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O CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL CRAS DE SANTO AUGUSTO, RS

CAP.3-A EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CRAS DE SANTO AUGUSTO

3.1 O CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL CRAS DE SANTO AUGUSTO, RS

Nos capítulos anteriores deste Trabalho de Conclusão de Curso, buscou-se discutir o Estágio Supervisionado em Serviço Social, através de uma pequena retomada histórica, demonstrando seu significado e importância para a formação profissional. Na sequencia, contextualizou-se o Sistema Único de Assistência Social e os Centros de Referência de Assistência Social e seu papel em relação à Política de Assistência Social. Tal discussão se fez necessária, por tratar-se do CRAS, um espaço de atuação profissional e a partir de então, campo de estágio para acadêmicos do curso de Serviço Social.

Neste capítulo, através de dois subitens, o CRAS é discutido em âmbito Municipal, proporcionando um reconhecimento desta instituição e seus serviços ofertados aos usuários. O segundo subitem, traz um relato das experiências vivenciadas durante os três estágios supervisionados em Serviço Social.

3.1 O CENTRO DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL- CRAS DE SANTO AUGUSTO, RS

A história de Santo Augusto iniciou a partir das Missões dedicadas a catequese de indígenas. Embora não tendo deixado marcas profundas, esta passagem ficou registrada, principalmente pela extração de erva-mate. Já a colonização e o povoamento, tiveram origem no ano de 1918 com a instalação de uma casa comercial à margem da estrada que ligava a Colônia Militar do Alto Uruguai a Ijuí, tendo como proprietário o Senhor Pompílio Silva, apoiado por João Batista Chagas, grande fazendeiro da época.

Com a morte do Sr. João Batista Chagas, seus descendentes, que herdaram suas terras, resolveram dividi-las em lotes que foram vendidos, pelo próprio Sr. Pompílio Silva, o que incentivou o movimento migratório para o local, sendo os principais imigrantes de origem polonesa e luso-brasileiros.

O nome Santo Augusto, foi uma homenagem póstuma a Augusto Chagas, filho do Sr. João Batista Chagas que morreu tragicamente. Em 28 de outubro de 1928, Santo Augusto passa a ser distrito de Palmeira das Missões, e mais tarde, com a emancipação de Três Passos, em 1945, passou a integrar este município. É somente no ano de 1959 que o Município de Santo Augusto é emancipado, de acordo com a Lei Estadual N.º 3.721/59. Neste mesmo ano, foram realizadas as primeiras eleições municipais, elegendo como primeiro Prefeito de Santo Augusto, o Sr. Oswaldo Pio Andrighetto (ATUALIDADES, 1979).

Hoje, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (IBGE, 2010), Santo Augusto possui uma população de 13.968 habitantes, fazendo divisa com os municípios de Campo Novo, Coronel Bicaco, Nova Ramada, Chiapetta e São Valério do Sul. Estes dados servem como ponto de partida para este trabalho de conclusão de curso, principalmente no que diz respeito a emancipação do Município, pois a partir deste marco, pode-se acompanhar as evoluções deste Município e seus órgãos governamentais, especificamente a Assistência Social.

A Assistência Social iniciou suas atividades em Santo Augusto, no ano de 1979, em virtude das demandas decorrentes do êxodo rural, que acentuou as desigualdades sociais no município. Até então as ações nesta área eram realizadas através da Legião Brasileira de Assistência (LBA), que tinha caráter filantrópico, e marcada pelo “primeiro-damismo”, através do trabalho da Primeira Dama na época, Senhora Carmem Terezinha Pizzoloto, contando também com a assistente social , Maria Beatriz Bloedow1 (ATUALIDADES, 1979).

Em 1988, com a promulgação da Constituição Federal, a Assistência Social passa a compor o conjunto de ações que integram a Seguridade Social, juntamente com a Saúde e a Previdência, tornando-se um direito de todo cidadão. Até o final da década de 80, o Brasil se estruturava a partir de uma organização administrativa centralizada, onde todas as políticas eram formuladas e financiadas pela federação, o que fazia com que os prefeitos tivessem

1 A Senhora Maria Beatriz Bloedow era pedagoga, intitulada como Assistente Social devido ao seu trabalho na

pouca autonomia fiscal. Com a descentralização político-administrativa das ações governamentais na área social, instituída com a Constituição de 88, as três esferas do governo, passaram a trabalhar de forma articulada na formulação e execução de ações na área social, contando com a participação popular, também assegurada pela Constituição, através dos Conselhos Municipais (SILVA, 2010).

