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CAPÍTULO 1 PUBERDADE, ADOLESCÊNCIA E/OU JUVENTUDE: DE QUEM

2.1. Cenário do “Terceiro Setor”

Eles ficam assim, olhando pra mim, terceiro setor, vem que tem dimdim Vendem a ideia de que são legais, nadar de costas vai jacaré abraça!

Criolo em Chuva Ácida

O termo “terceiro setor”11 tem tanto sua origem ligada as visões segmentadoras “setorializadoras” da realidade social (nas tradições positivistas, neopositivistas, estruturalistas, sistemistas, funcionalista, do pluralismo e do institucionalismo norte-americano etc.), claramente distante do nosso referencial teórico-metodológico, quando apresenta forte funcionalidade com o atual processo de reestruturação do capital, particularmente “no que se refere ao afastamento do Estado das suas responsabilidades de resposta às sequelas da “questão social”, sendo, portanto, portador da função de encobrir e desarticular o real” (MONTAÑO, 2010, p. 16).

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11 Com inspiração no teórico Carlos Montaño (2000) optamos por manter o uso do conceito “terceiro setor”

A fim de aprofundar a compreensão sobre o chamado “terceiro setor”, Montaño (2010) resgata a história do processo de reestruturação do capital pós-70, orientado segundo os princípios neoliberais – e para a América Latina a partir dos ditames do chamado Consenso de Washington12, de flexibilização dos mercados nacional e internacional das relações de trabalho, da produção, do investimento financeiro, do afastamento do Estado das suas responsabilidades sociais e da regulação social entre capital e trabalho, permanecendo, no entanto, instrumento de consolidação hegemônico do capital mediante seu papel central no processo de desregulação e (contra) reforma estatal, na reestruturação produtiva, na flexibilização produtiva comercial, no financiamento ao capital, particularmente financeiro. Assim, chega-se ao chamado “terceiro setor” como um debate ideológico, ora produzido no interior dos interesses do grande capital, ora surgido numa fração da esquerda resignada, mas de eventual “intenção progressista”, porém, inteiramente funcional ao projeto neoliberal.

Consideramos importante a mobilização da sociedade contra, por exemplo, o consumo excessivo do álcool entre os jovens como o programa “Jovem de Responsa” e as chamadas ações de prevenção. Porém o problema é, primeiramente, ignorar que se tratam de ações emergenciais que, dando respostas imediatas e assistencialistas, não resolvem a médio e longo prazos as causas do alcoolismo ou até mesmo da violência juvenil, consolidando uma relação de dependência dessa população por estas ações. Por outro lado, o problema consiste em acreditar que nestas ações devem-se concentrar e esgotar todos os esforços reivindicatórios e as lutas sociais. Como afirma Montaño (2010)

[...] ao esquecer as conquistas sociais garantidas pela intervenção e no âmbito do Estado, e ao apostar apenas/prioritariamente nas ações dessas organizações da sociedade civil, zera-se o processo democratizador, volta-se à estaca zero, e começa- se tudo de novo, só que em uma dimensão diferente: no lugar de centrais lutas de classes, temos atividades de ONGs e fundações; no lugar da contradição capital/trabalho, temos a parceria entre classes por supostos “interesses comuns”; no lugar da superação da ordem como horizonte, temos a confirmação e “humanização” desta (p. 18).

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12Consenso de Washington é uma conjugação de grandes medidas - que se compõe de dez regras básicas -

formulado em novembro de 1989 por economistas de instituições financeiras situadas em Washington D.C., como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, fundamentadas num texto do economista John Williamson, do International Institute for Economy, e que se tornou a política oficial do FMI em 1990, quando passou a ser "receitado" para promover o "ajustamento macroeconômico" dos países em desenvolvimento que passavam por dificuldades.

