulação e de déficit de sedimentos, respectivamente. Desta forma, a região entre a Ponta do Guaiú e a Ponta de Santo Antônio (Seg. 5) e a Ponta do Corumbau (Segs. 16 e 17) podem ser consideradas como zonas, a longo termo, de acúmulo de sedimentos; enquanto que a porção central e sul da planície costeira sul do Rio Jequitinhonha (Segs. 2 e 3), o trecho costeiro entre Arraial D’Ajuda e Caraíva (Segs. 13 e 14) e a região de Cumuruxatiba (Segs. 19 e 20), podem ser consideradas como zonas de erosão, a longo termo. Além disso, apesar de as taxas de transporte litorâneo representarem apenas valores adimensionais, permitem uma comparação entre as intensidades potenciais de transporte ao longo da costa. É possível, então, identificar os locais onde há um aumento ou uma diminuição na intensidade relativa do transporte que podem gerar, respectivamente, erosão ou progradação. Desta forma, por exemplo, pode-se pensar ser possível a ocorrência de erosão nos segmentos I e IV como uma resposta ao aumento da intensidade da deriva efetiva a partir, respectivamente, dos segmentos II e III. Contudo, no segmento 1, o possível efeito de molhe hidráulico causado pelo Rio

Jequitinhonha (Dominguez, 1983) pode promover, a depender da descarga do rio, o acúmulo dos sedimentos trazidos pela deriva vinda de sul, ocasionando acresção neste segmento.

A modelagem numérica realizada nesse capítulo apresenta algumas limitações, que devem aqui ser consideradas. Uma destas limitações é que os raios-de-onda dos diagramas de refração param nos recifes de coral, assumindo-se assim que em condições normais essa é a situação que acontece. Todavia, é bastante provável que, em situações eventuais de coincidência de preamares equinociais de sizígia com frentes-frias, as ondas, ultrapassando os recifes, consigam exercer uma significativa influência na dinâmica costeira na retaguarda dos mesmos. Uma outra limitação refere-se ao fato de que foram desconsiderados os processos de difração das ondas, por exemplo, aqueles provocados pelos recifes de corais existentes na área. Uma terceira limitação refere-se ao fato de as estimativas de altura e de ângulo de incidência das ondas se aterem à isóbata de 5m, em alguns locais, distantes quase 5km da linha de costa. Alem disso, deve ser também considerado que foram adotadas, dentro de um amplo espectro (U.S. Navy, 1978), direções médias das frentes-de- onda, bem como dos períodos e alturas das mesmas em alto-mar.

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