Resultado de tais avanços em virtude da Constituição Federal de 88, no ano de 1989, dez anos após o início das atividades nesta área, a Assistência Social em Santo Augusto, começou a adquirir uma maior autonomia, até mesmo em virtude das demandas sociais, que aumentavam cada vez mais, iniciando suas ações como Instituição Pública Municipal, com a Divisão de Saúde Trabalho e Ação Social (DISTAS). A Divisão de Saúde, Trabalho e Ação Social, foi criada no município, através da Lei nº 544/79, sendo órgão diretamente subordinado ao prefeito, sendo incumbido de exercer a política de Saúde, Trabalho, Habitação e Assistência Social. Seu objetivo principal era promover o desenvolvimento da comunidade, nas áreas demográficas em formação. A lei também previa recursos financeiros do município, para custear suas ações, planejadas junto ao orçamento Municipal, tais recursos ainda eram direcionados ao pagamento da equipe de profissionais, na época, formada por um Diretor, um Oficial Administrativo, um Escriturário e dois Assistentes Sociais.

Depois de alguns anos, a DISTAS, foi substituída pela Secretaria Municipal do Trabalho, Habitação e Ação Social (STHAS), através da Lei Municipal nº 1.301, de 02 de maio de 1997, sendo responsável pelas ações pertinentes a Assistência Social no que dizia respeito aos serviços públicos que eram de competência da Prefeitura Municipal através do Poder Executivo.

Em 06 de fevereiro de 2006 o Prefeito Municipal Decreta a reestruturação dos órgãos Municipais sendo aprovado o Regimento Interno dos Órgãos que constituem a estrutura básica administrativa do Município. A Secretaria Municipal do Trabalho, Habitação e Ação Social- STHAS passa a ter nova denominação, de Secretaria Municipal de Habitação, Assistência Social e Cidadania (SEHAS).

Em dezembro do ano 2000, foi inaugurado um espaço destinado à execução de programas e atividades de convivência para idosos que faziam parte do Grupo Conviver. Este espaço levava o nome de Casa da Cidadania, o qual foi popularizado persistindo até hoje como referência para a população. No que diz respeito ao Centro de Referência de Assistência

Social – CRAS, este, foi oficialmente criado no Município no ano de 2005, buscando possibilitar a organização e consolidação do SUAS no município, a Casa da Cidadania, através da mudança de nomenclatura, passa a se chamar CRAS Carmem Maria Andrighetto.

O CRAS como unidade pública do Estado, descentralizada da Política Nacional de Assistência Social, visa à padronização, a qualidade e ampliação dos serviços de Assistência Social no país, atuando juntamente com as políticas setoriais, levando em conta as desigualdades sócio-territoriais, funcionando como um meio de garantir o mínimo em relação a essas desigualdades (BRASIL, 2009).

Em Santo Augusto, cumprindo os objetivos do SUAS, já contextualizados neste trabalho através do Capítulo 2, o CRAS tem suas ações voltadas as famílias em situação de vulnerabilidade, buscando a garantia de direitos e a ampliação da cidadania destas. O CRAS destina-se a desempenhar atividades que envolvam as famílias, a organizar e a realizar projetos de âmbito municipal, concretizando a descentralização das ações político- administrativas previstas na Constituição Federal de 1988, e ainda, assegurar políticas que garantam a Proteção Social, a redistribuição de renda, a socialização e convivência familiar e comunitária de seus usuários.

Atualmente, o CRAS realiza atividades que visam à convivência e o fortalecimento de vínculos, através de programas e projetos ofertados aos usuários, dentre eles, o Serviço Proteção e Atenção Integral às Famílias - PAIF, que é uma exclusividade e obrigatoriedade do CRAS, fazendo parte do conjunto de ações do Serviço de Proteção Básica, previsto pelo SUAS. Além do PAIF, são ofertados serviços voltados a crianças, adolescentes, idosos e pessoas com deficiência.

O público alvo do CRAS em Santo Augusto é composto por famílias que fazem parte do PAIF, que, atende famílias com vulnerabilidade social, participantes de programas de transferência de renda, neste caso, o Bolsa Família, assim como também idosos e pessoas com deficiência, em situação de vulnerabilidade que recebam algum Benefício Eventual ou ainda o Benefício de Prestação Continuada. A renda per capita das famílias muitas vezes não chega a ¼ do salário mínimo, devido à situação de desemprego, assim, o trabalho é caracterizado como eventual e temporário, sem vínculos empregatícios, em decorrência disso, os usuários trabalham no mercado informal.

Fazendo parte do PAIF e buscando alcançar seus objetivos, é ofertado às mulheres beneficiadas pelo Bolsa Família ou cadastradas junto ao Cadastro Único –CADÚNICO o “Projeto Viver Bem”. Através de encontros semanais, estas mulheres recebem apoio psicossocial e participam de oficinas profissionalizantes, que tem o propósito de qualifica-las, dando-lhes a oportunidade de inserção no mercado de trabalho, promovendo sua autonomia. O Projeto atende aproximadamente 120 mulheres, distribuídas em 07 bairros do Município. As temáticas abordadas nos encontros mensais com a equipe multiprofissional formada por uma assistente social e uma psicóloga, são voltadas ao planejamento familiar, a profissionalização que se dá através da inserção produtiva, abordando ainda assuntos voltados a autoestima da mulher. Tais atividades buscam ir ao encontro dos objetivos já definidos pelo próprio PAIF, dentre eles o de incentivar a autonomia da mulher na família, no lar e por fim na sociedade, assim como também sua emancipação financeira.

