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O IPA desenvolve sua educação, cuja identidade pedagógica, científica, cultural e comunitária é conferida pela prática do ensino, da pesquisa e da extensão como dimensões indissociáveis, à luz da autonomia universitária, com visão interdisciplinar e fundamentação ética, tendo a pessoa humana como centro do processo educacional, estimulada a gerar novos conhecimentos que qualifiquem as relações, as técnicas e os procedimentos do mundo do trabalho. Afirma, em seus documentos acadêmicos, a importância da formação humana para o mundo do trabalho, que deve ter por base os princípios cristãos e éticos, a partir das práticas de igualdade e de respeito na relação entre os seres humanos (Projeto Político Pedagógico, de 2004).

Por sua vez, seu Projeto Pedagógico Institucional contempla ações no ensino, na pesquisa e na extensão que desafiam às práticas de inclusão em todos os âmbitos da vida acadêmica. A instituição desenvolve projetos que ampliam a visão de mundo no que tange às oportunidades e ao acesso de todos que fazem parte da sociedade. Isto é, sem nenhum veto à inclusão. Para tanto, ela define suas políticas de relação com a comunidade interna e externa de acordo com as necessidades de cada um, como, por exemplo, quando instituiu um número de cotas para o ingresso de candidatos, no concurso vestibular, oriundos das comunidades indígenas; do movimento dos trabalhadores sem-terra, do centro ecumênico de cultura negra e do programa que desenvolve a capacitação das educadoras populares.

A partir da proposta que privilegia uma educação superior inclusiva, o Centro Universitário Metodista diferencia-se das IES que promovem uma educação com ênfase à formação profissional e contemplam apenas aspectos técnicos da profissão, sem considerar, em especial, a formação humana.

Como um dos diferenciais de seu projeto, o Centro Universitário Metodista propõe possibilidades de convênio com outras universidades e parceiros externos, numa perspectiva de inclusão social. A educação superior desenvolve este projeto, que transcende as experiências acadêmicas comuns nas universidades brasileiras, para uma relação acadêmica inclusiva. Além do conhecimento para a formação profissional dos acadêmicos, oportuniza estudo para alunos oriundos de regiões em situação de recuperação pós-guerra, como Moçambique, Angola, Timor Leste e Haiti, que necessitam capacitar seus cidadãos para auxiliar no desenvolvimento e crescimento de seus países de origem nas diversas áreas do conhecimento.

A proposta de internacionalização da Metodista do Sul entende que a formação desses acadêmicos estrangeiros contribuirá para auxiliar na reconstrução e na libertação desses países que passam ou passaram por algum problema social, político e/ou econômico.

No total, o Centro Universitário Metodista acolhe 54 alunos estrangeiros, chegados ao Brasil, entre o período de 2004 a 2006, a partir de convênios firmados com igrejas cristãs dos EUA, da Alemanha e da Austrália.

Com esse programa, o Centro Universitário Metodista inova com uma proposta de internacionalização que tem por base a preocupação com a subsistência e com a emancipação de outras culturas, isto é, entende que as trocas e intercâmbios internacionais devem abranger caminhos que extrapolam o conhecimento acadêmico para, também, pensar e agir no auxílio co-responsável para povos e comunidades que necessitam reconstruir suas histórias e culturas. Com este entendimento diferenciado sobre a relação internacional entre as diversas IES, o Centro Universitário pretende, a partir de experiências similares de outros países que também passaram ou passam por situações de luta pela igualdade e dignidade humana, servir de exemplo para a ampliação das possibilidades de desenvolvimento de novos conhecimentos e experiências. Essa proposta do IPA vem ao encontro do compromisso e da sua responsabilidade social, pois defende a crença e a proposição do bem e do crescimento digno do ser humano.