A generalização característica da abordagem do “terceiro setor” possui limites importantes, na medida em que não diferencia a filantropia da “pilantropia”, as organizações não-governamentais (ONGs) realmente comprometidas com os setores subalternos e com o desenvolvimento, preservação e ampliação dos direitos sociais e trabalhistas daquela maioria que apenas persegue o objetivo de enriquecer seus altos membros. No entanto, ela potencializa a capacidade de determinação do verdadeiro significado e papel social deste conjunto, entendido como fenômeno. Nas palavras de Montaño (2010):

[...] o debate do “terceiro setor” desenvolve um papel ideológico claramente funcional aos interesses do capital no processo de reestruturação neoliberal, no caso, promovendo a reversão dos direitos de cidadania por serviços e políticas sociais e assistências universais não contratualistas e de qualidade desenvolvidas pelo Estado e financiadas num sistema de solidariedade universal compulsória. Portanto, a abordagem crítica do conceito ideológico de “terceiro setor”, e do fenômeno real que ele esconde, constitui uma ferramenta importante para o enfrentamento do processo neoliberal de alteração da modalidade de trato à “questão social”, assim como na mais clara identificação dos sujeitos e processos de lutas sociais (p. 19).

Desta maneira, a resposta às necessidades sociais deixa de ser uma responsabilidade de todos e um direito do cidadão, e passa agora, sob a égide neoliberal, a ser uma opção do voluntário que ajuda o próximo e um não-direito do portador de necessidades, o “cidadão pobre”. A cerca da questão de pobreza, Vera Teles (2001) enfatiza que esta situação

[...] permanece e persiste desvinculada de um debate público sobre critérios de igualdade e justiça. [...] a tradição cobra e continua cobrando num registro ou no outro, a pobreza é encenada como algo externo a um mundo propriamente social [...]. Nessas formas de encenação pública, a pobreza é transformada em paisagem que lembra a todos o atraso do país [...] como paisagem, essa pobreza pode provocar a compaixão, mas não a indignação moral diante de uma regra de justiça que tenha sido violada. [...] seus tributos numa espécie de linha de sombra em que se confundem direitos e ajuda, cidadania e filantropia, ao mesmo tempo em que se repõe essa espantosa indiferença diante do espetáculo da pobreza, que tanto caracteriza a sociedade brasileira. [...] visível por todos os lados, na sua evidência a pobreza é percebida como efeito indesejado de uma história sem autores e responsabilidades. Nesse registro, aparece como chaga aberta a lembrar o tempo todo o atraso que envergonha um país que quer ser moderno, de tal modo que sua eliminação é projetada para as promessas civilizatórias que haverá, algum dia, quem sabe, de absorver os que foram até agora dele excluídos. Como problema que inquieta e choca a sociedade, a pobreza aparece, no entanto, no registro da patologia, seja nas evidências da destituição dos miseráveis que chamam pela filantropia pública ou privada, seja nas imagens da violência, que apelam para sua ação preventiva e, sobretudo, repressiva (p. 31).

No cenário mencionado acima, a ONG passa a ter uma relação diferente com o Estado e com a empresa. Como já observamos, enquanto, nas décadas de 1970 e 1980, a ONG, do lado

dos movimentos sociais, desenvolvia em geral uma estratégia de enfrentamento ao sistema (mais pontual ou mais estrutural), via demanda ao Estado, via organização de manifestações populares etc, nos anos 1990, já em processo de divórcio com os movimentos sociais, passam a se relacionar com o Estado (e, até em muitos casos, com as empresas) como parceiros.