O CRAS, oferta ainda o “Projeto Brinquedoteca Sonho Encantado”, que se enquadra no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para crianças de zero a seis anos. Através de atividades lúdicas, busca-se a valorização do ato de brincar, como estimulação para o desenvolvimento intelectual, social e emocional das crianças, que possuem idade entre três e seis anos. Além das crianças, buscam-se incentivar a participação das mães, avós e familiares responsáveis durante os encontros que são semanais, fortalecendo assim os vínculos familiares.

Atendendo as crianças e adolescentes de faixa etária entre sete e doze anos, ainda inserido no Serviço de Fortalecimento de Vínculos para crianças e adolescentes, o “Projeto Piá”, no CRAS, desenvolve atividades socioeducativas, de convivência, através de oficinas de aprendizagem e do acompanhamento profissional da psicóloga e da assistente social.

Buscando contribuir com a erradicação do trabalho infantil, o CRAS também conta com o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), voltado a crianças e adolescentes, com atividades e atendimentos vinculados ao Projeto Piá. Nos encontros diários, as crianças e adolescentes recebem reforço escolar, além de participarem de oficinas de música.

Para os adolescentes de quinze a dezessete anos, o CRAS oferta, ainda dentro do Serviço de Fortalecimento de Vínculos, o Programa Jovem Adolescente (PROJOVEM). Tal programa tem por objetivo, criar condições para inserção, reinserção e permanência do jovem

no sistema de ensino, integrando-o com a família e a comunidade. A estes jovens são ofertadas aulas de informática, violão e canto, além de receberem o acompanhamento psicossocial2 através da equipe multiprofissional do CRAS.

Através do “Projeto Conviver” é ofertado o Serviço de Fortalecimento de Vínculos para pessoas Idosas. Tal Projeto é o que possui o maior público e também procura em relação aos demais Programas e Projetos do CRAS, atendendo atualmente sessenta idosos com idade igual ou superior a sessenta anos. Seu objetivo é o fortalecimento de vínculos, o lazer e principalmente a convivência em sociedade. Dentre as atividades ofertadas estão, acesso odontológico e sessões de fisioterapia, ações voltadas à saúde, realizadas juntamente com a Secretaria Municipal de Saúde. Quanto às atividades de lazer e integração, estas são possíveis através das oficinas de artesanato, jogos e das aulas de canto do Coral Conviver, que participa de integrações com os demais grupos da região, em encontros anuais.

Durante os três estágios curriculares supervisionados em Serviço Social realizados no CRAS de Santo Augusto, teve-se a oportunidade de realizar experiências vivenciais juntamente com muitos usuários participantes dos programas e projetos citados acima. Porém, destacam-se aqui dois Projetos principais que fizeram parte da rotina e convivência junto ao campo de estágio: o Programa Viver Bem, e o Projeto Conviver.

Como se percebe, tais projetos e programas ofertados, visam um objetivo geral, o fortalecimento dos vínculos entre os usuários e suas famílias, assim como também com a sociedade, favorecendo com isso a inclusão social destes sujeitos. Para que esta inclusão seja possível, faz-se necessário que os profissionais da equipe multiprofissional do CRAS, demonstrem uma postura propositiva e interventiva, efetivando estes objetivos do PAIF, assim como também os objetivos específicos de cada projeto, que se materializam a partir da formação de sujeitos cientes de seus direitos.

Quanto à postura profissional, esta se apresenta como propositiva a partir do momento em que esta equipe multiprofissional visualiza as demandas de cada projeto, atendendo suas particularidades, e a partir de então, apresenta intervenções que busquem acima de tudo, emancipar estes sujeitos. Estas intervenções vão além de reuniões que visem à convivência em família e sociedade, mas também oportunize a estes sujeitos, o conhecimento de seus direitos, indo desde o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) no caso dos projetos que

possuem em seu público alvo crianças, até o Estatuto do Idoso nos projetos de fortalecimento de vínculos para idosos e assim por diante, para com isso, informar os cidadãos sobre seus direitos e garantias perante a lei, tornando-os independentes a partir do conhecimento, para que mesmo sozinhos consigam garantir sua cidadania. Além disso, a equipe multiprofissional deve intervir de forma a visualizar as particularidades e demandas de cada sujeito, e não somente do grupo como um todo, sendo capaz de identificar, por exemplo, fatores de risco, como violência ou outros fatores que possam fragilizar ou romper os vínculos familiares e sociais, e que por isso necessitem um acompanhamento específico e uma maior atenção profissional que muitas vezes precisa ir além dos objetivos específicos do projeto no qual o usuário esta inserido.

3.2 EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS NO CAMPO DE ESTÁGIO, DESAFIOS E

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