A internacionalização deve supor repartir e equilibrar benefícios entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento, evitando enfoques puramente mercantilistas. Nesse sentido, os países desenvolvidos deveriam ajudar a estabelecer os mecanismos necessários para impulsionar as pessoas qualificadas a retornar a seus países de origem para que, com sua formação, contribuam com o desenvolvimento econômico dos mesmos. Uma medida poderia ser destinar uma porcentagem da ajuda internacional para a cooperação e o estabelecimento de centros de investigação nos países em desenvolvimento, de onde o pessoal mais qualificado pode seguir suas investigações com o apoio externo de seus colegas dos países desenvolvidos (FERNÁNDEZ LÓPEZ, 2007, p. 174).

A convivência diária entre os acadêmicos estrangeiros e os brasileiros tem criado experiências ricas no Centro Universitário Metodista, possibilidades que ampliam as vivências diversificadas, os valores, as crenças e a pluralidade de ações entre as culturas. Pelo fato de os estrangeiros viverem nas dependências do IPA, na Casa de Hospedagem - espaço especialmente preparado para o acolhimento dos 54 alunos, ampliam-se as possibilidades junto aos outros acadêmicos brasileiros, pois, além de se distribuírem entre os cursos de graduação, convivem nos espaços acadêmicos das salas de aula, da Biblioteca, do Refeitório, Ginásios de Esportes, entre outros.

Com esta experiência, o Centro Universitário Metodista, do IPA, apresenta uma releitura das relações internacionais que vai além do conhecimento técnico e científico, das pesquisas acadêmicas, das trocas e dos interesses econômicos, para uma relação de cooperação entre os povos e nações. Reafirma, assim, perante o cenário da educação superior, uma atitude fraterna entre estudantes de diversas nações que buscam relações de justiça, de solidariedade e de promoção humana. Essa proposta pretende, portanto, inovar as parcerias internacionais e propor rumo aos interesses permeados pelas relações de poder e de domínio de fronteiras que extrapolam a dignidade e a emancipação de povos do mundo inteiro.

A política de internacionalização da Metodista do Sul está sob a responsabilidade do Setor de Relações Internacionais que se responsabiliza pela implantação das orientações institucionais das relações internacionais, focada em seu projeto pedagógico acadêmico e na política de internacionalização do COGEIME que considera a perspectiva internacional como elemento importante para promover a paz, a tolerância e a solidariedade entre povos, ao introduzir contextos multiculturais na vida das comunidades aprendentes, valorizando a diversidade de raças, credos, cultura e ideologias.

Para a educação superior do IPA, internacionalizar a educação não é só buscar a melhoria da qualidade no ensino, na pesquisa e na extensão, mas fortalecer as relações internacionais promovendo a paz, a troca de experiências e a cultura. O termo valoriza a diversidade e a vivência entre os diferentes conhecimentos para a construção coletiva, além de estabelecer o diálogo com instituições de educação, igrejas, organizações comunitárias e de pesquisa dentro e fora do país.

No caso do Centro Universitário Metodista, a experiência na área da internacionalização tem sido diferenciada e inovadora, pois vem ao encontro de se associar aos princípios humanitários de intercâmbio cultural, social, político e acadêmico entre as partes conveniadas. Com este objetivo, a educação superior na Metodista do Sul defende um olhar atento aos países desfavorecidos economicamente que sofreram ataques de guerra e que hoje buscam se reconstruir socialmente. Desta forma, capacitando estudantes destes países da África, da Oceania e do Caribe, o IPA pretende auxiliar, de forma humana e cidadã, os povos necessitados e que são incapazes de oferecer condições de estudo à maioria da sua população. Com esta experiência diferenciada, o Centro Universitário Metodista procura ser coerente e agir de acordo com sua filosofia inclusiva que considera todos de forma respeitosa, humana, justa e solidária.

No próximo capítulo abordarei a teorização que embasa a discussão sobre a mudança nas organizações e instituições, nesse caso, o Centro Universitário Metodista. Autores como

Clark, Fullan, Caravantes, Morosini, Werle, Morgan, Finger, Baldridge, Meyer, Castro, Almeida, Martinic, Gil e Senge são apresentados, com base em suas teorias e estudos sobre espaços participativos nas organizações, modelos de gestão, práticas empreendedoras, processos de mudança, administração inovadora, tomadas de decisão, sustentabilidade, planejamento estratégico, estrutura da universidade, transparência e a autonomia das organizações.