Assim, nesse sentido, como enfatiza Montaño (2010), o objetivo de retirar o Estado (e o capital) da responsabilidade de intervenção na “questão social” e de transferi-los para a esfera do “terceiro setor” não ocorre por motivos de eficiência (como se as ONGs fossem naturalmente mais eficientes que o Estado), nem apenas por razões financeiras: reduzir os custos necessários para sustentar esta função estatal. O motivo é fundamentalmente político-ideológico: retirar e esvaziar a dimensão de direito universal do cidadão quanto a políticas sociais (estatais) de qualidade; criar uma cultura de auto-culpa pelas mazelas que afetam a população, e de auto- ajuda e ajuda mútua para seu enfrentamento; desonerar o capital de tais responsabilidades e, por outro, a partir da precarização e focalização (não-universalização) da ação social estatal e do “terceiro setor”, uma nova e abundante demanda lucrativa para o setor empresarial. Tendo em vista todas as considerações já feitas até agora, pode-se dizer que este relacionamento é dócil, despolitizado e despolitizador, funcional ao projeto neoliberal de reestruturação (entre ONG e Estado) e de relação de interesses conflitantes (das organizações populares) à relação clientelista.

Supostamente, o “terceiro setor” teria vindo para “resolver” um problema de dicotomia entre público e privado. O público identificado sumariamente com o Estado e o privado considerado como o mercado – concepção claramente de inspiração liberal. Se o Estado está em crise e o mercado tem uma lógica lucrativa, nem um nem o outro poderiam dar resposta às demandas sociais. O “terceiro setor” seria a articulação/intersecção materializada entre ambos os setores: o “público, porém privado”, a atividade pública desenvolvida pelo setor privado, e/ou suposta superação da equiparação entre o público e o Estado: o “público não-estatal”, e seria também o espaço “natural” para esta atividade social. Neste sentido, o conceito “terceiro setor” se expande recentemente, nas décadas de 1980 e 1990, supostamente, a partir da necessidade de superação da dualidade público/privado e da equiparação público/estatal (MONTAÑO, 2010).

Com tal falta de rigor na caracterização deste “setor”, fica uma dúvida razoável: são os movimentos de luta classista incorporados nesta categoria? O movimento dos jovens em Heliópolis é pertencente ao chamado “terceiro setor”? A princípio, como não são atividades

estatais nem da órbita do mercado (“primeiro e segundo setor”), deveriam ser tratados como pertencentes ao “terceiro setor”. Porém, não apenas a maioria dos autores do tema não trabalha com estes exemplos, como também, em alguns, eles são expressamente excluídos – uma passagem de Fernandes (1994) mostra claramente que o chamado “terceiro setor” se comporia, para ele, apenas de manifestações pacíficas e não de organizações de lutas de maior impacto no enfrentamento.

Como já mencionado anteriormente, os movimentos sociais, entre as décadas de 1970 e 1980, desenvolveram uma atividade dirigida para ou contra o Estado, muitas vezes apoiadas por um tipo de organização que, particularmente nos contextos ditatoriais, surgia e se expandia de forma progressista, a ONG. Efetivamente, as chamadas organizações não-governamentais surgem fortemente vinculadas aos movimentos sociais desses anos, procurando sua melhor organização, participação, articulação nas suas demandas, reivindicações e lutas. Porém, com o advento dos regimes democráticos pós-ditaduras, com a retirada paulatina das agências financiadoras internacionais, com o retorno à vida política dos sindicatos e partidos proscritos – particularmente, no Brasil, após a Constituição de 1988 -, muitos desses movimentos começam a entrar em crise (MONTAÑO, 2010).

Nessa perspectiva das tensões, no campo societário que os movimentos sociais estão inseridos hoje, Feltran (2005) em seus trabalhos buscou entender o que se passa com eles, por exemplo, antes opositores ferrenhos do autoritarismo estatal, hoje subitamente em condição de firmar parcerias com o Estado nos seus diferentes níveis e viver de alguma forma a experiência da gestão. Viram-se obrigados a uma atuação propositiva, capaz de gerenciar recursos, elaborar planos, implementar projetos. Assim a “explosão das ONGs, em número e tamanho, a despeito da heterogeneidade desse campo, também os pegou em cheio, em boa medida representando a opção por uma racionalidade gerencial ao invés de uma propriamente política” (FELTRAN, 2005, p. 78).

