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EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS NO CAMPO DE ESTÁGIO, DESAFIOS E PERSPECTIVAS.

CAP.3-A EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CRAS DE SANTO AUGUSTO

3.2 EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS NO CAMPO DE ESTÁGIO, DESAFIOS E PERSPECTIVAS.

O estágio curricular obrigatório é reconhecido como um momento de vivências e experiências; é um dos momentos de capacitação e materialização do saber, através da inserção do aluno nos espaços de atuação profissional (BURIOLLA, 2001; OLIVEIRA, 2004; LEWGOY, 2010).

O CRAS, além de representar a principal porta de entrada de acesso ao SUAS ( BRASIL, 2010), também se apresenta como principal espaço de atuação profissional, reconhecendo-se por isso, como campo de inserção de estagiários do curso de Serviço Social, onde neste caso, o estagiário passa a ser integrante da equipe técnica de trabalho. No espaço do CRAS, o estagiário se insere na equipe técnica de trabalho, desde que o estágio esteja de acordo com as leis específicas (Lei N.º 11.788/08) que dispõem sobre o estágio de estudantes, e sua relação, classificação e definição do estágio.

Em relação à inserção de estagiários no CRAS,

A equipe de referência dos CRAS pode ser, ainda, complementada por estagiários. A regulação da inserção de estagiários no SUAS está prevista na NOB-RH/SUAS, mas de modo preliminar recomenda-se que o estágio realizado no CRAS seja regulado por meio de convênio entre o órgão gestor da política de assistência social (municipal, do DF e/ou estadual) e instituições de ensino superior. Os estagiários

devem, obrigatoriamente, contar com a supervisão de um técnico de nível superior da equipe de referência do CRAS (BRASIL, 2009, p.16).

Respeitando todos os trâmites institucionais para realização do estágio supervisionado em Serviço Social, o estágio desenvolveu-se no período que abarcou o primeiro semestre de 2011 estendendo-se até o primeiro semestre de 2012. O Município de Santo Augusto possuía até então, poucos espaços de atuação profissional na área do Serviço Social, sendo a principal responsável e empregadora de Assistentes Sociais, a Prefeitura Municipal, através da Secretaria Municipal de Assistência Social e em decorrência disso, o próprio CRAS. Além disso, foram levadas em consideração na escolha do campo de estágio as propostas do CRAS quanto às ações relacionadas à Política de Assistência Social, e os programas e projetos ofertados, representando uma grande variedade de atividades e oportunidade de aprendizado.

O Assistente Social no espaço do CRAS atua como profissional que vende sua força de trabalho especializada aos seus empregadores (STOPA, 2009), busca garantir que os usuários tenham acesso a Política Nacional de Assistência Social, através do SUAS, trabalhando para o enfrentamento das desigualdades sociais, a garantia de direitos e inclusão dos usuários à sociedade, através de programas e projetos ofertados, que fazem parte das ações do Serviço de Proteção Social Básica, ofertado pelo CRAS. Neste espaço, segundo Yazbek (2003) os assistentes sociais têm suas ações profissionais divididas em duas dimensões, a primeira delas relacionada à prestação de serviços assistenciais e a segunda, o trabalho socioeducativo.

O CRAS é referência para o desenvolvimento dos serviços socioassistenciais de caráter preventivo, protetivo e proativo da Proteção Social Básica. Os Serviços baseiam-se em atividades continuadas que visam à qualidade de vida da população, com ações focadas as suas necessidades básicas (BRASIL, 2009). Tais serviços devem atender as demandas da população, identificadas a partir da implementação do CRAS, surgindo assim o desafio de trabalho dos Assistentes Sociais quanto à prestação destes serviços assistenciais, ou seja, atender as necessidades básicas da população, e não somente aquelas determinadas por seus empregadores. Frente a isso, o Assistente Social do CRAS de Santo Augusto, atua na prestação de serviços assistenciais visando garantir os objetivos da Proteção Social Básica, que coloca a família como foco destes serviços. Neste caso, o profissional no CRAS, tem suas ações baseadas no Código de Ética Profissional, que define as atribuições e competências do Assistente Social, estando entre elas à elaboração, execução, implementação e coordenação dos projetos e programas do SUAS.