6 FUNDAMENTOS TEÓRICOS – O PROCESSO DE MUDANÇA NAS INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO SUPERIOR

A educação tem desafiado muitos estudiosos, filósofos e educadores, a saber, qual o seu real significado na formação de uma sociedade. De tempos em tempos, surgem teorias e concepções que alimentam esperanças de novas práticas educacionais que não sejam elitistas e excludentes, mas que desenvolvam ações emancipatórias para a sociedade, que promovam espaços participativos para a construção de conhecimentos e respondam aos desafios do nosso tempo. Concepções educacionais conservadoras, exclusivamente transmissoras do saber, não detêm mais espaços na sociedade, pois a necessidade atual é de uma educação que potencialize a criatividade, o prazer do saber, o exercício da inteligência, a construção do conhecimento e os valores essenciais para a formação humana.

Conforme Martinic (1997, p. 31), a educação “deve ser capaz de favorecer a reflexão crítica do próprio modo de ser, a fim de gerar uma mentalidade aberta a novas relações e culturas, promovendo uma cultura de liberdade”. Isto é, deve ser um lugar onde as pessoas se desterritorializam para construir novos ambientes, repletos da pulsão dos desejos de uma vida mais feliz e fraterna.

Diferentes visões em educação têm feito parte das bases teóricas dos sistemas educacionais adotados em diferentes épocas, tanto por organizações públicas quanto privadas. Isso tem servido para estudos que se voltam para as diversas culturas que regem as instituições.

A igreja metodista no Brasil tem sido clara na sua missão educacional quando, por meio de suas Diretrizes para a Educação – DEIM29 (1999, p. 52) define as ações e os rumos para as suas instituições educacionais.

A Educação na perspectiva cristã “como parte da Missão é o processo que visa oferecer, à pessoa e à comunidade, uma compreensão da vida e da sociedade, comprometida com uma prática libertadora; recriando a vida e a sociedade, segundo o modelo de Jesus Cristo, e questionando os sistemas de dominações e morte, à luz do Reino de Deus”. [...] a Igreja desenvolverá sua prática educativa, de tal modo que os indivíduos e os grupos desenvolvam consciência crítica da realidade; compreendam que o interesse social é mais importante que o individual; exercitem o senso e a prática da justiça e solidariedade; alcancem a sua realização como fruto do esforço comum; tomem consciência de que todos têm direito de participar de modo justo dosfrutos do trabalho e, reconheçam que, dentro de uma perspectiva cristã, útil é aquilo que tem valor social.

De acordo com suas diretrizes educacionais, a educação Metodista deve privilegiar o interesse social e coletivo, a busca pela igualdade de condições, de espaços solidários e de justiça para todos. Assim, a educação metodista tem firmado diferença no meio educacional brasileiro ao longo do último século.

Em se tratando de organizações educacionais, entende-se, portanto, que as instituições, confessionais ou não, deverão estar atentas ao aperfeiçoamento e à melhoria das condições de ensino, de acordo com as necessidades de cada comunidade em que estão inseridas, pois não poderão mais se manter contando apenas com a missão e com os propósitos estabelecidos quando da sua fundação, mas a partir das experiências vividas e constituídas no decorrer da sua trajetória. A partir desta intencionalidade, as instituições educacionais necessitam desenvolver práticas empreendedoras, auto-sustentáveis e que sejam capazes de promover mudanças de acordo com os desafios dos dias atuais.

Conforme Martinic (1997), as mudanças estão acontecendo rapidamente e o panorama educacional mundial requer respostas sistêmicas que interfiram, diretamente, nas relações internas, nas propostas pedagógicas e nas culturas das organizações. Para o autor, há grandes tendências que definem a projeção das organizações educacionais para o futuro: a flexibilização do limite entre a escola e o seu contexto; a passagem de um currículo fechado em texto e em conteúdos para outro, com ênfase em processos e procedimentos; a passagem de relações pedagógicas frontais e instrutivas para a colaboração de pesquisa cooperativa entre professor e aluno e, por último, a organização de sistemas de gestão que favoreçam a autonomia das organizações.

