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Cenários de mudanças climáticas e modelos climáticos globais

Os cenários SRES (Special Report on Emissions Scenarios) do IPCC compreendem quatro famílias ou conjuntos narrativos (storylines) (IPCC, 2000). Essas famílias de cenários (A1, B1, A2 e B2) consideram diferentes projeções de emissões de gases de efeito estufa, relacionando aspectos de desenvolvimento social, econômico e tecnológico, crescimento populacional, preocupação com o meio ambiente e diferenças regionais, denominados de principais forças condutoras (Fig. 1). Assim, cada família de cenários é baseada em uma especificação comum de algumas das principais forças condutoras. Cada família de cenário também combina dois conjuntos ou dimensões de tendências divergentes: uma que varia entre desenvolvimentos com prioridades em valores econômicos ou ambientais e outra que vai desde um aumento na homogeneização global à manutenção das condições heterogêneas entre regiões, com características e dinâmicas específicas (Tabela 1). A família de cenário A1 se desdobra ainda em três grupos de cenários, enfatizando suas características principais, com relacionamentos entre as forças principais de direção e as dinâmicas de sua evolução.

Adotar um cenário de baixas emissões (B1) supõe um futuro tendendo à estabilização das emissões de efeito estufa e que a concentração

atmosférica de CO2 será, no final deste século, em torno de 550 ppmv ou

0,055 %; enquanto que no cenário de altas emissões (A2), com manutenção dos padrões de emissões observados nas últimas décadas, implicaria em

chegar a 1000 ppmv de CO2 atmosférico, cerca de três vezes maior que as

A1 - descreve um mundo com rápido crescimento econômico, crescimento populacional atingindo

um pico em meados do século e declinando em seguida e rápida introdução de novas e mais eficientes tecnologias. As principais características incluem a convergência entre as regiões, o desenvolvimento das capacidades e o aumento das interações culturais e sociais, com impor- tante redução nas diferenças regionais da renda per capta. Considera direções alternativas de mudança tecnológica no sistema de energia, o que é descrito pelos três grupos que são des- dobrados nessa família de cenários: A1F – intenso uso de combustíveis fósseis; A1T – ênfase no uso de fontes energéticas não-fósseis; e A1B – equilíbrio entre todas as fontes de energia.

A2 - descreve um mundo futuro muito heterogêneo, com preservação das identidades locais e

da tradição. Os padrões de fertilidade entre regiões convergem muito lentamente, o que resulta em alto crescimento populacional. O desenvolvimento econômico é principalmente orientado regionalmente e o crescimento econômico per capta e a mudança tecnológica são mais frag- mentados e mais lentos, comparados às outras famílias de cenário.

B1 - descreve um mundo convergente com a mesma população global, que atinge o pico em

meados do século e declina em seguida, como na família A1, porém com rápida mudança nas estruturas econômicas, com redução na utilização de material e a introdução de tecnologias limpas e eficientes na utilização de recursos. A ênfase é nas soluções globais para a sustenta- bilidade econômica, social e ambiental, incluindo a melhoria na equidade, porém sem iniciativas climáticas adicionais.

B2 - descreve um mundo no qual a ênfase está em soluções locais para a sustentabilidade

econômica, social e ambiental. É um mundo em que o crescimento populacional aumenta con- tinuamente, a uma taxa inferior ao cenário A2, com níveis intermediários de desenvolvimento econômico e mudança tecnológica menos rápida e mais diversa, do que no B1 e A1. É orientado para a proteção do meio ambiente e a equidade social, mas com foco nos níveis local e regional. Fonte: Adaptado de IPCC (2000).

Fig. 1. Ilustração esquemática dos cenários SRES, represen- tando as quatro “famílias” de cenários (A1, A2, B1 e B2) de forma simplificada.

Fonte: Adaptado de IPCC (2000).

Tabela 1. Principais características (linhas narrativas) das famílias de cenários SRES de

Os cenários servem de base para que os modelos climáticos globais realizem as projeções quantitativas do clima do planeta no futuro. Esses modelos são representações matemáticas do sistema climático e sua confiabilidade vem de suas bases físicas e sua capacidade em bem representar o clima observado e as alterações do clima do passado. São consideradas importantes ferramentas tanto para a simulação e entendimento do clima, como também capazes de fornecer estimativas quantitativas confiáveis das mudanças do clima futuro, particularmente em escalas continentais (IPCC, 2007). Os prováveis cenários de alterações climáticas para o futuro, projetados pelos modelos, simulam panoramas de evolução do clima como consequência de futuros cenários de forçantes climáticas, causados por gases de efeito estufa e aerossóis (NOBRE et al., 2008; VALVERDE; MARENGO, 2010). Para tanto, os modelos levam em consideração de forma quantitativa o comportamento dos compartimentos climáticos (atmosfera, oceanos, criosfera, vegetação, ciclos biogeoquímicos, por exemplo) e de suas interações. Eles, no entanto, continuam a ter limitações significativas, em função das incertezas envolvidas, destacando-se duas grandes fontes de incerteza: uma é a imprecisão da trajetória futura das emissões dos gases de efeito estufa e a outra a incerteza advinda da representação imperfeita da natureza dos modelos matemáticos (NOBRE et al., 2008). Apesar disso, ao longo das décadas de desenvolvimento, eles têm consistentemente fornecido um robusto e inequívoco panorama do aquecimento climático significativo em resposta ao aumento de gases de efeito estufa (IPCC, 2007). As projeções dos modelos climáticos globais do IPCC estão disponíveis no Data Distribution Centre (DDC) em sua página da internet (http://www.ipcc-data.org/).