Como citado no subitem anterior, além dos programas que visam o fortalecimento de vínculos e convivência, o CRAS de Santo Augusto ainda oferta o Bolsa Família, como Benefício Continuado. O Assistente Social atua neste setor, principalmente no trabalho com as famílias, já que uma das condicionalidades para o recebimento deste benefício é a participação da família, nos projetos e programas ofertados pelo CRAS, principalmente o PAIF. Quanto aos benefícios eventuais, estes são ofertados junto a Secretaria de Assistência Social, em virtude da grande demanda de tempo e profissionais que o setor do Bolsa Família exige dentro do CRAS de Santo Augusto e em virtude de sua infraestrutura.

Durante o decorrer do estágio, grande parte das ações foram voltadas ao trabalho socioeducativo, através do Projeto Viver Bem que integra o PAIF. O Projeto é composto por mulheres dos diferentes bairros do Município, em sua grande parte cadastradas no CADÚNICO e beneficiárias do Programa Bolsa Família. E ainda, cita-se também o rabalh socioeducativo realizado através do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para pessoas idosas, com o Projeto Conviver, voltado a idosos a partir de sessenta anos. Além do trabalho socioeducativo, outras intervenções foram realizadas no decorrer deste processo, porém, tal trabalho recebe maior destaque, em virtude dos desafios que este apresentou durante o processo de estágio no CRAS, pois se busca através do relato das vivências de estágio, uma reflexão quanto aos desafios do trabalho do Assistente Social neste espaço, voltado em particular, ao trabalho em grupo realizado.

Inicialmente, ao ser inserido na realidade do fazer profissional, através do CRAS, fez- se necessário o reconhecimento e identificação da instituição, dos usuários e demandas, buscando entender o papel do Assistente Social nesta instituição, e ainda, identificar as dimensões ético-político, técnico-operativa, teórico-metodológica neste espaço. As atividades foram voltadas a observação e o reconhecimento, por tratar-se de um novo espaço, desconhecido até então, sendo o primeiro contato com a prática e com os usuários, baseando- se em um processo lento e delicado, exigindo uma atitude crítica e reflexiva, quanto às observações do cotidiano.

Para que todas essas ações fossem possíveis, o planejamento das ações através do Plano de Ação ocupou um papel fundamental neste processo, pois de acordo com Lewgoy (2009) o processo de supervisão deve estar organizado de modo a propiciar ao estagiário experiência e análise crítica do exercício dos processos de trabalho do assistente social.

Além do planejamento, presente nos três estágios através do Plano de Ação, outro documento que se demonstrou importante durante este processo, foi a construção do Diário de Campo, sendo possível materializar as observações e reflexões referentes às atividades cotidianas realizadas.

Para Lewgoy (2002), o diário de campo possui grande importância, pois se constitui

num instrumento que exercita o estagiário na busca da identidade profissional, através de sucessivas aproximações críticas, proporcionando uma reflexão a respeito da ação profissional cotidiana, seus limites e desafios. É um documento instrumental, de caráter descritivo-analítico, investigativo, reflexivo e de síntese. É importante fonte de construção, desconstrução e reconstrução do conhecimento. Proporciona ao aluno o exercício da reflexão do pensar e do agir através de seus registros quantitativos e qualitativos. Nas observações descritas, encontra-se a evolução do conhecimento (LEWGOY, 2002, p. 06).

A documentação ocupou um papel de grande importância durante este processo, como elemento constitutivo do processo de aprendizagem do estágio supervisionado, servindo, além disso, como registro das ações no campo de estágio.

Num segundo momento, buscou-se intensificar a inserção do estagiário nas atividades no campo, passando a exigir uma maior reflexão, atitude investigativa, e a partir de então, também propositiva. O estagiário passou a participar de maneira ativa das atividades, possibilitando um maior contato com os usuários proporcionando o fortalecimento de vínculos, propondo alternativas e novas ideias. Para que isso se fizesse possível, o papel da supervisora de campo foi fundamental, de modo que veio a incentivar e oportunizar momentos de interação com os usuários, principalmente, nas atividades socioeducativas, com os Projetos Viver Bem e Conviver, possibilitando a aproximação com aqueles que fazem parte do público alvo destes projetos, mulheres e idosos, respectivamente.