Em relação à primeira tendência, que trata da flexibilização do limite entre a escola e o seu contexto, Martinic (1997, p. 33) entende que “as novas relações econômicas demandarão formação de recursos humanos competitivos de grande versatilidade e que venham a se adaptar às exigências de um mercado caracterizado por sua mobilidade”. Os currículos dos cursos deverão se tornar mais flexíveis e os seus objetivos deverão estar em harmonia com as demandas mundiais. As relações da escola, da cultura com a sua comunidade e com a comunidade externa serão mais ativas e estreitas, “de forma que os conhecimentos possam ser aplicados e compreendidos nas situações do mundo real” (MARTINIC, 1997, p. 34).

A segunda tendência trata sobre a passagem de um currículo fechado em texto e em conteúdos para outro com ênfase em processos e procedimentos. O autor indica um novo modo de ensinar, a partir de um currículo diversificado e com ênfase no domínio de

procedimentos e de operações para “a formação de pessoas responsáveis, autodisciplinadas, com boa capacidade de comunicação e orientadas para a cooperação.

O autor ressalta que fatores como “o pensamento crítico, o manejo de informação, a análise qualitativa e quantitativa, a história e a cultura” (MARTINIC, 1997, p. 35) são também determinantes nesse contexto de mudança.

Em relação à terceira tendência, o autor destaca a importância do intercâmbio de informações e de conhecimentos entre orientador e orientando de forma integrada, dialógica e centrada em competências e valores.

A quarta e última tendência para o futuro das organizações apresenta as definições sobre seus sistemas de gestão que favoreçam a sua autonomia e sustentabilidade.

Somente com a definição do papel de cada IES frente ao seu propósito educacional e das estratégias utilizadas em suas ações, será possível a tomada de decisão que as levem ao crescimento e ao desenvolvimento como organizações que pensam e fazem educação.

Um estudo de caso que exemplifica a trajetória de uma instituição de educação superior no caminho da mudança é relatado pelo professor da Universidade Estadual de Londrina, Prof. Dr. Márcio Almeida, no artigo “Desafios na Organização e na Gestão da

Universidade”, quando aborda as estratégias que foram consideradas para desencadear um

processo de mudança em sua Universidade.

Quando se desencadeia um processo de mudança em uma organização, que visa uma política auto-sustentável deve-se ter presente que a ação mais efetiva para se estabelecer esta condição é a participação efetiva de todas as instâncias da instituição, por meio de órgãos colegiados e do reconhecimento das lideranças, pois só assim é garantido o envolvimento de todos nas decisões estratégicas, que são fundamentais para o processo de desenvolvimento (ALMEIDA, 2001, p.17)

Afirma este autor que outra estratégia importante são as parcerias, pois “o estabelecimento de relações com outras instituições busca, ao criar espaços reais de troca, interlocução e transformações mútuas”. Tais contatos auxiliam as mudanças de valores, de posturas e de resistências que não são favoráveis ao crescimento institucional (ALMEIDA, 2001, p. 51).

Outras estratégias importantes que devem ser consideradas em um processo de mudança, são exemplificadas aqui. São elas, a negociação, que representa os anseios dos agentes da comunidade universitária, o gradualismo e a simultaneidade que oportunizam que mudanças aconteçam por partes. A postura positiva dos dirigentes das organizações é fundamental no encaminhamento dos diversos processos e da elaboração da proposta, pois

devem se colocar como integrantes e participantes do planejamento através de uma postura democrática e aberta.

Finalizando, Almeida (2001) afirma que todo o processo deve ocorrer conjuntamente, o estudo e a renovação das práticas acadêmicas ao mesmo tempo em que estão sendo implantadas mudanças estruturais em toda a instituição.