A respeito da despolitização recente do setor movimentista, o mesmo autor enfatiza que

[...] está para muito além, do ponto de vista teórico, da já contatada queda da militância de base, institucionalização ou pragmatização. Essa despolitização ganha novos significados e não se restringe a mudanças de procedimentos, mas atinge mesmo os imaginários e identidades dos movimentos populares, alterando suas formas de figurar os problemas sentidos, inserindo na base de suas atitudes uma outra racionalidade. Outra concepção de mundo está presente hoje, suas lutas disputando espaços com a anterior. A ênfase nos direitos e na política parece conviver indistintamente no seio mesmo dos movimentos com uma segunda e mais recente ênfase, a da prestação de

serviços, quando não a do voluntariado e filantropia, ou ainda a que faz dos movimentos sociais meros objetos da “responsabilidade social” de marketing empresarial. Nas periferias, nos anos recentes, proliferaram cursos e cursos oferecidos a entidades comunitárias, muitas com histórico ligado aos movimentos populares, sobre “gestão de projetos no terceiro setor”, para que competissem entre si por parcos recursos privados ou públicos, e pouco se falou em política (FELTRAN, 2005, p.78).

Na tentativa de compreender as novidades do contexto recente em que se inserem os movimentos sociais, percebe-se primeiramente uma série de características que se manifestam hoje com certa regularidade entre os países invadidos pela lógica neoliberal, como o Brasil. Muitos dos movimentos sociais da América Latina, por exemplo, exibiram tendências de atuação semelhantes ao longo das duas últimas décadas, desde o período final dos regimes militares. Reconhecido esse âmbito geral, entretanto, explorar os desdobramentos específicos de cada caso e os mecanismos próprios de cada um é mais produtivo ao entendimento das novas conjunturas do que denunciar o peso das determinações centrais nesses cenários, pois os ajustes colocados em pauta pela nova e autoritária ordem mundial tiveram, certamente, milhares e milhares de adesões nacionais, regionais e locais para serem implementados, com diversas intensidades e intenções em todo o mundo (FELTRAN, 2005).

Assim, de organização com a finalidade de organizar e potenciar os movimentos sociais, canal de obtenção de renda para os movimentos sociais (como nos anos 1960/80), passam na maioria dos casos, nos anos 1990, a organizações dedicadas a intermediar a relação desses movimentos sociais (ou da “sociedade civil” não organizada) com o Estado. Diante disso, despolitiza-se o conflito; retira-lhe o substrato de classe ou econômico e rompe-se a relação direta dos movimentos sociais com o Estado (agora intermediado pela ONG); deixa esta entidade, na maioria dos casos, de se preocupar com o nível de organização e poder dos movimentos sociais, pois agora “não estão sozinhos” mas “acompanhados” por essas ONGs, seus “representantes” e “mediadores” (MONTAÑO, 2010).

Em decorrência das premissas anteriores, os movimentos e organizações do “terceiro setor” desenvolveram uma prática “não-política”, mas harmônica, integradora, de parceria, visando ao bem comum, e não aos interesses de classe – assim, as ONGs “cidadãs”, as empresas “cidadãs” ou “participativas”, os indivíduos (cidadãos) solidários, o Estado “parceiro” (MONTAÑO, 2010). Ainda em relação à participação, está passa a ser compreendida como “participação solidária”, sustentada no “voluntarismo”, no caso dos sujeitos, e na “responsabilidade social”, no caso das instituições, em especial as empresariais. O sentido

propriamente político, coletivo e confrontativo de participação se esvai nessa perspectiva de protagonismo solidário e moralista que promove a atuação individualizada e privada. Aqui não há aparentemente disputa pela partilha de poder, mas serviços prestados aos setores sem assistência da sociedade, numa redefinição de papéis: “o que deveria ser obrigação do Estado passa a ser responsabilidade da boa vontade dos setores mais “humanistas” das classes médias e altas” (DAGNINO, 2004, p. 102).