A postura propositiva, a participação e aproximação, oportunizaram o início do processo de fortalecimento de vínculos com os usuários, facilitando as ações propostas e sua adesão. Com isso foi possível vivenciar momentos de troca de saberes e experiências, através da escuta sensível, demonstrando a fragilidade de muitos destes usuários, quanto aos seus vínculos familiares e sociais, comprovando a importância do trabalho realizado pelo CRAS.

Neste momento de estágio, também, deu-se início a proposta de elaboração de intervenções juntamente com os usuários. Através do Projeto de Intervenção, com a escolha do público alvo, neste caso um dos sete bairros que compõem o Projeto Viver Bem e onde as reuniões são realizadas. A partir da delimitação deste público, iniciaram-se as pesquisas e

atividades voltadas ao Projeto de Intervenção, que teve sua concretização a partir do ultimo semestre de estágio.

O Projeto de Intervenção buscou atender as demandas identificadas no transcorrer do estágio, além de levar em consideração os próprios objetivos do PAIF, com a realização de um projeto voltado a geração de renda a partir da economia solidária para as mulheres, intitulado “Geração de Trabalho e Renda para Mulheres integrantes do Serviço de Proteção e Atenção Integral à Família – PAIF, através da Economia Solidária”. Dentre estes objetivos, destacam-se a criação de um espaço de sensibilização e construção coletiva, incentivo a autonomia feminina, fortalecimento do grupo através de criação de um rede horizontal, e principalmente, proporcionar as mulheres uma alternativa de geração de renda, levando a uma maior qualidade de vida.

Teve-se acompanhamento dos dois professores supervisores acadêmico, com orientações individuais, indicações bibliográficas, visando o incentivo à pesquisa, contando ainda com a participação dos supervisores de campo, constituindo um trabalho conjunto, entre supervisores e estagiário. Além do Projeto de Intervenção, deu-se continuidade às atividades socioeducativas, através de reuniões mensais com os grupos de mulheres, e semanais com os idosos.

Estes momentos oportunizaram a reflexão e identificação das dificuldades e desafios de trabalho com grupos no CRAS, e com isso, os desafios da profissão neste espaço. O Projeto de Intervenção possibilitou também a intensificação da participação nas reuniões com a equipe multiprofissional, através do espaço oportunizado pela supervisora de campo.

No último semestre de estágio supervisionado, os vínculos com os usuários e até mesmo com a própria instituição já são evidentes, a partir da confiança conquistada com a supervisora de campo e os demais membros da equipe do CRAS, quanto às atividades e tarefas no cotidiano do estágio. Momento em que se concretizou o projeto de intervenção junto aos usuários evidenciando a autonomia conquistada neste espaço, avaliação das atividades e principalmente.

No decorrer do estágio, no início das intervenções com o grupo, surgiram os primeiros desafios quanto à metodologia utilizada para alcançar os objetivos propostos no projeto. Para isso, a metodologia buscou proporcionar momentos de aprendizagem sobre a economia solidária como opção para geração de renda, além de assuntos relacionados à autoestima e

autonomia da mulher na família. Para que essas ações fossem possíveis, foram realizados seminários e sistematizações dos temas abordados, além disso, instrumentos como o acolhimento, proporcionando uma humanização destes encontros, através de atividades em grupo, dinâmicas e mensagens, oportunizando momentos de descontração e participação.

