3.1 O historial que nos constitui
3.1.1 Cenários da história
A EaD surgiu na Europa, na primeira metade do sec. XIX. Inicialmente,
ela era realizada por programas de ensino por correspondência; gradualmente,
outros países passaram a adotar o ensino a distância até chegar ao Brasil. Tal
modalidade é anterior à informática e se desenvolveu como alternativa ao
acúmulo de necessidades educacionais, tais como o baixo índice de
alfabetização, a necessidade de formação profissional específica (técnico e
superior), a população isolada dos centros urbanos e a impossibilidade de
acesso ao ensino presencial.
A história da educação brasileira mostra que, até o final do século XX,
uma expressiva maioria das Instituições de Ensino Superior (IES) não tinha
envolvimento com Educação a Distância. A primeira geração de EaD, em 1904,
caracteriza-se pelo ensino por correspondência em instituições privadas,
ofertando ensino profissional em áreas técnicas, sem exigência de
escolarização anterior.
Esse modelo consagra-se na metade do século, com a criação do
Instituto Monitor (1939), do Instituto Universal Brasileiro (1941) e de outras
organizações similares que eram responsáveis, até o ano 2000, pelo
atendimento de mais de três milhões de alunos em cursos abertos
profissionalizantes pela modalidade de ensino por correspondência. Nesse tipo
de ensino, o interesse do estudante era direcionado para o conhecimento
específico, voltado ao desempenho de funções profissionais, já que, quanto
maior e melhor o domínio sobre aquele tema e técnica, maior e melhor seria a
chance de ser bem-sucedido e/ou promovido (Figura 1).
Figura 1: Apostila do Curso de Instalações Elétricas; ao lado, certificação de um dos cursos.
1717
Imagens respectivamente capturadas de http://www.institutouniversal.com.br/imagens/
docCertJPEG.jpg e http://www.institutouniversal.com.br/imagens/instAp1.gif. Acesso em ago.
2009.
No ensino por correspondência, o aluno postava sua dúvida e ficava
aguardando a resposta do professor que, quando a correspondência não
extraviava, chegava cerca de dois a três meses depois. Essas iniciativas
tentavam se constituir, naquele momento, em uma alternativa de educação
para o trabalho, voltada especialmente às classes populares.
Apesar de implantada há pouco tempo no Brasil, a importância da
televisão como recurso educacional foi percebida já na década de 60, quando a
TV Cultura de São Paulo junto à Secretaria da Educação do Estado de São
Paulo criaram a experiência pioneira do ensino através da televisão com um
telecurso que preparava os candidatos ao exame de admissão para ginásio
(atual 6º ao 9º ano). Inicialmente, os telecursos eram apresentados por
professores do ensino regular, mas, com o passar do tempo, perceberam que,
apesar de ser um curso, poderia ser mais atrativo e, para isso, colocaram os
artistas de novelas como apresentadores (Figura 2).
Figura 2: Aula de Telecurso e, na sequência, o ator Alexandre Henderson gravando em Porto
Alegre, no mercado municipal
18Nas décadas de 1970 e 1980, fundações privadas e organizações não
governamentais iniciaram a oferta de cursos supletivos a distância, no modelo
de teleducação (Sistema Televisão Educativa – TVE –, Telecurso 1º e 2º
Graus), com aulas via satélite, complementadas por kits de materiais
18
Imagens respectivamente capturadas de http://images.quebarato.com.br/photos/big/6/C/
F2A6C_1.jpg e bloglog.globo.com/alexandrehenderson/. Acesso em ago.2009.
impressos, a maioria à venda em bancas, demarcando, assim, a chegada da 2ª
Geração de EaD ao país.
Na década de 1990, é que a maior parte das Instituições de Ensino
Superior (IES) brasileiras mobilizaram-se para a EaD com o uso das
Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Também em 1994 é que se
inicia a expansão da Internet no ambiente universitário.
Nesse momento, a teleconferência passou a ser muito utilizada,
especialmente por instituições privadas, na oferta de cursos em nível superior.
Com essa tecnologia, um professor consegue transmitir sua aula para muitas
salas difundidas pelo país, com até cinquenta alunos por sala. Essas classes
são acompanhadas por um tutor local que faz a ponte com o professor e com
os tutores que estão on-line. Os alunos podem fazer algumas perguntas pela
Internet, via fax ou pelo telefone. Esse modelo procura fazer uma combinação
de aulas ao vivo, atividades on-line e texto impresso destinada especialmente a
alunos que têm dificuldade em trabalhar sozinhos.
Nesse contexto é que surge a primeira Legislação específica para
Educação a Distância no ensino superior. Em 20 de dezembro 1996, é
instaurada pela LDB (Lei 9.394/96) a regulamentação que oficializa na política
nacional a era normativa da Educação a Distância no país como modalidade
válida e equivalente para todos os níveis de ensino.
Salienta-se que essa é a primeira vez, na história da legislação, que a
modalidade de ensino a distância se converte em objeto formal, sintetizado em
quatro artigos que compõem um Capítulo específico: o primeiro determina a
necessidade de credenciamento das instituições; o segundo define que cabe à
União a regulamentação dos requisitos para registro de diplomas, o terceiro
define a produção, o controle e a avaliação de programas de Educação a
Distância, e o quarto faz referência a uma política de facilitação de condições
operacionais para apoiar a sua implementação (BRASIL, 1996).
Para incentivar e dar apoio às ações em EaD no Brasil, foi criada, em
1995, no Ministério da Educação, a Secretaria de Educação a Distância
1919
Disponível em:
< http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=356&id=289&option=com_content&view=article>.
Acesso em jun. 2010.
(SeeD), com o objetivo de fomentar ações de incentivo para a incorporação das
TIC e implementação de projetos para EaD em diferentes níveis. Em 2011,
essa Secretaria é extinta e seus programas e ações estarão vinculados a
novas administrações.
A partir da exposição dos diferentes cenários que fazem parte da
trajetória da EaD no Brasil, torna-se possível observar que essa modalidade
assumiu características distintas e avanços significativos, os quais estão
ligados ao desenvolvimento tecnológico.
No documento
COOPERAR NO ENATUAR DE PROFESSORES E TUTORES
(páginas 38-42)