Evidentemente, não é exclusividade dos movimentos sociais estar em meio a essa confusão de modos de pensar, de formas de compreender o ato de viver no mundo contemporâneo e isso vem mudando rapidamente. Essas tensões entre distintas racionalidades da política estão atingindo efetivamente setores sociais diversos e amplos e já aparecem tentativas de diferenciá-las. Feltran (2005) enfatiza que a recente disputa nas tensões entre as sistemáticas tentativas de anulação da política, em especial produzidas pela ênfase neoliberal atual na gestão técnica e pragmática, inumana, supressora de conflitos, e as inúmeras iniciativas que buscam resistir, desobedecer, inserir novas questões em pauta, propor a refundação de campos políticos.

O IBGE e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em parceria com a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (ABONG) e o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE) trazem a público o mais recente estudo realizado sobre as organizações da sociedade civil organizada no Brasil, com base nos dados do Cadastro Central de Empresas ( CEMPRE), do IBGE. Nesta pesquisa estima-se que, em 2010, havia 290,7 mil Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos (Fasfil) no Brasil, voltadas, predominantemente, à religião (28,5%), associações patronais e profissionais (15,5%) e ao desenvolvimento e defesa de direitos (14,6%). As áreas de saúde, educação, pesquisa e assistência social (políticas governamentais) totalizavam 54,1 mil entidades (18,6%). As Fasfil concentravam-se na região Sudeste (44,2%), Nordeste (22,9%) e Sul (21,5%), estando menos presentes no Norte (4,9%) e Centro-Oeste (6,5%). Dessas instituições, 72,2% (210,0 mil) não possuíam sequer um empregado formalizado, apoiando-se em trabalho voluntário e prestação de serviços autônomos. Nas demais, estavam empregadas, em 2010, 2,1 milhões de pessoas, sendo intensa a presença feminina (62,9%). Porém, a remuneração média das mulheres (R$ 1.489,25) equivalia a 75,2% da remuneração média dos homens (R$ 1.980,08), sendo para o total dos assalariados, R$ 1.667,05 mensais naquele ano. Quanto ao nível de escolaridade, embora 33% dos assalariados dessas entidades possuíssem nível superior, quase o dobro do

observado para o total das organizações (16,6%), sua remuneração era de 5,8 salários mínimos, bem menor do que a dos assalariados do total das organizações do CEMPRE – 7,6 salários mínimos.

Entre 2006 e 2010, observou-se um crescimento de 8,8% das fundações privadas e associações sem fins lucrativos no Brasil, expansão significativamente menor do que a observada no período de 2002 a 2005 (22,6%), e de 15,9% no pessoal assalariado, com aumento real de 6,2% nos salários médios mensais. Em números absolutos, o maior crescimento foi o das entidades religiosas, o que significou a criação de 11,2 mil entidades ou quase a metade (47,8%) do total das 23,4 mil criadas no período. Existiam oficialmente no país, em 2010, 290,7 mil Fasfil (organizações privadas, sem fins lucrativos, institucionalizadas, auto-administradas e voluntárias). Essas instituições representavam 5,2% do total de 5,6 milhões de entidades públicas e privadas, lucrativas e não-lucrativas, do Cadastro Central de Empresas – CEMPRE do IBGE, naquele ano.