Com o inicio das intervenções previstas, começam a surgir às primeiras observações e reflexões referentes aos desafios do trabalho da equipe multiprofissional do CRAS, em especial, do profissional Assistente Social. Quando se trabalha em grupo, trabalha-se o coletivo, formado por sujeitos compostos por suas particularidades, tornando-se este trabalho, um desafio para o cotidiano profissional. Sabe-se que tais desafios são comuns aos profissionais trabalhadores do CRAS de todo Brasil (CFESS, 2011), exigindo uma postura interventiva e propositiva dos profissionais que ali trabalham.

desafio que se coloca para o trabalho do/a assistente social é a necessidade de resignificação do trabalho coletivo, do trabalho em grupo e de metodologias do trabalho social com famílias. O trabalho de grupo, o trabalho com famílias, dá trabalho! Quando atendemos individualmente, é diferente de quando conduzimos um grupo, porque realizar grupo dá trabalho. Quando fazemos um grupo, precisamos planejar, mobilizar, avaliar, expomo-nos como profissionais quando realizamos trabalhos de grupo. Todavia na minha concepção, é um dos instrumentos mais interessantes nesses tempos em que os fundamentos da política social individualizam a forma e o trato para com as expressões da questão social. Para mim, o grupo é um dos instrumentos fundamentais do nosso trabalho, mas para isso precisamos de planejamento e de fundamentação para sua realização. Não tem como avaliar o nosso trabalho se não tivermos claro quais são os nossos objetivos e as nossas metas de trabalho, ou seja, onde desejamos chegar com o trabalho profissional (CFESS, 2009, p. 163).

Por tratar-se de mulheres de diferentes culturas, crenças religiosas e até mesmo levando em consideração fatores como escolaridade e alfabetização exigem-se intervenções que alcancem a todas, respeitando suas particularidades, além destas particularidades, devem ser consideradas, questões como a localização do CRAS. Por ser um Município de pequeno porte, Santo Augusto possui um único CRAS, dificultando o acesso das famílias que moram em áreas distantes. Outra questão observada durante as intervenções, diz respeito à disponibilidade de tempo para participação dos encontros, pois muitas destas mulheres possuem algum tipo de trabalho, em sua maioria trabalham como diaristas, dificultando sua participação nas atividades desenvolvidas.

Diante destas particularidades e desafios identificados, é inegável a importância do Assistente Social neste espaço, porém, percebe-se a necessidade de um diferencial deste profissional, exigindo uma postura propositiva, buscando propor novas ações e intervenções para o trabalho com os usuários, e não somente executiva, com a execução de programas e políticas prontas. O trabalho em grupos se apresenta como desafio, desde o empenho da equipe que envolve organização, planejamento e abordagens com os grupos (TONETTO; SILVA, 2012).

Tal postura profissional apresenta-se como um desafio para muitos trabalhadores que atuam em CRAS de municípios de pequeno porte, pois além das exigências impostas em virtude das demandas, decorrentes das particularidades de cada sujeito com que se trabalha, ainda há a sobrecarga de funções, precariedade da estrutura, e a própria questão dos vínculos empregatícios e em decorrência disso, a fragilidade do vínculo com os usuários. Durante o estágio no CRAS, esta ultima questão esteve bem presente, sendo possível de ser observada, com a constante mudança de profissionais, tanto de nível técnico, no caso dos Agentes Administrativos, e até mesmo de nível superior, com a mudança de Psicólogos e Assistentes Sociais. Pode-se perceber a influência negativa destas questões, na rotina de ações com os grupos, pois cada novo profissional exige tempo para a criação e fortalecimento de vínculos com os usuários, estes, quando rompidos, muitas vezes demoram a serem reconstruídos.

Além de todos os desafios já citados, o da materialização do projeto ético-político da profissão, atento ao Código de Ética é o que exige uma maior responsabilidade do Assistente Social, através dos seus princípios fundamentais, com o reconhecimento da liberdade; a defesa intransigente dos direitos; a efetivação e consolidação da cidadania; a defesa da democracia; a equidade; a eliminação das formas de preconceito; a garantia do pluralismo; opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção da nova ordem societária; articulação com movimentos de outras categorias; compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e por fim o exercício da profissão sem descriminação (CRESS, 2009).

Chegando ao fim deste capítulo, pode-se dizer que tais vivências relatadas neste trabalho oportunizaram materializar os objetivos do estágio supervisionado, através da aproximação do estagiário com o fazer profissional, através da inserção no CRAS como um dos espaços de atuação do Assistente Social.

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