Entre 2006 e 2010, observou-se um crescimento da ordem de 8,8% dessas instituições, passando de 267,3 mil para 290,7 mil, significativamente menor do que a observado no período de 2002 a 2005 (22,6%). As Fasfil concentram-se nas regiões Sudeste (44,2%), Nordeste (22,9%) e Sul (21,5%), estando menos presentes no Norte (4,9%) e Centro-Oeste (6,5%). Entre o total dessas instituições, 82,9 mil entidades administravam diretamente serviços ou rituais religiosos (28,5%), 44,9 mil atuavam na área de associações patronais e profissionais (15,5%), e 42,5 mil no desenvolvimento e defesa de direitos (14,6%). Havia, ainda, 54,1 mil entidades (18,6%) dedicadas a implementar políticas governamentais (saúde, educação, pesquisa e assistência social). Nesse segmento, os grupos mais vulneráveis da população – crianças e idosos pobres, adolescentes em conflito com a lei e portadores de necessidades especiais – eram assistidos por 30,4 mil entidades de assistência social (10,5%). Em educação e pesquisa (6,1%) e saúde (2,1%) eram 23,7 mil entidades, destacando-se as entidades de ensino fundamental (4,5 mil) e outros serviços de saúde (3,9 mil). Já entidades voltadas à preservação do meio ambiente e proteção animal representavam 0,8% do total das Fasfil.

Em 72,2% das instituições (210,0 mil entidades) não havia sequer um empregado formalizado, em 2010, provavelmente, apoiando-se em trabalho voluntário e prestação de serviços autônomos. As instituições sem empregados eram mais comuns no segmento de religião (29,1%), desenvolvimento e defesa de direitos (17,4%) e associações patronais e profissionais (16,2%).

Entre as 80,7 mil instituições com empregados assalariados, a área de saúde (6,0 mil entidades) empregava 574,5 mil pessoas (27,0%), em 2010, seguida pelo grupo de entidades de educação e pesquisa(17,7 mil), com 26,4% do total de trabalhadores. No grupo da Educação, a concentração é bem mais expressiva no subgrupo de educaçãosuperior, pois 1,4 mil universidades ou faculdades empregavam 165,6 mil trabalhadores (7,8%). Naquelas instituições com mais de 500 assalariados, 44,2% estavam na área da saúde e 26,3% eram de educação e pesquisa. Mais da metade do pessoal ocupado assalariado (58,1%) trabalhava em instituições localizadas no Sudeste, em especial, no estado de São Paulo (748,7mil, 35,2%).

Em 2010, havia, em média, 7,3 pessoas ocupadas assalariadas por entidade, com variações de 224,8 trabalhadores (hospitais) a 1,8 trabalhadores por entidade (religião).

Entre 2006 e 2010, cresceu 15,9% o número de ocupados assalariados, sendo criados 292,6 mil empregos. Esse crescimento do pessoal ocupado, no período, foi mais significativo nas entidades de Desenvolvimento e Defesa de Direitos (30,0%) e de Saúde (26,5%). Porém, em números absolutos, na Saúde foram criados 120,2 mil empregos novos, enquanto no desenvolvimento e defesa de direitos esse número foi de apenas 27,8 mil.

No período, houve uma elevação, em termos reais, de 6,2% e os salários médios mensais passaram de R$ 1.569,53 para R$ 1.667,05. Os ganhos salariais mais relevantes, entre o período de 2006 a 2010, foram observados nas associações patronais e profissionais (16,8%) e nas entidades de saúde (15,1%). Nesses dois grupos, destacaram-se a elevação nas remunerações dos ocupados nas associações de produtores rurais (20,4%) e nas de outros serviços de saúde (25,6%). Nas associações de moradores o aumento foi de 20%. No entanto, nos centros e associações comunitárias foi de 13,5% e nas associações profissionais 19,5%.

Chama a atenção a remuneração nas entidades de ensino fundamental e de educação infantil, os dois subgrupos que, proporcionalmente, mais cresceram no período em termos do percentual de empresas. No ensino fundamental, houve uma queda de 4,4% nas remunerações e na educação infantil, uma redução de 0,8%.

Praticamente 60% dessas entidades associadas à ABONG foram fundadas a partir de 1985, mostrando uma realidade historicamente nova no nosso país – 15,4% dentre elas são “novíssimas”, tendo sido criadas de 1990 a fevereiro de 1994. Apenas 21% delas foram fundadas na década de 1970 (LANDIM, 1998, p. 59).

No Brasil, a ainda incipiente atividade de fundraising13 conta com a Associação